Salvem O Douro
Nas fragas onde o sol esbate sorrateiro,
a vinha no Douro sempre banhada primeiro.
Os velhos ficam
porque já não podem partir.
As mães reformadas
cuidam das vinhas com amor e sentir.
E o Douro, esse colosso de xisto e sonho,
fica para trás abandonado,
sem herdeiros, sem futuro, com passado. A coruja-das-torres, que vigia os socalcos mal amados.
A borboleta rara, que pousa nas folhas do Viosinho para termos bons vinhos,
A lavanda brava, que perfuma os nossos caminhos.
Salvem o Douro para remissão dos vossos pecados.
Ai o rio, que ainda canta, mesmo quando ninguém o ouve está sozinho.
Canta suavemente o pintassilgo nobre passarinho.
O saber antigo, que não cabe em manuais escritos,
As cantigas de encosta, que nossas mães cantam com penosos gritos.
Salvem o Douro com encanto e nobreza,
Este meu Douro é verso, certeza,
Não deixem meu Douro desaparecer,
Nem ser fúnebre velório ao Entardecer.
Victor Marques
Douro, paisagem, memória vinho