Sou uma hipócrita.
Como posso eu dizer que as palavras não importam, se é a elas que me agarro através da escrita?
Que tipo de poeta sou eu se não fizer cada palavra importar?
Sou um desastre.
Demasiado sensível para não tremer de medo quando escrevo de alguém, porque só escrevo quando amo e amar faz-me fraquejar.
Sou fraca.
Não lhe quero dar o poder de me apegar, porque o apego gera saudade e isso é coisa que não sei lidar.
Sou insegura.
Quando tudo o que tu conheces é o abandono, chega a uma altura, não sei bem quando, em que és tu a abandonar, porque ao menos, assim, podes manter a ilusão de que tens algum tipo de controlo sobre a vida.
Eu, com controlo?
Não.
Sou só autodestrutiva.
Sinceramente, falo de futuro mas choro sempre que penso na possibilidade de ter um.
Às vezes, muitas vezes, sinto que a morte já me tocou, mas eu fiquei. Fiquei fria e insensível ao toque.
Fiquei à espera para ver quando fecho os olhos e não os volto a abrir. E o pior de tudo, há momentos em que anseio por esse dia mais do que anseio pela vida.
Sou humana.
Acho que o sou. Sei ser-humana tão bem, que ser-humana é isto, existir em dias assim.
Que desespero! Ser-humana é isto?
Bem dizia o meu amor “o arquiteto deste mundo não o desenhou para mim”.
Sou exaustiva.
Amar-me envolve um grande desgaste de carga psíquica, sei que sim, porque ainda me estou a tentar amar e há dias em que nem eu o consigo fazer.
Mas ama-me na mesma, se o conseguires.
Sou um ser extremamente infeliz.
Descontente com tudo o que não me mova por dentro de forma intensa.
Quero que me olhes nos olhos para o resto da vida e quero nunca mais te ver, para que não custe tanto quando estás longe de mim.
Sou impaciente.
Tenho urgência de sentir tudo, agora, já! Porque o sinto, agora e já, a toda a hora.
Não sei não o sentir.
Sou um desafio constante.
Principalmente para mim mesma.
Perdoa-me, às vezes só gostava de sentir que não sou assim tão difícil de desvendar. Basta olhar com atenção...
Olhar e ver e observar.
Sou transparente e opaca.
Desvenda-me.
Despe-me sem medo.
Mostra-me que é possível partilhar esta solidão contigo.
Mas cuidado!
Estar comigo implica estar com todos os demónios e fantasmas, mergulhar nos recantos mais profundos e escuros da minha alma.
Implica entrares na viagem, já ciente de que vai ser turbulenta, ciente de que vais desejar nunca ter entrado e vais até pôr a hipótese de saltar fora a meio.
Dá-me luz.
Sempre que a tiveres acesa, vira o farol para aqui, para que eu nunca me perca de ti e saiba sempre para onde voltar, mesmo nos dias em que me sentir totalmente perdida, desorientada e sem intenções de regressar.
Recebe este amor.
Este amor que é demasiado grande para caber só em mim.
Aviso-te, vai com um pouco de dor.
Mas seria uma estupidez deixar-te pensar que há outro destino reservado que não acabe por desaguar em ti.