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A Terra Sabe Quem a Ama



A terra não esquece quem a toca
com mãos sujas de sol e esperança.
Ela guarda no silêncio da rocha
a pureza  duma criança.

Há nos olhos do duriense calado,
um brilho nos  dias de chuva .
É a luz de quem foi sempre chamado
a amar a terra da maltratada uva.

As vinhas conhecem-lhe o passo,
os muros o som da sua lida,
o suor que cai e grava no espaço
um poema de coragem e vida.

Jesus Cristo caminha entre a videira,
com cálice de bênção na mão.
Ali, onde a terra é verdadeira,
abençoa o Douro nossa paixão.

São Martinho, de capa ondulante,
prova o primeiro mosto com respeito.
Santiago passa como viajante,
e pinta o bago com fervor e prece no peito.

E entre os bardos, em leve cantoria,
voam passarinhos de céu aberto.
São Francisco fala-lhes com alegria
de um Douro sagrado, puro e certo.


Victor Marques
Douro Jesus Cristo  vinho
O Barão do Douro

James Forrester, o Barão do Douro,

Veio do Norte como quem atende um chamado,
Nos vinhedos mergulhou sem farda ou ornamento,
Chamaram-lhe Barão, mas foi raiz e vizinho,
Irmão do xisto, guardião do vinho.

Veio sem espada, mas trouxe o olhar
De quem mapeia montanhas para libertar.
Riscou o Douro em linhas de coragem,
Com tinta de alma desenhou a paisagem.

Queria o vinho livre, inteiro, verdadeiro,
Sem o peso sujo do lucro estrangeiro.
Gritou contra o jogo que rouba e disfarça,
Elevou o Douro em copo e em taça.

Desceu no barco com sede de justiça,
Nas águas levou o sonho à superfície.
Mas o rio, ciumento, puxou-o ao fundo,
E o imortaliza no Douro e no mundo.

Mas não, Barão, não foste calado:
Nos socalcos ecoa teu passo marcado.
Nas pedras ainda arde a tua chama,
O Douro não esquece quem o ama.

Em cada garrafa dorme a tua memória,
Em cada rolha um sopro da tua história.
No murmúrio das folhas, no céu da vindima,
Vive o Barão, eterno, com a sua sina..
James Forrester  Barão Douro
Mulheres Videiras do Douro


São elas, as mulheres do Douro,
raízes fundas feito tesouro.
mães, avós, filhas queridas
educadoras das nossas vidas,
troncos firmes, braços de ternura,
Meu Douro minha armadura!

Com mãos que sabem de poda e pão,
sabem do frio e lavar com sabão...
Calor da lareira acesa com pinhas mansas,
Memórias   boas lembranças.

Minha avó Cândida, padeira destemida
moldava o pão com ternura sentida,
Percorria caminhos de noite e de dia,
Videiras da vida da minha alegria.

Mulher que ensina sem gritar,
que organiza sem mandar,
que cuida da vinha e da alma,
com a força discreta tudo acalma.


Videiras humanas do meu alento,
Feitas de vinho e pranto.
A vossa sabedoria da terra e o segredo do tempo.
Elas são Douro, são amor, sangue derramado,
Com o mais profundo sentimento.
Mulheres , avó,  Videiras,  Douro
Close to nature, close to God.
The rainbow in the sky says goodbye,
pure nature, forever kind,
shining bright like silver, refined.

Rivers of solitude running free,
children asking for food, silently.
Yet the breeze still sings with grace
on the vine leaf’s sacred face.

Close to nature  and to you, my brother
to love all things, one after another,
with nobility from the heart’s deep tide.
The earth smells of eternity wide,
and the sun is a wine without time inside.

Gratitude in the smile we show,
nature full of charm and glow.
The fog descends, calm and clear,
like a mantle blessing all that is near.

Days of rain and shining skies,
close to nature, where life applies.
The Douro whispers ancient lore,
and birds pray for friends they adore.

God embraces the whole wide land,
all people, but Douro first, my land
Flowers, bees, and honey in season,
all pulsing in the heart of creation’s reason.

In the silence of the my  lovely field,
I feel God crucified, revealed.

The soul is a root that sings and feels
in the earth, in the sky  where forever heals.


Victor Marques
Perto da Natureza, Perto de Deus

Perto da natureza, perto de Deus.
O arco-íris no céu a dizer adeus,
natureza pura e sempre grata,
reluzente como a prata.

Rios de solidão a correr,
crianças a pedir de comer.
Mas a brisa ainda canta
na folha da videira santa.

Perto da natureza e de ti, meu irmão!
Amar tudo com nobreza de coração.
A terra cheira a eternidade,
e o sol é um vinho sem idade.

Gratidão no sorriso do rosto,
natureza cheia de encanto e gosto.
A névoa pousa devagar,
como um manto a nos brindar.

Dias de chuva e sol a brilhar,
perto da natureza, a recomeçar!
O Douro murmura segredos antigos,
e os pássaros rezam por seus amigos.

Deus abraça o universo inteiro,
todas as gentes mas o Douro primeiro.
Flores, abelhas, o mel da estação ,
tudo pulsa no encanto da criação.

No silêncio do campo molhado,
sinto Deus crucificado.

A alma é raiz que canta e sente
na terra, no céu, para todo o sempre.


Victor Marques
Deus,  Natureza,  vinho
Barco Rabelo à Deriva



Um barco rabelo à deriva,
sem rosto, sem leme, sem voz.
Carrega no ventre o silêncio dos homens
que foram pais e avós.

Foi rio acima com sonhos de vinho,
volta vazio, ausente,
como se o Douro chorasse sozinho
hoje, amanhã e sempre.

No espelho do Douro, sem norte nem cais,
leva no casco feridas antigas
e no silêncio, vozes
que não voltam mais.

Não tem vela, não tem rumo,
não carrega mais o vinho dos deuses,
mas ainda flutua,
feito fantasma de um tempo
que tudo leva com o vento.

Era nele que os homens desciam o rio,
com o coração nas ondas e, por vezes, frio,
o suor preso às amarras da encosta…
Vinham da montanha com o amor
de quem do rio sempre gosta.

Agora, o barco vai só,
como uma rena sem trenó,
vendido em copos que não sabem a chão,
nem sentem compaixão .
Como os velhos que ficaram nas aldeias
a ouvir o uivar das alcateias.

Ninguém ouve esse barco rabelo a deslizar,
ninguém lhe pergunta onde vai parar.
Foi nas suas tábuas cheias de podridão,
foi na sua sombra que se rezou pelo pão,
foi com ele que se ensinaram os filhos
a amar  sem explicação.

Mesmo sem leme,
carrega a alma duriense,
que ama e sente...
Carrega promessas por cumprir,
carrega o abraço do pesar e do sentir
e, sem rumo, vai prossegui
Barco Rabelo amor Douro
Dourado Doce Douro

Dourado,
como o fim de tarde que adormece os montes,
como o néctar que escorre dos bagos amadurecidos pelo tempo. pelos horizontes.
Assim é o Douro
Doce no coração,
valente na alma,
firme como os braços dos que vieram antes., de outra geração.
Feitos bagos  de uva de uma só nação.

Aqui,
neste vale esculpido a pulso envaidece
cada socalco é uma carta de amor dos antepassados que nos rejuvenesce ,
cada videira com  sussurro antigo a dizer:
Fica. Ama. Cuida para o Douro Bendizer!

O Douro não é só paisagem,
é herança viva,
é o abraço de um avô invisível,
é o beijo de uma avó deixado num cálice de Porto.
E dum barco  rabelo à deriva
Sem cara nem rosto.

Quem aqui ama, ama devagar.
Com mãos sujas de terra cuidar

com olhos que choram quando o céu se pinta de ouro dourado.
Ama com o peito inteiro pela lança lancetado
como se cada gole de vinho fosse um reencontro do presente passado,
com a infância, com a origem, com o eterno amor sempre esquecido.

No Douro, o amor não morre
amadurece.
Como o vinho nos tonéis que sendo ser vivo,
Tudo ama e nossa alma se envaidece  
Douro dourado doce que nunca desaparece.

Victor Marques
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