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Victor Marques Oct 2010
António teu nome,
Agricultor, vitivicultor.
Apaixonado pela terra,
Pelo Douro, pelos Montes.


Aquele amor que não se encerra,
Dorme na colina, na serra.
Colheu tristeza na Guerra Colonial,
Amou  o Douro e Portugal.


Semeou a terra que alegrias lhe traria,
Amou seus filhos e sua esposa Maria.
Plantou videiras que olhavam o céu estrelado,
Fez vinho com amor imaculado.



As uvas são um amor para toda a vida,
Deus nos ama até na despedida.
Olhou para o Rio Douro eTua ,
E na memória de um povo com glória,
Com aquela lágrima que eu sinto agora.
Me conforto no horizonte duriense,
Hoje, amanhã e sempre.


Victor Marques
amor, douro, Pai
VS May 2016
perfura-me os olhos
perpétuo motor da sombra

há tempo o que move esta senda
é o regurgitar do vômito
por obsessiva garganta
de um estômago de Cronos

entremeia com violência o claro e escuro
invalida pupilas uma vez ágeis
até que Sacra Dualidade seja conjunto vazio

e nega dadas respostas e insiste
que são impossíveis questões
num antigo e ébrio laço

encerra o deísmo em ti mesmo
macromania moral macerada em fermento
que tem por Sol os teus olhos

perfura-o pois
e encerra, agora,
suserano da perspectiva
Rui Serra Feb 2014
ser
E no infinito do teu ser, oiço murmúrios de uma voz magoada, no meio de um silêncio puro e perfeito.
Lábios sedentos de um beijo, olham-me cegos do meu ser, e minha alma perdida na nostalgia de uma noite invernosa caminha para junto do teu eu.
E junto à relva eu me encontrei, a ouvir os murmúrios de um ribeiro, e a pensar nos teus olhos cor de violeta como estrelas, na tua face terna e suave e nos teus cabelos de oiro fino que brilham ao luar de uma noite que encerra grandes mistérios.
Marco Raimondi Sep 2017
Narrador:
Nestes flancos escuros, onde ardor carece
Um anseio de longo vislumbre subia;
Ora Idália aos céus: "Canto do sol que emudece,
Dai-me prazer de outrora, bela sinfonia
Harpar áurea passageira, graça que visita;
Ó filha das luzes, que te cobres e te hesita?"

Hemera:
Que cessa-me, quão não depor a fatal império
Se minha luz, qual na própria noite encerra,
Tem de sua aurora, vasto mistério,
E perde-se nas trevas, no silêncio da Terra?
Senti, da mais cruel noite, doloroso espinho
Mas de teu ventre, escuro nascedouro, dei ao mundo claros caminhos;

[...]
Amanhecer na Vinha

Sou Alvor, luz primeira do dia,
Que beija o verde com melodia.
Nasce o sol sobre os ombros da serra,
Desperta a vida que a terra encerra.

Folhas orvalhadas cantam baixinho,
Agradecendo o calor e o caminho.
A vinha, em fileiras como versos sagrados,
Ergue-se em prece pelos dias passados.

Ali, a casa de pedra repousa em silêncio,
Guardando histórias, vinho e pertencimento.
Sou alvorada, sou bênção, sou promessa,
Sou o tempo que passa sem ter pressa.

Deus escreve com luz neste cenário,
A beleza é um gesto necessário.
Sou  poeta da videira e da paz,
Alvor do amanhecer que tão bem me faz.


Victor Marques
Douro Valley
Alvor amanhecer, casa quinta
"Sede inabalável!", rugiam em altos brados
as vozes hostis, enquanto o mundo em
volta me roubava a alma.

Pouco a pouco, a matéria dissolvia-se, as partículas ínfimas
de ternura.
Açoitava-me o eco de vozes
detratoras, pulsando em meu peito, já
retalhado, a agonia cega.

​O acalanto de outrora, doce e brando,
convertido em flagelo, hinos de infâmia e
sentenças severas.
​Ao longe, avisto a lápide,
​a desdita há muito tempo esculpida.

A névoa
da aurora, fria, sorveu de meus
olhos o derradeiro pranto. Em escombros
de corações putrefatos, faria minha nova
morada.

​Nem arcanjos celestes, nem hostes
infernais acolheram minhas súplicas.

​Depuseram-me, pois, sobre a ara fria
da morte e, em silêncio, a cerimônia se
encerra, deleite aos olhares vorazes e
profanados.

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Between Voices and Ruins: Surrender

"Be unshakable!" roared the hostile voices, while the world around me stole my soul.
Little by little, matter dissolved, like tiny particles of stability.

The echo of detractors' voices lashed me, throbbing in my chest, already torn, a blind agony.
The lullaby of yesteryear, sweet and gentle,
converted into a scourge, hymns of infamy and
severe sentences.

In the distance, I saw the tombstone,
the misfortune carved long ago.

A mist
of dawn, cold, ice-cold in my
eyes, the final cry. In the rubble
of rotting hearts, I would make my new
home.

Neither heavenly archangels nor infernal hosts welcomed my pleas.

​He then placed me on the cold altar
of death and, in silence, the ceremony
ends, a delight to the voracious and
profaned gazes.

— The End —