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Victor Marques Apr 2014
O Douro na sua plenitude
Quando me levantei, senti aquele sentido odor de uma linda manhã de primavera.  Os pintassilgos entoavam uma melodia que me ajudou a encarar o dia com mais serenidade e  encanto.  Olhei para este meu horizonte que se estende num infinito lonquinquo que parece estar ali para ser sempre contemplado e amado.
       Que Douro sublime excelso de ser pintado por expressionistas e cantado em versos pelos nossos poetas que não deixam de o servir e o idolatrar.  Desde menino que eu ganhei uma consciência duriense que nem com a morte ninguém ma irá roubar.  Não me canso de tentar perceber o xisto em harmonia,  complexo e eternizado com estes lindos muros que parecem até nem serem feitos por pedreiros terrenos mas sim por anjos do bom Deus que por aqui quis passar.
Casebres abandonados e fornos de secar os figos continuam na paisagem duriense vivos e ao mesmo tempo parecem sepultados para sempre no cemitério dum rio  Douro que se embala num Rabelo de outrora.
        As videiras imponentes parecem ressuscitar todos os anos pela altura da Páscoa.  Que beleza sentir e amar um Deus vivo que  bebeu o vinho para nos mostrar seu amor e assim dignificar todos aqueles que se dedicam a tão nobre tarefa. Toda a vegetação duriense exala perfume,  permitindo ao homem encontrar aqui um paraíso terreno e ao mesmo tempo um purgatório disperso nos patamares onde vinhas, oliveiras, amendoeiras, figueiras, laranjeiras,  sobreiros, torgas e giestas coabitam.
  Quem fala do Douro sublime não pode deixar de olhar para os rostos de suas gentes. Parece até que  não sabem amar mais nada, nem mais nada fazer. ...
Um saber acumulado de gerações é um legado de arte de bem-fazer vinho aliado a novas técnicas utilizadas por enólogos sedentos de fazerem dos vinhos do Douro os melhores do mundo.
        O Douro corre sem correrias. É meigo com seu leito. As vinhas bebem suavemente de suas águas doces.  Nós que aprendemos com o brilho do pôr-do-sol, que parece um verniz de esmalte que conforta crentes e não crentes.
O Douro que é de oiro está de deleite, de quarentena para nos ajudar a viver e a estar sempre perto da margem para embarcar na barca dum destino já traçado.
Victor Marques
Douro , sublime
Victor Marques Oct 2013
Vindima que sempre vem

Que regalo é ver estas lindas uvas que serão destinadas a ser pisadas por tantos pés generosos deste povo duriense que nas encostas trabuca com suor no rosto. Depois de tantas canseiras chega a hora da colheita para todos começarem em festa um processo que acabará nos melhores vinhos de Portugal e do mundo.

     Para haver vindima temos de ter videiras bafejadas pelo sol, acolhidas pelo xisto e amadas pelo homem duriense que não se cansa de as amar e bajular. Este meu Douro é sem sombra de dúvida local privilegiado para a produção deste néctar abençoado por Deus.
A videira que Jesus tantas vezes enumerou me faz perceber o universo, a sua diversidade e porque não mesmo a vida depois da morte. Como simples podador o homem corta as vides na esperança de uma boa colheita. Que encanto ver durante seu ciclo o despertar constante de tantos sonhos adormecidos.

      A videira delicia, rejuvenesce, cresce embalada pelo vento em socalcos e patamares e os rios são seus fiéis companheiros e a seu lado tantas árvores dão as azeitonas da paz e serviram de aconchego no Horto das Oliveiras para Jesus Cristo amar os homens e segredar a Deus seu Pai. Temos orgulho em nossos muros de pedreiros que esculpiram seu próprio fado, eles mudaram os olhares de um Douro mal-amado…

Victor Marques
vindima, douro
Victor Marques Oct 2010
António teu nome,
Agricultor, vitivicultor.
Apaixonado pela terra,
Pelo Douro, pelos Montes.


Aquele amor que não se encerra,
Dorme na colina, na serra.
Colheu tristeza na Guerra Colonial,
Amou  o Douro e Portugal.


Semeou a terra que alegrias lhe traria,
Amou seus filhos e sua esposa Maria.
Plantou videiras que olhavam o céu estrelado,
Fez vinho com amor imaculado.



As uvas são um amor para toda a vida,
Deus nos ama até na despedida.
Olhou para o Rio Douro eTua ,
E na memória de um povo com glória,
Com aquela lágrima que eu sinto agora.
Me conforto no horizonte duriense,
Hoje, amanhã e sempre.


Victor Marques
amor, douro, Pai
Victor Marques Oct 2010
Antonio your name,
Agriculturist, grape grower.
Gotten passionate for the land,
For the Douro, Mounts.


That love that is not locked in,
He  sleeps in the hill, the mountain range.
He harvested sadness in the Colonial War.
He loved the Douro and Portugal.


He showed the land that joys would bring to it.
He  loved their children and wife Maria.
He planted grapevines that looked at the covered with star sky,
He  made  his wine with immaculate love.



The grapes are a love for all the life,
He  looked  for Rio Douro e Tua,
In  the memory of a people with glory,
With that tear that I feel now.
I comfort me in the duriense horizon,
Today, tomorrow and always.


Victor Marques
love, douro, Father
António, father,
Victor Marques Sep 2012
Esse amor tão Teu sempre generoso

Recordar-te meu querido Pai,
Teu sofrimento e tuas conquistas.
As preocupações mundanas,
Ver nascer nos campos bonitas açucenas.

Ligação terna e terrena se vê na morte,
Com muita ou pouca sorte,
Honestos conselhos sempre nobres,
Simpatia para ricos e pobres.

Teu lagar com suco espirituoso,
Amor sempre generoso.
Terra duriense escaldante,
Cepas direitas e tortas,
Horizonte tão distante,
Vinhas vivas e mortas…!

Pedrinha sobre pedrinha colocais,
Vinhedos e olivais.
Altares do Deus adornais,
Rolhas de bonitos sobreirais.

Victor Marques
amor,Pai, vinhas
Victor Marques May 2011
O amor de Pai

Na minha mente nobre e cansada,
Te vejo com carinho e abrigo,
Os anjos passam sem prévio aviso,
Caminhas pelas vinhas no paraíso.


A tua preocupação doentia,
O teu labor te bendizia.
Janela sempre aberta,
Teu amor me desperta.


Horizonte duriense que padece,
O teu amor vive e não se esquece.
O xisto continua inerte e não esmorece,
Teu amor é uma como uma prece.

Victor Marques

11/11/2005
Victor Marques Mar 2013
Videira Madura

Videira que a seca não abalou,
Coração meu que por ela chorou,
Bagos verdes com odores,
Videira e seus amores…

Videira embriagada no terreno duriense,
Sol quente que te bate no rosto,
Vento leve do mês de Agosto,
Xisto o teu confidente.

Videira sem repouso que merece,
A uva madura também apodrece,
Ressuscita, ao seu podador dá carinho,
Videira madura, o melhor vinho.

Victor Marques
Victor Marques Oct 2021
Que a tua sabedoria e leveza de viver,
Te ressuscitem sem nunca morrer,
Deus te eleve no paraíso ao amanhecer.
Também tu  amaste a terra, o céu, o mar...
Nas escadas de tua avo gostavas de conversar,
Olhavas para todos com inocência singular.

Na tua ultima mensagem que me emociona,
Versos da mais bela poesia vem a tona.
Meu amigo poeta religioso duriense, portuense,
Com teu olhar abraças o teu semelhante,
Amaste tua terra e sua gente...

Me rejuvenesce Santo Deus para Sempre te amar,
Abre as Janelas do céu para Tabosa da Pena entrar,
No Olimpo que cantem todos os anjos sua gloria,  
E a eternidade seja a tua vitoria ...

Victor Marques
poeta, pintor, realizador
No primeiro sopro da manhã viva,
o Douro respira névoa e promessa,
borboletas sem nunca ter pressa,
pássaros cantam a esperança perdida.

O sol, nascente, felicita o sobreiro,
Aquece as vinha sempre primeiro.
Muros de xisto e granito guardam segredos nunca contados ,
Amém ao Douro,  a nossos antepassados.


Rolhas esperam histórias em garrafas adormecidas,
as uvas amadurecem entre murmúrios e paisagens queridas.
O  rio que corre lento, como o tempo,
Com o respeito a Deus e ao meu pensamento.

E ao cair da tarde, quando o céu se inflama,
um horizonte alaranjado beija o vale duriense e  diz que me ama.
O Douro, inteiro, torna-se carícia e verdade ,
feito de luz, suor e  eternidade.

Aqui cada pôr do sol é uma bênção e a minha inspiração!
Cada amanhecer, um recomeço, uma nova comunhão.
Na alma duriense existe amor e serenidade,
Feito de vinho e saudade.
Vinho Douro carícia verdade
Universo Duriense


As estrelas e a lua a brilhar,
Cegos a sorrir sem chorar.
Horizontes de laranja e vinho na mente,
Universo justo, fiel e presente.

O mundo real que o céu nos revela,
Sementes lançadas na vinha singela.
Areia do Douro, espuma do mar,
Paisagens vivas, sem contas a dar.

A natureza gira em sua rotação,
O universo vibra como uma canção.
Tempo maduro e de bem querer,
Sol sobre o  Douro ao  amanhecer.

Homens procuram o que esqueceram,
Sonhos e vinhas que perderam.
Universo ferido e por vezes perdido,
Universo Duriense sempre esquecido

Victor Marques
Dedicado  a Antonia Ferreira, Ferreirinha



No coração das encostas sem alegria ,
onde a videira reza à luz do dia,
viveu um nome que o Douro guia
Ferreirinha sofres com tanta agonia.

Plantou sonhos no xisto sofrido,
viúva cedo, mas o Douro foi seu abrigo,
com mãos de ferro e alma de flor sentida,
deu ao Douro  nova vida.

Hoje, noutro tempo de incerteza,
em que o vinho luta por valor,
há um homem que, com firmeza,
honra o grande e pequeno viticultor .

Sou letrado, mas  lavrador de esperança,
não vendo minha  alma por qualquer benefício,
Prefiro dar terno carinho e confiança
A quem cuida a vinha com sacrifício.

Como tu, Antónia  que também sonhaste,
com um Douro livre e verdadeiro,
o produtor pequeno nunca abandonaste,
e lutaste pelo Douro no mundo inteiro.






Para quem tem coração duriense:

Que ninguém esqueça que o Douro tem nome de gente.
Que o vinho é verso, é verdade, é semente.
E que os herdeiros da Ferreirinha ainda andam por cá nas encostas a trabalhar,
com enxada na mão e dignidade no olhar.



Victor Marques
Duriense com Alma
Wine Producer Douro Valley
UM GRITO PELO DOURO

O que hoje escrevo é um apelo. Um lamento de quem trabalha com a terra, com as mãos e com a alma. Oxalá alguém com responsabilidade leia estas palavras, entenda o que aqui se denuncia e tenha a coragem de agir. Porque o Douro não pode mais esperar.

Hoje, em mais uma reunião no IVDP, discute-se o comunicado de vindima , 68 mil pipas de Vinho do Porto, com uma redução anunciada no consumo que ninguém sabe ao certo qual será. O ano agrícola já se anuncia duro, com quebras de produção a rondar os 30%. E se, para além disso, vierem os cortes prometidos, estaremos perante uma falência generalizada.

Não é só a vinha que sofre. Também a azeitona, depois de uma floração que nos encheu de esperança, foi em grande parte dizimada pelo clima. O futuro que se avizinha é *****.

O que mais dói, contudo, é ouvir as vozes de certas pessoas da cidade ,ignorantes e arrogantes  que dizem que vivem a subsidiar-nos com os seus impostos. Uma infâmia. Não conhecem o nosso labor, não sabem o que custa levantar-se às cinco da manhã para cuidar da terra. Não sabem o que é produzir riqueza, vinho, azeite e paisagem.

Esta visão urbana e ideológica de mercado, de uma tal “lei da procura”, está a matar-nos. Porque os mercados, quando não são regulados com justiça, tornam-se armas contra quem trabalha. E nós, os que amamos o Douro, estamos a pagar o preço dessa desinformação permanente.

Não pedimos esmolas. Pedimos justiça. Pedimos visão, coragem política, sensibilidade para com a terra e os que a mantêm viva. O Douro não é um  postal. É suor, é memória, é alimento, é futuro. E está a ser traído.

Victor Marques
Produtor duriense
Doiro, produtor,vinho,Paisagens
O Entardecer que Corre sem Querer

Corre o Douro,
sem saber que deslumbra,
sem querer ser poema,
mas é.

As margens calam-se em ouro,
as vinhas curvam-se ao silêncio,
e o céu — num gesto lento —
desfaz-se em fogo e ternura.

É a hora em que o tempo se senta,
no muro das memórias da terra,
e o rio, distraído,
leva saudades de pedra e sol.

Não quer correr,
mas corre…
como quem ama sem saber,
como quem parte e permanece.

E tudo se torna mais verdade
no espelho líquido da luz:
o labor das mãos,
o peso da história,
e o rosto de quem se perde no horizonte alaranjado duriense.
Entardecer   Douro Valley

— The End —