Submit your work, meet writers and drop the ads. Become a member
Julia Jaros Nov 2016
Patas macias acariciam a grama há muito não cortada
Enroscam-se em espinhos
Tropeçam em ninhos
Tão perto da estrada.

Seus narizes são ímãs
Indisciplinados e impulsivos
Um alarme rosado de caos
abrasivo.

Alaranjada, repousa na faxada da rua
Seca, bronzeada
Nua
Sua.

Três patas e uma planta
Nada ela sente, silenciada por dentes
Mastigada, digerida, excrementada
Por fim
Em adubo virada.
Danielle Furtado Apr 2017
Acontece o tempo todo.
Sinto meu estômago embrulhar como alguém que acaba de sair de uma montanha russa, e isso é uma analogia perfeita já que vou de total satisfação à vazio completo em três tragadas num cigarro ou menos. Não importa com quem ou onde eu esteja, é hora de trocar de música, fixar o olhar no nada para tentar sacudir o vazio pesado que repousa sobre meu peito, como se tivesse me engolindo, mas de dentro para fora. Logo me sinto vulnerável, como se tivesse uma ferida aberta e necrosada no meu âmago e todos pudessem ver através de mim, como se meus olhos contassem meus segredos, as vontades que tive e tenho de me atirar em frente a um ônibus em movimento, então volto a mim geralmente com a pergunta de alguém que gosto questionando se está tudo bem, digo que sim, que estou com sono, cansada, o que não deixa de ser verdade, eu realmente estou cansada. Eu sempre sinto que preciso ir embora, afinal. Mesmo estando em minha casa quero ir embora, para onde?! Desconheço lugar no mundo e na história que me faria sentir em casa. Desconheço o abraço que me faria sentir que pertenço, ou que me querem ali. Então digo que estou atrasada, que sinto muito, que cancelo os planos, que estou doente, que tenho que estudar, peço licença e me retiro, volto pro conforto de estar triste e sozinha, sem precisar esconder o olhar vazio encarando o vazio, e esse é o melhor que posso fazer.
D. Furtado][
Mistico Mar 2
Muitos pensam que entrar na vida de alguém
é tão simples quanto permanecer,
mas esquecem que corações não são portas abertas,
são laços que se tecem sem perceber.

A proximidade cresce com gestos sutis,
o apego se infiltra sem permissão.
Talvez eu tenha me entregado sem querer,
ou talvez, no fundo, tenha querido sem saber.

O olhar se transforma, o medo desperta,
o desejo de estar, de sentir, de pertencer.
Mas e se tudo for apenas um jogo?
Se eu for só um brinquedo, e o erro for meu?

A própria ilusão me embriaga,
me vicia como droga sutil.
No momento, é êxtase, é luz, é vida,
mas quando o efeito se esvai,
a dor sufoca, a depressão afoga,
e o mar que me carrega não me deixa sequer boiar.

E assim, o ciclo se repete,
um querer que ao mesmo tempo nega,
um desejo que nunca se cumpre,
um vício que finge ser amor.

Mas a questão não é viver nessa escuridão,
é encontrar frestas de luz para respirar.
Nem que seja um segundo, um instante,
onde a mente se desvia, e o coração repousa.

Pois esse único segundo pode ser tudo,
o instante que reconstrói, que resgata, que liberta.
E então, o mar evapora,
a ilusão se desfaz,
e resta apenas você,
aprendendo, enfim, a nadar.
Mistico Mar 4
Um grito, talvez de socorro,
tão intenso que se perde no silêncio.
As palavras me fogem, a voz me trai,
e mesmo querendo pedir ajuda,
o som não se forma, e tudo se esvai.

Afogado em penas de uma depressão densa,
com saudades eternas daquela que partiu.
Tão viva esteve, tão breve ficou,
hoje repousa em paz, enquanto eu,
preso aqui, luto para seguir.

Tento me erguer, tropeço no vazio,
o peso de existir me ancora ao chão.
Talvez eu seja uma rocha fria,
forte o bastante para proteger,
mas incapaz de ser protegido.

E quem cuidará de mim,
se fui feito para amparar?
Talvez minha missão seja essa,
ser o escudo e não ser abraçado,
ser o alicerce e jamais o lar.

No fim, sou apenas eu,
sozinho com pensamentos que gritam,
querendo sumir, mas percebendo
que desaparecer é fútil,
pois já sou invisível ao mundo.

— The End —