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giovanna Feb 2022
inteiramente perfeito
tirava-me suspiros
és tão belo, tão doce
tal como uma miragem

com certo atrevimento
tentei lhe alcançar
porém não consegui
pois tal como uma miragem
você nem mesmo esteve ali
Adaptação de um poema que fiz em 2016, o significado é de se apaixonar por alguem que inventou uma personalidade, e na verdade, não era nada do que dizia ser.
Se sou poeta
é porque passo todas noites sozinho
Ser poeta é coisa de quem não tem o que fazer

Cansado?
Apaixonado?
Furioso?

Porque não sai da sua casa?
Porque não vai, desesperadamente, ter com a mulher que ama?
Porque não grita?
Tem medo estar louco, não é?
Mas já está
Sempre esteve
Sempre-nunca soube
Mas não se preocupe
não há nada demais
nunca houve nada demais

Eu sei bem, que a poesia é desculpa para nada fazer
Mesmo se você não escrevesse
Não haveria de sair
Eu te conheço
Você está.... acomodado

Não é preguiça
Nem medo,
Talvez alguma ansiedade,
Mas muita acomodação

Passa o dia pensando no que?
Fazendo o que?
Estuda pra que?
Se sonha? Sonha
hi da s Oct 2017
não precisa pensar muito. ângulo de noventa e cinco graus e um triângulo equilátero.
de onde vieram essas lembranças?
folha de papel cor creme e sem pauta.
faz sete anos que não escrevo em linha reta.
é tão gostoso os dedos deslizando pelas mechas do cabelo.
alcançando até as pontas - essa é a melhor parte.
a fumaça é a coisa mais linda mesmo.
não precisa se esconder atrás da cortina por que a vergonha não usa roupa e isso é tão natural pra ela.
escute gal costa e cante junto com ela.
que magnífico é pensar no som e ouvi-lo mas não vê-lo.
não precisa mais querer voltar a ser criança. a sessão da tarde já não é mais como aquela lembrança em mil novecentos e noventa e oito.
o véu que sempre esteve na gaveta uma hora vai se puir.
porque no fim tudo se apaga.
inclusive o cigarro que chegou na xepa.
escrevendo sempre sem pensar
Mariana Seabra Mar 2022
A realidade é fácil de controlar.


Acordar, tomar banho, tomar o pequeno-almoço, sair para a escola ou para trabalhar, executar tarefas, conduzir, carregar neste botão, carregar naquele, tomar um café, fumar um cigarro, fazer isto ou aquilo, adormecer, acordar e repetir…o meu corpo já faz mais de metade em piloto automático, o que é ótimo, deixa-me mais tempo para viver a minha realidade, dentro da minha cabeça, onde a real ação acontece e se desenrola, onde não há tempo nem espaço, onde sou livre e ninguém me controla.



Por vezes, fico genuinamente chateada com as pessoas quando elas me interrompem e me tiram do meu mundo mais profundo. Não é culpa delas. Elas não sabem que estou a viver noutro mundo.



Encontro-te a toda a hora no meu mundo, que quase me esqueço que não te encontro na realidade.



Por vezes, estou de olhos abertos mas não é neste mundo que estou a viver. Falo contigo e consigo ver-te nitidamente, consigo viajar até ti sem ter de me mover. O meu corpo acompanha, não sei como, tem reações físicas espontâneas que o começam a atravessar.



Por vezes, arrepio-me exatamente onde imagino que me estás a tocar. Olho para o braço e sinto um toque que o explora. Olho para a minha mão e ela está a entrelaçar-se no vazio, com o polegar a percorrer o nada, esse nada que já foi algo outrora.



Por vezes, sinto cócegas na cara, onde o teu cabelo já esteve pousado. Depois, inconscientemente, vou a tentar afastá-lo para conseguir olhar para ti…e é mais um momento fracassado, porque abro os olhos e estou sozinha, não te tenho ali, onde deverias estar, ao meu lado.



Por vezes, estou no escuro, de olhos bem abertos e, apesar de não haver um único raio de luz, consigo ver tudo à minha volta, vejo a silhueta que me seduz. Sinto uma respiração junto à minha, o ar fica mais pesado, mais quente e, consequentemente, logo sinto o coração acelerado. Não me mexo. Não me posso mexer. Não quero que te assustes e saias a correr…então, assim fico.



Por vezes, estou de pé na varanda, encostada à parede, de olhos fechados, com a cara diretamente voltada para o sol e, de repente, apanho-me a sorrir. Já sei! Já sei que vens ter comigo...ou será que nunca chegaste a partir? Sinto um peso a encostar-se a mim, também de cara voltada para o sol e, claro!, não consigo evitar sorrir. Encosto a minha cara com cuidado, sinto duas peles em contacto e é quente! ardente, exatamente onde elas se tocam.



Quando me apanho de novo, estou com os braços em redor de algo. O meu corpo físico acompanha e tira as medidas certas do meu pensamento. Abraço o peso que se apoiou em mim e, não me mexo, fico paralisada com tanto sentimento. Não me posso mexer. Não posso perder este momento…

Mas não está lá nada.  



E quando a minha mente consciente se apercebe disso, rouba-te de mim.


Enfim...
Consegue ser cruel! É tão cruel. Que consciência é esta que não tem consideração por todo o amor que depositei naquele momento, para que ele existisse, mesmo que noutro mundo? E por todo o amor que foi necessário para o manter vivo, mesmo sendo realisticamente impossível eu o estar a viver? Bem dizem os outros que amar é sofrer...



Deixem-me ser inconsciente!



Sinto cheiros, ouço vozes, leio pensamentos que não são meus, toco no ar que me rodeia como se não fosse apenas isso, ar, e continuo aqui para me questionar, será que ainda estou dentro dos parâmetros da sanidade ou já me perdi em todos e não há volta a dar?



Mas seja como for,  

Deixem-me estar!

Por mais que pareça perdida, a quem não sabe sonhar, não preciso de ninguém que me venha tentar encontrar.
Wörziech May 2013
Sentado. Busco o fluir dos sentimentos através de um instantâneo tempo imensurável, criador de uma eterna percepção momentânea. Advertindo-me algo novo estão as sombras, grandes companheiras. Tento me conectar, simultaneamente, à variação de frequências das vozes, das almas; tão amigáveis, expansivas, comunicativas e sempre voluntariosas, dispostas a compartilhar sua essência, preparadas para compor – nunca me deixam só. Apesar disso, algumas vezes me sinto distante, sinto que há falta de minha plena ternura. Lindo o desnecessário. Antiquado moderno. Anacrônicos argumentos favoráveis. Torpes e confusas palavras desconhecidas não lineares se desfazem nos meus olhos e os ofuscam em uma explosão surreal no vaco do universo mental. A transmissão se modifica, a mensagem não. Funesta lógica perdida e procurada. Caricias de uma estrela distante e já morta. Compreensão do que já não existe. É a busca do que sempre esteve morto, sentado.

— The End —