No céu diante de mim escondem-se visões de mundos que vivi.
Escondes-te.
Espera…Mas quem és tu? Espera!
Reconheço-te.
Não de agora, talvez de antes.
Antes…
Antes, quando não sabíamos que o mundo era redondo, mas também não importava.
Antes, quando rezávamos a agradecer pelo sol e pela chuva, pela Primavera e pelas flores, pela lua e pelas boas colheitas, quando ainda se via a magia no ar.
Antes, quando o tempo não tinha ainda esse nome e a noite e o dia não tinham distinção marcada pelas horas que se passavam.
“Calma, não há escuridão que uma fogueira não torne mais aconchegante.”- dizias-me, sei lá onde.
Antes, quando corríamos descalças pela terra mole e pela terra dura, quando passeávamos de mão dada pelos eternos campos de milhos.
“Corre por todo o lado. Vai! Não há propriedades neste mundo, a única coisa que possuímos é tudo o que somos.”- dizias-me, sei lá quando.
Antes, quando fugíamos por entre as árvores aos animais da floresta, e logo depois, quando nos apercebemos que o pior animal é o Homem e tivemos de fugir ainda mais depressa.
“Esconde-te dentro de ti mesma e ninguém jamais te encontrará…a não ser eu, como é óbvio, pois já vou saber onde estás.”- dizias-me, sei lá como.
Antes, quando éramos nómadas de mundo e víamos cada pôr-do-sol no cimo das colinas, e tão verdes que elas eram!
“Abraça-me com força, vem aí o escuro, aconchega-me junto a ti para não me perderes lá fora, como uma memória que carregas e gravas num poema, para a vida toda.”- dizia-te, sei lá onde.
Antes, quando nos sentávamos na areia à espera que a maré crescesse e nos tocasse, quando não havia “loucura” ou “sanidade”, quando fazíamos tinta das algas e colares das conchas que o mar trazia, só para nós.
“Ofereço-te este objeto que o mar trouxe e sempre que o encostares ao ouvido ouve-me a sussurrar as palavras mais bonitas destes mundos, só para ti.”- dizia-te, sei lá quando.
Antes, quando deslizava a mão pelo teu cabelo que escorregava nos meus dedos como ondas a encontrar o caminho por entre as rochas, e percorria cada pedaço da tua alma com pinceladas do sangue que nunca se desgasta.
“Pinto-te com a cor que não existe e que não pode ser inventada, a cor do amor eterno que sinto por ti, pinto-te para que no próximo mundo te possa reconhecer assim que te vir. Não te preocupes, vais sempre brilhar em mim como nenhuma outra cor brilhou. Encontra-me também a mim.”- dizia-te, sei lá como.
Talvez antes.
Agora…
Reconheço-te!
Lembras-te?
Que triste!
Nem eu.
Agora…
Agora lembro-me de ti, de uma noite fechar os olhos e já não ser o brilho da lua o meu preferido.