Ó vida!
Que de ti se apagou a luz
Da escrita criativa.
Não foi de ti, vida,
Foi de mim.
Foi de mim que se extinguiu!
E a mim que ela levou,
Depois que me partiu…
Como se me levasse a vida!
Toda!
a que existia.
E como é criativa,
A musa que me inspira à escrita!
Foi de mim;
Levou-me a vida;
Mas conseguiu deixar-me viva.
“Tem tanto de triste
Como de cruel:
Ser peso morto que respira.”
Escrevi isso em algum papel…
Que logo depois perdi,
Ou se molhou,
Ou o esqueci,
Em algum lugar
Ao qual não pretendo voltar.
Mais tarde, estava de frente com o Mar
Quando dei por mim a chorar…
Em algum momento pensei:
“Talvez a dor da sua partida
Seja outra faísca perdida no ar
À qual me vou agarrar,
E sentir entre os dedos
Antes de a transformar
Em algo mais.”
O “algo mais” que me referia,
Creio que seja esta desordenada poesia.
É o sangue quente, frio, vermelho, azul, é rio, és fogo,
Sou maresia, és eu, sou tu, somos nós, é o mundo,
É a fantasia, é a verdade disfarçada de ironia,
É dor, é amor, é tudo o que caiba num poema,
É tudo o que faça encher; se possível, transbordar!
Foram tantos!
Os que me imploraram para os escrever.
Era eu que ia buscar a inspiração;
Ou era ela que me vinha socorrer?!
No frenesim da escrita maldita
Ficou outra questão por responder.
A caneta tornou-se um órgão essencial
Que não pedi para transplantarem cá dentro;
Sentia a sua forte presença nos momentos de maior alento;
Era a ponte que eu percorria, entre o sentir e o saber;
Assisti enquanto se estendia; dobrava! mas nunca partia;
Até encontrar na página branca uma saída
Para poder florescer; e florescia!
Nascia uma folha que era tecida; com uma teia tão fina que ninguém via;
Só brilhava quando a luz lhe batia; resplandecia!
Quando existia uma ligação direta entre mim e a magia;
De estar na beira do precipício entre a morte e a armadilha;
A que escolhem chamar de vida.
Ah! Musa criativa…
A única que me inspira à escrita!
Sei que um dia te irei reler,
Mas só quando estiver pronta para te entender.
Prometo que vou fazer por o merecer!
Talvez quando esta agonia paradoxal
De ser
Tão humana e sentimental
De ter
De amar à distância
Uma humana tão excecional
Fizer sentido;
Ou então desaparecer!
Foi um “adeus” que nem te cheguei a dizer…
Nem vou tentar romancear
Toda a angústia que vivi; contida
Numa simples despedida.
Foi como se dissesse adeus à vida!
Pois nem toda a tinta
Alguma vez já vertida
Serviu para camuflar o *****
Que saiu da minha espinha
Quando a adaga me acertou.
Até hoje, nem eu sei como me atingiu!
Se fui eu que não a vi,
Ou se fui eu quem a espetou?!
Mas era *****, muito *****,
Tudo o que de mim sangrou;
Quando descobri,
Num mero dia, num inferno acaso,
Que no final das contas
A única que eu tanto amava
Se tinha entregue a um alguém tão raso.
Tapei os olhos com terra suja!...
Tal como decidiu fazer a minha musa.
“O pior cego é o que não quer ver!”
Prefere fechar os olhos porque abri-los é sofrer!
Induzi-me à cegueira;
Amnésia propositada;
Alma bem trancada;
Tudo para a tentar esquecer.
Tudo para lhe pagar na mesma moeda!
Então, claramente, o desfecho da narrativa só poderia ser:
De olhos bem fechados se deu a queda…
Foi assim que aprendi:
A vingança tal como o ódio,
É veneno para quem a traz!
Parei…
Dei um, dois, três, quatro, cinco mil passos atrás.
Relaxei…
Segui em frente.
Lá ia eu
com a corrente…
Inspirei amor e paz.
E foi assim que os abri,
Com uma chapada de água fria.
Não posso dizer que não a mereci.
Foi à chuva, nua, de frente com a verdade pura e crua,
que descobri do que era capaz; e quando soltei ar de novo,
expeli branco, afastou-se um corvo, brilhou o sol com a lua atrás, e:
Ahhhhh! Lá estava ela, exatamente ali!
Onde sempre tinha estado.
No lugar que lhe era reservado,
Onde estava eu também.
Olhamo-nos;
Com um olhar triste; influenciado
Por restos de terra suja
Que ainda não se tinham descolado.
Quase não aguentei;
Contrariei
A vontade de fugir;
E sorri-lhe…
Já fui um ser não tão humano,
Que até para amar estava cansado!
Preso por correntes de ilusões;
Ego;
Egoísmo;
E muito mais do que considero errado.
Como tudo na História
Isso pertence apenas ao passado.
Ah! Musa criativa…
A única que me inspira à escrita!
Ela, melhor que ninguém, o deveria saber;
Que me tornei um ninguém melhor,
Só por a conhecer.
Fiquei mais ardida
Que a Roma Antiga!
Quando aquela louca,
Tal musa criativa,
Me pegou na mão
E fez-me a vida colorida.
(Despertou-me fogo no coração!)
Alastrem-se cores de cinza!
Espalhem-se! Que os vamos fazer ver:
Mesmos os templos em ruína
São possíveis de reerguer.