UM GRITO PELO DOURO
O que hoje escrevo é um apelo. Um lamento de quem trabalha com a terra, com as mãos e com a alma. Oxalá alguém com responsabilidade leia estas palavras, entenda o que aqui se denuncia e tenha a coragem de agir. Porque o Douro não pode mais esperar.
Hoje, em mais uma reunião no IVDP, discute-se o comunicado de vindima , 68 mil pipas de Vinho do Porto, com uma redução anunciada no consumo que ninguém sabe ao certo qual será. O ano agrícola já se anuncia duro, com quebras de produção a rondar os 30%. E se, para além disso, vierem os cortes prometidos, estaremos perante uma falência generalizada.
Não é só a vinha que sofre. Também a azeitona, depois de uma floração que nos encheu de esperança, foi em grande parte dizimada pelo clima. O futuro que se avizinha é *****.
O que mais dói, contudo, é ouvir as vozes de certas pessoas da cidade ,ignorantes e arrogantes que dizem que vivem a subsidiar-nos com os seus impostos. Uma infâmia. Não conhecem o nosso labor, não sabem o que custa levantar-se às cinco da manhã para cuidar da terra. Não sabem o que é produzir riqueza, vinho, azeite e paisagem.
Esta visão urbana e ideológica de mercado, de uma tal “lei da procura”, está a matar-nos. Porque os mercados, quando não são regulados com justiça, tornam-se armas contra quem trabalha. E nós, os que amamos o Douro, estamos a pagar o preço dessa desinformação permanente.
Não pedimos esmolas. Pedimos justiça. Pedimos visão, coragem política, sensibilidade para com a terra e os que a mantêm viva. O Douro não é um postal. É suor, é memória, é alimento, é futuro. E está a ser traído.
Victor Marques
Produtor duriense
Doiro, produtor,vinho,Paisagens