Submit your work, meet writers and drop the ads. Become a member
 
No primeiro sopro da manhã viva,
o Douro respira névoa e promessa,
borboletas sem nunca ter pressa,
pássaros cantam a esperança perdida.

O sol, nascente, felicita o sobreiro,
Aquece as vinha sempre primeiro.
Muros de xisto e granito guardam segredos nunca contados ,
Amém ao Douro,  a nossos antepassados.


Rolhas esperam histórias em garrafas adormecidas,
as uvas amadurecem entre murmúrios e paisagens queridas.
O  rio que corre lento, como o tempo,
Com o respeito a Deus e ao meu pensamento.

E ao cair da tarde, quando o céu se inflama,
um horizonte alaranjado beija o vale duriense e  diz que me ama.
O Douro, inteiro, torna-se carícia e verdade ,
feito de luz, suor e  eternidade.

Aqui cada pôr do sol é uma bênção e a minha inspiração!
Cada amanhecer, um recomeço, uma nova comunhão.
Na alma duriense existe amor e serenidade,
Feito de vinho e saudade.
Vinho Douro carícia verdade
Dedicado  a Antonia Ferreira, Ferreirinha



No coração das encostas sem alegria ,
onde a videira reza à luz do dia,
viveu um nome que o Douro guia
Ferreirinha sofres com tanta agonia.

Plantou sonhos no xisto sofrido,
viúva cedo, mas o Douro foi seu abrigo,
com mãos de ferro e alma de flor sentida,
deu ao Douro  nova vida.

Hoje, noutro tempo de incerteza,
em que o vinho luta por valor,
há um homem que, com firmeza,
honra o grande e pequeno viticultor .

Sou letrado, mas  lavrador de esperança,
não vendo minha  alma por qualquer benefício,
Prefiro dar terno carinho e confiança
A quem cuida a vinha com sacrifício.

Como tu, Antónia  que também sonhaste,
com um Douro livre e verdadeiro,
o produtor pequeno nunca abandonaste,
e lutaste pelo Douro no mundo inteiro.






Para quem tem coração duriense:

Que ninguém esqueça que o Douro tem nome de gente.
Que o vinho é verso, é verdade, é semente.
E que os herdeiros da Ferreirinha ainda andam por cá nas encostas a trabalhar,
com enxada na mão e dignidade no olhar.



Victor Marques
Duriense com Alma
Wine Producer Douro Valley
Douro meu, tão ferido e calado,
terra de sangue, de sol lavrado,
ergue-se agora em grito rasgado
Douro meu amor, meu legado.

Na mão que cava, a alma floresce,
Como um amor que não se esquece.
Cortam-nos sonhos , estragam nossas vidas.
Douro meu dás paisagens queridas.



Ah, Douro , muralha e pranto,
ninguém te  dá amor e alento.
Querem vender-te em postal ilustrado,
Esquecendo o meu povo mal amado.

Não queremos migalhas, nem piedade,
mas uma política com verdade.
Queremos ser parte, não vitrine,
num país que ouça, sinta, e determine
que o Douro é raiz, futuro e pão,
E quem nele trabalha  vive com paixão.


Grita, Douro, do fundo das fragas,
Elevado com minhas palavras.
Onde dormem os que têm poder,
Nao deixem meu Douro morrer.

E se ninguém me ouvir, Douro meu,
serás grito eterno, na rocha e no céu.
Serás verso, punho, lágrima e chão,
Douro minha vida, meu coração...
Douro   amor  terra,legado
UM GRITO PELO DOURO

O que hoje escrevo é um apelo. Um lamento de quem trabalha com a terra, com as mãos e com a alma. Oxalá alguém com responsabilidade leia estas palavras, entenda o que aqui se denuncia e tenha a coragem de agir. Porque o Douro não pode mais esperar.

Hoje, em mais uma reunião no IVDP, discute-se o comunicado de vindima , 68 mil pipas de Vinho do Porto, com uma redução anunciada no consumo que ninguém sabe ao certo qual será. O ano agrícola já se anuncia duro, com quebras de produção a rondar os 30%. E se, para além disso, vierem os cortes prometidos, estaremos perante uma falência generalizada.

Não é só a vinha que sofre. Também a azeitona, depois de uma floração que nos encheu de esperança, foi em grande parte dizimada pelo clima. O futuro que se avizinha é *****.

O que mais dói, contudo, é ouvir as vozes de certas pessoas da cidade ,ignorantes e arrogantes  que dizem que vivem a subsidiar-nos com os seus impostos. Uma infâmia. Não conhecem o nosso labor, não sabem o que custa levantar-se às cinco da manhã para cuidar da terra. Não sabem o que é produzir riqueza, vinho, azeite e paisagem.

Esta visão urbana e ideológica de mercado, de uma tal “lei da procura”, está a matar-nos. Porque os mercados, quando não são regulados com justiça, tornam-se armas contra quem trabalha. E nós, os que amamos o Douro, estamos a pagar o preço dessa desinformação permanente.

Não pedimos esmolas. Pedimos justiça. Pedimos visão, coragem política, sensibilidade para com a terra e os que a mantêm viva. O Douro não é um  postal. É suor, é memória, é alimento, é futuro. E está a ser traído.

Victor Marques
Produtor duriense
Doiro, produtor,vinho,Paisagens
Universo Duriense


As estrelas e a lua a brilhar,
Cegos a sorrir sem chorar.
Horizontes de laranja e vinho na mente,
Universo justo, fiel e presente.

O mundo real que o céu nos revela,
Sementes lançadas na vinha singela.
Areia do Douro, espuma do mar,
Paisagens vivas, sem contas a dar.

A natureza gira em sua rotação,
O universo vibra como uma canção.
Tempo maduro e de bem querer,
Sol sobre o  Douro ao  amanhecer.

Homens procuram o que esqueceram,
Sonhos e vinhas que perderam.
Universo ferido e por vezes perdido,
Universo Duriense sempre esquecido

Victor Marques
Sangue dos Meus Antepassados Douro  sublime


Do barro quente nas mãos da avô,
brotava o suor bênção feita em pó.
Era a terra quem mandava, sim senhor,
com honra, com dor, com verdade e amor.


Sol tórrido das tardes de julho a arder,
o canto das cigarras fazia-me adormecer.
E os meus olhos ardiam a ver o poente,
como quem espera que  Deus salve o não crente.

Videiras, raízes, troncos calados,
sobreiros velhos, zimbros cansados.
Homens duros como a cepa da Touriga,
Inanimados com tanta fadiga.




Mulheres firmes, ousadas, sem igual,
como pedras do lagar tradicional.
Nos lagares, a alma pisa a vida,
e o tempo esquece qualquer ferida.


Torradas feitas em lareiras do passado,
azeite espesso, denso, abençoado.
Ai, figos secos da infância sentida,
deixai o Douro ser sonho e ser vida.

Este Douro, meu sangue, minha alvorada minha terna saudade.
É berço dos homens com verdade,
dos que lavram, suam, cantam em liberdade,
E sepultados serão nas vinhas da eternidade



Victor Marques
Douro Valley
Douro meu, junto ao peito,
Tua corre devagar, a preceito.
Duas veias com sangue e alma,
Que cantam num silêncio que acalma.

Nos degraus de xisto e calor,
Suor de gerações antigas,
Muros erguidos com dor e amor,
Em tardes de sombras amigas.

Amanhece, e Deus respira
Na névoa do vale matinal.
A vinha, banhada pela noite,
É pureza divinal.

Como se pedisse perdão
Ao sol, num dia escaldante
Rende-se a luz, com devoção,
Ao ciclo eterno e vibrante.

Há uma lua que  espreita,
Com lágrimas por quem se deita....

E há saudades em cada folha,
Que o vento da encosta pediu.

E eu sou parte deste vinho,
Fermentado com fé e ternura.
Sou poema entre as videiras,
Sou ferida e também cura.

Chamo-me lágrima, sou suor,
Sou saudade em maturação.
Mas no coração do Douro,
Serei eternidade e Devoção.

Victor  Marques
Douro Valley
Douro   amor, vinho eterno
Next page