* Minha geração foi assim, começou pelo quando e acabou pelo fim.
O amor escorreu pelos cantos e quando cantamos a canção do amor armado,
Thiago de Melo estava em Berlim mergulhado no verde dos olhos da alemãzinha da ACNUR ,
nossa orquestra saiu de cena e nossa guerra de guerrilhas acabou no maior calor...
O suor que expelia seu odor era o suor frio dos tiranos nos porões mórbidos da ditadura executando nossos irmãos.
O ar jazia cheio de sangue e nós estávamos congelados nas câmaras de gás dos IMLs.
Vínhamos de todos os lados, desde os vales profundos do Ribeira, das chapadas mais íngremes do Araguaia ou dos guetos subumanos da urbe.
Éramos nós o odor de fumaça que agredia as narinas alheias com a catinga de carne queimada.
Éramos nós o encanto das canções de protesto cantadas na avenida com euforia para engendrar os projetos do futuro,
como somos nós os ignorados da história, os estranhos os comícios, a cadeira vazia das reuniões oficiais,
pois somos nós que chegamos e partimos sem ninguém saber quem somos e que vamos lá adiante,
distantes da balburdia alienante e quando vós menos esperais somos nós que nos imolamos às vossas portas contra a apatia com que nos matais.
Como todos vós podeis ver, a minha geração é assim: começa pelo quando e acaba pelo fim, mas não fica à toa na vida pro seu amor lhe chamar e ver a banda passar tocando coisas de amor...