És a caravana sem rodas
Que puxei e não andou.
Tens só a cama que transportas,
Onde a minha alma se deitou.
És água que corre da montanha,
E nunca pára nos meus dedos.
Quem dela bebe e a acha estranha
Não merece saber os seus segredos.
És o oásis perdido no deserto
Que não precisei de procurar.
Pois o destino que é sempre certo
Ditou que nele me iria afogar.
És a semente azul que plantei,
Terá chegado a desabrochar?
Não posso escrever do que não sei,
Mas para ela continuarei a cantar.
És a ferida que nunca sara,
A cicatriz que veio para ficar.
És a foice que me corta a cara
E o brilho espelhado num olhar.
És o sangue velho e derramado
No véu duma noiva que se suicidou.
És rochedo que pousa descansado
Bem perto do mar que o beijou.
És o vinho caído na toalha
E que para sempre a manchou.
És luz que vem e logo falha.
Trovão cruel que me apanhou.
És o eclipse lunar tão esperado,
Que as nuvens esconderam, cruelmente.
És o telescópio agora quebrado,
Estilhaçado no peito desta demente.
És um Inferno que abraço,
Nunca cessas de me queimar.
E quem disse que o Paraíso é só no Céu,
Foi tolo o suficiente,
Não sonhou que era na Terra que eu te iria encontrar.
És tudo o que quiseres
E não és nada do que digo.
Foge rápido e para longe!
És tua para te ofereceres,
Evita este coração mendigo.