eu costumava sonhar em me tornar o mar
imenso e vasto como tal,
com a mesma selvageria caótica
que é viva e dissemina a calmaria
e se eu puder ser mar
receber-te-ei como um dos meus
que banham-se em meu colo
enquanto se libertam das âncoras mundanas
às pressas de escapar desse não-lugar onde me esconderam
me vi na areia, em mutação
preto no branco gritando e a natureza fundindo
eu me vi fruto da miscigenação
eu me tornei mar
e agora tenho um amante
que queima em meu horizonte
mas se esconde ao anoitecer
na manhã ele retorna
e logo põe-se a iluminar
todas as almas pretas
que ainda procuram um lar
escapei do esconderijo
que era um tipo de prisão
pra que ninguém mais seja preso
longe da escuridão
por isso enquanto eu for mar
te deixarei livre, na leveza de existir
te emprestarei meu amante
pois sei da tua vontade
vai ter calor no teu corpo em todo amanhecer
felizmente hoje eu sou mar
então recebo-te como um dos meus
e lhe convido a nadar