O Entardecer que Corre sem Querer
Corre o Douro,
sem saber que deslumbra,
sem querer ser poema,
mas é.
As margens calam-se em ouro,
as vinhas curvam-se ao silêncio,
e o céu — num gesto lento —
desfaz-se em fogo e ternura.
É a hora em que o tempo se senta,
no muro das memórias da terra,
e o rio, distraído,
leva saudades de pedra e sol.
Não quer correr,
mas corre…
como quem ama sem saber,
como quem parte e permanece.
E tudo se torna mais verdade
no espelho líquido da luz:
o labor das mãos,
o peso da história,
e o rosto de quem se perde no horizonte alaranjado duriense.
Entardecer Douro Valley