Submit your work, meet writers and drop the ads. Become a member
Há uma réstia de neblina em cada um dos meus pensamentos.
Uma vez mais poesio o nada -
A falta de percepção do meu eu interior -
Numa tentativa, queira Deus que não vã, de entender...

    Sinto, sinto tanto!
    Sinto a testa arder e o pesar dos olhos.
    Sinto.
    Sinto o coração apertar e o medo
    Corroer-me as veias como ácido.
    Sinto.
    Sinto...
    Mas porquê? O que me impulsiona a sentir?

Dou por mim mergulhada num rio gélido de angústia;
Dou por mim - juntamente com todas as outras versões de mim -
Perdida dentro de mim mesma,
    às escuras,
Sem saber como me encontrar.

    Sinto. Sinto. Sinto por sentir
    E por não saber porque sinto.
    Sinto por medo do desconhecido que sou eu mesma
    E do que me leva a desconhecer-me.
    Sinto por medo de tantas mais coisas que desconheço também.
    Sinto medo que todo este medo tome conta de mim.

Por isso escrevo e sou um pouco mais eu
E esqueço um pouco do medo no papel.
Victor Marques Jul 2012
Bem viver


Bem viver sentimento que eu tenho,
Incorporado no meu ser,
Abandono sem ser abandono,
Dono sem ser dono,
Bafejado com tudo o pudor,
Deus dá vida, dá amor.

Bem viver do meu passado,
Rosa aberta sem pecado,
Rio que te dá de beber,
Suspiro de bem-querer.

Fantasia que preza seres prediletos,
Musgo rodeado de seus fetos.
Inconsciência, dor, vitórias, conquistas,
Corredores em suas pistas.

Bem viver dos líricos subalternos,
Frio outonal sem seus invernos,
Às escuras e a viver porque não?
Pedaços de vida, de viver e solidão.

Victor  Marques
Rui Serra Jul 2015
em noites de lua cheia
corro dos desígnios da vida
tentando esconder assim
o animal que há em mim.

regresso às minhas origens
e à procura de virgens
percorro as escuras ruelas
sempre, sempre à procura delas.

procuro nos locais mais sombrios
e espreito nos mais insólitos
para gáudio da minha alegria
é assim até ao romper do dia.

e é já de madrugada
que com a camisa rasgada
se dá o regresso a casa
já com a fome saciada.

e ansiando pela lua cheia
me deito pela calada
nesta busca tresloucada
por uma virgem mal amada.
Estas que veis aquí pobres y escuras
ruinas desconocidas,
pues aun no dan señal de lo que fueron;
estas piadosas piedras más que duras,
pues del tiempo vencidas,
borradas de la edad, enmudecieron
letras en donde el caminante, junto,
leyó y pisó soberbias del difunto;
estos güesos, sin orden derramados,
que en polvo hazañas de la muerte escriben,
ellos fueron un tiempo venerados
en todo el cerco que los hombres viven.
Tuvo cetro temido
la mano, que aun no muestra haberlo sido;
sentidos y potencias habitaron
la cavidad que ves sola y desierta;
su seso altos negocios fatigaron;
¡y verla agora abierta,
palacio, cuando mucho, ciego y vano
para la ociosidad de vil gusano!
Y si tan bajo huésped no tuviere,
horror tendrá que dar al que la viere.
¡Oh muerte, cuánto mengua en tu medida
la gloria mentirosa de la vida!
Quien no cupo en la tierra al habitalla,
se busca en siete pies y no se halla.
Y hoy, al que pisó el oro por perderle,
mal agüero es pisarle, miedo verle.
Tú confiesas, severa, solamente
cuánto los reyes son, cuánto la gente.
No hay grandeza, hermosura, fuerza o arte
que se atreva a engañarte.
Mira esta majestad, que persuadida
tuvo a la eternidad la breve vida,
cómo aquí, en tu presencia,
hace en su confesión la penitencia.
Muere en ti todo cuanto se recibe,
y solamente en ti la verdad vive:
que el oro lisonjero siempre engaña,
alevoso tirano, al que acompaña.
¡Cuántos que en este mundo dieron leyes,
perdidos de sus altos monumentos,
entre surcos arados de los bueyes
se ven, y aquellas púrpuras que fueron!
Mirad aquí el terror a quien sirvieron:
respetó el mundo necio
lo que cubre la tierra con desprecio.
Ved el rincón estrecho que vivía
la alma en prisión obscura, y de la muerte
la piedad, si se advierte,
pues es merced la libertad que envía.
Id, pues, hombres mortales;
id, y dejaos llevar de la grandeza;
y émulos a los tronos celestiales,
vuestra naturaleza
desconoced, dad crédito al tesoro,
fundad vuestras soberbias en el oro;
cuéstele vuestra gula desbocada
su pueblo al mar, su habitación al viento.
Para vuestro contento
no críe el cielo cosa reservada,
y las armas continuas, por hacerlas
famosas y por gloria de vestirlas,
os maten más soldados con sufrirlas,
que enemigos después con padecerlas.
Solicitad los mares
para que no os escondan los lugares,
en donde, procelosos,
amparan la inocencia
de vuestra peregrina diligencia,
en parte religiosos.
Tierra que oro posea,
sin más razón, vuestra enemiga sea.
No sepan los dos polos playa alguna
que no os parle por ruegos la Fortuna.
Sirva la libertad de las naciones
al título ambicioso en los blasones;
que la muerte, advertida y veladora,
y recordada en el mayor olvido,
traída de la hora,
presta vendrá con paso enmudecido
y, herencia de gusanos,
hará la posesión de los tiranos.
Vivo en muerte lo muestra
este que frenó el mundo con la diestra;
acuérdase de todos su memoria;
ni por respeto dejará la gloria
de los reyes tiranos,
ni menos por desprecio a los villanos.
¡Qué no está predicando
aquel que tanto fue, y agora apenas
defiende la memoria de haber sido,
y en nuevas formas va peregrinando
del alta majestad que tuvo ajenas!
Reina en ti propio, tú que reinar quieres,
pues provincia mayor que el mundo eres.
Mariana Seabra Mar 2022
Deixo de herança todos os pensamentos

Perdidos ao luar,

Escritos na página invisível da vida,

Impossíveis de partilhar.



Deixo de herança todas as garrafas,

Que esvaziei e pousei à beira-mar,

Com uma carta escondida lá dentro,

Incógnita ainda por entregar.



Deixo de herança todo o fumo,

Que compulsivamente inalei

Para tentar matar a doença

Da qual nunca me curei.



Deixo as pegadas na areia,

Que rapidamente se apagaram.

Marcas da efémera passagem dos seres

Que por mim passaram.



Deixo de herança o sol de inverno,

Tão apreciado por toda a gente.

Desejo que aqueça as almas frias,

Que não deixe ninguém indiferente.





Deixo de herança o incenso

Que nunca acendi.

Espalhado pela brisa,

Como qualquer cheiro que senti.



Deixo de herança toda a música

E cada marca que deixou.

Atenciosa companheira,

Que tantas vezes me salvou.



Deixo de herança o rio,

No seu mesmo exato lugar.

Lembrança eterna que existe um sítio seguro

Para onde o desespero nos pode levar.



Deixo de herança a pedra afiada,

Que me esculpiram no lugar do coração.

Memória da crueldade no olhar

De quem a infância me roubou.



Deixo ligadas as luzes da aldeia,

Que me abrigaram no solitário berço.

Agarro o impulso que me levou à procura

De tudo o que ainda desconheço.

  



Deixo de herança em papel amarrotado,

Algum sangue que derramei.

Lágrimas, cicatrizes e o fardo,

De ser tão brutalmente consciente

De tudo aquilo que sei.



Deixo de herança o meu amor,

Sorrisos, abraços e essências,

Partilhadas no pôr-do-sol.

E que nesta viagem de turbulências,

Repares na simplicidade do sentimento

Que achaste saber de cor.



Deixo de herança uma moeda,

Ao pedinte que conheci

E que nunca a chegou a gastar.

Esqueceu-se que para a salvação da vida

Não há dinheiro, nem há fornecedor

Onde ele a possa ir comprar.



Deixo de herança o pássaro branco,

Que ainda não se atreveu a pousar.

Canta mais alto a cada Primavera,

Só para me relembrar,

Que as raízes são uma ilusão

Criadas por quem não as consegue descolar.





Deixo de herança duas mãos quentes,

No peito frágil de uma criança,

Que nasceu órfão de mãe

E cresceu sem esperança.


“Nas noites escuras que te abraçam.

Nos dias cinzentos a que te entregas

Que sintas neste aperto a mensagem

De toda a força que carregas.”




Deixo de herança este poema,

Escrito num sonho que se entranha

E do qual nunca acordei.

Vem…

Traz o mapa que queimei.

E encontra-me para lá da montanha

Onde também eu me encontrei.
Mariana Seabra Mar 2022
Anular-me por outro?

                                Sacrilégio!

                                  
                            ­       Perder a beleza de me multiplicar com o outro?

                                      Tirar ao outro a beleza de nos pertencer?

                                                            Nem­ pensar.



Prefiro dar-te o privilégio

De me ter por inteiro!

Ser para ti todo o meu eu

                                incompleto    

               ­              mas verdadeiro.


                                                  É o ato mais régio!  

                              Conceder-te esse poder

                                               De ficares ao meu lado  

                                                     para me veres

                                                          cresc­er.

Não há nada de comum  

                                      em nós

em tudo isto,

Nem nunca vai haver.


                                          Somos a humanidade que Deus previu.

                                           Sejamos tudo o que conseguimos ser…

                                                E talvez a meio descobriremos  

                                      Que somos muito mais do que imaginávamos

                                              Faremos muito mais do pensamos  

                                                     ­       que seria possível  

                                                     ­                  fazer.

Há coisas que sentimos,  

Momentaneamente,

Provocadas pela dor

                      pelo medo

                      pela frustração

E na altura ficamos cegos  

                                                 da razão

Porque é demasiado grande

                                                 a emoção

“O essencial é invisível aos olhos,

só se vê bem

                                                com o coração”.

Meu amor,

Peço-te perdão!



Às vezes preciso de te dizer  

              o que não está certo

Só para que me possas dizer  

                    que estou errada.


                                                              ­              Faz sentido?

                                                           Aqui vem de novo a tal emoção…

Às vezes preciso muito de estar errada

Sobre o que me mortifica os pensamentos

                                           ou os sentimentos…

                                                   E estou.  

                                                Sou ilógica  

                                                 Em ruínas

                                                 Arruinada.

Que alívio!

Ainda bem que me provas que estou errada.

Se não for pedir demais,

Podes provar-me uma outra vez?

Nunca precisei tanto de estar enganada…



Ah!  

A minha flor…

Nasceu tão complexa.

Tão complicada  

                            quanto eu.



Ainda lhe estava a aparecer o caule

E o meu ser já estava rendido

Desde a sua raiz.



Foi assim que Deus quis!



Criou em sete dias

o desafio perfeito,  

Para quem gosta  

de se desafiar.

                                                               ­  Vou levar a vida toda

                                                               ­  E talvez mais algumas

                                                               ­      Para a desvendar.

                                                               ­     (Se ela me deixar...)

A maneira como diz o meu nome,

A maneira como brinca com ele

Faz-me sentir que está seguro  

Dentro da sua boca.

Só ela o sabe pronunciar!



Foi feito para os seus lábios.

E os seus lábios

   Perfeitos

Parece que foram feitos

especialmente

Para o guardar.

                                                             Fecham-no a sete chaves

                                                         Mais ninguém lhe pode tocar.



“E agora,  

               Já viste?

             Este nome  

  Parece sempre mais triste  

Se não estiver a ser dito por ti.”

                                                           “Bendito seja o fruto que colhi!

                                                         Que me seja permitido saborear…”



Diz-me, como se desliga esta urgência?

                                                               ­                     Meu Deus,

                                                               ­                       Diz-me

                                                               ­                     Por favor!

                                                               ­       É esta a minha penitência?

Basta um vislumbre da sua imagem

Uma brisa que traga o seu cheiro no ar

E já sinto o meu corpo  

a querer-se desintegrar



                                                           Em infinitas partículas  

                                                   ­        Que ameaçam explodir

                                                               Para onde calhar.

Até que

finalmente  

                                        a ela  

vão chegar…



Ergo as mãos ao céu,  

Sinto a pairar uma violenta vibração…

                                                  “Meu Deus,

                                                    Como é que te rezo tanto

                                                    E parece ser em vão?”



                                                    Caiem-me as lágrimas no chão.

                                                    Aqui vem de novo a tal emoção…

                                                    Chego perto de perder a fé,

                                                               ­                              a mim  

                                                          ­                             a ti  

                                                           ­                                   e até

                                                               ­                        a nós.



                                     “Que penitência tão cruel!”

                                                   Vê-se logo que é um amor verdadeiro

                                          é autêntico

                                          é genuíno

                                            é derradeiro.

                                                              S­ó um assim te mantém tão fiel

                                                              S­em teres de o questionar.


                                “Dai-me forças para a aguentar!”.


Não sei se me ouviu

Quando lhe estava a implorar;           Ou se não se quis pronunciar.

Porém, num sonho distante

Escutei-o a profetizar:

         “A força vem de ti,

          Minha criança iluminada,

          Não te vale de muito rezar.


                                                            És­ tu que tens de te amparar.

          És fonte inesgotável

          Que não pára de derramar.

                                                            ***­im te fiz, porque assim o quis!

           Mal (re)nasceste dei-te logo tudo

           o que poderias vir a precisar.

           Faz bom uso

           de todo o amor  

           que tens para dar.”



Seu cobarde!

Sinto-me honrada!

Fizeste-me humana  

                    iluminada

de mente aberta

e consciência pesada.

Num mundo fraturado

                        partido

                        obscuro

                        sombrio

onde me vieste abandonar.

              
                                E nem um manual deixaste

                                        Para eu me guiar!



                        Não te inquietes, continuo a acreditar.



         MAS CONFESSA TU AGORA! arrependeste-te de mim;  

                                  ou do mundo que foste gerar?

      

Desce cá baixo!

Atreve-te!

Anda cá explicar

Como acalmo esta vontade

de a querer abraçar

e apertar

Junto de mim?



                        Porque é que nos juntaste?  

                        Só para logo a seguir nos pôr um fim?

                        Responde-me, cobarde,

                        Porque é que tem que ser assim?


Nunca conheci Deus tão impiedoso.

Renuncia o seu rebento,

Vê-o em tanto sofrimento

e mantém-se silencioso.





Quero saltar  

Para dentro da redoma

Com ela.

Meu Deus,

Quero-te provar

que consigo desempenhar

a missão para a qual nasci.

Quero amar!

Conhecer todos os seus traços,

Saber pintar as suas cores  

Até de olhos vendados,

Sentir todos os odores

espalhados

Como se valesse por mil flores,

Descobrir por onde se estendem

Os seus braços,

Conseguir desenhar a sua forma

Que vem pela noite e me toma

E guardá-la

Para sempre.

Pedir-lhe que me abrace de volta

E que mantenha os meus pedaços

Juntos

             a si.  

Certificar-me

Que deixo as suas lindas pétalas

                                                   e a teia que teci

Intactas

No processo.





“És muito mais do que mereço!”

                                                             E assim começa a Bíblia:

                                                             “No princípio  

                                                    ­         Deus criou os céus e a terra (…)”



Pois logo no começo

Também nos deve ter criado.



Criou um amor

Que não tem preço

Do qual nem se aplica ainda

um significado.



E por isso e muito mais,  

Meu Deus,

Eu te agradeço!

Por toda a força que me tem dado.

Nas noites frias e escuras

É a ele que me agarro.


                                             Vieste-me presentear?



Não procurei a minha flor

Ela simplesmente  

                                  floriu

No meu jardim

E decidiu

Lá ficar.



                                  É teimosa, esta flor.

                                Quis-se auto plantar.

                                                               ­                 Ou talvez ali

                                                               ­            Se sentisse segura

                                                               ­             Estava escondida  

                                                    ­                              protegida

                                                               ­              E tinha alguém

                                                               ­               Para a cuidar.



                                                               ­         Luz nunca lhe ia faltar!





Não sei se era eu que precisava mais dela

Ou se era ela que precisava mais de mim.

Mas para ir procurar outra flor

Teria de me afastar deste jardim…

E abandonar a minha flor

Seria como me abandonar a mim.



Não há mais flores para procurar!

Porque aquela que eu nem sabia

Que existia

Mas com que sempre sonhei

Ah! Essa mesma flor!

Já eu encontrei.



                                                               ­        “Meu Deus,

                                                            Jun­tas-te a todos os outros

                                                             E juntos fizeram feitiçaria.

                                                               Ouviram-me, de certeza.

                                                               ­    O que eu vos rezei!

                                                          A minha prece foi respondida!

                                                           Fizeram-na mesmo à medida!



                                                               ­        Fui absolvida!



                                                          Assim­ foi desde o princípio

                                                    tal como tinhas dito

                                                               ­                               nos céus  

                                                         ­                                      na terra  

                                                        ­                                      nos mares

                                                               ­                                procurei.

                                                     soube logo que era ela

                                                     quando nela me esbarrei



                                                            por­que mal a encontrei



                              me multipliquei.”

— The End —