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Victor Marques Jan 2016
Recorda  o que de bom viveste....


Comecei por fazer um pequena viagem ao reino do meu ser...tentei neste grande trajecto descobrir as afinidades e singularidades do meu ser. Nesta viagem ímpar e impiedosamente sincera terá um relevo especial tudo o que me toca e apaixona de uma forma continua e desmesuradamente bela.

    Como não poderia deixar de ser, esta minha viagem completa um percurso começado há muitos anos. Num pequena aldeia de Carrazeda de Ansiães, Castanheiro do Norte nasci para gáudio de meus progenitores.
Durante anos fui um menino feliz jogando pião, bola de trapos, usei socos de pau duro, livros, estudei,escrevi muita poesia e sempre olhei para aquele horizonte tão belo que desde o primeiro dia me apaixonou.

     Aprendi a gostar dos nossos, vinhedos, olivais,montes de sobreiros, torgas , giestas, zimbros.
Fazia caminhadas com meus amigos do **** masculino e íamos todos felizes tomar banho ao rio Tua, passando pelo Gavião e descobrindo sempre e sempre uma beleza intimamente rejuvenescedora .
As  coisas simplesmente belas estavam ali sem querer contrapartidas, para serem simplesmente observadas por quem as queria sempre ver...

      Nesta viagem existe sempre a vontade de regressar, de olhar para tudo que aqui temos com mestria, carinho  e porque não com amor eterno.
As pessoas que se encontram nesta viagem nos ensinam a viajar com cuidado, com sabedoria, com uma leveza de seres excepcionais que procuram nesta vida uma felicidade ligada ao meio envolvente de suas terras, de seus lugares preferidos que perduram nas suas mentes.

Um abraço amigo.
Victor Marques
JUVENTUDE , TERRA
l - DELÍRIOS ORGIÁSTICOS & ASTRAIS
    
    Participei da festa de Dionísio & as grandes estátuas de Leão plasmático, ergueram – se sobre a Terra. O precipício & o primeiro sinal da despedida cantando juntos a trilha sonora da invasão dos Profetas urrando a serviço das letras. Para todo o sempre o trono partido por ninfas histéricas! Crises contra o amuleto. Gnose fumacê participando celebrando a queda das pirâmides. Alquimistas do Verbo cantem o grito profano da Inquisição! Os sete pergaminhos caíram semeando a destruição da pedra Xamânica. Diadorim buscando solução em Fausto & Orfeu...? (inaudível psicopatia irradiada na vestimenta da alma). Exagerados, contemplavam mensagens infernais de Blake em vozes imagens melancólicas de Rimbaud. Logo as marés baixaram & sobre as ondas a Lua levitava em direção ao rugido do fogo; Dionísio em chamas bacantes! Ausência da queda no tempestuoso ninho levando aos portais da tormenta. Sete anjos cantando o mantra da lágrima metamorfoseada em dor.                                                             ­       
   Dionísio em voz de trovão: Oh! Se a voz do Tudo emanar a língua em torpor saqueando o princípio da guerra; Quando os sentidos estão sacudidos & a alma está dirigindo- se à loucura; quem pode permanecer? Quando as almas estiverem aprisionadas, lutando contra as revoltas do ar, na cor do som, quem poderá permanecer? Quando a brisa da fúria vier da garganta de Deus, quando as fábulas da persistência guiarem as nações, quem poderá permanecer?
    
    Quando baladarem o pecado, acabarem na batalha & navios dançarem em volta do último regozijo no espaço da morte: quando as almas estiverem embriagadas no fogo eterno & os amigos do inferno beberem antes do traço do infinito: Oh! quem poderá permanecer? Quem pode causar isto? Oh! Quem poderá responder diante do trono de Deus? Os Reis & os nobres poetas malditos repousando na caverna por dois séculos, têm permanecido?
    Não escutem, mas o Grito leva à ponte do não-ouvir. Não escutem, mas prazeres congestionados devem esperar. Amanhã. Só amanhã pensando se o tempo foge ao futuro ou se as árvores choram no Tempo & o Vento cantando a antiga canção da essência. A Terra deve esperar as lendas memoráveis sentindo passado & liberdade entre velhas histórias do coração descompassado em dia de vitória movendo ilusões da criação do mundo. Nem um sorriso noturno tremendo escrevendo cartas no oceano desejando amar & morrer ébrio no mar sonoro! Vamos celebrar sua dor& as novas despedidas & as páginas manchadas no lago desespero procurando asas no inferno análogo à soberba contemplando como um feiticeiro histórias orgiásticas em dias perdidos!
||- IMPRESSÕES DO INFINITO
Pequena ninfa exala virtude
Nova percepção é velha chuva
Intrépido céu em força à beira da tormenta
Tempo escasso frente do Tudo!
    Paradoxo abissal em finais absurdos. Doutrinas anti-socráticas poeira do nada embebecido forjado  para a volta. Um caminho é serpente fria salto com Ícaro destoando nobre silêncio ainda que duas palavras atravessem é sinal mágico psiconitróide em míticos fragmentos complexos da grande barriga virtual grande momento, enfim personagens pensantes na corrente capital ilustre ideológica. Nietzsche disse: “ não a intensidade, mas a constância das impressões superiores é que produz os homens superiores”. Dionísio ausente sibilo missionário resquício da grande tempestade transformando nada em músicas eternas músicas pós-Tudo música póstuma aquém de princípios de aura. É grande o Banquete na eternidade alucinógena da erva platônica. Lembranças unidas outras vidas presentes no barulho da dor. A carruagem sem asas foi  o veículo de Dante no purgatório encontrando Beatriz dito anjo de pele sutil com olhos da noite. Ou não. O primeiro grito do mundo foi o verbo, a morte do mundo foi a palavra.

    Acostumei a encontrar palavras atravessando o outro lado realizando caótico passo ao começo do ato simétrico pairando no ar buscando Tudo. Se a palavra antes fim fosse real sem ser palavra psia apenas causadora empírica dos dilemas tristes recortes de outrora pigmentados sem nome em precipício do fim! A ilha colorida geme! É o sinal da passagem da vida filosofal alfa poética plenos estados iluminados na sombra abissal de Rimbaud em crise  de riso & esquecimento sendo expulso da fumaça purgatório vivendo entre o sagrado & o profano com queda para o profano escutando vozes em terríveis silêncios metapsicofísicos abundantes pausas noturnas no vôo da maré. Salve a iluminação mágica fixada na irradiação transcendenastral! Dissonâncias filosóficas,  venham todos! Lamentos proféticos entorpecidos beberei do seu vinho! Indício do apocalipse! Profana histeria caótica levando a contatos xamânicos primitivos míticos em desertos & portais circulares!
             Serei eternamente condenado ao arco-íris do absoluto infinito!
Danielle Furtado Nov 2014
Nasceu no dia dos namorados. Filho de mãe brasileira com descendência holandesa e pai português. Tinha três irmãos: seu gêmeo Fabrício, o mais velho, Renato, e o terceiro, falecido, que era sua grande dor, nunca dizia seu nome e ninguém se atrevia a perguntar.
A pessoa em questão chamaremos de Jimmy. Jimmy Jazz.
Jimmy morava em Portugal, na cidade de Faro, e passou a infância fazendo viagens ao Brasil a fim de visitar a família de sua mãe; sempre rebelde, colecionava olhares tortos, lições de moral, renegações.
Seu maior inimigo, também chamado por ele de pai, declarou guerra contra suas ideologias punk, seu cabelo que gritava anarquismo, e a vontade que tinha ele de viver.
Certo dia, não qualquer dia mas no natal do ano em que Jimmy fez 14 anos, seu pai o expulsou de casa. Mais um menino perdido na rua se tornou o pequeno aspirante à poeta, agora um verdadeiro marginal.
Não tinha para onde ir. Sentou-se na calçada, olhou para seus pés e agradeceu pela sorte de estar de sapatos e ter uma caneta no bolso no momento da expulsão, seu pai não o deixara com nada, nem um vintém, e tinha fome.
Rondou pelas mesmas quadras ao redor de sua casa por uns dias, até se cansar dos mesmos rostos e da rotina daquela região, então tomou coragem e resolveu explorar outras vidas, havia encontrado um caderno em branco dentro de uma biblioteca pública onde costumava passar o dia lendo e este seria seu amigo por um bom tempo.
Orgulhoso, auto-suficiente, o menino de apenas 14 anos acabou encontrando alguém como ele, por fim. Seu nome era Allan, um punk que, apesar de ainda ter uma casa, estava doido para ir embora viver sua rotina de não ter rotina alguma, e eles levaram isso muito à sério.
Logo se tornaram inseparáveis, arrumaram emprego juntos, que não era muito mas conseguiria mantê-los pelo menos até terminarem a escola, conseguiram alugar uma casa e compraram um cachorro que nunca ganhou nome pois não conseguiam entrar em acordo sobre isso, Jimmy tinha também um lagarto de estimação que chamava de Mr. White, sua paixão.
Os dois amigos começaram a frequentar o que antes só viam na teoria: as festas punk; finalmente haviam conseguido o que estavam procurando há tempos: liberdade total de expressão e ação. Rodeados por todos os tipos de drogas e práticas sexuais, mas principalmente, a razão de todo o movimento: a música.
Jimmy tinha inúmeras camisetas dos Smiths, sua banda favorita, e em seu quarto já não se sabia a cor das paredes que estavam cobertas por pôsteres de bandas dos anos 80 e 90, décadas sagradas para qualquer amante da música e Jimmy era um deles, sem dúvida.
Apesar da vida desregrada que levava com o amigo, Jimmy conseguiu ingressar na faculdade de Letras, contribuindo para sua vontade de fazer poesia, e Allan em enfermagem. Os dois, ao contrário do que seus familiares pensavam, eram extremamente inteligentes, cultos, criaram um clube de poesia com mais dois ou três amigos que conheceram em uma das festas e chamaram de "Sociedade dos Poetas Mortos... e Drogados!", fazendo referência ao filme de  Peter Weir.
O nome não era apenas uma piada entre eles, era a maior verdade de suas vidas, eles eram drogados, Jimmy  era viciado em heroína, Allan também mas em menos intensidade que seu parceiro.
Jimmy não era hétero, gay, bissexual ou qualquer outra coisa que se encaixe dentro de um quadrado exigido pela sociedade, Jimmy era do amor livre, Jimmy apenas amava. E com o passar o tempo, amava seu amigo de forma diferente, assustado pelo sentimento, escondeu o maior tempo que pôde até que o sentimento sumisse, afinal é só um hormônio e a vida voltaria ao normal, mas a amizade era e sempre seria algo além disso: uma conexão espiritual, se acreditassem em almas.
Ambos continuaram suas vidas sendo visitados pela família (no caso de Jimmy, apenas sua mãe) duas vezes ao ano, no máximo, e nesses dias não faziam questão de esconderem seus cigarros, piercings ou qualquer pista da vida que levavam sozinhos, afinal, não os devia mais nada já que seus vícios, tanto químicos quanto musicais, eram bancados por eles mesmos.
Era 14 de fevereiro e Jimmy completara 19 anos, a vida ainda era a mesma, o amigo também, mas sua saúde não, principalmente sua saúde mental.
O poeta de sofá, como alguns de nós, sofria de um existencialismo perturbador, o mundo inteiro doía no seu ser, e não podia fazer muito sobre aquilo, afinal o que poderia fazer à respeito senão escrever?
Até pensou em viver de música já que tocava dois instrumentos, mas a ideia de ter desconhecidos desfrutando ou zombando dos seus sentimentos mais puros não lhe era agradável. Continuou a escrever sobre suas dores e amores, e se perguntava por que se sentia daquela forma, por que não poderia ser como seu irmão que, apesar de possuírem aparência idêntica, eram extremos do mesmo corpo. Fabrício era apenas outro cidadão português que chegava em casa antes de sua mãe ficar preocupada, não que ele fosse um filho exemplar, ele só era... normal, e era tudo que Jimmy não era e jamais gostaria de ser; aliás, ter uma vida comum era visto com desprezo pelos olhos dele, olhos que, ainda tão cedo, haviam visto o melhor e o pior da vida, já não acreditava em nada, nem em si mesmo, nem em deus, nem no universo, nem no amor.
Como poderia alguém amar uma pessoa com tanta dor dentro de si? Como ele explicaria sua vontade de morrer à alguém que ele gostaria de passar a vida toda com? Era uma contradição ambulante. Uma contradição de olhos azuis, profundos, e com hematomas pelo corpo todo.
Aos 20 anos, o tédio e a depressão ainda controlavam seu estado emocional a maior parte do tempo, aos domingos era tudo pior, existe algo sobre domingo à tarde que é inexplicável e insuportável para os existencialistas, e para ele não seria diferente. Em um domingo qualquer, se sentindo sozinho, resolveu entrar em um chat online daqueles famosos, e na primeira tentativa de conversa conheceu uma moça do Brasil, que como ele, amava a banda Placebo e sendo existencialista, também sofria de solidão, o que facilitou na construção dos assuntos.
Ela não deu muita importância ao português que dizia "não ser punk porque punks não se chamam de punks", já estava cansada de amores e amizades à distância, decidiu se despedir. O rapaz, insistente e talvez curioso sobre a pessoa com quem se deparara por puro acaso, perguntou se poderiam conversar novamente, e não sabendo a dor que isso a causaria, cedeu.
Assim como havia feito com Allan, Jimmy conquistou Julien, a nova amiga, rapidamente. De um dia para o outro, se pegou esperando para que Jimmy voltasse logo para casa para que pudessem conversar sobre poesia, música, começo e fim da vida, todos os porquês do mundo em apenas uma noite, e então perceberam que já não estavam sozinhos, principalmente ela, que havia tempo não conhecia alguém tão interessante e único quanto ele.
Não demorou muito para que trocassem confidências e os segredos mais íntimos, mas nem tudo era tão sério, riam juntos como nunca antes, e todos sabem que o caminho para o coração de uma mulher é o bom humor, Julien se encontrava perdidamente apaixonada pelo ****** que conhecera num site de relacionamentos e isso se tornaria um problema.
Qualquer relacionamento à distância é complicado por natureza, agora adicione dois suicidas em potencial, um deles viciado em heroína e outra que de tão frustrada já não ligava tanto para sede de viver que sentia, queria apenas ler poesia longe de todas as pessoas comuns, essas que ambos abominavam.
Jimmy era todos os ídolos de Julien comprimidos dentro de si. Ele era Marilyn Manson, era Brian Molko, era Gerard Way, Billy Corgan, Kurt Cobain, mas acima de todos esses, Jimmy era Sid Vicious e Julien sonhava com seus dias de Nancy.
Ele era o primeiro e último pensamento dela, e se tornou o tema principal de toda as poesias que escrevia, assim como as que lia, parecia que todas eram sobre o luso-brasileiro que considerava sua cópia masculina. Jimmy, como ela, era feminista, cheio de ideologias e viciado em bandas, mas ao contrário dela, não teria tanto tempo para essas coisas.
Estava apaixonado por um rapaz brasileiro, Estêvão, que também dizia estar apaixonado por ele mas nunca passaram disso, e logo se formou um semi-triângulo amoroso, pois Julien sabia da existência da paixão de Jimmy, mas Estêvão não sabia que existia outra brasileira que amava a mesma pessoa perdidamente. Não sentiu raiva dele, pelo contrário, apoiava o romance dos dois já que tudo que importava à ela era a felicidade de Jimmy, que como ela, era infeliz, e as chances de pessoas como eles serem felizes algum dia é quase nula.
O brasileiro era amante da MPB e da poesia do país, assim como amava ouvir pós-punk e escrever, interesses que eram comum aos três perdidos, mas era profissional para ele já que conseguira que seus trabalhos fossem publicados diversas vezes. Se Jimmy era Sid Vicious, Julien desejava ser Nancy (ou Courtney Love dependendo do humor), Estêvão era Cazuza.
Morava sozinho e não conseguia se fixar em lugar algum, estava à procura de algo que só poderia achar dentro dele mesmo mas não sabia por onde começar; convivia com *** há alguns meses na época, mas estava relativamente bem com aquilo, tinha um controle emocional maior do que nosso Sid.
Assim como aconteceu com Allan e Julien, não demorou muito para que Estêvão caísse nos encantos de Jimmy, que não eram poucos, e não fazia mais tanta questão de esconder o que sentia por ele. Dono de olhos infinitamente azuis, cabelo bagunçado que mudava de cor frequentemente, corpo magro, pálido, e escrevia os versos mais lindos que poderia imaginar, Jimmy era o ser mais irresistível para qualquer um que quisesse um bom tema para escrever.
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Julien era de uma cidade pequena do Brasil, onde, sem a internet, jamais poderia ter conhecido Jimmy, que frequentava apenas as grandes cidades do país. Filha de pais separados, tinha o mesmo ódio pelo pai que ele, mas diferente do amigo, seu ódio era usado contra ela mesma, auto-destrutiva é um termo que definiria sua personalidade. Era de se esperar que ela se apaixonasse por alguém viciado em drogas, existe algo de romântico sobre tudo isso, afinal.
Em uma quarta-feira comum, antecipada por um dia nublado, escreveu:

Minhas palavras, todas tiradas dos teus poemas
Teu sotaque, uma voz imaginada
Que obra de arte eram teus olhos
Feitos de um azul-convite

E eu aceitei.


Jimmy era agora seu mundo, e qualquer lugar do mundo a lembrava dele. Qualquer frase proferida aleatoriamente em uma roda de amigos e automaticamente conseguia ouvir sua opinião sobre o assunto, ela o conhecia como ninguém, e em tão pouco tempo já não precisavam falar muita coisa, os dois sabiam dos dois.
Desejava que Jimmy fosse inteiramente dela, corpo e mente, que cada célula de seu ser pudesse tocar todas as células do dela, e que todos os pensamentos dele fossem sobre amá-la, mas como a maioria das coisas que queria, nada iria acontecer, se achava a pessoa mais azarada do mundo (e provavelmente era).
Em uma noite qualquer, após esperar o dia todo ansiosa pela hora em que Jimmy voltaria da faculdade, ele não apareceu. Bom, ele era mesmo uma pessoa inconstante e já estava acostumada à esse tipo de surpresa, mas existia algo diferente sobre aquela noite, sabia que Jimmy estava escondendo alguma coisa dela pois há dias estava estranho e calado, dormia cedo, acordava tarde, não comia, e as músicas que costumavam trocar estavam se tornando cada vez mais tristes, mas era inútil questionar, apesar da intimidade, ele se tornara uma pessoa reservada, o que era totalmente compreensível.
Após três ou quatro dias de aflição, ele finalmente volta e não parece bem, mesmo sem ver seu rosto, conhecia as palavras usadas por ele em todos os momentos. Preocupada com o sumiço, foi logo questionando sua ausência com certa raiva e euforia, Jimmy não respondia uma letra sequer. Julien deixou uma lágrima escorrer e implorou por respostas, tinha a certeza de que algo estava muito errado.
"Acalme-se, ou não poderei lhe contar hoje. Algo aconteceu e seu pressentimento está mais que correto, mas preciso que entenda o meu silêncio", disse à ela.
Julien não respondeu nada além de "me dê seu número, sinto que isso não é algo que se conta por escrito".
Discando o número gigantesco, cheio de códigos, sabia que assim que terminasse aquela ligação teria um problema muito maior do que a alta taxa que é cobrada por ligações internacionais. Ele atendeu e começou a falar interrompendo qualquer formalidade que ela viria a proferir:

– Apenas escute e prometa-me que não irá chorar.
Ela não disse nada, aceitando a condição.
– Há tempos não sinto-me bem, faço as mesmas coisas, não mudei meus costumes, embora deveria mas agora é tarde demais. Sinto-me diferente, meu corpo... fraco. Preciso te contar mas não tenho as palavras certas, acho que nem existem palavras certas para o que estou prestes à dizer então serei direto: descobri que sou *** positivo. ´
Um silêncio quase mórbido no ar, dos dois lados da linha.
Parecia-se com um tiro que atravessou o estômago dos dois, e nenhum podia falar.
Julien quebrou o silêncio desligando o telefone. Não podia expressar a dor que sentia, o sentimento de injustiça que a deixava de mãos atadas, Ele era a última pessoa do mundo que merecia aquilo, para ela, Jimmy era sagrado.

Apenas uma pessoa soube da nova situação de Jimmy antes de Julien: Allan.
Dois dias antes de contar tudo à amiga, Jimmy havia ido ao hospital sozinho, chegou em casa mais cedo, sentou-se no sofá e quis morrer, comparou o exame médico à um atestado de óbito e deu-se por morto. Allan chegou em casa e encontrou o amigo no chão, de olhos inchados, mãos trêmulas. Tirou o envelope de baixo dos braço de Jimmy, que o segurava como se fosse voar a qualquer instante, como se tivesse que apertar ao máximo para ter certeza de que aquilo era real. Enquanto lia os papéis, Jimmy suplicava sua morte, em meio à lágrimas, Allan lhe beijou como o amante oculto que foi por anos, com lábios fracos que resumiam a dor e o medo mas usou um disfarce para o pânico que sentia e sussurrou "não sinto nojo de ti, meu amigo, não estás morto".
Palavras inúteis. Já não queria ouvir nada, saber de nada. Jimmy então tentou dormir mas todas as memórias das vezes que usou drogas, que transou sem saber com quem, onde ou como, estavam piscando como flashes de luz quase cegantes e sentia uma culpa incomparável, um medo, terror. Mas nenhuma memória foi tão perturbadora quanto a da vez em que sofreu abuso ****** em uma das festas. Uma pessoa aleatória e sem grande importância, aproveitou-se do menino pálido e mirrado que estava dormindo no chão, quase desmaiado por culpa de todo o álcool consumido, mas ainda consciente, Jimmy conseguia sentir sua cabeça sendo pressionada contra a poça d'água que estava em baixo de seu corpo, e ouvia risos, e esses mesmos risos estavam rindo dele agora enquanto tentava dormir e rezava pra um deus que não acredita para que tudo fosse um pesadelo.
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Naquele dia, Jimmy, que já era pessimista por si só, prometeu que não se trataria, que iria apenas esperar a morte, uma morte precoce, e que este seria o desfecho perfeito para alguém que envelheceu tão rápido, mas ele não esperaria sentado, iria continuar sua vida de auto-destruição, saindo cedo e voltando tarde, dormindo e comendo mal, não pararia também com nenhum tipo de droga, principalmente cigarro, que era tão importante quanto a caneta ao escrever seus poemas, dizia que sentir a cinza ainda quente caindo no peito o inspirava.
Outra manhã chegou, e mesmo que desejasse com toda força, tudo ainda era real, seus pensamentos eram confusos, dúvidas e incertezas tão insuportáveis que poderiam causar dores físicas e curadas com analgésicos. Trocou o dia pela noite, já não via o sol, não via rostos crús como os que se vê quando estamos à caminho do trabalho, só via os personagens da noite, prostitutas, vendedores de drogas, pessoas que compravam essas drogas, e gente como ele, de coração quebrado, pessoas que perderam amigos (ou não têm), que perderam a si mesmos, que terminaram relacionamentos até então eternos, que já não suportavam a vida medíocre imposta por uma sociedade programada e hipócrita. Continuou indo aos mesmos lugares por semanas, e já não dormia em casa todos os dias, sempre arrumava um espaço na casa de algum amigo ou conhecido, como se doesse encara
D. Furtado
Mariana Seabra Mar 2022
Da menina que nasceu azul,

Conto-te esta breve história.



Sei que foi em dia de sol…

Até o céu

Se abriu no espaço,

Até ele

Se manchou de glória.



Por entre os sete mares

Se espalharam; Aí e  

Em todos os lugares,

Violentas ondas  

em sua memória.



Assim nasceu,

Tão alegre…

Uma bela tela…

Era o que ela  

Me parecia.

Com o seu cheiro  

A maresia,

Amarela e só de alma.



Assim cresceu,

Tão sonhadora…

Rodava o universo

Na sua palma.

E ao passar, todos lhe diziam

“Não vás!”.



Os desassossegados,

Esses faziam tudo aquilo que podiam

Porque sentimento fútil

Não a satisfaz.



Enjaulados,

Os homens tremiam!

Piores que loucos  

Repetiam

“Olha o diabo que a moça traz!”.



Mas ela nem ouvia…

Sonhava, e não caía;

Voava; pela sua própria asa.



Como o verde, florescia

Uma flor dentro de mim.

E assim ela crescia,

Fosse de noite; fosse de dia;

Não se molhava em água rasa.



Menina nobre,

De ti brotou  

Tanta bondade

Que se espalhou.

Ofereceste-a! A quem passava.

Nem um cêntimo

Sequer cobrou.



Menina pura,

Que se isolava,

Nunca tirava  

O pé da estrada.

E mais azul ela ficou.



Com aparências?

Não se importava.

Tudo o que tinha, ela doou.

Manteve a essência,

Essa brilhava,

Tornou-se estrela

Que nunca apagou.



Tanto azul!  

Que a matava…

Então outra cor ela criou.



Em balanço perfeito  

Com a água

Nasceu uma cor

Que a transformou.



Agora,

Menina de fogo,

Apaixonada!

E avermelhada ela ficou.



O azul é triste,

E o vermelho engana,

Então a Terra ela explorou.



Num vulcão ardia

A sua gémea-chama

Aquela cor vermelha

Que a fascinou.

Forjou-se; de rocha vulcânica,

E só mais forte isso a tornou.



Lá conheceu

A bela cigana,

Deusa da montanha,

Que a salvou.



Juntou todo o amor

Que a inspirava

E à raça humana regressou.



Menina ingénua!

Chora desolada;

Porque o humano a roubou.



Cor azul; e avermelhada,

Mas que bonito roxo

Que dela jorrou.



Menina pura! destroçada,

Pela ganância de quem não vê nada…

Foi ao mundo que se entregou.



Assim espelhava; como ouro,

A sua pequena alma dourada

Que deu início a esta balada.

Ah!...

É de ti que falo, minha amada,

O meu maior tesouro.

Eterna flecha em mim marcada,

Amor real e duradouro.



Mas o humano triste; insaciado

Que antes de mim a encontrou!

Que nem por ela dar de graça…

Nem assim ele a poupou!

Quis o tesouro de mão beijada,

E pouco ou nada se esforçou.



Daqui veio a desgraça,

De quem esta história narrou.



Foi à noite, na madrugada…

Como um cobarde! Que a apanhou.

Foi arrogância ou maldade?

Qual o motivo que o levou?!

A devorar pela calada

O coração puro

Da minha menina aprisionada

Que nunca mais se recuperou.



A menina ri alto;  

Gargalhadas loucas ao vento;

Ali encostada, envolta em tormento,

Segura o peito; completamente esvaziada  

por dentro.



E o desumano,

Que fez o assalto,  

Vira cinza; não sobra nada.



Escorrem-me as lágrimas pela cara…

Rios de tom arroxeado.

Menina azul, vermelha e rara

Peço-lhe: “Fica! Só mais um bocado”.



Ela ouve-me; e sorri.

Existe afinal alguém que a ama!

Diz-me: “Todos os perigos  

Que corri,

Todo o amor

Que ofereci,

É o que me torna  

Tão humana”.



Penso que a entendi.

Senti a sua dor como se fosse a minha,

Foi por ambas que sofri.



“Há coisas que não podem ser roubadas.

Sobrevivem à guerra, estagnadas…

Mas ficam as memórias assombradas.

Casas em ruína, muros de pedra,

Envolvem as pessoas arrombadas.”



Ah!...

Afinal, foi nesta Terra  

Onde descobri

Que quem não morre,

Sempre quebra.



Há preciosidades que só podem ser dadas…

Sem qualquer valor que lhes possa ser afixado.

E ao ladrão da cor, a esse *******!

Está o inferno destinado!

Pois o humano; ser desgraçado;

É monstro que se apodera; e as desfaz.

Nem seque olha para o que está ao lado…

Tanta crueldade, numa mente tão pequena,

Torna-o um bicho incapaz.



"Meu pequeno ser azulado!

A diferença que isto me faz…

Deita-te aqui, esquece o pecado,

Enquanto quente ainda estás.

Vou viajar, para o outro lado,

E vais passar um mau bocado

Mas isto é apenas um até já.



Meu pequeno ser avermelhado!

Não deixes que essa raiva te consuma.

Lembra-te! Do nosso tom arroxeado,

Do céu, da montanha e do mar.

Olha sempre à tua volta,

Eu estou em todo o lugar.



Que me vejas! Por entre a bruma,

A passar pelo rochedo.

A deixar na praia a minha espuma…

Será esse o nosso segredo.



Ao teu ouvido, eu vou soprar.

Exatamente do meu jeito.

E ao teu ouvido, eu vou falar

Como te fala o búzio

Que carregas ao peito.



Numa linguagem única, por nós escrita,

Escrevo-te um poema; e está perfeito.

Ouve o silêncio quando me quiseres chamar

Para me perguntares o que tenho eu feito.



Se não obtiveres resposta

Naquele exato momento,

E o desespero te abraçar;

Não é porque estou morta,

Inspira-me no vento;

Apesar do meu corpo morto estar.



É que a minha alma insurreta,

Que pela curiosidade se desperta,

Decidiu que uma volta ela queria dar.

Mas é no teu peito, minha poeta,

O lugar! Onde dorme a tua alma

Também inquieta.  

A casa, a doce casa,  

A que ela decide sempre regressar.



Como a andorinha,  

Que carrega a primavera  

Na sua pequena asa,

Assim, para ti, eu vou chegar.

Ouve o som do meu cantar,

De ramo em ramo a saltitar…

E até a chuva, que sempre passa,

Cai aos teus pés e fica em brasa

Com o calor do amor intenso

Que ainda iremos partilhar."
andreia nunes Feb 2013
na primeira noite eram estranhas.
disformes, distantes, extremamente presentes na sua tão triste ausência.
doeram-me todas as entranhas do corpo. pela memória e pelo presente.
agora, volvidos 3 dias volto a olhá-las.
já consigo olhá-las, auxiliá-las e já não me estão distantes.
agora são companheiras de luta.
algumas lutas mais leais que outras bem se sabe, mas ainda assim resistentes no seu silêncio.
o cheiro já me acolhe e todos os muitos sons que me circundam,
conseguem agora embalar-me e levar-me num sono tranquilo.
estou perto dos 28.
já não sou miúda, agora sei-o e mais sério, sinto-o.
ainda não sei que mulher sou, e como vou crescer a partir daqui.
há vários ajustes, estou muito irrequieta com o que vou fazer.
penso demasiado na pessoa que quero construir a partir daqui. é como se tivesse acabado de nascer mas já a saber falar, andar e pensar
- oh, penso tanto…
tenho de me permitir aprender e cair, chorar aos primeiros dentes.
mas a miúda deixa-me orgulhosa. gostei de ti andreia pequena, feliz, divertida e curiosa.
gostei da tua coragem e da tua força. até do teu nariz empertigado.
choro ao teu enterro, comovida pelo orgulho que te sinto e pelas saudades que me vais trazer.
a tua inocência guarda-la-ei como o meu mais precioso tesouro, e a ela recorrerei quando me vacilar a certeza.
crescer é de uma dureza atroz. o passado vejo-o enevoado, lamacento de muito difícil definição.
no entanto o futuro é um abismo.
dá-me vertigens querer espreitá-lo. mesmo quando coloco apenas os olhos, como se me escondesse dele mesmo. de mim mesma, dessa andreia que serei. como se não quisesse que ela me apanhasse a espiá-la a ver-lhe os movimentos, para que os usasse ou os julgasse de ante mão.
aqui estou, numa cama de hospital. viva e livre de qualquer mal. (mal maior pelo menos). e esta andreia do presente, esta nova-mulher, tem muito medo.
muito medo de falhar, muito medo de não ser tão feliz quanto a miúda foi.
Wörziech Nov 2014
Um medíocre seixo formado por um aglomerado espalhafato de pulgas flutua e veleja por oceanos saturados de desaproveitas lágrimas amarelo-chumbo nas mais desoladas camadas de sua privativa órbita, em uma intersecção de múltiplos limbos supra-reais, bem entre dois muros de um corredor estreito, escuro e corroborado pelo lodo - sobre o qual, cabe-se dizer, resta imóvel uma pequena patrola laranja de brinquedo, esquecida.

Inevitável e também incoerente,
Continuar a ser (peleja)

"Um equívoco desmistificado; uma perturbação"

Os ideais se contrapõem aos já extintos/
Sedimentos navegam eternamente sem rumo/
Inexprimível Sensível/
O oculto que assim permanece/

Pedregulho pulguento perpetuamente a protuberar-se na imensidão dos mares de um ópio por si próprio proferido, ofendendo e perseguindo leis individuais de universo, causando o óbito comum a todos os parciais ínfimos pares de não-instantes, parados.

Estarrece-se o lógico pela busca do externo consenso, indiferente a todo gotejar de pia:
fundir-se pela semelhança!
tornar-se pela simples analogia!

****-Sutra; ****-Isso.
****-Tundra; ****-Aquilo.
**** Sapiens
**** Gênio

Entrementes,
através de seus poros abertos pela alta temperatura,
sente por seu corpo, de muitos corpos,
a circulação efervescente do mais intenso calor,
o sopro de vida hebraico de um cosmos também filisteu,
(de tudo aquilo que pode até não estar de todo vivo - ou de todo morto);
contradição de um todo-devir também carrasco, mas, em essência, todo-devir de um sorrateiro espaço de tempo do bater de asas de um besouro não mais vivo e nunca catalogado, capturado somente por um pequenino ponteiro vermelho de segundos de um relógio velho, possuído,  em circunstâncias afortunas, por uma avó - ainda hoje vivente - de um tempo atormentado pela tirania e propositalmente esquecido, a proferir não só eternidades-nascedouros e cede ansiada, como, de igual infinita intensidade, a inferir a sublimidade em poderios majestáticos estruturados na mais esplendorosa magia humana, a sua despropria linguagem;

...se apercebe o amontoado, tudo, menos genérico, mesmo não sendo, agora, inseto, nem humano, apenas animal,

Que
Mantêm-se
em correnteza,
Metamorfose lavareda.
Victor Marques Apr 2013
Sede de Cultura

Encontro-me sobre nuvens com verdade,
Olho com calor, Lealdade…
O estigma de estranha dor,
Escrevo num berço sem valor.

Aspirar a uma perfeição intelectual feita com arte,
Falar da vida, de um mundo sem dele fazer parte,
Me embebedar com o excelente vinho do Douro,
Ver a tourada com o forcado e sem toiro.

A minha dimensão é simples e pequena,
Cultura da linda açucena,
Um calor quando escrevo é terno e bendito,
Aplaudir a voz, o canto, o grito….

Victor Marques
Victor Marques Dec 2009
Cidade de Guimarães

Guimarães linda de morrer,
Portugal nasceu e te viu crescer,
Honra a nossos fundadores,
Vasos repletos de flores.

Pomposa, ai tua pureza que emana,
Sorris como a pequena açucena,
Senhora da Penha com emoção,
Guimarães tem nobre tradição.


A história te cantará sempre com excelsa gratidão,
És feita do amor e de nobre geração.
Deus te escolheu, Deus te santifica,
Guimarães terra santa, bendita.


Os olhares serenos se enlaçam em mim,
Horizontes sem nunca ter fim.
Guimarães cidade que nunca cede,
Afonso Henriques, Batalha de S. Mamede.

Guimarães, 20 de Março de 2009

Victor Marques
- From Network, wine and people....
Rui Serra  Jul 2015
Diva
Rui Serra Jul 2015
tenho saudades do teu gemer
no meu lóbulo interior

da tua pequena malvadez
e do teu mordaz sorrir

sim
esse que te faz sentir

um vil querer
uma vontade de me ter
dentro do teu mais profundo ser
minha diva do prazer
Mariah Tulli  Oct 2014
Untitled
Mariah Tulli Oct 2014
Alice, Alice
Sempre reclamava alice:

-Como não me amar?
-Porque ter de ir embora?
-Posso eu ser pequena por fora e grande por dentro?

Pare de perguntas alice, me disseram que você andava feliz..

- Sim, eu andava, mas ele me fez encolher de novo

Ah minha querida, isso é passageiro, já já vem outro e você crescerá e
sua alma se elevará.

- Como tens certeza disso?

Ja te disse Alice, não perguntes, apenas acredite.

- Acredite, acredite.... Que frieza minha, achar que seria só meu.
- Como pude querer possessão?

Fácil, foi o ego, ele não iria suportar o fato concreto da perda,
então, se colocou a frente, fazendo-a acreditar que se a possessão não
existisse você iria por água a baixo ou melhor dizendo, por buraco abaixo, mas entenda minha querida alice, que....


A alma flutua, e se estivermos na direção errada
ela irá se afundar,como se estivesse caindo num fundo buraco,
só que enquanto você cai vai percebendo que quanto mais ela naufraga,
mais ela emerge,e continua flutuando, como num equilíbrio poético,
sem ter direção,sem ser julgada como errada ou certa, pois a vida é igual a chuva, ela cai e continua caindo, mas como num ciclo ela evapora e se transforma , se renovando, se equilibrando.
Um broto de rosa
Jovens que se esbarram no calçadão
Um pequeno caule e sua folha
E os batimentos de dois, á um coraçao
Uma pequena muda
Dois meses sem separação
O surgimento de uma delicada e fechada rosa
Dois amantes em procissão
Passam as petalas e se abre a flor
Mais sorrisos e menos dor
E o cheiro doce demais, rosa demais, perfeito demais
Traiçai, desapego, sem paixao
O amor, já acabou, como um fruto que estraga ou como endurece o pão
A rosa, já seca, jogada no chão
eu realmente nao sei escrever
Mariana Seabra Mar 2022
Escrevo esta fábula em forma de poema,

Na tentativa que seja mais fácil de a recordar.

Agarro numa folha e desenho algumas letras,

Penso em dois animais que nos possam caracterizar.

E assim, começa, como é suposto qualquer fábula começar:



Era uma vez um leão

Perdido na floresta.

Os homens que o viam, fugiam...

Pobre leão! que fizeram que ti uma besta,

Condenaram-te ao exílio,  

Sem terem qualquer razão.

Idiotas! Que já nem diferenciam

Um animal a rugir de medo

De uma besta humana  

Que foge dele em desespero.  



Andou meses e meses  

Às voltas, desorientado,  

No meio da extensa vegetação.

Não havia uma voz que o guiasse,

Não havia uma alma amiga que lhe esticasse a mão.



Só ele conhece e sente o horror  

de ser chamado de predador.

Ouvir mais gritos do que risos,  

Levar mais pancada do que amor.

Só quem o conhece sabe que não o faz por mal.

Faz sim, por sobrevivência, por instinto natural.





Pobre leão!  

Nessa floresta,  

Desencantada,

Por qualquer trilho que andava

Só encontrava a solidão…



Num belo dia de chuva,

Caída como que por compaixão,

Espreitou uma pequena aranha

Através do denso pêlo do leão.



Arrastada pelo vento,

Para sua maior alegria ou desalento,

Foi no seu pêlo que, ela, decidiu pousar.



Terá visto, no leão,

Um porto seguro

Para se refugiar?





Tinha medo da chuva?  

Ou era nele que se queria hospedar?



Habituado a estar sozinho,

Forçosamente isolado,

Este pobre leão cansado,

Ao mínimo toque da aranha

Saiu a correr disparado…



Não estava habituado

A ter companhia.



Aquela doce aranha,

Que nem por um segundo o largou,

Entendeu porque é que ele a temia...

Decidiu correr a seu lado e,

Como se fosse pura magia,

Fez brotar no leão  

As sensações que há muito ele desligou.



Foi o ceder do coração,

O reavivar das memórias,

Que logo o abrandou.



Quando se encontraram,

Um ao outro,

Entrelaçados num olhar,

Não foram precisas  

Quaisquer palavras

Para lhes revelar:

Que apesar de qualquer diferença que possam encontrar,

ambos têm o mesmo tamanho

No que toca ao Amor

Que ambos têm  

Para dar.



A aranha sobe ao seu ouvido,

Para lhe poder murmurar:

“Calma, meu pequeno leão,

Sei que estás cansado,

Ferido e traumatizado...

Nunca foi minha intenção te assustar.

Não me temas, nem me afastes!

Não pretendo deixar-te desamparado,

Estou aqui para te curar.

Segue-me tu, agora,  

Tenho um lugar para te mostrar…

O sítio perfeito

Onde vais conseguir descansar.”



O caminho era longo, mas pareceu-lhe menos demorado,

Só porque caminhavam lado a lado.



E quando chegou ao destino,

Ou quando o destino se foi com ele esbarrar,  

O leão nem conseguiu acreditar

Que naquela floresta,

Muito menos solitária,

Era exatamente  

Onde ele precisava de estar…



O tal destino,  

Já traçado,

Assim o veio relembrar

Que às vezes é preciso se perder,

Para mais tarde,

Se reencontrar.



Nessa mesma noite,

A floresta parecia encantada.

Só se ouvia  

dois corações

a bater em sintonia.  

Pum…pum…pum...pum…

Só se viam  

Duas almas nuas

Deitadas e embaladas

Numa teia perfeitamente desenhada.



Quem se atreve a dizer que o leão pertence à savana?

Anda esta gente toda enganada!

Nunca leram a pequena história

Do leão e da aranha.



E quem a ler, talvez dirá, que história mais estranha!
Neste lugar azul, coberto de céu e rodeado de mar, onde surgiu a vida de tantos seres e de tantas outras coisas que a nossa mente tanta dificuldade têm em perceber.
Neste lugar que Deus nos deu, cedo percebemos que aquilo que nos foi dano e que é nosso, se partilha, nos é dado vendido e cobiçado.  
Neste lugar, existem tantas coisas, mas tantas coisas, umas que se vêm, outras que se sentem, outras que se ouvem e outras tantas que se cheiram e saboreiam, que quanto mais vamos vivendo com elas, melhor as identificamos e melhor as deveríamos perceber.
No entanto, existe o Homem, que se julga um Deus, que pouco ou nada sabe, nem sempre sente e se comove com o que este lugar maravilhoso que agora é fusco nos dá e nós tão bem desperdiçamos.
Aquilo que o homem não entende, não é de fácil aceitação, e em vez de percepcionar o que os ensinamentos dos tempos nos deixaram, idiotamente questiona tudo, todos e qualquer coisa que sua mente pequena não enxerga.
O caminho da perdição normalmente apresenta-se como o mais fácil, em qualquer coisa que o mundo tenha mas nem sempre é o destino certo que a história poderia deixar.
As coisas não têm de ser obrigatoriamente belas, e este lugar não é conto de Cinderellas, é qualquer coisa que temos de ver, que temos de passar, sentir a vitória e a dificuldade, o ser filho e depois ser pai e quando mais vamos sabendo, ao invés de sermos mais fortes e capazes a fragilidade da idade chega e nos mostra a realidade em cada dia e a cada hora. Ai o sonho se torna real, perceptível e a esperança se agarra ao nosso olhar.

Autor: António Benigno
Código de autor: 2017081421450108

— The End —