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Na minha parede branca
tem uma mancha
sujeira qualquer
que não sei donde vem
mas é só uma mancha
que passa desapercebida
que nos momentos de depressão é meu acalanto
esperando que o pintor
daqueles de parede
quando eu for vender minha alma
vá pintar essa parede suja
para que o futuro empreendedor imobiliário
faça um bom negócio
e ninguém nunca vai saber
pois a ninguém interessa saber
se tinha essa mancha
na minha parede branca
Enquanto sofre
porta-voz dos desmazelos
diz que povo está perdido
e a modernidade em desespero

Quando em mágoas
pranteia os olhos
e a Deus sem crer
diz maldizeres

Quando em desamores
desgovernada mão em acidente
indiferente assume o posto
batendo uma ilusão

Quer dizer de si
mas diz de todos
Assumindo como pública
a voz da solidão

e para si sem mais ninguém
que a dor sem causa leva a crer
engendrado num quarto sujo
da sujeira de seu corpo
e da imundície a sua alma
faz ao mundo o seu retrato
hi da s Jan 2018
pedaços de sujeira enfiados embaixo das unhas
sobre um vento quente passado metade de janeiro.

e os olhos ardidos observando com toda calma
a tela branca acinzentada e retangular.

narizes que coçam em momentos impróprios
e cães que aguardam pacientemente
mãos de pele em seus pelos sujos de poeira.

os pelos da coxa pintados de loiro falsificado
brilham na luz do abajur como purpurina no carnaval de Recife.

e aqueles fios de cabelo teimosos que caem sobre o ombro
tocando a derme queimada pelo sol
que
por consequência, os dedos impacientes não cansam
de procurar
para então removê-los.

— The End —