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Lugar cativo
Onde me deito cativante
E abro a gargante e choro.
Nao darei mais o Tempo
Nem reconciliarei menos o perdao.
Somos os dias contados pelos dedos
E quanto menos tenho menos quero ter.
Frio com febre estou
Doente dos ossos, raspando-os
Ate ao po se extinguirem
e absorvo-os pela narina mais próxima
Directo ao cérebro que me permiti vender
Indirecto ao coração que morto 'e aos poucos.
Faca de dois gumes afiada na pedra
E enrolada no peito cada dia mais,
Milimetro a Milimetro
Para que a dor seja minuciosamente
Mental.
Fatal.
E da paisagem verdejante
Onde passeio as pernas pesadas
Do chumbo das balas perdidas,
Com que te matei,
Absorvo o bicho por entre o jardim
E a natureza para mim nao 'e mais
Que o conteúdo do bolo que cozinhei
Para esquecê-lo.
Cativo ligar
Que permaneço cativa
Húmido que me constipa os dentes
Como a agua gelada com que tomo banho
E nem assim acordo.
Não sei se esta Dor caberá
nas milhares de palavras que defecarei
Ate este dia tardar
E a minha vida por fim, acabar.
Não 'e de minha dor que escrevo,
'e a tua que me percorre este sangue anémico.
Consideras-te feliz que nem um porco
Que na lama chafurda a couraça.
E eu com esta dor de costas do peso
De trazer o Mundo nos bolsos
E por cada morte que deus padece
Um sopro no coração me oferece.
Dor, dor, dor, dor, dor, dor
Qual Jesus Cristo, o redentor.
Samir Koosah Aug 2018
A noite chega, soturna, calada. Os remédios parecem não fazer efeito. Sozinho novamente com meus pensamentos, embalado pelo som do ventilador e das batidas do meu coração.
Nao sei porque ele insiste em bater, parece um esforço inútil.
As horas passam lentamente, como nos movimentos de uma duna. A areia do tempo descendo vagarosamente pela ampulheta. Se ao menos pudesse ver. Me sinto cego, queria eu estar cego?
Minha decepção só não é maior que a decepção que causei.
Não há lugar aqui senão neste papel para a dor, uma fraqueza que todos tentam esconder - por questão de sobrevivência provavelmente. Os amigos poucos que me restam seguem suas vidas enquanto tento ser feliz, ao menos por eles.
Saudade aqui toma outras formas, como uma tortura ao melhor estilo Stanley
Kubrick em “Laranja Mecânica”, em que as imagens passam repetidamente por minha cabeça sem que eu possa fazer absolutamente nada.
Família, amigos, amores, à distância de uma chamada, uma chamada. Para quem ligar, como?
O cárcere em sua pior faceta, o isolamento social. Conto nos dedos de uma mão as pessoas com quem consigo manter uma conversa. Mesmo assim nao consigo conversar, a cabeça e o coracao nao estao aqui, eles fugiram, estão lá fora, espero que a minha espera.
Outro cigarro, mais um café. Quantos mais, quantas mais palavras? A caneta e o papel são meus melhores amigos, às vezes até me entendem. Monólogos em horas, diálogos em outras.
Me pergunto qual seria o limite entre a sanidade e a demência aqui. Se é que existe um, estou eu ficando são ou louco?
Nao era quando cheguei, provavelmente foi o que me trouxe aqui, agora só me resta um caminho a seguir e tenho que achá-lo sozinho.
Não tenho arrependimentos, aqui não há lugar para eles, há agora um só caminho a seguir, em frente! Adiante!
Expo 86' Nov 2015
Palavras são balas
Porque somente elas não bastam
Insegurança é uma espada
E seu gume mais afiado que essa navalha
Sentimentos são como uma maça
Tão veloz, para apenas pesar na minha cara
E neste momento nada me acalma
Ou sacia a vontade de ir embora
Mas quem sabe isso não passa
Pode apenas ser uma gripe passageira
Ou uma melancolia verdadeira
Mas talvez devesse me alegrar
Continuar a andar
Para trás não olhar
Ou até mesmo tentar não ligar
Fazer dessa angustia combustível
E desse pesar um mar
Para me banhar nas manhã de alegria
Que a vida ainda há de me doar
Rui Serra Aug 2015
hoje... não me apetece mandar-te mensagens.
hoje... não me apetece ligar-te.

hoje... quero estar nos teus braços.

quero segurar a tua mão.
quero sentir o teu respirar.
quero escutar o teu coração.

hoje... quero estar contigo.
Mariana Seabra Mar 2022
Já fomos poeira do mesmo lugar

Pousada calmamente junto ao mar.

Sufoca-me o vento que nos quer levar,

E este pobre pó estrelar,

Sem força suficiente para ficar,

Chora sem braços onde se agarrar.



Implora-te que me guardes num olhar,

E assim voamos eternamente,

Sem qualquer noção de ver desaparecer

Lá ao longe, o nosso lar.





Já fomos breves e inconstantes,

Pequenas rochas cobertas de diamantes.

Não quisemos saber do nosso valor,

E quando o número não interessa,

Qualquer fruto neste peito vira flor.



Mas que som é este

Que me enche de terror?!

Ah! É a minha linda borboleta,

Bate as asas e só ouço dor.

Pousa em mim…

Mas sentirá ela este calor?



Levanta voo…

Sem se recordar da minha cor.



Perco-a em ti,

Mas não me perco de todo este esplendor.





Já fomos canto de pássaro na madrugada,

Criança que corre sem ligar à roupa manchada.

E de mãos dadas pela estrada,

Brincámos nas infinitas ruas desta cruzada.

Sorriste-me sem ligar a nada,

Como qualquer criança louca,

E atrapalhada

Tropeças em mim…

E deitas abaixo cada fachada,

Pois como nego ao coração

Que estou, agora, aprisionada?





Já fomos a folha verde no outono

Que caiu e não voltou.

Cada onda que rebentou no rochedo

Desvendou-te logo quem eu sou.



Quis ser concha para ti,

Presente que o mar traz.

Mas sou fogo que arde aqui

E destrói tudo o que é capaz.

Consumo-te e inalo-te em mim,

A droga mais pura e eficaz.

E sobram as cinzas derramadas no jardim,

Memórias da alma que lá jaz.
Eis um dia que nasceu ele e a fé de acreditar que o bem é o desígnio da sua vida nasceu também com ele.
Nos vários propósitos de cada um chegou o desígnio de mudança, que afinal outrora já por ela se suplicava.
O facto é que realmente o mundo e o homem perderam a consciência e todos os valores que nos faziam querer em sermos verdadeiros e de verdade morreram.
Na verdade, talvez este seja agora um desafio diferente. O tempo e a fome haviam crescido de tal ordem que a mudança desejada pedia luxúria, extravagância de afetos ocos e imbecilidade. Porém a mudança chegou.
Todos este cérebros de superioridade, incalculavelmente desvanecidos se deram conta de um problema quase comum. No entanto navegam-se mares, percorrem-se montanhas para perceber que o ditado amor que temos por as coisas que dizemos nossas tem de facto mais valor que a vida do corpo e também da alma de alguns. Tanto paço para estas cabeças ocas perceberem que temos de servir-nos do que abusamos tratar como nosso do que nem é de todos.
Bem seria acreditar que se devia assumir a posição de tratarmos o problema comum. Ligar os cérebros no tratamento desta doença vitoriosa.
O mal é sermos coniventes com ela e acreditamos que estamos a comandar esta geringonça global.
Vamos sofrer uma goleada histórica.
Muito me espanta, bons comportamentos de gente honesta, experimentado no caminho certo.
O que eu espero agora é que a consciência da soberania se não perca nos senhores definidos e intitulados sobramos. Não são grupos separatistas que vencerão está guerra. Quem irá vencer esta guerra é a natureza que criamos, ou tenhamos de vir a criar.
Estamos muito longe do mundo certo, e de início escolhemos o caminho mais longo do sentido incorrecto.
Obrigado aos que nos fazem acreditar mas ninguém pode carregar esta cruz sozinho.
Protejam-se e sejam solidários independentemente do desfecho.
Bem hajam
Autor: António Benigno
Código de autor: 2020.03.20.18.03..22.33.03.01
margarida 21h
lembra-me um sonho
esta noite que passámos
onde a vulnerabilidade
permitiu que fossemos
inevitavelmente desejados
um pelo outro.

mas, tal como o sonho
tudo acaba quando acordamos
onde resta a minha dignidade?
e se prometessemos
ficar de olhos fechados
nos braços um do outro?

talvez de manhã
ainda pudesse saborear
o teu beijo uma ultima vez.
um escape de realidade,
um engate conveniente
uma noite que fica para sempre.

talvez amanhã
quando eu te ligar
e atenderes desta vez
verás que a minha sobriedade
só me deixou mais contente
por termos dormido frente a frente.

as minhas mãos tremidas
os teus calos nos dedos
a tua boca quente na minha
os nossos suspiros conjuntos
lembra-me um sonho
dos mais bonitos que tive.

com medo de ser esquecida,
medo de ser mero brinquedo,
não disse nada do que tinha
para dizer, porque juntos
foi a primeira vez que o sonho
me disse: “vive, margarida, vive!”

espero não me arrepender
de te ter dado o meu anel
que nunca sai do meu indicador
mas que naquela noite
só parecia encaixar
contigo, de mãos dadas comigo.

não sei se me vais responder
ou se preferes ser fiel
à tua propria dor.
só sei que foi a melhor noite
que podia desejar
porque acordei contigo.

— The End —