Foi cedo na vida que o meu livro de mágoas se abriu.
(Entendi-o desde nova pois senti-o.)
Um livro manchado pelo sangue da batalha,
Páginas carregadas de calafrios…
Ainda hoje me correm e ecoam no corpo.
(O som do ferro ainda me causa insónias.)
E o abandono…
Esse sempre o meu maior medo,
Cortou-me como uma espada a vida toda.
(Nunca o gritei…pelo menos em voz alta.)
Ferida, pelas entrelinhas o fui escrevendo.
(Nunca com tinta…sempre mascarado na dor das palavras.)
Marcado em mim desde o início.
(Nunca na pele…sempre uma ferida interna bem escondida
na alma.)
A Morte…
Essa parece chegar rapidamente
Para as almas incompreendidas.
(Mas calma, eu entendi.)
Choraste sem saber porquê…
Passaste e ninguém te viu…
Mas agora renasces com uma visão que eu sonhei.
E eu, que nunca te encontrei,
Vi-te encarnada em mim.
Quem me dera que tivesses vivido tempo suficiente, Florbela.
Só para que eu te tivesse desvendado o segredo da vida.
(Neste mundo não eras a única que andava perdida.)
(O segredo é que andamos todos.)
Para uma das minhas poetisas preferidas, Florbela Espanca.