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Douro, Meu Amor

Levanto cedo, antes do sol tocar as vinhas,
antes do vento acordar as folhas,
antes do rio refletir a luz do céu.
Acordo com sonhos e sem medo,
ouvindo os passarinhos cantarem
um coro de vida, uma celebração no ar,
sobre os socalcos, entre pedras,
onde cada cacho amadurece
como fruto do amor que se merece.

Mãos que acariciam a terra,
mãos que trabalham, que moldam o Douro,
mãos que contam histórias antigas
e sonhos novos,
raízes de família, raízes de memória.
O perfume do xisto, do mosto, da vida
enche o ar, enche o coração,
faz dançar tudo que muda
de estação a estação.

O rio serpenteia, espelho de luz e cor,
e cada passo pelos caminhos de pedra
marca um compasso,
uma sinfonia do dia e do primeiro amor.

Ao fim, mãos sujas, olhos cansados,
família reunida, risos e histórias partilhadas.
E o Douro, meu amor,
entre pedra e céu, entre suor e poesia,
fica sempre dentro da minha tristeza e da minha alegria.

Douro, amor.

Victor Marques
Douro  meu  amor
Poema de Agradecimento aos Vindimadores do Douro

Nas encostas do Douro, onde o sol se deita e levanta,
cresce a videira com raízes fundas na esperança.
Ali, cada bago nasce pequeno, tímido,
mas sonha ser vinho, sonha ser canto,
sonha ser memória que o tempo nunca apaga no meu pensamento

Vindimadores do Douro, homens e mulheres da terra e do sentido,
sois vós que dais corpo ao milagre antigo.
Com passos firmes na madrugada fria e sonolents
quando o vale ainda dorme não há padre, nem água benta!
já as vossas mãos colhem a doçura do cacho maduro
já os vossos ombros carregam o peso da colheita sem preço, nem seguro,  
já os vossos olhos respiram a bruma da manhã.

O sol levanta-se, e com ele levanta-se o suor em causa nobre e por vezez irmã,
gota a gota, como se fosse também vinho a nascer do amor,
E no calor do dia, a vossa coragem não vacila:
pisais uvas com paixão, com força, com pudor!
Cada bago esmagado é promessa de futuro promissor,
é poesia escondida num líquido sagrado,
é herança que os avós nos deixaram
e que os filhos um dia hão de guardar por Deus abençoado.

Não há vinho sem a vossa alma pura
Não há festa sem a vossa canção cheia de nobreza e doçura  
Não há Douro sem as vossas mãos
que transformam a terra dura em alegria líquida cheia de sensibilidade,
que fazem da colheita um gesto para a eternidade.

Por isso, vos agradeço:
a cada ruga que o trabalho gravou,
a cada passo dado nas encostas que o tempo e o governo abandonou
a cada olhar cansado que brilha de orgulho ferido
Sois vós, vindimadores, que guardais a verdade do Douro esquecido!

E quando o copo se ergue,
quando o vinho repousa na mesa,
há sempre um pedaço de vós que nele se manifesta com alegria e tristeza.,
o suor, a canção, a lágrima e o rio  Douro nos dá com firmeza,
o mel fresco das uvas que são nossas e  enfeitam a natureza.
Obrigado.
Vindimadores  Douro  trabalho
Deixai me ser Douro e  até Vinho.


Nas encostas de xisto, o tempo esperava,
a sombra dos velhinhos de olhar cansado.
Mãos calejadas, memória da enxada,
num rio de suor, silêncio sagrado..

Cavalos subiam as encostas
Homens com cestos cheios às costas
e o sol, ao cair, dourava o o seu rosto
Por amor, destino ou desgosto

Os socalcos ecoavam rezas baixas em segredo
vozes que o vento levava consigo e com medo.
Passarinhos pousavam nas ramagens, das videiras
lembrando a saudade de um Douro antigo coberto de canseiras.

Era dor, era vida, era chão sofrido e molhado
mas também festa na vindima tardia do vinho dourado
O rio corria levando tudo com sentido,
os antepassados cantavam um amor antigo.

E hoje, quem passa, ainda pressente
que cada pedra, cada parreira,
guarda no coração, eternamente,
o sangue e a alma desta gente inteira.


Este meu Douro com gente humilde sem igual,
É sangue vivo deste meu Portugal .
Também eu sou produto feito de cheiro a rosmaninho,
Deixai me ser Douro e  até  Vinho


Victor Marques
Douro, vinha, amor,antepassados
No Douro, entre Céu e Vinha

No anfiteatro de socalcos,
o Douro ergue-se como oração,
pedra e videira entrelaçadas,
mãos de homens atarefadas,
vivendo em comunhão...

Deus habita aqui,
na lágrima do sol que cai sobre o rio,
no céu alaranjado que se desfaz em brio,
no cântico escondido das aves,
no rumor das folhas ao vento, sempre suaves,
no zumbido que a noite recolhe em simpatia,
como quem embala a tristeza em alegria.

O vinho, fruto sagrado,
feito com amor desdobrado,
é comunhão, é missa sem tempo nem hora,
é respeito, é Deus, é memória,
é abraço partilhado à mesa do povo,
é corpo de terra e espírito de fogo,
que se oferece em cada copo matizado,
entre céu, vinha e pecado.

No alarido da natureza,
há silêncio que fala à noite, ao luar,
há o mistério de Deus por contar,
a tocar cada rama, cada galho,
cada coração que precisa de agasalho.

E quando a noite cobre os montes,
com véu de prata e murmúrio de frescas fontes,
fica-nos a certeza de que o Douro é saudade sentida:
aqui se reza sem palavras,
aqui se ama sem medida,
aqui o homem e Deus
são vizinhos eternos para sempre,
terra e vinha, sua semente.

Victor Marques
Douro, meu amor, meu pecado


Olho a água que desliza nos ribeiros,
encostado à sombra dos sobreiros.
Vejo muros erguidos com mãos calejadas,
pedra sobre pedra, sem enxadas.

O Douro não é perfeito é eterna dor,
é fruto e colheita de suor,
embalado no silêncio do meu amor.

Tem cepas sofridas, terras duras e xistosas,
enfeitadas de rosas e mimosas.
Homens e mulheres vivem entre o sonho e a fadiga,
mas é nessa luta que vivem a própria vida.

As papoilas ardem nas vinhas douradas,
as oliveiras pacientemente amadas.
As figueiras oferecem frutos em segredo,
rebanhos e cavalos são companhia sem medo. .

Tudo isto é Douro:
encanto, ferida e tesouro.
Um amor que prende e liberta sem querer,
que fere e consola até morrer....

Douro, tu não és apenas um lugar:
és o meu destino santificado para sempre te amar,
o meu labor, o meu amor,
o meu eterno pecado.
Por Deus abençoado.


Victor Marques
Nas encostas rasgadas pelo sol e pela chuva,
Sanguec e memória feita de uva.
Cada cacho é um verso, cada socalco um pensamento
escrito com pena e lamento.

Mas há um rio que não corre em águas claras,
corre em moedas fugidias e promessas caras,
em contratos frios, que ignoram as raízes,
em palavras doces que escondem cicatrizes.

O Douro chora  não de tristeza, está enfurecido
porque quem vive o vinho não vive está desiludido.
O homem da vinha é refém do tempo e da dor,
voz muda no conselho dos poderosos em redor.

Hoje, como ontem, repete o seu cântico nobre
de um povo que entrega a vida e recebe o troco de pobre,
de uma terra que dá ouro e colhe desventura,
de um futuro impresso em papéis sem cultura.

Mas o Douro é feito de gente que não se cala,
de mãos que plantam esperança entre as pedras que ninguém abala,
de olhos que enxergam além do horizonte frio,
de corações que batem no pulsar do desafio.

Ergamos a voz  vento livre e sem correntes
que atravessa as vinhas, desperta as nosssas mentes,
que grita justiça verdade e vida,
por um Douro de alma quase perdida.

Porque o Douro não é só terra é gente,
não é só vinho é memória e presente.
E enquanto houver uva, haverá luta e dor.
E enquanto houver luta, haverá Douro e amor.


Victor Marques
Douro  chora  vinhas  amor
Douro terra onde tudo vive


No poente alaranjado
arde o céu sobre as vinhas
e as cigarras parecem minhas,
Neste meu Douro dourado.

Formigas cruzam caminhos de pedra xistosa,
carregando alegria da bela mimosa.
Abelhas embriagam-se no néctar adocicado
das flores que o vento esqueceu.
Borboletas cartas aladas dos deuses
pousam breves nos versos meus.
sobre a pele quente da colheita.

Oliveiras que enfeitam as encostas
guardam segredos de enxadas às costas.
raízes que se entrelaçam
com ossos de meus antepassados
Douro dos serões embriagados.

Cada videira com
Seu  tronco retorcido,
é oração sem palavras,
escavada pela fé de quem aqui tenha nascido.
Homens de valor com paixão  por
mulheres de lenço de eterno pranto
no silêncio da paisagem encontro Douro e meu lamento.


O rio,
essa serpente de prata e memória,
leva nas suas águas
o reflexo do céu e da aurora
É nascente e poente,
vida que vai e regressa
no ciclo eterno de todo o sempre.

E quando o sol mergulha
no ventre da desta santa Terra.
Ela  canta baixinho
uma canção no cume da serra.


O Douro é mais do que lugar.
É pulso.
É respiração da terra.
É a poesia que ainda não foi escrita,
mas que já vive
em cada uva, em cada impulso.
Em cada abraço apertado que dou à minha gente,
em cada olhar que ama
sem saber porquê
apenas porque sente.


Victor Marques
Dourado Doce Douro

Dourado,
como o fim de tarde que adormece os montes,
como o néctar que escorre dos bagos amadurecidos pelo tempo. pelos horizontes.
Assim é o Douro
Doce no coração,
valente na alma,
firme como os braços dos que vieram antes., de outra geração.
Feitos bagos  de uva de uma só nação.

Aqui,
neste vale esculpido a pulso envaidece
cada socalco é uma carta de amor dos antepassados que nos rejuvenesce ,
cada videira com  sussurro antigo a dizer:
Fica. Ama. Cuida para o Douro Bendizer!

O Douro não é só paisagem,
é herança viva,
é o abraço de um avô invisível,
é o beijo de uma avó deixado num cálice de Porto.
E dum barco  rabelo à deriva
Sem cara nem rosto.

Quem aqui ama, ama devagar.
Com mãos sujas de terra cuidar

com olhos que choram quando o céu se pinta de ouro dourado.
Ama com o peito inteiro pela lança lancetado
como se cada gole de vinho fosse um reencontro do presente passado,
com a infância, com a origem, com o eterno amor sempre esquecido.

No Douro, o amor não morre
amadurece.
Como o vinho nos tonéis que sendo ser vivo,
Tudo ama e nossa alma se envaidece  
Douro dourado doce que nunca desaparece.

Victor Marques
Universo Duriense


As estrelas e a lua a brilhar,
Cegos a sorrir sem chorar.
Horizontes de laranja e vinho na mente,
Universo justo, fiel e presente.

O mundo real que o céu nos revela,
Sementes lançadas na vinha singela.
Areia do Douro, espuma do mar,
Paisagens vivas, sem contas a dar.

A natureza gira em sua rotação,
O universo vibra como uma canção.
Tempo maduro e de bem querer,
Sol sobre o  Douro ao  amanhecer.

Homens procuram o que esqueceram,
Sonhos e vinhas que perderam.
Universo ferido e por vezes perdido,
Universo Duriense sempre esquecido

Victor Marques
Sangue dos Meus Antepassados Douro  sublime


Do barro quente nas mãos da avô,
brotava o suor bênção feita em pó.
Era a terra quem mandava, sim senhor,
com honra, com dor, com verdade e amor.


Sol tórrido das tardes de julho a arder,
o canto das cigarras fazia-me adormecer.
E os meus olhos ardiam a ver o poente,
como quem espera que  Deus salve o não crente.

Videiras, raízes, troncos calados,
sobreiros velhos, zimbros cansados.
Homens duros como a cepa da Touriga,
Inanimados com tanta fadiga.




Mulheres firmes, ousadas, sem igual,
como pedras do lagar tradicional.
Nos lagares, a alma pisa a vida,
e o tempo esquece qualquer ferida.


Torradas feitas em lareiras do passado,
azeite espesso, denso, abençoado.
Ai, figos secos da infância sentida,
deixai o Douro ser sonho e ser vida.

Este Douro, meu sangue, minha alvorada minha terna saudade.
É berço dos homens com verdade,
dos que lavram, suam, cantam em liberdade,
E sepultados serão nas vinhas da eternidade



Victor Marques
Douro Valley

— The End —