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Nunca disse-lhe que em nada creio,
é certo que tenho fé em todas as coisas
e, deveras, dou nenhuma importância a elas.
Todos os caminhos tem ao fim  peso semelhante
pois serão trilhados pelos mesmos andarilhos.
O percurso não importa, e muito menos o destino
tendo em vista que a chegada é o ponto de partida.
As experiências são, em suma, meu objeto de valor.
A existência é algo simples, e criei o hábito de não mais dar-lhe sentido,
pois as conjecturas propostas são ,de fato, uma perda de tempo,
tempo no qual também não mais tenho me questionado,
pois acredito que os dias são uma besteira,
vejo agora apenas uma continuidade de movimentos
e não mais páginas de calendários, o que me proporcionou um entediante hábito de insonia.
E quanto ao resto da humanidade, digo que é bem possível que exista, mas não tenho certeza.
Por fim, não lhe peço nada,
pois, sinceramente, não me importo.
Victor Marques Oct 2013
Bom dia a todos...Desejo que tudo corra na plenitude e vossos anseios e desejos se concretizem na abundância e plenitude. Boa vindima para aqueles que ainda continuam na tão nobre Colheita. Esta poesia é dedicada ao meu Pai: António Alexandre Marques e a todos os seus amigos e conhecidos.

Lembro-me de Ti meu querido Pai

As videiras cansadas pelo sol tórrido de verão,
O rio corre por amor e paixão.
Eu procuro a resposta que não acho,
Sou feito de uvas e do teu abraço.

As rochas xistosas esperam a madrugada,
As uvas amarelas e avermelhadas.
E tu meu Pai continuas aqui sepultado,
Pois o vinho foi teu amor, meu fado…

Palavras sábias de profeta que sonha e sabe,
Lembrança de ti e eterna saudade.
Nossa Senhora de Fátima te acolheu,
Eu anseio também para ser seu…

As uvas dão precioso fruto,
Eu continuo vivo e de luto.
O Douro sublime se consome e exalta,
Por ti Pai saudade quase me mata…

Victor Marques
pai, uvas, amor, saudade.douro
Esta crônica é resultado de uma conversa que eu teria com o velho companheiro de lutas Chico da Cátia. Era um companheiro de toda hora, sempre pronto a dar ajuda a quem quer que fosse. Sua viúva, a Cátia, é professora da rede pública estadual do Rio de Janeiro e ele adquiriu esse apelido devido a sua obediência a ela, pois sempre que estávamos numa reunião ou assembleia ou evento, qualquer coisa e ela dissesse "vamos embora!", o Chico obedecia, e, ao se despedir dizia: com mulher, não se discute. Apertava a mão dos amigos e partia.

Hoje, terceiro domingo do janeiro de 2015, estou cercado. Literalmente cercado. Cercado sim e cercado sem nenhum soldado armado até aos dentes tomando conta de mim. Não há sequer um helicoptero das forças armadas americanas sobrevoando o meu prédio equipado com mísseis terra-ar para exterminar-me ao menor movimento, como está acontecendo agorinha em algum lugar do oriente asiático. Estou dentro de um apartamento super ventilado, localizado próximo a uma área de reserva da mata atlântica, local extremamente confortável, mas cercado de calor por todos os lados, e devido ao precário abastecimento de água na região, sequer posso ficar tomando um banhozinho de hora em hora, pois a minha caixa d'água está pela metade. Hoje, estou tão cercado que sequer posso sair cidade a fora, batendo pernas, ou melhor, chinelos, pegar ônibus ou metrô ou BRTs e ir lá na casa daquele velho companheiro de lutas Chico da Cátia, no Morro do Falet, em Santa Tereza, para pormos as ideias em dia. É que a mulher saiu, foi para a casa da maezinha dela e como eu tinha dentista ontem, não fui também e estou em casa, cercado também pelo necessário repouso orientado pelo médico, que receitou-me cuidados com o calor devido ao dente estar aberto.

Mas, firulas à parte, lembro-me de uma conversa que tive com o Chico após a eleição do Tancredo pelo colégio eleitoral, que golpeou as DIRETAS JÁ, propostas pelo povo, na qual buscávamos entender os interesses por detrás disso, uma vez que as eleições diretas não representavam nenhuma ameaça ao Poder Burguês no Brasil, aos interesses do capital, e até pelo contrário, daria uma fachada "democrática ao país" Nessa conversa, eu e o Chico procuramos esmiuçar os segmentos da burguesia dominante no Brasil, ao contrário do conceito de "burguesia brasileira" proposto pela sociologia dos FHCs da vida. Chegamos à conclusão de que ela também se divide, tem contradições internas e nos seus embates, o setor hegemônico do capital é quem predominar. Nesse quesito nos detivemos um bom tempo debatendo, destrinçando os comportamento orgânicos do capital, e concluímos que o liberalismo, fantasiado de neo ou não, é liberal até o momento em que seus interesses são atingidos, muitas vezes por setores da própria burguesia; nesses momentos, o setor dominante, hegemônico, lança mão do que estiver ao seu alcance, seja o aparelho legislativo, o judiciário e, na falta do executivo, serve qualquer instrumento de força, como eliminação física dos seus opositores, golpe de mídia ou golpe de estado, muitas vezes por dentro dos próprios setores em disputa, como se comprovou com a morte de Tancredo Neves, de Ulisses Guimarães e de uma série de próceres da burguesia, mortos logo a seguir.

Porém, como disse, hoje estou cercado. Cercado por todos os lados, cercado até politicamente, pois os instrumentos democratizantes do meu país estão dominados pelos instrumentos fascistizantes da sociedade. É que a burguesia tem táticas bastante sutis de penetração, de corrosão do poder de seus adversários e atua de modo tão venal que é quase impossível comprovar as suas ações. Ninguém vai querer concordar comigo em que os setores corruptos da esquerda sejam "arapongas" da direita; que os "ratos" que enchem o país de ONGs, só pra sugar verbas públicas com pseudo-projetos sociais, sejam "arapongas" da direita; que os ratazanas que usam a CUT, o MST, o Movimento por Moradia, e controlam os organismos de políticas sociais do país sejam "arapongas" da direita; que os LULAS, lulista e cia, o PT, a Dilma etc, sejam a própria direita; pois do contrário, como se explica a repressão aos movimentos sociais, como se explica a criminalização das ações populares em manifestações pelo país a fora? Só vejo uma única resposta: Está fora do controle "DELLES!"

Portanto, como disse, estou cercado. Hoje, num domingo extremamente quente, com parco provimento de água, não posso mais, sequer, ir à casa do meu amigo Chico da Cátia. Ela, já está com a idade avançada, a paciência esgotada de tanto lutar por democracia, não aguenta mais sair e participar dos movimentos sociais, e eu sou obrigado a ficar no meu canto, idoso e só, pois o Chico já está "na melhor!"; não disponho mais dele para exercitar a acuidade ideológica e não me permitir ser um "maria vai com as outras" social, um alienado no meio da *****, um zé-niguém na multidão, o " boi do Raul Seixas": "Vocês que fazem parte dessa *****, que passa nos projetos do futuro..."  Por exemplo, queria conversar com ele sobre esse "CASO CHARLIE HEBDO", lá da França, em que morreu um monte de gente graças a uma charge. Mas ele objetaria; "Uma charge?!" É verdade. Não foi a charge que matou um monte de gente, não foi o jornal que matou um monte de gente, não foram os humoristas que mataram um monte de gente. Assim como na morte de Tancredo Neves e tantos membros da própria burguesia no Brasil, quem matou um monte de gente é o instrumento fascistizante da sociedade mundial, ou seja, a disputa orgânica do capital, a concorrência entre o capital ocidental e o capital oriental, que promove o racismo e vende armas, que promove a intolerância religiosa e vende armas, que promove as organizações terroristas em todo o mundo e vende armas; que vilipendia as liberdades humanas intrínsecas, pisoteia a dignidade mais elementar, como o direito à crença, como o respeito etnico, a liberdade de escolhas, as opções sexuais, e o que é pior, chama isso de LIBERDADE e comete crimes hediondos em nome da Liberdade de Imprensa, da Liberdade de Expressão,  a ponto de a ministra da justiça francesa, uma mulher, uma negra, alguém que merece respeito, ser comparada com uma macaca, e ninguém falar nada. Com toda certeza do mundo, eu e o Chico jamais seremos CHARLIE....  

Victor Marques Oct 2010
O Zé-ninguém da minha escola

Olhos tristes e sempre meigos,
Faltam-te doces beijos.
Hesitante e por vezes calmo,
Sentes o belo salmo.


Rouquidão dum velho pastor,
Teu sorriso encantador.
Resposta por vezes certa,
Galo que te desperta.


Insegurança desmedida,
Rosto facetado pela vida.
Incompreendido nesse mundo teu,
Tens o carinho que Deus te deu.


Tens o nome de António, de José,
Percorres o País de lés-a-lés,
As tuas vitórias são grandes conquistas,
Que não são sociais ou políticas.


Victor Marques
Victor Marques Dec 2009
Nós e a universo

O futuro será o que a mente pensa,
Procuro resposta ao meu passado,
Do meu interior rebuscado,
Acção e boa esperança….


Fecham-se janelas, portas se abrem,
Com boas razões e motivos,
Estradas direitas e por vezes tortas,
Pensamentos sempre positivos.


O ser humano se fustiga e consome,
As estrelas, as montanhas e o mar,
Sentem o seu próprio nome,
Nós somos navegadores  sem navegar….

Victor Marques
Victor Marques Apr 2013
Ama sempre a vida

A vida dá resposta, dá lições,
Enche livros sem explicações.
Fica o que nos eleva e consome,
Uma memória e um nome.

Um trocar de olhar,
Um simples pestanejar,
Ousadia e o sonho daquilo que fui e sou,
Amar a vida que o amor consagrou.

A vida numa agitação constante,
Rebelde para trás e para a frente.
Flores do mais belo jardim,
Amar a vida sempre até ao fim.

Viver numa turbulência com serenidade,
Com pobreza ou vaidade.
Viver e com a vida padecer de contente,
Viver a vida hoje e sempre …

Victor Marques
Victor Marques Jan 2017
Quando cansado da noite e do singelo dia,
Do uivar do lobo e cantar da cotovia.
Ousar amar,  contemplar a luz que nos guia.
Quando alguém te perguntar  donde vens,
Deixa de ser tu , de ser ninguém ,
Mas responde com um sorriso de tua MÃE.

Quando a vida te parecer  que já não existe,
Quando o alegre anda sempre triste.
E tu fazes perguntas sem nunca ter resposta,
O amor que temos por tudo se  desvanece.
Mas alguém te pergunta donde vens,
Caminhas num horizonte que nos exorta.
Responde com o amor de tua  Mae  ...  


E neste mundo em que seres te perguntam  com curiosidade,
Diz que alguém pensa e escreve com alma e pluralidade,
Que  vive no mundo sem tempo , nem idade,
Mas a sua escrita fica para a posterioridade.
E Se alguém te perguntar donde és e o que tens ,
Responde com o calor e amor  de tua Mae .

Victor Marques
mãe, mundo, escrita , poesia
Mariah Tulli Feb 2019
Chovia a umas três horas, nada tão diferente de dias normais em São Paulo. Clara se arrumava para o trabalho com aquela pressa de quem ia perder o trem, mas na verdade era apenas a euforia pro segundo encontro com Luisa, que ia acontecer no fim do expediente. Se desesperou mais ainda quando olhou para cama e viu o tanto de roupa que havia deixado espalhada.  E se no final nós viermos para minha casa? Vai estar tudo uma bagunça, pensou ela, mas deixou assim mesmo, pois não queria criar expectativas demais, era apenas o segundo encontro e como já havia notado, Luisa parecia ser daquelas meninas meio tímidas de início. Pronto, calça preta, blusa preta e um boné vermelho que combinava com o tênis, pois em dias de chuva era necessário já que sempre perdia a sombrinha.

- Oii linda, então está tudo certo pra hoje né? Saio às 17h e prometo não atrasar. Disse clara enfatizando aquela idéia de pontualidade mais pra ela mesma do que para Luisa.
- Clara.. ops, claro rs! Te encontro no metrô perto do seu trabalho :)

Luisa tinha mania de fazer piadas com coisas bem bobas, era sua marca. Logo em seguida da mensagem enviada percebeu que mais uma vez tinha feito isso e riu de si mesma. Assim se estendeu o dia, Luisa sem muito o que fazer pois era seu dia de folga, então estava com todo o tempo do mundo para se arrumar, mas era daquelas decididas que pensava na roupa que iria vestir enquanto tomava banho e em dez minutos já estava pronta. O relógio despertou às 16h, trinta minutos se arrumando e mais trinta no metrô. Luisa estava pontualmente no local combinado, mesmo sabendo que Clara iria demorar mais um pouco ate finalizar todas as tarefas. Mais trinta minutos se passaram e nesse tempo Luisa já estava sentada em um bar ao lado da saída lateral do metrô com uma cerveja na mão, avistou aquele sorriso intenso de Clara, sorriu de volta cantarolando em sua cabeça “cê tem uma cara de quem vai fuder minha vida”, música vívida entre os jovens.

-Desculpa, te deixei esperando mais uma vez, como vamos resolver essa dívida aí? Disse clara esperando que a resposta fosse “com um beijo”.
-Sem problemas, já estou quase me acostumando, me rendi a uma cerveja, mas podemos beber outras lá em casa, o que acha?

Sem mais nem menos Clara aceitou e ficou surpresa pelo convite, a timidez percebida por ela já tinha ido embora pelo jeito. Chegando lá sentou em um colchão em cima de um pallet que ficava na sala e começou a analisar todo o ambiente, uma estante com dezenas de livros e três plantas pequenas no topo. Luisa com o tempo livre do dia deixou a casa toda arrumada e a geladeira cheia de cerveja, abriu uma garrafa e sentou-se ao lado de Clara em seu sofá improvisado.

-Posso? Pergunta Luisa ao indicar que queria passar a mão no sidecut de Clara.
-Claro, aproveita que raspei ontem.

Com a deixa para carícias, a mão ia deslizando de um lado para o outro em um toque suave na parte raspada do cabelo, até chegar ao ponto em que Clara já estava ficando um pouco excitada e gentilmente virou-se para Luisa encarou-a e sorriu, sem dizer nada, silêncio total, deixando aquela tensão pré beijo no ar por uns segundos. E sem nenhum esforço deixou que acontecesse naturalmente, sentindo aquele beijo encantador de Luisa. Pernas se entrelaçaram, corpos mais pertos um do outro, Clara acariciava lentamente o ombro de Luisa, aproveitando o movimento para abaixar a alça de sua blusa e dar um leve beijo na parte exposta, se estendendo ao pescoço, fazendo Luisa se arrepiar. Naquele momento o ambiente começa a ficar mais quente e num piscar de olhos as duas já se livraram de suas blusas. Clara volta a acariciar a pele de Luisa, mas dessa vez mais intensamente, percorre a mão pela barriga, puxa cuidadosamente a pele perto do quadril para conter o tesão, vai deslizando pela coxa, e num movimento quase imperceptível abaixa o short de Luisa e beija seus lábios molhados, fazendo-a soltar gemidos de excitação, criando um clima mais ofegante. Luisa em um mix de sensações sentiu a pulsação mais rápida de suas veias acelerado o coração, pernas tremendo e mãos suando, até perceber que aquele oral era o primeiro em que se entregava por completo, e se entregou.  Estava segura de si que aquilo era mágica e com a respiração voltando ao normal, posou um sorriso no rosto, abraçou Clara e perdurou o afago até cair no sono.
que cansaço este
de quem nunca pára de pensar
no impensável
ou nunca cansa de sonhar
com o inconcretizável

que cansaço este
de amar sem questionar
quando se questiona tudo
ou de amar questionando
sem nenhuma resposta alcançar

que cansaço este
de quem nunca soube sentir
mas se permite fazê-lo
de quem é fundamentalmente racional
e se deixa perder nas sensações
Victor Marques Dec 2017
Imortalidade vivida, perdida …

Anos passarão que as ondas do mar,
Aqui estarão para ser contempladas,
As arvores despidas, fustigadas,
As mulheres bem ou mal amadas,
As estrelas para quem tem olhos olhar,
Numa imortalidade vivida, perdida,
Com saudade sempre e intemporal,
Num mundo real e irreal,
Vivemos sem nos aperceber, que nascemos para morrer,
Seres imateriais com espiritualidade sentida,
Vida sempre bem ou mal vivida….

Imortalidade de seres deste mundo mundano,
Ricos, pobres, grandes e pequenos,
Nascemos e procriamos para algo amar,
Pois natureza terna com beleza singular,
Nos esquecemos que todos um dia partirão,
Todos os sonhos e anseios sepultados serão,
Sem dinheiro ou qualquer sedução,
Por isso a tua imortalidade sem compensação,
Todos morrem sem amor e comunhão…

Uns acreditam outros não num Jesus feito homem e pão,
Buscando a imortalidade não vivida na ressurreição,
Eu procuro e nunca acho resposta neste mundo existencial,
Para o bem e para o mal…


Victor  Marques
IMORTALIDADE, NATUREZA, MUNDO,SERES
Mariana Seabra Mar 2022
Ultimamente, sinto-me tão à deriva.  

Como um barco de papel a celebrar a última dança sobre a água, inconsciente de que se vai afundar no final do riacho.

Cada dia é um novo recomeço, do dia anterior, que nunca tenho a certeza se realmente o vivi.

Desde a infância, se é que a tive, sinto que estou dividida entre dois mundos e, nunca sei em qual deles vivo, em qual deles me posso encontrar.

Se alguém me encontrar, pode-me devolver?

Se tudo o que é pensado é possível, então é uma possibilidade que a minha imaginação fértil seja tão real como a realidade?

Ou é algo que digo a mim mesma para não me impedir de continuar a sonhar?

Sinto esta ausência que me atormenta a alma e não sei como a saciar. Sinto que perdi algo precioso à vida, mas não consigo lembrar onde o pousei.  

Não me consigo lembrar o que foi que me fugiu das mãos, ou se é que alguma vez o segurei.  

Onde se cultiva? Como o posso voltar a apanhar?

Cada vez que estou mais perto de entender sou puxada para trás.

Ah! Eu gostava tanto de me compreender…

Mas a incerteza que mata é a mesma que me dá vida para continuar a procurar uma qualquer resposta, mesmo que saiba que não a vou encontrar.

E quando encontras a resposta, acaba a procura?

Para onde vai um sonho quando se realiza?

Onde o posso reencontrar?

Em que lugar?

Será que sei para onde vou quando não me sinto dentro de mim?  

Ou será que, também eu, imagino tanto mas tanto mas tanto, que crio uma certeza ilusória?  

Não, de certeza só tenho a minha dúvida.

Mas se o sinto tão certo, poderá ser errado?

Não sei.

Ultimamente, digo “não sei” muitas vezes para alguém que sabe sempre. Mesmo quando ainda não sabe que sabe. Costumam chamar-lhe de intuição.

E a liberdade imensa de poder dizer que não sei o que ainda não sei! E que já sei o que sei e que mais tarde vou descobrir que não sabia o que já pensei saber!  

A liberdade!  

É confusa? Não sei.

Ultimamente, tenho dado aos outros todos os conselhos que gostaria de me ter dado a mim, quando precisava de os ouvir. Mas é sempre assim.

Eles têm-nos seguido como se fossem certos, e eu digo-lhes

“Cuidado!  

Olha que não sei, nunca digo com certezas, tudo na minha cabeça pode mudar radicalmente a qualquer segundo, a qualquer nova informação, a qualquer nova vibração…”.

E eles seguem-nos na mesma.

Desconhecendo que estão a viver uma realidade que eu sonhei e que com eles, agora, se tornou realmente real.  

É isto! a imaginação vira fantasia que vira alegria quando é transposta para o dia-a-dia.

Eles parecem felizes…agora…e eu?

Não sei.

A existência pode ser uma experiência tão solitária quando só tens duas mãos e, desde cedo tiveste de usar uma para segurar a outra.

E tão pesadas que elas se tornaram com os (d)anos. As cicatrizes que mascaram...

Ultimamente, aumenta a sensação de cansaço.  

Estou cansada da luta e este peso tornou-se insuportável. Quero largar as minhas próprias mãos e descansar…então…fecho os olhos e imagino que o posso fazer porque alguém vai estar ao meu lado, preparado para as segurar.

Vês?

Também eu imagino tanto que, às vezes, deixo de acreditar que estou só a imaginar.

É possível não duvidar?



Não sei nada.

E tu, quando finalmente me entenderes, será que vais deixar de me procurar?
Beatriz Couto Mar 2019
Não sei para que momento vivo
nem para que destino me quero

as emoções enganam
muito mais quando não as vemos
não querendo substimar a razão
acabo sem nenhuma resposta

morro interiormente lentamente
o meu ego diminui cada vez mais
até parar num estado incompleto
de nada
ou de algo

dependendo do momento para que vivo

— The End —