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Rui Serra May 2014
De repente
olho para trás
e postais antigos
invadem-me a memória,
fotografias já sem cor
de um tempo que não poderei fazer regressar.
Sou alguém, ou assim dizem
mas o que sou jamais importa.
Rebelei-me contra a escola
ataquei os professores
fui pateta
Andei por aqui e acolá
a biblioteca, os livros
sua magia, seu encanto
na adolescência a história do rock
um verão esplêndido
e à noite
uma garrafa, uma rapariga e um abençoado sonho.
Abraço as imagens de outros tempos
e torno-me num palhaço
o que faço
bebo
bebo para vos poder ridicularizar
estar bêbedo é um bom disfarce
depois
minha cabeça pifou
lamento as noites, os anos, tudo o que perdi.
À medida que o corpo se destrói
o espírito torna-se mais forte.
Rui Serra Feb 2015
a ideia escorre
lentamente

fruto do corte profundo

escorrem também
palavras que escrevo

que outrora escrevi

escorrem e
invadem a noite

aperto a ferida

os anticorpos
expulsam o veneno

volto a acreditar
na doçura das palavras

volto a escrever

mas na realidade, o que sai de mim?
Lua Apr 2019
Museus e construções em chamas
Invadem sonhos dos quais não me recordo
Acordo, então, com teias em meu coração
E um sentimento vazio em meio as tramas
Sem lembranças e sem desejar vingança

Primeiro aqui, depois lá
E tantos outros ocorreram
E você nem irá recordar
Pois não era Estados Unidos ou Europa
Se for Rússia, Alemanha ou China
Se lembrará então da Índia, Chile ou Argentina

Pois construções divinas como esta e outras mais
Mal se comparam com as árvores centenárias e os rios que aqui não mais jazem
Nas mãos dos donos do primeiro mundo
Possíveis conspiracionistas enquanto tomam seu chá
E fumam seus charutos caros, despreocupados
Exalando a fumaça de Notre Dame, de museus nacionais e ainda mais
Bebendo em seus chás
As águas dos rios que assistiram secar

— The End —