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Cláudia Cruz Oct 2014
eu
queria
largar
o café
mas
o café
não me larga
e eu tenho
medo
de que
se eu o largar
eu também
me largo

além disso, o café me alarga
e pra existir eu preciso de espaços
pra acompanhar essa bebida amarga
nada melhor do que uma alma em pedaços
escrito entre um gole de café e outro
Marco Raimondi Jun 2017
Narrador:
Por estes escuros campos, adejam agora dois irmãos,
No gorjeio do corvo, que sela da noite um recanto
Esvoaçam as folhas no vento da mais fria escuridão
A engolfar nestas negruras seus lúgubres cantos
Filhos sem mãe! Íncolas das infindas caligens!
São Érebo e Nix, que logram do Caos suas origens

Nix:
Canto às corujas, ao escuro sepulcro das mágoas!
Ao vazio dos sonhos cuja saudade finda a viver,
À frialdade dos atascais e suas obscuras águas,
À toda graça e ser que sozinho há de morrer!
Canto às sombras quais de noite encontram harmonia!
Que há de entoar tu, irmão, em notívaga poesia?

Érebo:
Se negamos da noite o brilho das rosas,
Pois então direi que há serena beleza
No obscurecer destas clarezas revoltosas!
Canto o orgulho de meu triunfo, nossa grandeza
Que da criança rompe o chorar
E, a todos, os horrores deixa de revelar!

Nix:
Cantas estas nossas glórias, irmão
Quais apenas neste, ao despertar comovido,
Há de findar, em dia de claro loução
E deste mesmo dia, de clareza parido,
Enterramos as luzes quentes e agitadas
No interno sereno d'um'alma fechada

Érebo:
Deixa te lamentar pois do destino tens a certeza?
Este sangrar fadado já me enfastia!
Levarei a revolta da noite em eterna proeza,
Pois tenho laços caóticos, índole da agonia;
Bastam-me as graças, natureza inteira,
Vinde, se te cansas o exílio de tal maneira!

Nix:
Se permites acompanhar-te neste egresso,
Destinaremo-nos às auroras! E realço
Que, pelas bençãos, não haverá regresso,
Pois crepúsculos não hão de tornar-se percalço!
Dá-me as mãos! Guiaremos este breu acrópeto
Mesmo vulneráveis, precipitados ao sol e seu ímpeto!

Narrador:
Pelos rasgos ofuscados que avançaram,
Suspendia-se o sol dos montes além
Errando as aves que os reluzires iniciavam
Diante dos breus, dos inóspitos suspiros do aquém;
De súbito, os místicos sussurros murmurantes
Tornavam o pálido destino cada vez mais distante

A ira do viajante e seu corcel, tornava-se incerteza
Consolava-se a ventura em tão visão inominada,
E tudo amparava-se pelo desejo e tristeza,
À campesina, a ventania expressava-se gelada
E um ancião desesperava: ''Ó natureza fria e austera!
Donde estão vossos deleites que dai-nos em primavera!''

Do dia, as horas obscuras eram feridas a sangrar
Os cânticos de luz cumpriam-se alucinados
E o Caos, de Gaia, pai, ardia-se a reinar
Por seus filhos, que d'uma fonte anárquica haviam tomado;
Apenas uma delirante e insípida ilusão luzia,
Enquanto a natureza, em aflição, lamentosamente gemia
Expo 86' Oct 2015
Vai me demorar um pouco para me acostumar a viver
Para tentar pensar em esquecer
Para que essas feridas talvez comecem a cicatrizar
Para que o  tempo para de ruir
Para que passe essa necessidade de me esconder
Já sem laços que me predeem aqui
Já nem sei mais o porque estou nesse lugar
Só mais um dia, mais um cigarro, mais um segundo
Não para me preparar
Mas para o acaso me abrigar
Para que ele entregue um pouco de você a mim
Ou que um pouco de mim voe até você
E assim que vejo o quão distante tu é de mim
O desespero me faz pensar
Em preparar e apontar, algumas chegaram até em disparar
E apenas levar tudo  que é meu
Talvez seja muito melhor assim
Deveria deixar o tempo te acompanhar
Minha a falta da minha presença para ti talvez seja um favor
Mas para mim a tua é o meu maior pavor
Serafeim Blazej Jun 2017
Marinheiro, marinheiro
Se eu te disser, companheiro
Que a vida não vale a pena no mar
Você desiste de velejar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu te confessar, companheiro,
Que estou a duvidar
Você insiste em me acompanhar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu esbravejar, companheiro
Você me aceita sem lutar
E me ajuda devagar?
Marinheiro, marinheiro
Se eu gritar, companheiro
Você me resgata de me matar
Ao insistir em não respirar?
Marinheiro, marinheiro
Você é meu fiel companheiro
Você consegue nisso acreditar
Mesmo que eu esteja a titubear?
Marinheiro, marinheiro
Você, companheiro
Vale por cem cargueiros
Cheios de nosso companheiros.
04/03/2017.
hi da s Oct 2017
amargo é o gosto do vinagre. e ainda assim tão puro...
caroço de azeitona. metade da maçã. pedacinhos de berinjela.
carne doce pra acompanhar.
bebida da cor turquesa e canudo transparente pra ver melhor.
uma mesa de madeira muito bem alinhada.
só umas colheres e dois guardanapos.
meio quarto de pudim e nada mais.
com fome de tudo
Meu lápis só funciona se for para desenhar o seu rosto.
Meu celular só liga se for o seu número.
Minhas noites só têm sonhos se eles contêm você.
Minha poesia só funciona pensando em seu sorriso.

Você me desconectou da minha alma
E a fez de refém,
Guardando em suas palavras a calma
Que meu coração não vive sem.

Eu conhecia ritmos dos quais eu saía a cantar.
Depois de conhecer o seu sorriso, nenhuma é capaz de acompanhar.
Tenho escrito poemas para gastar essa paixão,
Mas, a cada verso que descrevo, caio mais fundo em sua mão.
ForI

— The End —