Geografia I
Quando a Vila Jaiara era do mundo
O centro vital; se mais longe houvesse,
Lá chegara, aos saltos, de susto tomado
Em mim mesmo; silente rezava o missal.
Corria pelos campos – a savana, cerrado.
O medo do sistema heliocêntrico
Ainda não perdera: o medo de ser
Só. Eu vivia com meus irmãos e irmãs –
Éramos uma centena de bichinhos
Em torno de nossa mãe adotada,
A quem chamávamos de Senhora.
E em torno dela, tudo girava, girava...
Os grandes mandavam-nos, sorrateiros,
Andar pelo cerrado em busca de tudo:
Gabirobas, cajuzinhos, goiabas ...
Na Vila Jaiara havia tanta coisa mais.
A casa de Helena; de deuses onde doces.
Que à caminhada tornava clara para nós.
Centro luminoso em que a ceia do Senhor.
Não havia São Paulo ou Rio de Janeiro –
No máximo: Belo Horizonte, Araxá
Povoavam nossos sonhos.
E talvez Ouro Preto e Divinópolis –
Onde Dora reinava...
- Goiânia, São Petersburgo e Tegucigalpa – só no Atlas.
Anápolis era outra estória: a cidade, o comércio longe demais...
Ali na Jaiara estava o centro de tudo
e no centro de tudo o amor:
Laíde Epifânia me nomeara “Maninho”.
Naquele tempo, na nossa vila, não passava um rio.
Mas havia a fábrica de tecidos, onde Jorge –
Noivo de minha irmã – tecia a união e afeto
E me ensinava a andar de bicicleta.
Do Vietnã, só soube no ginásio.
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