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Julia Jaros Nov 2016
Desculpa.
Eu estrago o perfeito.
Acabo com o infinito.
Transformo a realidade em mito.

Digo as palavras erradas mesmo dizendo as certas.
Escrevo cartas rasgadas e as envio abertas.

Rabisco palavras bonitas.
E no lugar coloco feridas.
Oras
Você vai se acostumar.
No meu mar eu vou te afogar.

Você tenta me erguer e eu te puxo.
Tenta compreender e eu fujo.
Tenta fugir e eu rujo.
Sou um animal selvagem e sujo.

Eu cresci errado.

Eu sorri errado.

Eu menti errado.

Eu senti errado.

Mas me conta, qual a sensação de ser amado?
Julia Jaros Apr 2015
Branco e bege se fundem na cortina
Feixes de luz tentam passar
despercebidos
para um mundo onde há muito
foram esquecidos
a poeira e a maneira.

Observe o movimento sutil
do tecido repetido e entretido
A transparência é genuína
mas a poeira
é contínua.

Subjetividade
O espaço tímido não se revela
Escondendo sua sequela
de quando tão ingênuo
escondia uma janela aberta.

Bem, está trancada agora.
Julia Jaros Apr 2015
Tentou se divertir
Tentou parar de pensar
Tentou lembrar
Memórias infindáveis
De quem jamais conseguiu
Encontrar.

Instrumentos melódicos
pensamentos eufóricos
Caos e calmaria
A certeza de que o momento
na memória permanecerá
e em sua história
cristalizará.

Uma constante torturante
Um futuro baseado
no passado atormentado
de um amor ultrapassado.
Julia Jaros Nov 2016
Patas macias acariciam a grama há muito não cortada
Enroscam-se em espinhos
Tropeçam em ninhos
Tão perto da estrada.

Seus narizes são ímãs
Indisciplinados e impulsivos
Um alarme rosado de caos
abrasivo.

Alaranjada, repousa na faxada da rua
Seca, bronzeada
Nua
Sua.

Três patas e uma planta
Nada ela sente, silenciada por dentes
Mastigada, digerida, excrementada
Por fim
Em adubo virada.
Julia Jaros Nov 2016
Corroeu as paredes da garganta
Ficou sem fala pra dizer "eu te amo"
Sozinha bêbada na varanda
Temendo pela falência de seu âmago.

O líquido toca sua boca
Atinge seu organismo com um açoite
Convidativo, vivo
Não exigia nada mais aquela noite.

Não sentia mais seu fígado
Assim como seu coração
Bebida quente que um dia a enlouquecia
Hoje lhe extingue a solidão.

Se seu rosto é a garrafa, ela quebra na parede
Se seu gozo é a bebida, prefere viver com sede
Se o sol é a sua presença, só sai a luz do luar.
Se rajska quente é a sua ausência, ali vai se afogar.
Julia Jaros Nov 2016
Lábios que mastigam
Que beijam
Falam
Calam.

Ouço-te com prazer
Os pelos dos braços arrepiam
Com amor elas te cobriam
Como eu poderia te ter?

Egoísta
Desejando os lábios finos
Visto até um figurino
Não sou mais, nunca fui.

Pele fina
Cabelos, cílios, lírios
Dedos finos
Tilintando em minha mente como sinos.

Amor da maneira errada
Ou errado da maneira certa
Errado de forma encoberta
Certo na história passada.

Essa é uma longa caminhada.
Julia Jaros Nov 2016
A correnteza espalha as lágrimas rio abaixo
Aglomeradas, tornam-se banais
Ninguém vê, liga a TV
Outra hora a gente se vê.

Misturadas, ainda estão lá
Cada vez, mais e mais
Acostumadas, satisfaz
Invisíveis não perturbam nossa paz.

Deixe que o rio leve
São muitas para se importar
Combinado, ninguém cede
Como a burguesia e a plebe.
Julia Jaros Nov 2016
Observo-te como observo a lua
Cobiçando o inalcançável
Esperando por um triunfo
Onde o fracasso já foi fadado.

Um vislumbre de suas emoções
Mil caminhos a considerar
Tais suposições me enlouquecem
Me chamando para dançar.

De mim as ações não tomam formas
Parada na pista de dança a observar
Um corpo separado da mente
Chora silenciosamente a luz do luar.

Platonicamente o mundo gira
Nossas vidas se entrelaçam
E juntas traçam
Um futuro indigno
Ouvindo outros gritos no espaço.

Guiada pelo medo
Com as estrelas a me chamar
Sussurrando-me a possibilidade
De nossas estrelas estarem juntas
A brilhar.

A mente grita não
A mente grita sim
Em um mundo de sonhos
Esperando da realidade
O estopim.
Julia Jaros Nov 2016
Sozinha eu danço
Mas com você eu não me canso
Quem sabe o que a pista nos reserva?
Eu continuo no balanço.

O coração acelera com o batuque
Medo que você o escute
O que diria?
Adorei a cantoria, vamos repetir
sem você não consigo mais emergir?
Ou
Desculpa, até outro dia
quando o alcool estiver a agir?

Meu bem, dúvidas cruéis
Me congela, confunde os sentidos
Por completo quase perco o juízo
Me confessando para um caderno
enquanto só queria lhe fazer carícias no inverno.

Mas meu bem, queria te perguntar
estamos juntos a balançar?
Julia Jaros Nov 2016
Sonha em se vestir com as nuvens
Cantar para uma platéia no topo da montanha mais alta
Sentir a luz do sol infiltrando seu corpo
Compartilhando o brilho entre si.

Beijar sem machucar
Divertir sem causar alvoroço
Ver sem precisar matar
nem correr para qualquer pescoço.

Beber um licor no bar mais caro
Flertar com os bonitões
Um volume a mais em suas calças
Escapando-lhes os botões.

A única platéia daquelas asas pretas,
aveludadas
Era o limo da gruta
Não corria, nem se assustava
Batia palmas quando ela cantava.
Se apaixonara.

Como poderia dar certo?
Ela queria o mundo
Saia todo dia por um segundo
Queimando-se
Por um breve trinfo.
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