Nas encostas rasgadas pelo sol e pela chuva, Sanguec e memória feita de uva. Cada cacho é um verso, cada socalco um pensamento escrito com pena e lamento.
Mas há um rio que não corre em águas claras, corre em moedas fugidias e promessas caras, em contratos frios, que ignoram as raízes, em palavras doces que escondem cicatrizes.
O Douro chora não de tristeza, está enfurecido porque quem vive o vinho não vive está desiludido. O homem da vinha é refém do tempo e da dor, voz muda no conselho dos poderosos em redor.
Hoje, como ontem, repete o seu cântico nobre de um povo que entrega a vida e recebe o troco de pobre, de uma terra que dá ouro e colhe desventura, de um futuro impresso em papéis sem cultura.
Mas o Douro é feito de gente que não se cala, de mãos que plantam esperança entre as pedras que ninguém abala, de olhos que enxergam além do horizonte frio, de corações que batem no pulsar do desafio.
Ergamos a voz vento livre e sem correntes que atravessa as vinhas, desperta as nosssas mentes, que grita justiça verdade e vida, por um Douro de alma quase perdida.
Porque o Douro não é só terra é gente, não é só vinho é memória e presente. E enquanto houver uva, haverá luta e dor. E enquanto houver luta, haverá Douro e amor.