Submit your work, meet writers and drop the ads. Become a member
Serafeim Blazej Dec 2016
Marinheiro, marinheiro
Você  perdeu sua âncora
Você perdeu seu atlas
Marinheiro, marinheiro
Você matou seus companheiros
E não há lugar em terra para você
Marinheiro, marinheiro
Te disseram para nunca mais voltar
Te mandaram parar de respirar
Marinheiro, marinheiro
E toda dor que você sentiu?
Você perdeu seu coração?
Marinheiro, marinheiro
Eles te odeiam
Você é a própria morte, dizem eles
Marinheiro, marinheiro
O alfaiate e o jovem da meia-noite estão em paz?
Seus fantasmas ainda o perseguem?
Marinheiro, marinheiro
Você perdeu o receio daquele barco?
O velho barco quebrado  que é você
Marinheiro, marinheiro
Você sentiu o cheiro de casa?
Seus companheiros estão em terra
Marinheiro, marinheiro
Como você navega pelo desfiladeiro?
Como você luta com o desespero?
Marinheiro, marinheiro
Eu achei sua âncora e seu atlas
Mas eles pertencem a outro senhor
Marinheiro, marinheiro
Você desistiu do seu destino?
Você abandonou sua tripulação
Marinheiro, marinheiro
Onde será seu enterro?
Porque você está morto afinal
Marinheiro, marinheiro
Se eu disser que te odeio
Pois você abandonou sua tripulação?
Marinheiro, marinheiro
Você me responderia
Se eu dissesse que te odeio?
Marinheiro, marinheiro
Se você está morto afinal
Porque eu sou um fantasma?
Marinheiro, marinheiro
Onde seu coração está?
Porque eu não quero mais sofrer
Marinheiro, marinheiro
Quem é você afinal?
Porque eu sou um espectro de quem você foi
Marinheiro, marinheiro
Se eu matar meus companheiros
E abandonar a tripulação
Marinheiro, marinheiro
Eu vou ser livre do desespero?
A escuridão vai me abandonar?
Marinheiro, marinheiro
Por que eu sou tão triste
Se sou um fantasma solitário?
Marinheiro, marinheiro
Eles dizem que você é o pior
Aquele que nunca deveria ter existido
Marinheiro, marinheiro
O que isso diz sobre mim?
Se você, afinal, não tivesse nascido
Como eu poderia estar aqui?
Marinheiro, marinheiro
Se você recuperar sua âncora e seu atlas
Se você recuperar sua tripulação
Você me aceita?
Marinheiro, marinheiro
Se você estiver vivo afinal
Você me empresta seu nome?
Porque eu estou cansado de sofrer
Marinheiro, marinheiro
Se eu for seu herdeiro
Você me deixa navegar naquele velho barco?
Marinheiro, marinheiro
Você me deixa ser a própria morte?
Porque eu não quero mais sofrer.
Marinheiro, marinheiro
Você permite que eu seja apenas um fantasma
Vagando sem rumo pela escuridão?
Marinheiro, marinheiro
Você permite que eu me mate
Para não fazer mais ninguém sofrer?
Marinheiro, marinheiro
Por que tudo mudou?
Era mais fácil quando todos éramos sonhadores
Marinheiro, marinheiro
Eu quero ser novamente um marinheiro
Para que eu sinta o cheiro de casa
Marinheiro, marinheiro
Se eu não sou mais marinheiro
Eu posso abandonar o barco?
Marinheiro, marinheiro
Eu quero abraçar o mar
Marinheiro, marinheiro
Eu quero sangrar com o mar.
Marinheiro, marinheiro
Eu quero entender por inteiro
Por que eu deixei de ser marinheiro
Marinheiro marinheiro
Eu vou virar seu companheiro
Vamos estar mortos afinal.
Parte de uma história e meio que um desabafo também.
Escrito em 08/11/16, numa viagem de ônibus intermunicipal, de manhã bem cedo.
Série "Marinheiro, marinheiro".

("Sailor, sailor")
Serafeim Blazej Dec 2016
Marinheiro, marinheiro
Você sente o cheiro?
A morte chegou afinal

Marinheiro, marinheiro
Você sente o medo?
Seus companheiros se foram afinal

Marinheiro, marinheiro
Você sente o peso?
A escuridão abraçou você afinal

Marinheiro, marinheiro
Você sente o desespero?
Você quebrou afinal

Marinheiro, marinheiro
Você sente a floresta?
Foi lá que você morreu

Marinheiro, marinheiro
Você sente o mar?
É onde você nunca mais irá

Marinheiro, marinheiro
Se você é a própria morte
Por que você está morto afinal?
Poema e canção (como sempre).
Era parte de uma história (como sempre).

("Sailor, sailor, do you feel?")

Escrito em 08/11/16.
Serafeim Blazej Dec 2016
Marinheiro, marinheiro
Você sente o chão cedendo aos seus pés?
Marinheiro, marinheiro
Você sente a fome da escuridão por você?
Marinheiro, marinheiro
Você sente seu coração quebrar e sangrar?
Marinheiro, marinheiro
Você sente as mortes que causou?
Marinheiro, marinheiro
Você sente o desespero engoli-lo?
Marinheiro, marinheiro
Você sente a própria morte?
Série "Marinheiro, marinheiro"
Escrito em 08/11/16.

("Sailor, sailor, do you feel you?")
Serafeim Blazej Jun 2017
Marinheiro, marinheiro
Se eu te disser, companheiro
Que a vida não vale a pena no mar
Você desiste de velejar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu te confessar, companheiro,
Que estou a duvidar
Você insiste em me acompanhar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu esbravejar, companheiro
Você me aceita sem lutar
E me ajuda devagar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu gritar, companheiro
Você me resgata de me matar
Ao insistir em não respirar?
Marinheiro, marinheiro
Você é meu fiel companheiro
Você consegue nisso acreditar
Mesmo que eu esteja a titubear?
Marinheiro, marinheiro
Você, companheiro
Vale por cem cargueiros
Cheios de nosso companheiros.
04/03/2017.
Serafeim Blazej Jun 2017
Marinheiro, marinheiro
Se vamos estar mortos, companheiro
Por que lutar contra o desespero?
04/03/2017, madrugada.
O navio chegou como um cavalo voador, num momento inexacto
O nosso irmão marinheiro, do Panteão dos Poetas, estava a bordo
Jean Pierre Basilic Dantor Frankétienne D'Argent
Quem escreveu, à pressa, o último ato
Milagrosamente, acabou no porto
Entrou e saiu sem dizer uma palavra, sem dinheiro
Sem as suas obras-primas, sem uma casinha
A vida é assim, viajamos em qualquer altura do ano.

Kalfou te kindeng miwo, miba ye.

Frankétienne não foi embora
Está algures, em Ravine-Sèche, no Haiti, nas ruas
A sua inspiração está no espetáculo ‘Le Point’
Não temos escolha a não ser cuidar de nós
Da sua memória, da sua invenção e da sua imaginação
Frankétienne foi um génio haitiano, poeta, dramaturgo e espiralista
Ministro da cultura, escritor, cantor, pintor e artista
O seu nome era uma frase muito, muito longa
E as suas palavras faziam as pessoas rir até ao êxtase.

Kalfou te kindeng miwo, miba ye.

Enquanto viveu, não conseguiu que a sua pequena casa
Foi um génio lendário que desafiou a imaginação
Ditadores, o ordinário, o insólito e o abstrato
Tornando-se um mapou, um embondeiro. Wendell diria
Que confusão! Que catedral! Que cidadela!
Parafraseando o filho do diretor da McDonald's
"Se cair, aprenda a levantar-se rapidamente"
A sua queda, deixe que a sua queda se torne um cavalo, o seu cavalo.
Para continuar a viagem", a excursão.

Kalfou te kindeng miwo, miba ye.

"Cada minuto conta depois dos cinquenta"
Frankétienne disse uma vez, uma vez que pode ir
A qualquer momento, em qualquer instância
'Galaxy plomb gaillé', não muito longe do nadir
Um traço invisível na cabeça como Valentino ou Tino Rossi
Frankétienne já não está lá, o artista já se foi
Permanece mais do que nunca um novo Ser
O gigante, o escritor, o ator, o escritor
Está vestido com suspensórios como um grande ***** branco
Não como um monstro do Dr. Frankenstein. Como um mafioso
Como um ladrão, o navio era como um cavalo voador. É a morte
Que nos ameaça como se estivéssemos errados
Choramos, choramos agora como uma mãe de luto
Para este octogenário avançado, para este príncipe da luz.

Kalfou te kindeng miwo, miba ye.

P.S. Uma homenagem a Frankétienne e à sua família, a Wendell Théodore
E companhia à Rádio Métropole e a todos os bons haitianos.
As minhas mais profundas condolências a todos! Sente-se e deixe a terra voar!
Esta é uma tradução de:
‘Le Navire Est Venu À Cheval Ou Hommage Au Fameux Poète Frankétienne’
‘The Ship Came Like A Flying Horse or Homage to the Famous Poet Frankétienne’
‘El Barco Llegó Como Un Caballo Volador U Homenaje Al Famoso Poeta Frankétienne’
‘La Nave Arrivò Come Un Cavallo Volante O Omaggio Al Famoso Poeta Frankétienne’

Copyright © Fevereiro 2025, Hébert Logerie, Todos os direitos reservados.
Hébert Logerie é autor de várias coletâneas de poemas.

— The End —