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Juliet R May 2014
como num sobressalto,
com os pés bem assentes no asfalto,
lembro-me do teu cheiro,
no meio deste nevoeiro
sinto-me dentro do alheio,
dentro do teu devaneio
murmúrio o que cá está solto,
tudo muito envolto
sem capacidade de entendimento, c
om a vista embrulhada no cinzento
partilho dores,
partilho ardores,
partilho amores
surpreendo-te unicamente
e não ficas indiferente
e assim mostra num som,
num único tom
de como intenso é amar,
de como difícil é apaixonar
não por uma pessoa nova,
sem precisar de alguma prova
mas sim por a especial
e, aquela que de nada tem igual,
traços únicos
e puros como o som de acústico
olho-te nos olhos brilhantes e amo-te sem variantes
Othon Jan 8
Convém a nós, os seres da imortalidade,
preteridos pelo descaso do mundo,
crer que eu sou um Deus único.
Não como esses que passam na tela dos pensamentos. Nem os que se prefiguram para fora de si, tendo tomado a sua parte do todo e se satisfazendo com o infinito.
Eu não me satisfaço com nada. Mas antes de encontrar o meu nirvana, eu abdiquei do tudo.
Sou um mestre do paladar, na miséria ou no banquete, eu sempre tenho sede de algo por provar.
Eu fecho as portas da contradição, e as abro novamente quando eu bem entendo, mas uma contradição nunca é uma contradição sem os seus dois lados, – dos quais eu sempre fiz o serviço de unir em mim como uma palavra suprema, a síntese, a afirmação e a negação e todos os seus contrários.
Certamente eu estou morrendo como alguém que nunca teve vida, mas eu teci nas cadeias de meu ser, o meu incólume e supremo apriorismo injustificável... Começa aqui, e não termina nunca. Como um Deus único eu me encontro, alheio a verdade de meu próprio ser! O todo balança para lá e para cá, como um pêndulo, e eu escolho pra que lado vou. Verdade negada ou afirmada, tanto faz, há sempre algo onipresente em tudo. Nem o todo, nem em mim, nem no mais longínquo canto do infinito, nem dentro ou fora, tudo se abre para algo inexplicável, ainda que um milhão de vezes explicado: – eis a vida!
Não tenho nada. Sou tudo, sou nada. Nem oposto nem contrário. Sigo, e a hora foge vivida... Amém. Além...
Inspired in A. Schopenhauer.
Mistico Mar 4
Minha mente, um vasto vácuo, divaga,
enquanto o ar me escapa em ofegante lamento.
Não corri, mas a ansiedade galopa, impávida,
pressionando-me o peito como fardo violento.

Uma manada impetuosa ruge em meu ventre,
e, ainda assim, sustento a face serena,
pois acostumei-me a silenciar tormentos
e a ocultar a dor sob a névoa amena.

Os pensamentos, frágeis, esvaem-se na hora exata,
as palavras, impensadas, brotam sem freio.
Ergo os olhos ao teto e as lembranças me assaltam,
umas ternas, outras ásperas como o vento alheio.

As más, tão insistentes, insistem em ficar,
embora eu relute, embora eu as negue.
Mas nunca mais será como outrora,
pois meu próprio querer a saudade repele.

E assim sigo, exausto, mas atento,
deixando que a sonolência me embale em devaneios.
É no limiar do sono que encontro o intento:
escrever sem sentido, mas pleno de anseios.
Mistico May 11
Na verdade, um estranho será sempre um estranho,
Os sentimentos guardados, ocultos, continuam no abismo.
Eles permanecem, quietos, no recanto mais profundo,
E assim sigo, sem pensar no amanhã, apenas no presente,
Em contínuo movimento, sem a esperança de um fim.

A espera de me doar, de entregar-me a alguém,
Morre uma vez mais, sob a sombra da dúvida.
Pois, embora saiba que sou capaz,
Carrego a incapacidade de ser o melhor,
De ser tudo o que alguém poderia desejar.

Estranho demais para entender essa dança,
Onde meu ser se esconde, alheio à esperança,
E a alma, sempre ansiosa, não encontra paz.
Por mais que busque ser, sou apenas fragmento,
Um ser que não sabe ser tudo para alguém.

— The End —