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Samir Koosah  Aug 2018
Avante
Samir Koosah Aug 2018
A noite chega, soturna, calada. Os remédios parecem não fazer efeito. Sozinho novamente com meus pensamentos, embalado pelo som do ventilador e das batidas do meu coração.
Nao sei porque ele insiste em bater, parece um esforço inútil.
As horas passam lentamente, como nos movimentos de uma duna. A areia do tempo descendo vagarosamente pela ampulheta. Se ao menos pudesse ver. Me sinto cego, queria eu estar cego?
Minha decepção só não é maior que a decepção que causei.
Não há lugar aqui senão neste papel para a dor, uma fraqueza que todos tentam esconder - por questão de sobrevivência provavelmente. Os amigos poucos que me restam seguem suas vidas enquanto tento ser feliz, ao menos por eles.
Saudade aqui toma outras formas, como uma tortura ao melhor estilo Stanley
Kubrick em “Laranja Mecânica”, em que as imagens passam repetidamente por minha cabeça sem que eu possa fazer absolutamente nada.
Família, amigos, amores, à distância de uma chamada, uma chamada. Para quem ligar, como?
O cárcere em sua pior faceta, o isolamento social. Conto nos dedos de uma mão as pessoas com quem consigo manter uma conversa. Mesmo assim nao consigo conversar, a cabeça e o coracao nao estao aqui, eles fugiram, estão lá fora, espero que a minha espera.
Outro cigarro, mais um café. Quantos mais, quantas mais palavras? A caneta e o papel são meus melhores amigos, às vezes até me entendem. Monólogos em horas, diálogos em outras.
Me pergunto qual seria o limite entre a sanidade e a demência aqui. Se é que existe um, estou eu ficando são ou louco?
Nao era quando cheguei, provavelmente foi o que me trouxe aqui, agora só me resta um caminho a seguir e tenho que achá-lo sozinho.
Não tenho arrependimentos, aqui não há lugar para eles, há agora um só caminho a seguir, em frente! Adiante!
Gil Cardoso Feb 2019
Sol queima a minha pele
Inicialmente
É agradavel
Depois, é dor

Como bolo doce que vou comer
Efeito da gulosia
Afoga o meu saber
Para mais tarde me aperceber
Que foi demasia
Aí puderei me arrepender

E então pergunto, qual é real?
Qual sigo nisto tudo
O presente ou o futuro?

Dizem-me “Carpe Diem!”
Então deixem-me comer bolo
Deixem-me queimar ao sol
Deixem-me viver a vida tolo

Depois dizem, “sê comedido”
“Tudo com moderação”
Então vivo o futuro agora
Não sigo prazer
Fujo à dor
Sempre a atrasar
A minha fatalidade

Eu sei lá

Mas enquanto escrevia isto
O sol fez o seu capricho
Tenho o poema terminado
E o meu braço queimado
Escrito: Maio 2018
Caos, caos, caos
Perceptível apenas em estado de desarranjo
Irrompe de surpresa mas insidioso e em crescendo

Agente provocador projetando calmaria
Verdadeira ou fictícia?
Pode um provocador ser inerte?

Et tu, agente, não estás numa caixa
Projeto eu do alto da moralidade
Verdadeira ou fictícia?

Estratifica-me como quiseres
Não caibo na régua que usaste
Coincido nos centímetros mas não conheces os nanómetros

Pudesse eu conhecer os teus, até ao mais misterioso átomo
E suspeito que o caos perduraria num constante questionar

Resta-me admitir que a questão me fascina
E que o efeito secundário caótico e desregulador é estimulante
Assustador, perigoso e energizante

Abala-me, outra vez
Sempre me perco, sempre me encontro

— The End —