Submit your work, meet writers and drop the ads. Become a member
Rui Serra Nov 2014
e em cada pincelada
imbuída de sentimento

o pincel revolta-se

revolta-se

contra a caligrafia perfeita
sobre o papel machê

contra a intemporalidade de cada gesto
sobre a folha de papel

estremece

a tinta desfalece sobre a obra
agora manchada

renascimento

rebentos verdes peregrinam
entre as rugas
pontilhadas de um ***** puro
Marco Raimondi Jun 2017
Narrador:
Por estes escuros campos, adejam agora dois irmãos,
No gorjeio do corvo, que sela da noite um recanto
Esvoaçam as folhas no vento da mais fria escuridão
A engolfar nestas negruras seus lúgubres cantos
Filhos sem mãe! Íncolas das infindas caligens!
São Érebo e Nix, que logram do Caos suas origens

Nix:
Canto às corujas, ao escuro sepulcro das mágoas!
Ao vazio dos sonhos cuja saudade finda a viver,
À frialdade dos atascais e suas obscuras águas,
À toda graça e ser que sozinho há de morrer!
Canto às sombras quais de noite encontram harmonia!
Que há de entoar tu, irmão, em notívaga poesia?

Érebo:
Se negamos da noite o brilho das rosas,
Pois então direi que há serena beleza
No obscurecer destas clarezas revoltosas!
Canto o orgulho de meu triunfo, nossa grandeza
Que da criança rompe o chorar
E, a todos, os horrores deixa de revelar!

Nix:
Cantas estas nossas glórias, irmão
Quais apenas neste, ao despertar comovido,
Há de findar, em dia de claro loução
E deste mesmo dia, de clareza parido,
Enterramos as luzes quentes e agitadas
No interno sereno d'um'alma fechada

Érebo:
Deixa te lamentar pois do destino tens a certeza?
Este sangrar fadado já me enfastia!
Levarei a revolta da noite em eterna proeza,
Pois tenho laços caóticos, índole da agonia;
Bastam-me as graças, natureza inteira,
Vinde, se te cansas o exílio de tal maneira!

Nix:
Se permites acompanhar-te neste egresso,
Destinaremo-nos às auroras! E realço
Que, pelas bençãos, não haverá regresso,
Pois crepúsculos não hão de tornar-se percalço!
Dá-me as mãos! Guiaremos este breu acrópeto
Mesmo vulneráveis, precipitados ao sol e seu ímpeto!

Narrador:
Pelos rasgos ofuscados que avançaram,
Suspendia-se o sol dos montes além
Errando as aves que os reluzires iniciavam
Diante dos breus, dos inóspitos suspiros do aquém;
De súbito, os místicos sussurros murmurantes
Tornavam o pálido destino cada vez mais distante

A ira do viajante e seu corcel, tornava-se incerteza
Consolava-se a ventura em tão visão inominada,
E tudo amparava-se pelo desejo e tristeza,
À campesina, a ventania expressava-se gelada
E um ancião desesperava: ''Ó natureza fria e austera!
Donde estão vossos deleites que dai-nos em primavera!''

Do dia, as horas obscuras eram feridas a sangrar
Os cânticos de luz cumpriam-se alucinados
E o Caos, de Gaia, pai, ardia-se a reinar
Por seus filhos, que d'uma fonte anárquica haviam tomado;
Apenas uma delirante e insípida ilusão luzia,
Enquanto a natureza, em aflição, lamentosamente gemia
Todo mundo;

Só vê ''O revoltado''.

Mas por trás da revolta;

Sempre existe o vulnerável.
Victor Marques Dec 2011
O Emigrante Português

Partes e deixas tua terra Natal,
O teu mundo é Portugal.
Deixas família também,
Partes sem ninguém.


Emigrante meu descendente,
És sempre um navegante,
Todos se orgulham de ser Português,
Feitos heróicos que seu povo fez.


Trabalhas noite e dia,
A tua revolta se esvazia.
Por estranha que até pareça,
O lume da fogueira que te aqueça.


Esforço e muito suor,
Vaso cheio de amor,
Lágrimas que alguém chora,
Saudades que não vão embora.

Victor Marques
Victor Marques Jun 2010
Ando Perdido

Digam-me quem sou?
Digam-me quem me destrói,
Tenho ferida que dói,
Revolta terna e incontida,
Tenho me a mim e vida.


Setas que picam de momento,
Loucuras cá dentro,
Nem nome tenho,
Rio de desanimo,
Charco que águas chocou,
Sou o que sou…


Amar a história,
Ser Camões sem glória,
Sem lugar nem hora,
Amor que em mim mora,
Sou eu e minha memória.

Victor Marques
Ah, pobre Dolores
Mais uma vez está cansada de suas mágoas e constipada com suas dores
Há quem diga que quando olha o céu, sonha com estrelas
Acalme-se Dolores, hoje tenho um presente para entretê-la
Acorde de seu sonho e largue esses afazeres
Olhe para A Casa Abandonada dos Prazeres
Almeja tanto assim?
O seu ignoto fim?
Por quê toma todos esses remédios?
Se o que deseja é pular do mais alto prédio
Para quê todas essas doenças inventadas?
E essas mulheres, para quê invejá-las?
Na casa encontrará a cura
Não mais carregará sua imaginária feiura
Lá será bela como sempre quis
Mas pergunte-se o que é ser feliz
Lá, em todas as paredes, encontrará espelhos
E em todas camas encontrará lençóis vermelhos
Onde finalmente poderá gozar
E a beleza que não é sua, contemplar
Goze, goze Dolores
Mistura seu prazer com suas dores
Goze, goze mais uma vez
Goze toda sua estupidez
Saiba que nem tudo que cintila é ouro
E fora da casa continuará seu agouro
Quando fora estiver, da vida perderá a crença
E a cada vez que entrar e sair, nascerá uma nova doença
Uma daquelas de sua hipocondria
E a cada dia verá a verdadeira agonia
Sentirá dor, e fome
Não se lembrará de seu nome
Não poderá comer, pois a doença te devastará
E para a casa todos os dias irá correr, a sonhar
Lembre-se de novo
Que nem tudo que brilha é ouro
Ganhará a casa e perderá o mundo
E seu eu estará perdido num poço profundo
Um dia dirá:

Será?
Toda aquela estética...
era tão assim... patética?
Nossas escolhas não tem volta
Para o destino não há revolta
Não devo mais chorar
Só me resta, agora, gozar

Goze, goze Dolores
Mistura seu prazer com suas dores
Goze, goze mais uma vez
Goze toda sua estupidez
Contos da Casa Abandonada dos Prazeres
Dolores - O primeiro conto
Para sempre meu ser em náusea abundante
& o clarão do ontem navega falsas virtudes
Próprio ser finito pós – sentidos
                          (sente calma
                           Alma expulsa?)
Para sempre estarei longe percebendo o real
& as figuras bacantes em inefáveis folguedos invisíveis
Musicando deslizes performáticos
Resultados impossíveis do possibilitado

Para sempre a prisão alheia expulsa em mim
& as vertentes nas velhas ruínas
Partícula obscena de peles espessas
Filme novo de existências imortais

Para sempre estarei mudo conversando com o cordeiro
& as visões memoráveis calarão o estático mundo
Promessa revolta mensagem do paraíso
A deusa dança nos confins do firmamento

Em repúdio ao palpitar existente
Fora o mágico silêncio em noites sem fim
Fora o distúrbio em mim
                   ( sente medo
                    Alma fugidia? )
É tudo muito estranho nestes dias pálidos como a noite
Em que só sirvo para ficar na cama a ouvir a revolta natureza
Nada é cor à minha volta então pinto dentro de mim
Com ondas do mar e aguarelas de verão
Quase sinto o calor e a brisa a maresia.

Não amo as pessoas quando as amo
Mas as cores que cantam e o seu lugar na natureza,
Como iluminam meras banalidades
Para que não sejam mais banalidades mas nas minhas mãos poesia.
Fizeste-te tudo isso, calor, conforto, luz
Por isso e pelas flores dou-te versos e amor.

— The End —