se deita
onde se acovarda a noite
e morre na boca do pensamento

se esgueira por entre as frestas do apartamento
se esconde de qualquer lacuna de luz

depois sai rastejante  
com garras afiadas
uma nova coisa com fome

“ultimamente tenho falado muito sozinha”
disse pra mim mesma



um silêncio profundo me golpeou a boca do estômago
Percebi
É a tua voz que escuto

cada vez amo menos entusiasmadamente

I
eu tive um daqueles períodos de falsa amnésia
mas a verdade é que eu lembro de tudo
porque tudo que me encosta atravessa

II
enquanto os meus seguram
correntes de retorno
os teus olhos semente
imaculados
vou arrancá-los
e plantá-los no meu jardim

III
vou te esquecer muito rapidamente
sou experiente
nesse tipo de ódio

é bem no comecinho da chama





o fogo também tem um tanto de azul

eduardo galeano bem que disse que noites são inimigas da gente que já nasceu com mulheres na garganta



queria poder te contar que voltei a ter dores nos pés antes de dormir
e você mesmo sem nunca ter sentido algo parecido saberia a causa e até mesmo a cura
tu diria que dói por que faz tempo que não boto meus pés na areia da praia do meio
e na mesma hora meus olhos trariam os navios pro horizonte e a dor passaria

tem sido cada vez mais difícil amar noite adentro