eu entro em luto muito antes das coisas morrerem mas confesso que queria um pouco preparar um chá de alfazema pra te cobrir no banho queria também poder te narrar todas as histórias que nunca antes a humanidade conheceu te ver descrevendo sua cidade me deu vontade de pegar 57 horas de ônibus semi leito o teu cheiro marejou meus olhos e eu fiquei sem entender a nomenclatura das coisas que eu já tinha catalogado há tempos na minha cabeça tampouco sabia de onde vinham as águas acho que de uma sensação familiar que eu jamais ousaria dar nome o que sei é que sempre detestei falar no telefone e agora minha orelha reclama de quentura hoje andei pela casa e notei que falei sozinha em voz alta como se você ainda estivesse aqui estirada no colchão "vixe que louca" depois passei recolhendo seus rastros e quase que não boto a máquina pra bater e você me pergunta porque coleciono coisas que não poderei levar no meu caixão e eu não sei a resposta mas meu corpo sabe bem que tudo é impermanente mas as coisas de tocar ficam morando no nosso tato por algum tempo e quando a sensação acaba é só pegar de novo coisa de taurino, sabe e agora carrego esse livro que tu me deu como quem carrega um patuá
(eu subiria mais três ladeiras com asma pra esticar o tempo)