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Entre socalcos e colinas,
água de frescas minas,
bebendo a luz que cai do céu
Douro coberto por branco véu.

Local sagrado com história milenar,
paisagem de encantar,
escuto pela manhã os passarinhos,
nas videiras a beleza dos seus ninhos.

O vento acaricia as uvas douradas,
Com mãos de belas fadas.
Cada bago é um milagre sagrado,
Douro meu amor bem amado.

Sobreiros e giestas abençoados,
rãs cantam cânticos desafinados.
O sol espreita no horizonte,
beijando fresca fonte.

Ao entardecer uma paz que nos rodeia,
é Douro sem mar, sem areia.
A lua vai chegar sorrateira,
durmo com o Douro à Cabeceira.


Victor Marques
Nas encostas rasgadas pelo sol e pela chuva,
Sanguec e memória feita de uva.
Cada cacho é um verso, cada socalco um pensamento
escrito com pena e lamento.

Mas há um rio que não corre em águas claras,
corre em moedas fugidias e promessas caras,
em contratos frios, que ignoram as raízes,
em palavras doces que escondem cicatrizes.

O Douro chora  não de tristeza, está enfurecido
porque quem vive o vinho não vive está desiludido.
O homem da vinha é refém do tempo e da dor,
voz muda no conselho dos poderosos em redor.

Hoje, como ontem, repete o seu cântico nobre
de um povo que entrega a vida e recebe o troco de pobre,
de uma terra que dá ouro e colhe desventura,
de um futuro impresso em papéis sem cultura.

Mas o Douro é feito de gente que não se cala,
de mãos que plantam esperança entre as pedras que ninguém abala,
de olhos que enxergam além do horizonte frio,
de corações que batem no pulsar do desafio.

Ergamos a voz  vento livre e sem correntes
que atravessa as vinhas, desperta as nosssas mentes,
que grita justiça verdade e vida,
por um Douro de alma quase perdida.

Porque o Douro não é só terra é gente,
não é só vinho é memória e presente.
E enquanto houver uva, haverá luta e dor.
E enquanto houver luta, haverá Douro e amor.


Victor Marques
Douro  chora  vinhas  amor
Fogo e Saudade


O céu arde em brasas sobre o rio,
como se o sol cantasse ao desafio,
mas o Douro guarda segredos antigos
que só a noite revela aos meus amigos.

Pai António, firme como as encostas,
no olhar, o peso que trazias às costas,
perdido no tempo do desalento,
meu Douro, meu muro de sofrimento.

Maria, mãe, no silêncio da cozinha,
cheiro a pão e mosto e  a labuta que se avizinha,
olhos que choram sem pedir nada,
videira da vida, da família sagrada.

Suor na vindima, rosto cansado,
mistura-se à terra, ao pó, ao fado,
e nas pipas dorme um tempo nunca criado  
que afasta a solidão do passado.

Avós  fantasmas doces e fiéis,
Escondidos entre tonéis,
sussurram histórias de fé e cansaço,
feito de uvas e do seu abraço.

No rio, o reflexo é pura ilusão,
procuro rostos que já  cá não estão,
mas encontro sempre o mesmo brilho guardado
de um amor eterno, ousado.

Douro é saudade que o mundo reclama,
é fogo na alma, é lágrima e pão,
é força que prende e vento que chama,
meu destino, minha salvação.
Douro  amor eterno  antepassados
Mãe Duriense


Na tua face, vinhas traçadas do tempo,
nos olhos, o rio inteiro a correr.
Mãe Duriense, barro e lamento,
és raiz da qual tive de nascer.

Com mãos de granito e sol cheio de mosto,
lavras o pão, regas a horta com gosto.
Entre socalcos, és flor que não cansa,
és Mãe da terra, és força, esperança.

Carregas a dor mas nunca o dizes.
És chão fecundo, com boas raízes.
Dizes que o Douro não para de chorar
pelos filhos que tens de amamentar.

Mãe Duriense, a tua verdade me guia.
Em ti vejo a minha tristeza e a tua alegria
das que ficaram quando tudo fugia,
das que semearam fé  e a minha poesia.

És dura como a pedra xistosa,
doce como a uva, bela como a rosa.
És mulher, és monte, és vinho, és perdão,
és o Douro inteiro  em peregrinação.



Victor Marques
Mãe  Douro  Terra Trabalho, filhos
Salvem  O Douro

Nas fragas onde o sol esbate sorrateiro,
a vinha no Douro sempre banhada primeiro.
Os velhos ficam
porque já não podem partir.
As mães reformadas
cuidam das vinhas com amor e sentir.

E o Douro, esse colosso de xisto e sonho,
fica para trás abandonado,
sem herdeiros, sem futuro,  com passado. A coruja-das-torres, que vigia os socalcos mal amados.
A borboleta rara, que pousa nas folhas do Viosinho para termos bons vinhos,
A lavanda brava, que perfuma os nossos caminhos.
Salvem o Douro para remissão dos vossos pecados.

Ai  o rio, que ainda canta, mesmo quando ninguém o ouve  está sozinho.
Canta suavemente o pintassilgo nobre passarinho.
O saber antigo, que não cabe em manuais escritos,
As cantigas de encosta, que nossas mães cantam com penosos gritos.

Salvem o Douro com encanto e nobreza,
Este meu Douro é verso, certeza,
Não deixem meu Douro desaparecer,
Nem ser fúnebre velório ao Entardecer.

Victor Marques
Douro,  paisagem,  memória   vinho
Douro terra onde tudo vive


No poente alaranjado
arde o céu sobre as vinhas
e as cigarras parecem minhas,
Neste meu Douro dourado.

Formigas cruzam caminhos de pedra xistosa,
carregando alegria da bela mimosa.
Abelhas embriagam-se no néctar adocicado
das flores que o vento esqueceu.
Borboletas cartas aladas dos deuses
pousam breves nos versos meus.
sobre a pele quente da colheita.

Oliveiras que enfeitam as encostas
guardam segredos de enxadas às costas.
raízes que se entrelaçam
com ossos de meus antepassados
Douro dos serões embriagados.

Cada videira com
Seu  tronco retorcido,
é oração sem palavras,
escavada pela fé de quem aqui tenha nascido.
Homens de valor com paixão  por
mulheres de lenço de eterno pranto
no silêncio da paisagem encontro Douro e meu lamento.


O rio,
essa serpente de prata e memória,
leva nas suas águas
o reflexo do céu e da aurora
É nascente e poente,
vida que vai e regressa
no ciclo eterno de todo o sempre.

E quando o sol mergulha
no ventre da desta santa Terra.
Ela  canta baixinho
uma canção no cume da serra.


O Douro é mais do que lugar.
É pulso.
É respiração da terra.
É a poesia que ainda não foi escrita,
mas que já vive
em cada uva, em cada impulso.
Em cada abraço apertado que dou à minha gente,
em cada olhar que ama
sem saber porquê
apenas porque sente.


Victor Marques
Paixão e Aliança


Amar o Senhor é paixão viva,
é o princípio de toda sabedoria.
Quem O escuta com alma cativa
torna-se mais sábio com ousadia.

Na encosta áspera das vinhas,
onde a enxada rasga o chão,
e a cepa torta nas entrelinhas
Deus ali nos mostra a compaixão.

Cada videira um verso do Criador,
cada bago um milagre de amor.
E do lagar, onde o sangue da uva escorre,
nasce o vinho da memória que não morre.

Diz a Escritura, com firme clareza:
“Eu sou a videira, a vossa firmeza;
vós sois os ramos, minha sementeira.
Que Deus ama de qualquer maneira.

Na mesa da Santa Eucaristia,
o vinho sagrado é pura harmonia:
sangue do Cordeiro, amor derramado,
Entre nós Deus  eternamente partilhado.
Deus Vinho Comunhão,  amor
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