cada palavra antiga que leio cada emoção que remexo relembra toda a dor empacotada naquele conjunto de palavras sentido aquele sabor de amargura na boca aquela sensação de cegueira sem conseguir respirar sem conseguir ser aquilo que realmente era com vontade de rasgar-me a pele vontade me trancar longe do mundo de nunca mais cantar a dor do peito e não voltar a ter que querer.
esta crueldade que é amar esta rudez que é sentir a intensidade de mil mares apenas rompe o mundo inteiro de dentro de mim apenas salta para fora um coração remendado
durante anos que vou lavando a alma de toda a dor sentida, de todos as vezes que me partiram mais um pouco, de todos os cacos que tive de apanhar, de todas as lágrimas.
de todas as vezes ergui-me e a esperança ainda se mantêm intacta ingénua de que um dia mudará, nem que seja temporariamente que não seja um final doloroso e sombrio que seja só um virar de página, sem precisar de a rasgar.