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Lugar cativo
Onde me deito cativante
E abro a gargante e choro.
Nao darei mais o Tempo
Nem reconciliarei menos o perdao.
Somos os dias contados pelos dedos
E quanto menos tenho menos quero ter.
Frio com febre estou
Doente dos ossos, raspando-os
Ate ao po se extinguirem
e absorvo-os pela narina mais próxima
Directo ao cérebro que me permiti vender
Indirecto ao coração que morto 'e aos poucos.
Faca de dois gumes afiada na pedra
E enrolada no peito cada dia mais,
Milimetro a Milimetro
Para que a dor seja minuciosamente
Mental.
Fatal.
E da paisagem verdejante
Onde passeio as pernas pesadas
Do chumbo das balas perdidas,
Com que te matei,
Absorvo o bicho por entre o jardim
E a natureza para mim nao 'e mais
Que o conteúdo do bolo que cozinhei
Para esquecê-lo.
Cativo ligar
Que permaneço cativa
Húmido que me constipa os dentes
Como a agua gelada com que tomo banho
E nem assim acordo.
Não sei se esta Dor caberá
nas milhares de palavras que defecarei
Ate este dia tardar
E a minha vida por fim, acabar.
Não 'e de minha dor que escrevo,
'e a tua que me percorre este sangue anémico.
Consideras-te feliz que nem um porco
Que na lama chafurda a couraça.
E eu com esta dor de costas do peso
De trazer o Mundo nos bolsos
E por cada morte que deus padece
Um sopro no coração me oferece.
Dor, dor, dor, dor, dor, dor
Qual Jesus Cristo, o redentor.
O coração não mais bate ansioso
Não se queixa se se parte
Mudo, calado,
Pede que me esqueça que existe
E que sucumba,
Muda, calada,
Ao vazio que me toma o peito
Para que nele faça casa novamente.

A cabeça divaga, inquieta,
Queixando-se só de não se queixar
Calada, indiferente,
À impulsividade que me toma
E que me torna,
Feroz, calada,
Num outro animal qualquer
Que me rasga a pele e alma sujas.

Sou presa e predadora nesta Primavera que chega
Não mais borboleta mas fera sedenta
Do sangue que em si mesma corre
Feroz, abafada,
Por drogas rotineiras
E uma cabeça que se não cala
Abafada, empurrada,
Por whiskey rasca e brancos quentes
Caio no ímpasse do quase esquecimento.
O corpo que me prende não é o meu
O Ser, levou-o a nortada
Sou só sentires inexistentes e pensares duvidosos
Matei-me e, impura, continuo a viver
Presa na vida e presa de mim.
irinia May 2015
An Eternal Shrugging of the Shoulders*

I am writing this poem in the dark
this is why I apologise to all who will read it
some words might overlap
                                   others
some letters might remain flat
I know my message risks to arrive truncated
                                   to its addressee
for that matter I feel how some lines are liquefying
as if my eye itself flows in them

presumably in the day when light will come back
this page will be a heap of signs
a hill lodged by ants
or even by more evolved beings capable
                                           of praying
however, the drama I have lived
will remain without a voice
the secret I wanted to hand down to you
                                         with this poem
will be an eternal shrugging of the shoulders

Matei Visniec*
translated by Manuela Chira
irinia May 2015
Nothing of what she had told me
proved to be true
not even wardrobes with thousands of dresses
not even a ballroom
neither garden with peacocks and harts
nor castle
which I've been looking for for three days
but have not found, her palace with view of the sea
of which I found nothing but the view of the sea
that, nonetheless, filled me with tenderness:
so she didn't lie to me after all
she is a good woman, she loves me

Matei Visniec
translated by Anca Romete
irinia May 2015
Who else could I be than the collector of wounds
yes, gentlemen, I came here to buy
some of your hidden wounds

no, gentlemen, the hideous scars are no more of interest to me
I now collect more sensitive wounds
secret traumas
wounds passed down to three generations
pains inherited at birth
thin cuts got at the time when your feelings took shape
anything that disappointed you at birth
now this is what interests me
the first interior drop of blood
the first words you pronounced
but which never ever healed again

Matei Visniec
translation by Anca Romete
Epiphylllum Apr 2020
A noite sussurra seu lânguido canto entremeado pelos gritos agora abafados pela distância.

Arquejo enquanto caminho pelas fétidas ruas decoradas com cadáveres em decomposição, festa de vermes e aves carniceiras;

O tintilar dos vitrais anuncia a chegada da morte. Sua foice esbarra no delicado vidro das igrejas formando uma melodia fúnebre que gela meus ossos e consome minha mente.

Quantas vezes implorei de joelhos como um fraco para que me levasse junto, quantas vezes matei para saciar minha sede doentia; esperando, desejando que o castigo do Deus de que falam recaísse sobre minha existência amaldiçoada e retirasse de mim a não-vida eterna.

O gosto quente do sangue ainda pulsa em minha boca

Repulsa.

— The End —