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Wörziech May 2014
e com a falta dos ventos vindos do sul,
deixa conscientemente de sentir a liberdade de rodar estradas a fora.

Somente paira nele o interesse por presenciar ares históricos
e as tonalidades azuis entardecidas de trilhas já traçadas pelas correntes em Istambul.

Há de se dizer que peculiarmente nesse instante,
percebe, nele próprio, pontuações apanhadas
que sua adorável gaita não tardaria a memorar:

Não é como o desconhecimento prévio
de uma viagem antiquada;

Tampouco uma imitação da intermitente angústia
pela eclosão de sentimentos vendidos em cápsulas;
Menos ainda assemelha-se com as incertezas graduais
que ocasionalmente acercam uma mente amada;

Incomparável é àquela perda do título real
concedido pelos grifos dos selos já borrados,
jogados sobre a mesa e observados em companhia
de aspirações psíquicas,
sentida em uma insana tarde corroída pelo vício.

É, em verdade,
o ruído, abafado e sintetizado,
dos restos talhados em um porão sempre a oeste,
através dos trompetes, de fumaça e metal,
regidos em orquestra pelo grupo
Camaradas do Estado Mundial.

Uma sequência sonora que perdura a narrar uma bela ficção.
A trajetória dum velho chamado Cristóvão a desbravar,
com pensamentos amenos,
terras sem dono e de corpos sem coração.
A bela construção ideológica de utilizar a dor de seus pés
para tornar esquecida aquela no peito,
provocada pelos seus negros palpitantes pulmões.

Enredo a cantarolar sua bravura por abandonar o grande cavalo
não mais selvagem autônomo e colocar-se frente ao sol túrgido no
horizonte;
desdobrando uma desregrada peregrinação atormentada pela poeira em sua narina e uma ocasional perca de controle promovida
por uma tosse ora doce, ora amarga.

Sempre em sintonia com as batidas de uma nota perdida,
adentrando o território de brasões a cores e a gesticular com gentis ramos de um mato esquecido,
vira caminharem ao seu lado alguns dos seus mais queridos juízos.

Precisamente com seu conjunto de novos e velhos amigos, o calor do espaço ele agora prioriza sentir;

De pés descalços, somente se concentra em seu ininterrupto primeiro passo,
deixando de lado o frenético, deliberado e contínuo deslocar de aço
através das regulares e vagas pontes asfálticas pelas quais todos os dias ele fatalmente necessitava deixar suas despersonalizadas pegadas;
pontes que continuam a apontar o caminho plástico e pomposo
para o estável mundo das mais belas famílias a venderem, amontoadas,
suas próprias almas à beira da estrada rígida e sem graça.

*"Viajará fora das estradas!"
Dizer que tenho saudades tuas, agora
é uma espécie de mentira coberta com um pano de linho
Tenho somente saudades do que era antes de Ti
E isso é a cruz que carrego
Vincada e afiada que se pôs as minhas costas
E se me mexo me corta em dois
Como carne fina do talho gourmet
Comparação inadequada, eu sei
Mas a única que penso agora, que sou estreita.
Por vezes olho para o relógio, e já nem contando as horas
Reparo nas datas, extensas
Dou por mim a ver um mês
E no momento a seguir, o olho
E vejo dois meses, a correr
Pergunto-me se estou louca ou simplesmente
Exausta
O tempo deixa de ter nexo e o Mundo fica pequeno
Os dias passam como se não tivessem vida
E em vez de correr, existo
Durmo ao Luar e ao Sol
Como se tudo se tratasse do mesmo
Do sonho
Do sono
Explicar-te porque sinto saudades tuas, agora
é uma espécie de firmamento do caminho insano que percorro
Tenho somente saudades do Tempo que parava
Quando nos teus braços respirava
Sossegava
E agora não tenho sangue suficiente para estancar a ferida
Dura, profunda, dolorosa
Como os pés que piso
Que não são meus.
Wörziech Jul 2013
Vive de alternâncias imperceptíveis;
possui a maldição de viver momentos
somente para si inesquecíveis.

Quando se volta para o equilíbrio apolíneo,
percebe nele a maior incongruência,
uma limitação impraticável.

Vê-se desfocado de seus próprios pensamentos;
não julga, mas observa.
Tem medo.

Somente sente-se promissor ao som de seus poderosos companheiros,
que o auxiliam a destituir-se de seus próprios pesares.

Em sequência a isso, por um tamanho ardor é acometido
e tantos sentimentos que até ele vão para compor,
que sua existência e vida tornam-se intensas demais;
de tão pesadas e densas,
o levam ao caos,

a observar e esperar pelo surgimento de estrelas e brilho.
Wörziech May 2013
Amigos queridos,
sem faces e sem nomes.

Retiradas foram suas vísceras,
logo antes de seus corpos imergirem
em um exacerbadamente denso volume de sangue
grotesca e plenamente apreciado
pelos algozes responsáveis,
certos irreconhecíveis demônios.

Vieram dos céus os tais tiranos,
visíveis, mas imateriais,
enquanto esperávamos
inconscientes e inevitavelmente despreparados
para uma luta justa.

Sobre os indiferentes, distantes,
mas ainda amigáveis e queridos companheiros,
ainda recordo de alguma ordem:

O primeiro não sentiu dor alguma,
bem como nada viu ou percebeu; fora partido ao meio.
O segundo, já desesperado e afogando-se em lagrimas,
tornou-se borrão de um vermelho pesado, grosso e brutal;

Dos outros, três ou quatro,
somente tenho em mente os gemidos inexprimíveis;
uma junção entre suspiros e soluços
de uma morte nada convidativa e próxima.

Foram todos rostos sem faces perdidos
na espera do desconhecido fatalmente promulgado
pelas minhas ânsias.

O ultimo vivo me induziu à única ação possível:
pude cair meus quinhentos intermináveis metros;
deslizando, enquanto tentava me segurar,
por um material recoberto de farpas
que transpassavam minhas mãos,
as quais sangravam em direção a um mar, sombrio e obscuro;
me afundei irremediavelmente em minhas próprias aflições.
Wörziech May 2013
Salgadas foram as gotas caídas em um plano liso e infinito. Um terreno sombrio, desconhecido, no qual meus sons foram abafados e reprimidos em exatos instantes por mim vividos de plenitude e silêncio incalculáveis, desconectados de qualquer linha cronológica pensável. Porções muito densas de um líquido que levava em si, vida e morte. Naquele terreno indescritível, iam se acoplando as gotas que de mim pareciam sair. Inicialmente desarmonizadas, logo que fui anexado àquele universo caótico, vi aquelas gotas, que em mim causavam muito temor, se arranjarem de tal forma que eu pude distinguir dois círculos. Globos na verdade. Eram, no inicio, desfocados, sem cores e sem brilho, mas ao som de um grande ruído, eu pude, de todas as perspectivas, ver, ouvir e sentir uma implosão de existência do meu próprio eu, uma implosão que transformou aqueles pequenos desencorajados globos em grandiosas esferas reluzentes, ardentes em chamas verdes, de beleza e espiritualidade que eu ou qualquer outro jamais poderá representar por via de meras palavras. Neste foi o instante em que eu perdi a capacidade de distinguir como bem estava acostumado e, o que passava a ser, agora, era uma chama somente; uma chama que lentamente me consumiu por completo, fazendo-me parte dela. Neste vagaroso instante eu consegui assimilar que, aos poucos, tudo o que eu passava a sentir, era ela. Tudo o que eu via, era ela. Tudo o que eu era, era ela.  E, dando continuidade a sua essência, acabou por consumir também todas as constelações, todos os planetas, abrangendo sistemas solares, galáxias inteiras, mas sem se esquecer de qualquer fragmento, pequenino ou grande; ao consumir todos eles, como se em um lapso atemporal, eu pude ver, agora de outra forma, o processo reverso ao daquele que eu acabara de descrever. Fui guiado suavemente, mas com uma velocidade igual à de cargas elétricas gerando e configurando pensamentos; de uma forma indescritível, sendo levado para uma linha tênue e tremida no horizonte; conhecia todos os corpos celestes pelos quais passava. Via a vida nascendo em planetas e bilhões de anos sendo contados, de formas e linguagens variadas, nos calendários daqueles que neles viviam. Chegando mais próximo daquela linha, por mim tida como infinita, tudo passava a ter uma textura esplêndida, gerando uma vibração de cores frias, agradáveis e aconchegantes. Mal pude perceber quando me perdi deste instante. Foi como em um segundo perpétuo e duradouro. Ao seu fim, o abrir de minhas pálpebras revelaram a mim um olhar surreal. Como em uma sequência de slides, eu vi pupilas sendo dilatas, servindo-me com uma cor suave indescritível, olhos que, como se em chamas, provocavam em si próprios, oscilações de cores, contraste e brilho. Olhos transcendentais e onipresentes, não pertencentes ao meu mundo, mas ao contrário, o meu ser, prazerosamente entregue a eles. Olhos para além da vida ou da morte, que carregam em si o meu eu e o todo mais.
Assim como eu... milhões
Sou só e somente mais um
Deixem-me viver em meu universo complexo
Cada qual com o seu, e seremos felizes
Mas não me venham a se queixar
Não se debatam sobre mim
Se quero o intangível...
é porque posso vê-lo
Rogo: vá cuidar de seu universo complexo!
Se sou tão complexo...
É Porque sei quem sou:
Eu sou o grande observador
Eu sou o homem
E enquanto os homens viverem sobre a Terra
e enquanto os rios correrem limpos ou sujos
Enquanto minha expansão se expande
continuarei observando, sendo eu... um homem. Um observador. Um universo complexo!
Mafe Oct 2012
"Abre sua aversão;
Eis que um nauta fala:
- Mestre, vês somente sofrimento no amor?
- O amor pode conter fuligem e até mesmo grasnar, porém uma vez sentido é como parcel:
não se desfaz fácil dentro do peito.
E mesmo que nos faça presente o basto e dorido retrocesso, o medo,
infindável de obstruir a todo esse amor, mais infindável é o anelo que o amor causa-nos.
Estamos sobre escombros, mas o amor é como papelotas angelicais…
Desce ondulado cheio de idas e vindas, corrupiando até a estabilização.
O amor é granívoro, come pequenas as sementes dos defeitos nossos,
belo como o grande milhafre-preto a planar no céu.
É como a retriz que sente o vento a tocar, é o ósculo entre o paraíso e a imensidão.
Oco somos antes de amar.
Somos como o barril quebrado sem vinho, esperando que o tanoeiro nos venha resgatar.
Encher-nos a transbordar.
Ouça o execrável grito do ódio, sendo cancelado pelo dulçor deste imenso sentimento.
Ouça o esfolar dos descrentes, incorpóreos.
O amor é um reverbrar eterno de luz em cada alma,
é a calma, e a batida de cada pulsação.
Não se pode obstrui-lo, ou excluí-lo da vida,
pois ela o traz em cada vibração.
Como um frincha encontrada dentro de nós,
convertendo aos poucos cada problema em solução.
Transformando o ingrato em um romântico facúndio,
criando paz em meio a escuridão"
Victor Marques Jan 2014
Durmo na noite eternamente

Deixar atrás de si amigos,
Viver no meio de perigos,
Certezas nem sempre certas,
Caminhadas por entre tojos e giestas.

Deixar para trás sonhos esquecidos,
Pernoitar ao luar com teus amigos,
Viver com esplendor a vida humana,
Noite calma e serena…

Viver impertinente um passado presente,
Dormir na noite já ausente,
Amar a cama dum horizonte distante,
Dormir na noite eternamente.

Deixar para trás a casa que te adoçou,
Amar a gente que te amou,
Viver por acaso, inconsciente,
Durmo acordado somente…

Victor  Marques

Montalegre, 6 de Junho de 1990
noite, sonho, dormir,eternamente
Wörziech Nov 2014
Um medíocre seixo formado por um aglomerado espalhafato de pulgas flutua e veleja por oceanos saturados de desaproveitas lágrimas amarelo-chumbo nas mais desoladas camadas de sua privativa órbita, em uma intersecção de múltiplos limbos supra-reais, bem entre dois muros de um corredor estreito, escuro e corroborado pelo lodo - sobre o qual, cabe-se dizer, resta imóvel uma pequena patrola laranja de brinquedo, esquecida.

Inevitável e também incoerente,
Continuar a ser (peleja)

"Um equívoco desmistificado; uma perturbação"

Os ideais se contrapõem aos já extintos/
Sedimentos navegam eternamente sem rumo/
Inexprimível Sensível/
O oculto que assim permanece/

Pedregulho pulguento perpetuamente a protuberar-se na imensidão dos mares de um ópio por si próprio proferido, ofendendo e perseguindo leis individuais de universo, causando o óbito comum a todos os parciais ínfimos pares de não-instantes, parados.

Estarrece-se o lógico pela busca do externo consenso, indiferente a todo gotejar de pia:
fundir-se pela semelhança!
tornar-se pela simples analogia!

****-Sutra; ****-Isso.
****-Tundra; ****-Aquilo.
**** Sapiens
**** Gênio

Entrementes,
através de seus poros abertos pela alta temperatura,
sente por seu corpo, de muitos corpos,
a circulação efervescente do mais intenso calor,
o sopro de vida hebraico de um cosmos também filisteu,
(de tudo aquilo que pode até não estar de todo vivo - ou de todo morto);
contradição de um todo-devir também carrasco, mas, em essência, todo-devir de um sorrateiro espaço de tempo do bater de asas de um besouro não mais vivo e nunca catalogado, capturado somente por um pequenino ponteiro vermelho de segundos de um relógio velho, possuído,  em circunstâncias afortunas, por uma avó - ainda hoje vivente - de um tempo atormentado pela tirania e propositalmente esquecido, a proferir não só eternidades-nascedouros e cede ansiada, como, de igual infinita intensidade, a inferir a sublimidade em poderios majestáticos estruturados na mais esplendorosa magia humana, a sua despropria linguagem;

...se apercebe o amontoado, tudo, menos genérico, mesmo não sendo, agora, inseto, nem humano, apenas animal,

Que
Mantêm-se
em correnteza,
Metamorfose lavareda.
Amanda Gleria Nov 2014
Chove ou amanhece
Os esqueletos dançam.

Estão mortos!

Vivem a morte, nutridos
Pelo sentido
Pela ardente vontade  de

Fitar meus olhos.

Com aqueles seus buracos
Vazios do crânio
Sem mesmo
Lembrar da dor que tiveram

Por já terem vivido.

Se nutrem da seiva
De guardar a vida
Do escárnio imperecível do passado.
É somente para isso que

Os esqueletos dançam.
Marco Raimondi Jun 2017
Narrador:
O sol, fadando aos seus desmaios,
Em falta de luz aureolava
A face natura com seus distantes raios;
A areia qual aos clarões brilhava,
Neste sol d'agora dorme junto às figueiras
Às terras, aos vales, às distantes matas altaneiras

Gaia, que nas folhas de carvalho
Rompe a escuridão do céu vultuoso
E jorra em seu corpo as águas d'orvalho
Cobre-se, nas horas, d'um véu moroso;
Quando olham ao zênite, estrelas podem ver
Como áureo tesouro a na escuridão se irromper

Por este turvo azul sidéreo,
Entre as florestas tem-se o canto,
E dos troncos retorcidos, um mistério
Cuja noite predomina em seu encanto,
Cobrindo as nuvens do olhar,
Com seu etéreo resplendor lunar

Divagam as almas que dormem
E divagam as que repousam, sob o sentir de fantasia
As mais atormentadas, que de sonhos envolvem,
Veem nos vastos pesadelos dores de uma visão sombria;
Se em prantos, quando dormem, não podem culminar
Vezes quebram, em gritos e desatino, um longo calar

Destes prantos, cujas lágrimas caem nas profundezas
Ressoam em uma perdição do infinito
Entoando pérolas e cânticos desta proeza
Que é constituir, no espírito, o próprio mito;
Tudo não mais cintila, Gaia se cobre,
Os olhos da matéria se fecham após tanto obre

Enfim, fez-se da natureza uma realidade escrava
Na qual os dias, tão somente o tempo envenena
Mas Gaia, quando os serenos campos lava
A realidade, a mudança é ela quem condena,
À miséria dos povos, as glórias, a graça
Tudo é ao tempo, que a natureza trespassa

O lar dos sentires se silencia sob aurora
Todos desprezos, amores e outros enganos
Agrados, estupores, inclemências de outrora
Contiguamente extinguem-se, ao eclipsar dos raios meridianos
O som enleia as serranias noturnas
Sussurrando longínqua a madrugada soturna

É a glória do Destino! Ânsia abissal e dolorida,
Aprisionando a natureza em seu prazer de ilusão
Subitamente, em brumas, um estirpe que é vida
Das lembranças renovadas, canções d'uma visão
Logo o sol nascerá em amplitude
E clarear-se-á o dia em suas virtudes

Idália, a vaguear nos cúmulos imaginários
Vê as estrelas em umedecidos rochedos
A ecoarem devaneios visionários
As névoas quais, do delírio, são divinos segredos,
Empíreo enigma, perpetua-se em infinita imensidade,
Que há de trovejar os pensamentos na obscura eternidade
És um rio que nunca vi
Corres depressa demais
Gestos e palavras vazias
Não te abrandam
E não te posso alcançar.

És um rio que nunca vi
Somente em sonhos
Que não me deixam dormir
Sonho que sou a lua
E que és um rio
Que te posso alcançar
Iluminar
Como se entre nós
Não fosse tua a única luz.

És um rio
E fico a ver-te correr
Viajam em ti
Todas as dádivas da natureza
Exceto eu.
Exceto eu.
Sonhos são apenas sonhos
Um grito ecoa por minha ***** cefálica
Bato meus braços como se fossem asas
mas sei que jamais poderei voar

Olho-me no espelho
Olho minha casa, suja, velha e pobre
Olho-me no espelho, olho minha casa
Olho pela pela janela e vejo a loucura
Observo a humanidade e vejo loucos
e entre ruas vazias da madrugada
e ruas lotadas do dia
Ouço música para não ouvir o zumbido barulho
E fecho o olhos para sonhar

Acordo em um entediado transe
pois somente ausente de mim começo a produzir
Victor Marques Dec 2011
Pedaços de Vida


A vida é boa enquanto não acaba,
A vida é muito larga,
Viver é bom, um pouco imprudente,
Viver é vencer e cair de repente.
Viver é o dia-a-dia somente,
A vida é bela mas amarga.

A vida tem uma beleza eterna e sublime,
Viver é ser sempre firme.
A vida faz-se do erro, da desilusão,
A vida o amor e a devoção.


Que tristeza eu enfrento,
Frutos do meu pranto.
A simples escrita dum poema,
Lume com e sem chama,
A vida é de quem ama.


Victor Marques
Nos densos odores de um incenso de mirra,
embriagado pelo entediante vazio da bagunça de meu quarto,
devaneio-me pelos arredores dum mundo marginal
concebido da tristeza que em fogo me cala

Num sopro de arrependimento as brasas se queimam
e a fumaça toxica que respiro, exala-se pelos poros

Deleitando-me em singelo prazer
espero as cinzas se formarem
Observo atentamente a destruição da matéria,
pois somente assim vejo meu destino,
e talvez,
não de bom grado,
num sopro,
aceite as últimas cinzas da vida caírem no
Sujo e bagunçado chão de meu quarto( mundo).
Expo 86' Nov 2015
Palavras são balas
Porque somente elas não bastam
Insegurança é uma espada
E seu gume mais afiado que essa navalha
Sentimentos são como uma maça
Tão veloz, para apenas pesar na minha cara
E neste momento nada me acalma
Ou sacia a vontade de ir embora
Mas quem sabe isso não passa
Pode apenas ser uma gripe passageira
Ou uma melancolia verdadeira
Mas talvez devesse me alegrar
Continuar a andar
Para trás não olhar
Ou até mesmo tentar não ligar
Fazer dessa angustia combustível
E desse pesar um mar
Para me banhar nas manhã de alegria
Que a vida ainda há de me doar
Igor Vitorino Jan 2015
Nova Andradina, meu moinho
Sua gente me recebeu com carinho
Lembro-me de cada rua e praça
Ali construí uma vida cheia de graça

Domingos entre amigos e festas
Passeios pelos seus rios e florestas
Sábados aminados em seus bares
Papeando com os tipos populares

No caminho do trabalho aventuras garantidas
Na “Escola Agrícola” se vai parte da minha vida
Ali fiz amigos e tenho estudantes incríveis
E aprendi com as mais situações horríveis

Política, cultura, dia-dia e aventuras
Aproximaram-me da vida dura
Que esse povo forte e lutador
Ostenta com graça e esplendor

Aqui somente abri portas e janelas
Aprendi o preço da liberdade
Descobri a força da vida e da solidariedade
Para sobreviver às contradições e querelas
Nova Andradina-MS
Rui Serra Jul 2014
Aiiii . . . não sei se é amor ou é loucura,
essa força, enfim, que desconheço,
amarrou-me a vida à tua vida obscura,
e a ti, a ti somente “AMOR” eu peço.

O agridoce desta nossa aventura,
as delicias que me dás e não mereço,
todo este amor com toda a sua loucura,
o amor em que vivo e desfaleço.

Fazes-me lembrar as negras rosas,
que me deixam assim embevecido,
inalando o teu aroma delicado.

Como que atingido pela seta do cupido,
abraço as tuas pétalas maravilhosas,
sucumbindo assim ao teu beijo envenenado.
Rui Serra Jul 2014
. . . e o de hoje foi um deles.
Não sei como me sinto, nem o que sinto.
Talvez um vazio frio.
Olho a rua lá fora, fria, vazia, desprovida de sentido . . . e olho o nada.
Por vezes gostava de voltar atrás, bem atrás, muito atrás, ao início.
Hoje somente sei que sinto, mas não o sei definir, só o sei sentir.
E quero permanecer aqui, assim, só.
Rui Serra Mar 2014
Sento-me

Dia e noite
O vento sopra lá fora
Velhas árvores expiam-me
Folhas caídas, mortas
A relva
Manto de veludo verde
Sento-me

Nesta cama
Baú de mil sonhos
Uma leve melodia
Paira no ar
Sento-me

Somente comigo
E penso
Quão diferentes
As coisas poderiam ser.
Rui Serra Jul 2014
Lá bem no fundo, no escuro; o tédio, a mágoa e uma tristeza de sonhos irrealizáveis. Sonhos esses impossíveis de esquecer e por quem existe sempre uma profunda e verdadeira lágrima. Porque será que apenas nos apercebemos do verdadeiro valor do que possuímos somente quando o perdemos.
Na sombra uma mulher jaz morta, despida e dependurada pelo tornozelo, seus braços esticados portam dedos inchados de sangue coagulado, enquanto seus anéis apertam estreitos entre suas falanges, e as pontas de suas unhas quase tocam o chão. Posso ainda escutar seus gritos atormentados ecoar ao longe, posso ainda ver seus olhos escancarados diante uma plateia que saboreia sua tortura, posso ainda ver seu corpo obeso se debater em fobia e desespero numa tentativa ridícula e frustrada de escapar. Imóvel, resta apenas uma ***** enorme de banha e tetas caídas, algo em mim se compadece por esta criatura patética, algo não consegue segurar as gargalhadas. É apenas um corpo, nada demais. Se estrebuchou de forma caricata e cômica, desengonçada, amarrada de ponta-cabeça, toda espalhafatosa, desajeitada, seu desespero é hilário, acho que é a coisa mais patética, mais desprezível, mais insignificante, mais burlesca, mais tosca, que imaginei. Apenas um corpo escroto que em breve será engolido pelos vermes do vazio, sem nunca ter representado qualquer coisa além de uma involuntária comédia . Apenas um corpo. Já não sofre, nem se deleita, há somente um caminho incerto pelo qual percorro, e que ela já conhece a chegada.

Estarei eu ao fim dependurado pelo tornozelo? Ou quem sabe dando gargalhadas ao ver a fraqueza dos homens? Ou ainda mais, serei eu a amarrar os tornozelos da humanidade? Todos são os algozes, todos riem da desgraça que não lhes pertence, mas ao fim todos terminam dependurados pelos tornozelos.

Devo continuar caminhando. O corredor é muito escuro, devemos estar no subsolo, esse barulho nojento é perturbador... Um ninho de baratas! Saiam dos meus pés! Saiam dos meus pés! Não há como evitá-las. Elas sobem e se aninham no meu corpo, se reproduzem na minha virilha, fazem sua morada em meus orifícios. Sou tomado por baratas. Sou o homem-barata, o homem fétido, o homem-praga. Aqueles milhões de patinhas que caminham no meu corpo realizam uma massagem profana, sou tomado por um prazer proibido, me deleito com o perfume nefasto, nauseabundo, a ânsia me regurgita um animus enterrado, o horror de estar completamente desencontrado de tudo o que é convencional, a minha criança enlouqueceria ao me defrontar e saber que carrego seu destino com o pênis encoberto por uma gosma preta que se forma ao espremer as baratas que ali se encontram num movimento de masturbação decrépita. Minha mãe, ah, minha mãezinha tão simplória, tão católica, tão temente à um deus inexistente, com suas orações decoradas, com seus hinos de louvor,  seus terços pendurados na cabeceira da cama de madeira antiga e seu falar típico de quem decorou e aprendeu suas frases mais interessantes nas missas tediosas do Padre Adalberto, para mim a melhor hora da missa é a hora que ela acaba, minha mãezinha, ah minha querida mãezinha, definharia até a morte no exato instante em que me visse trepando freneticamente com baratas esmagadas no meu pau. E meu pai, sempre austero, seja lá o que se passa em sua cabeça, como uma parede pintada de bege escuro, como um corredor estreito e sem espaço nas laterais, simplesmente reto como uma tábua de madeira seca, inflexível, adepto de tradições antigas, de costas dadas não reconheceria esta figura repugnante, a se satisfazer de tão nefasto pecado, como uma prole de sua descendência.

Todos desejam esmagar o homem-barata. Mas ninguém quer limpar a gosma fedida. Deixem que as formigas carreguem essa coisa nojenta! Eles dizem. Que prazer insano é este de ser mutilado e fodido até às entranhas? De saber que não há mais volta para tamanha perdição? Isso é deixar todos os dentes da boca apodrecerem. Eis que entendo a velha! Eis que compreendo as gargalhadas de quem acaba de perder todos os dentes podres num chute violento de quem perde a paciência. Eis que pertenço onde de cá estou. Há uma beleza magnética no horror, algo que me arrasta para o interior do objeto horrendo, me distanciando sou arremessado às entranhas da podridão, como um espelho a revelar em mim mesmo aquele objeto da experiência, que em repulsa não posso parar de olhar.

O motorista tira a roupa, a velha tira a roupa, e todas essas pessoas horrorosas tiram a roupa, eu já estou nu e besuntado por essa gosma cinzenta de entranhas de baratas que exala esse odor nauseante que penetra as narinas de qualquer um que se aproxime, odor hipnótico para aqueles que compreendem o segredo. Parece que sou o mais desejável nesta câmara escura. Se aproximam de mim como animais ferozes a saltar de forma muda em direção a um pedaço de carne.
VS Jun 2015
Nem todo um é tudo
E nem todo tudo é um
Se e somente se nascido da Mãe
O um é um
Rui Serra Jul 2015
chegaste
e nem te senti.

levaste tudo contigo,
os sonhos que me guiavam
as ilusões que me iluminavam

roubaste o meu respirar.
um minuto e tudo acabou.
nada mais restou.

somente aqui ficou,

a minha alma.
Danielle Furtado Aug 2017
Nunca foi tao confortável estar viva
Nem mesmo no pior dos meus dias
Quero estar longe de voce
E quando o faço é somente para te proteger de mim
Meus dias bons sao valiosos portanto seus
Nao quero mais desperdiçá-los procurando
ou com sorte encontrando
Outra pessoa que me entenda como entende-me
Nem meu amigo mais antigo saberia dizer
Exatamente o que eu preciso
O amor é egocentrico
Amo-te porque entende-me
Mas meu amor também é altruísta
Amo-te porque conheço-te
Entendo-te
Leio-te
Escuto teus medos e guardo os segredos
Até nao caber mais em mim
Ao te conhecer nasci
Nao de novo, mas pela primeira vez
E eu nao quero mais morrer
Victor Marques May 2023
Nós somente vivemos sem nos aperceber,
Que temos vida depois de morrer.
A morte faz parte da caminhada,
A morte afinal não é nada...

Existe uma continuidade na nossa história,
Ficando no mundo a derrota,  a vitória.
Eu continuo eu,
Sem prejuízo do que é meu.
A morte nunca é nada comparada com o que tenho vivido,
Ressuscito com amor tudo que me amou com serenidade e sentido.
Nossa consciência permanente e inalterada,
Com a morte uma possibilidade à vida será dada.

Algo me faz acreditar que viverei eternamente,
Feito futuro, passado, presente.
A morte é apenas uma transformação,
Uma passagem para outra dimensão.
Nesta vida haja esperança, espiritualidade,
Misturada de amor pela humanidade.

Com  amor, verdade,  feito espírito da luz,
Me elevarei ao Céu  com Deus,  com Jesus.

Victor Marques
Deus, vida, alma ,morte
Victor Marques Jun 2023
Por do sol ao entardecer ,
Dando luz para anoitecer,
Passarinhos a chilrear,
Horizonte beijando o luar...

Sorrateiro tu pareces também adormecer,
Bendizendo o céu aberto sem querer.
Sol mais brilhante com ênfase em suas cores,
Arco íris de Deus, do mundo, dos amores.

Avermelhado com laranja misturado,
Coberto com um manto sagrado,
Nuvens brancas num céu azulado,
Com o vento também a seu lado.

Por do sol que cobres a superfície terrestre,
Te escondes na direção oeste.
Sonho bom que tu já tiveste,
Apareces de manhã no horizonte
Vindo de leste.

Com ilusão de ótica eu te quero contemplar,
Ficando com o brilho sobre as ondas do mar .
Pareces que foges do mundo somente,
Por do sol do universo resplandecente.

Victor Marques
Por do sol,  noite   dia
hi da s Jul 2019
como é bom quando ser não necessariamente é sair de si pra fora da calçada e das ruas habitadas. e se um dia tu ousa fugir da regra e ser consumida por mulheres capazes de te atingir?

é como se respirar fossem facas atravessadas em pulmões de madeira e a cada contorção uma delas se transforma num pássaro que voa pra bem longe daqui.

tudo que se conhece não é verdadeiramente real, pois tu mesma me dissestes que cada tecla de palavras comentadas são números em uma eterna composição fetal.

ato falho e insincero, tivesses todo tempo do mundo e arcasses apenas com o que te conveio entre folhas de orvalhos e manguezais poluídos pela saliva humana.

já calcei outros pés em tempos tardios e te digo: nunca mais fui a mesma; trouxe somente cinco malas cheias de meias pra cobrir teus pés e de teus queridos amados.

houve um dia em que ouvi de longe alguém sussurrar que te ama e que te abraçaria com facilidade. mediria tuas costas e te colocaria numa camisa branca com listras amarelas.

odiaria te ver chorar pedrinhas de malaquita, mas não te apavores quando um dia isso acontecer. e mais: segure essa caneta e escreva em meus braços coisas que só tu poderia saber - teus desejos não são uma ordem.

não me culpo pela tua falta de existência - eu sei, um dia também te quis aqui comigo, mas só de ouvir o som da tua mentirosa voz já me faz bem.

queria ao menos tocar um dos meus dedos em ti e te fazer realidade.

e se um dia as páginas daquele livro virarem sozinhas, podem ser eu indicando aquela horrenda frase:

"belo dia pra viver tão triste"
Na hora que o sopro quebrou meu telhado
E a enxente ensopou meu piso
Choveu dentro de minha casa
E meu livros ficaram completamente inundados

Meu lar se tornou o oceano
mergulhei de pronto em suas profundezas
à procura do tesouro que caíra do galeão pirata
A pressão estava prestes a estourar meus tímpanos

A luz aos poucos deixava de alcançar meus recintos
Somente o tato...
áspero, cego, surdo e amargo
poderia reconhecer o baú encantado

Roubei o fôlego de uma bolha escondida abaixo de uma pedra
Já sou um náufrago perdido e intocável pela superfície
Pra quê me serve qualquer tesouro agora?

— The End —