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A lua apresenta-se como dia
Para confundir a escuridão
À meia noite o sol resplandece

O olhar se volta para o alto
O corpo espreita o abismo
Esperança é desespero, e
Desespero é esperança

O calor está esfriando a alma
A água incendeia-se em chamas
E faz nevar

A luz que ilumina
Esconde em si a eterna noite
O abismo esconde o infinito
Ou a morte eterna...

O louco arrisca tudo
no destino incerto....
Já se esqueceu de seu corpo
Já se livrou da morte
chamando-a para si

Mas o verdadeiro louco...
Sequer sabe do abismo
Seus olhos são apenas estrelas
Seu alvo é apenas o céu
Não sabe que vai cair...
A minha glória é criar o impossível
quando todos duvidarem
Pois nasci do ventre de minha mãe
E antes de minha mãe ter nascido...
Eu Sou!
Desde que o vazio
concebeu o infinito
Desde que o infinito
concebeu o fracionado
E fracionando o que sou
nasci assim
Como Marcus!
Que se esqueceu
de mim como Eu Sou
Mas ei de me lembrar de Marcus
Como um pedaço daquilo que fui
...há muito tempo...
e tão logo
Deixei de ser.
E me tornando eu mesmo
Serei meu pai
E serei meu filho
E meu espírito estará em Marcus
E finalmente Marcus estará em mim!
Victor Marques Feb 2022
Acordo com passarinhos a chilrear,
Me vejo com ondas e sua espuma,
Agradeço tudo sem mágoa alguma,
O céu está azulinho e
Esbranquiçado,
Acordar com o presente, futuro e passado,
Acordar, acordar, acordar...

Acordo com amor por Deus santificado,
Me elevo com nobreza pura e grata,
Universo que nos rege e por vezes maltrata,
Ousadia de dormir
Num campo nunca semeado.
Gritar ao mundo por paz-e-amor,
Sentir teu cheiro primaveril de pequena
Flor.

Acordar todos os dias com vontade de dar e agradecer,
Amar tudo com alma de bem querer,
Parece que sou música, poesia, fado,
Acordar com serenidade e tempo para mim,
Acordar com tudo com amor bem amado,
Espírito de Deus me ama muito assim,
Seja na terra o paraíso de acordar em harmonia,
Por isso Deus nos ofereceu a noite, mas não se esqueceu do dia...

Acordar com amor, por amor

Victor Marques
Acordar, Deus, amor
Mariana Seabra Mar 2022
Deixo de herança todos os pensamentos

Perdidos ao luar,

Escritos na página invisível da vida,

Impossíveis de partilhar.



Deixo de herança todas as garrafas,

Que esvaziei e pousei à beira-mar,

Com uma carta escondida lá dentro,

Incógnita ainda por entregar.



Deixo de herança todo o fumo,

Que compulsivamente inalei

Para tentar matar a doença

Da qual nunca me curei.



Deixo as pegadas na areia,

Que rapidamente se apagaram.

Marcas da efémera passagem dos seres

Que por mim passaram.



Deixo de herança o sol de inverno,

Tão apreciado por toda a gente.

Desejo que aqueça as almas frias,

Que não deixe ninguém indiferente.





Deixo de herança o incenso

Que nunca acendi.

Espalhado pela brisa,

Como qualquer cheiro que senti.



Deixo de herança toda a música

E cada marca que deixou.

Atenciosa companheira,

Que tantas vezes me salvou.



Deixo de herança o rio,

No seu mesmo exato lugar.

Lembrança eterna que existe um sítio seguro

Para onde o desespero nos pode levar.



Deixo de herança a pedra afiada,

Que me esculpiram no lugar do coração.

Memória da crueldade no olhar

De quem a infância me roubou.



Deixo ligadas as luzes da aldeia,

Que me abrigaram no solitário berço.

Agarro o impulso que me levou à procura

De tudo o que ainda desconheço.

  



Deixo de herança em papel amarrotado,

Algum sangue que derramei.

Lágrimas, cicatrizes e o fardo,

De ser tão brutalmente consciente

De tudo aquilo que sei.



Deixo de herança o meu amor,

Sorrisos, abraços e essências,

Partilhadas no pôr-do-sol.

E que nesta viagem de turbulências,

Repares na simplicidade do sentimento

Que achaste saber de cor.



Deixo de herança uma moeda,

Ao pedinte que conheci

E que nunca a chegou a gastar.

Esqueceu-se que para a salvação da vida

Não há dinheiro, nem há fornecedor

Onde ele a possa ir comprar.



Deixo de herança o pássaro branco,

Que ainda não se atreveu a pousar.

Canta mais alto a cada Primavera,

Só para me relembrar,

Que as raízes são uma ilusão

Criadas por quem não as consegue descolar.





Deixo de herança duas mãos quentes,

No peito frágil de uma criança,

Que nasceu órfão de mãe

E cresceu sem esperança.


“Nas noites escuras que te abraçam.

Nos dias cinzentos a que te entregas

Que sintas neste aperto a mensagem

De toda a força que carregas.”




Deixo de herança este poema,

Escrito num sonho que se entranha

E do qual nunca acordei.

Vem…

Traz o mapa que queimei.

E encontra-me para lá da montanha

Onde também eu me encontrei.
dead0phelia Nov 2022
rejeição é uma das palavras mais afiadas que já provei. toda vez que não sou escolhida, ou que sou deixada pra trás, toda vez que sou abandonada, sinto doer uma dor de como se eu estivesse sendo cortada inteira em centenas de fatias impossíveis de serem realocadas depois. fico pensando se isso pode ter a ver com todas as vezes que meu pai não apareceu ou se tem a ver com as vezes que minha mãe esqueceu de me buscar na escola. e aí eu insisto muito no ser que não me quer porque fiquei craque na arte de esperar sozinha, no portão com o porteiro que não tava recebendo hora extra pra estar ali até tarde da noite. e agora ficamos eu e o porteiro imaginário esperando o ser amado me levar pra casa e sinto ódio como quando pequena mas permaneço imóvel

— The End —