Deuses riem em linho envoltos,
Brincam nos céus, com gestos soltos.
O carrossel gira sem razão,
No eterno mundo da criação.
Gira e gira, vai ao zero,
Ao infinito, cego e sincero.
E lá do alto, o que reluz
É o olhar mudo de uma cruz.
O omnipresente tudo vê,
Mas cala o caos de cada fé.
Então os deuses, na ilusão
De sua eterna compreensão,
Nos limitam, sem pudor,
Em cada gesto, em cada dor.
Pensar, sentir, falar, agir —
Tudo é norma a se cumprir.
E seguem rindo, feito crianças,
Brincando além das esperanças.
Montam cavalos gastos, cansados,
De madeira e sonhos rachados.