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Rosalie Walker Sep 2013
Sou medrosa
Sempre tive um vasto medo de te perder
Com minha simples prosa relembro bons momentos que passei com você

Das noites em que passávamos acordados vendo filmes e tomando sorvete,
Manhãs em que acordavamos cedo para ver desenhos animados,
Quando ia para sua cama no meio da noite pois estava com medo
Até quando me dava ovadas no meu aniversário,
Me diverti contigo.

Na medida em que crescemos,
Mudamos o nosso jeito de ser,
Tomamos rumos diferentes,
Você começou a me deixar em último plano,
Mas o pior de tudo,
Se afastou,
Afastou-se de um jeito inexplicável,
De um jeito doloroso

Pessoas me perguntam até hoje
"Onde está seu irmão? Vocês costumavam ir a todo lugar juntos..."
E eu, olho para os meus pés e relembro como éras
"Está em casa" respondo, quando naverdade, não sei onde está
Digo isso para não revelar o fato de que não me quer mais em seu mundo,
Para não mostrar aos outros que você não me aceita mais.

Estúpidas mudanças!
Por causa delas, você se tornou assim comigo:
Amargo, como o gosto da tristeza em minha boca,
Um desconhecido
E o pior de tudo,
Se tornou a pessoa que prometeras nunca se tornar,
E o meu pior pesadelo acabou acontecendo na vida real:
Te perdi.
Danielle Furtado Nov 2014
Nasceu no dia dos namorados. Filho de mãe brasileira com descendência holandesa e pai português. Tinha três irmãos: seu gêmeo Fabrício, o mais velho, Renato, e o terceiro, falecido, que era sua grande dor, nunca dizia seu nome e ninguém se atrevia a perguntar.
A pessoa em questão chamaremos de Jimmy. Jimmy Jazz.
Jimmy morava em Portugal, na cidade de Faro, e passou a infância fazendo viagens ao Brasil a fim de visitar a família de sua mãe; sempre rebelde, colecionava olhares tortos, lições de moral, renegações.
Seu maior inimigo, também chamado por ele de pai, declarou guerra contra suas ideologias punk, seu cabelo que gritava anarquismo, e a vontade que tinha ele de viver.
Certo dia, não qualquer dia mas no natal do ano em que Jimmy fez 14 anos, seu pai o expulsou de casa. Mais um menino perdido na rua se tornou o pequeno aspirante à poeta, agora um verdadeiro marginal.
Não tinha para onde ir. Sentou-se na calçada, olhou para seus pés e agradeceu pela sorte de estar de sapatos e ter uma caneta no bolso no momento da expulsão, seu pai não o deixara com nada, nem um vintém, e tinha fome.
Rondou pelas mesmas quadras ao redor de sua casa por uns dias, até se cansar dos mesmos rostos e da rotina daquela região, então tomou coragem e resolveu explorar outras vidas, havia encontrado um caderno em branco dentro de uma biblioteca pública onde costumava passar o dia lendo e este seria seu amigo por um bom tempo.
Orgulhoso, auto-suficiente, o menino de apenas 14 anos acabou encontrando alguém como ele, por fim. Seu nome era Allan, um punk que, apesar de ainda ter uma casa, estava doido para ir embora viver sua rotina de não ter rotina alguma, e eles levaram isso muito à sério.
Logo se tornaram inseparáveis, arrumaram emprego juntos, que não era muito mas conseguiria mantê-los pelo menos até terminarem a escola, conseguiram alugar uma casa e compraram um cachorro que nunca ganhou nome pois não conseguiam entrar em acordo sobre isso, Jimmy tinha também um lagarto de estimação que chamava de Mr. White, sua paixão.
Os dois amigos começaram a frequentar o que antes só viam na teoria: as festas punk; finalmente haviam conseguido o que estavam procurando há tempos: liberdade total de expressão e ação. Rodeados por todos os tipos de drogas e práticas sexuais, mas principalmente, a razão de todo o movimento: a música.
Jimmy tinha inúmeras camisetas dos Smiths, sua banda favorita, e em seu quarto já não se sabia a cor das paredes que estavam cobertas por pôsteres de bandas dos anos 80 e 90, décadas sagradas para qualquer amante da música e Jimmy era um deles, sem dúvida.
Apesar da vida desregrada que levava com o amigo, Jimmy conseguiu ingressar na faculdade de Letras, contribuindo para sua vontade de fazer poesia, e Allan em enfermagem. Os dois, ao contrário do que seus familiares pensavam, eram extremamente inteligentes, cultos, criaram um clube de poesia com mais dois ou três amigos que conheceram em uma das festas e chamaram de "Sociedade dos Poetas Mortos... e Drogados!", fazendo referência ao filme de  Peter Weir.
O nome não era apenas uma piada entre eles, era a maior verdade de suas vidas, eles eram drogados, Jimmy  era viciado em heroína, Allan também mas em menos intensidade que seu parceiro.
Jimmy não era hétero, gay, bissexual ou qualquer outra coisa que se encaixe dentro de um quadrado exigido pela sociedade, Jimmy era do amor livre, Jimmy apenas amava. E com o passar o tempo, amava seu amigo de forma diferente, assustado pelo sentimento, escondeu o maior tempo que pôde até que o sentimento sumisse, afinal é só um hormônio e a vida voltaria ao normal, mas a amizade era e sempre seria algo além disso: uma conexão espiritual, se acreditassem em almas.
Ambos continuaram suas vidas sendo visitados pela família (no caso de Jimmy, apenas sua mãe) duas vezes ao ano, no máximo, e nesses dias não faziam questão de esconderem seus cigarros, piercings ou qualquer pista da vida que levavam sozinhos, afinal, não os devia mais nada já que seus vícios, tanto químicos quanto musicais, eram bancados por eles mesmos.
Era 14 de fevereiro e Jimmy completara 19 anos, a vida ainda era a mesma, o amigo também, mas sua saúde não, principalmente sua saúde mental.
O poeta de sofá, como alguns de nós, sofria de um existencialismo perturbador, o mundo inteiro doía no seu ser, e não podia fazer muito sobre aquilo, afinal o que poderia fazer à respeito senão escrever?
Até pensou em viver de música já que tocava dois instrumentos, mas a ideia de ter desconhecidos desfrutando ou zombando dos seus sentimentos mais puros não lhe era agradável. Continuou a escrever sobre suas dores e amores, e se perguntava por que se sentia daquela forma, por que não poderia ser como seu irmão que, apesar de possuírem aparência idêntica, eram extremos do mesmo corpo. Fabrício era apenas outro cidadão português que chegava em casa antes de sua mãe ficar preocupada, não que ele fosse um filho exemplar, ele só era... normal, e era tudo que Jimmy não era e jamais gostaria de ser; aliás, ter uma vida comum era visto com desprezo pelos olhos dele, olhos que, ainda tão cedo, haviam visto o melhor e o pior da vida, já não acreditava em nada, nem em si mesmo, nem em deus, nem no universo, nem no amor.
Como poderia alguém amar uma pessoa com tanta dor dentro de si? Como ele explicaria sua vontade de morrer à alguém que ele gostaria de passar a vida toda com? Era uma contradição ambulante. Uma contradição de olhos azuis, profundos, e com hematomas pelo corpo todo.
Aos 20 anos, o tédio e a depressão ainda controlavam seu estado emocional a maior parte do tempo, aos domingos era tudo pior, existe algo sobre domingo à tarde que é inexplicável e insuportável para os existencialistas, e para ele não seria diferente. Em um domingo qualquer, se sentindo sozinho, resolveu entrar em um chat online daqueles famosos, e na primeira tentativa de conversa conheceu uma moça do Brasil, que como ele, amava a banda Placebo e sendo existencialista, também sofria de solidão, o que facilitou na construção dos assuntos.
Ela não deu muita importância ao português que dizia "não ser punk porque punks não se chamam de punks", já estava cansada de amores e amizades à distância, decidiu se despedir. O rapaz, insistente e talvez curioso sobre a pessoa com quem se deparara por puro acaso, perguntou se poderiam conversar novamente, e não sabendo a dor que isso a causaria, cedeu.
Assim como havia feito com Allan, Jimmy conquistou Julien, a nova amiga, rapidamente. De um dia para o outro, se pegou esperando para que Jimmy voltasse logo para casa para que pudessem conversar sobre poesia, música, começo e fim da vida, todos os porquês do mundo em apenas uma noite, e então perceberam que já não estavam sozinhos, principalmente ela, que havia tempo não conhecia alguém tão interessante e único quanto ele.
Não demorou muito para que trocassem confidências e os segredos mais íntimos, mas nem tudo era tão sério, riam juntos como nunca antes, e todos sabem que o caminho para o coração de uma mulher é o bom humor, Julien se encontrava perdidamente apaixonada pelo ****** que conhecera num site de relacionamentos e isso se tornaria um problema.
Qualquer relacionamento à distância é complicado por natureza, agora adicione dois suicidas em potencial, um deles viciado em heroína e outra que de tão frustrada já não ligava tanto para sede de viver que sentia, queria apenas ler poesia longe de todas as pessoas comuns, essas que ambos abominavam.
Jimmy era todos os ídolos de Julien comprimidos dentro de si. Ele era Marilyn Manson, era Brian Molko, era Gerard Way, Billy Corgan, Kurt Cobain, mas acima de todos esses, Jimmy era Sid Vicious e Julien sonhava com seus dias de Nancy.
Ele era o primeiro e último pensamento dela, e se tornou o tema principal de toda as poesias que escrevia, assim como as que lia, parecia que todas eram sobre o luso-brasileiro que considerava sua cópia masculina. Jimmy, como ela, era feminista, cheio de ideologias e viciado em bandas, mas ao contrário dela, não teria tanto tempo para essas coisas.
Estava apaixonado por um rapaz brasileiro, Estêvão, que também dizia estar apaixonado por ele mas nunca passaram disso, e logo se formou um semi-triângulo amoroso, pois Julien sabia da existência da paixão de Jimmy, mas Estêvão não sabia que existia outra brasileira que amava a mesma pessoa perdidamente. Não sentiu raiva dele, pelo contrário, apoiava o romance dos dois já que tudo que importava à ela era a felicidade de Jimmy, que como ela, era infeliz, e as chances de pessoas como eles serem felizes algum dia é quase nula.
O brasileiro era amante da MPB e da poesia do país, assim como amava ouvir pós-punk e escrever, interesses que eram comum aos três perdidos, mas era profissional para ele já que conseguira que seus trabalhos fossem publicados diversas vezes. Se Jimmy era Sid Vicious, Julien desejava ser Nancy (ou Courtney Love dependendo do humor), Estêvão era Cazuza.
Morava sozinho e não conseguia se fixar em lugar algum, estava à procura de algo que só poderia achar dentro dele mesmo mas não sabia por onde começar; convivia com *** há alguns meses na época, mas estava relativamente bem com aquilo, tinha um controle emocional maior do que nosso Sid.
Assim como aconteceu com Allan e Julien, não demorou muito para que Estêvão caísse nos encantos de Jimmy, que não eram poucos, e não fazia mais tanta questão de esconder o que sentia por ele. Dono de olhos infinitamente azuis, cabelo bagunçado que mudava de cor frequentemente, corpo magro, pálido, e escrevia os versos mais lindos que poderia imaginar, Jimmy era o ser mais irresistível para qualquer um que quisesse um bom tema para escrever.
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Julien era de uma cidade pequena do Brasil, onde, sem a internet, jamais poderia ter conhecido Jimmy, que frequentava apenas as grandes cidades do país. Filha de pais separados, tinha o mesmo ódio pelo pai que ele, mas diferente do amigo, seu ódio era usado contra ela mesma, auto-destrutiva é um termo que definiria sua personalidade. Era de se esperar que ela se apaixonasse por alguém viciado em drogas, existe algo de romântico sobre tudo isso, afinal.
Em uma quarta-feira comum, antecipada por um dia nublado, escreveu:

Minhas palavras, todas tiradas dos teus poemas
Teu sotaque, uma voz imaginada
Que obra de arte eram teus olhos
Feitos de um azul-convite

E eu aceitei.


Jimmy era agora seu mundo, e qualquer lugar do mundo a lembrava dele. Qualquer frase proferida aleatoriamente em uma roda de amigos e automaticamente conseguia ouvir sua opinião sobre o assunto, ela o conhecia como ninguém, e em tão pouco tempo já não precisavam falar muita coisa, os dois sabiam dos dois.
Desejava que Jimmy fosse inteiramente dela, corpo e mente, que cada célula de seu ser pudesse tocar todas as células do dela, e que todos os pensamentos dele fossem sobre amá-la, mas como a maioria das coisas que queria, nada iria acontecer, se achava a pessoa mais azarada do mundo (e provavelmente era).
Em uma noite qualquer, após esperar o dia todo ansiosa pela hora em que Jimmy voltaria da faculdade, ele não apareceu. Bom, ele era mesmo uma pessoa inconstante e já estava acostumada à esse tipo de surpresa, mas existia algo diferente sobre aquela noite, sabia que Jimmy estava escondendo alguma coisa dela pois há dias estava estranho e calado, dormia cedo, acordava tarde, não comia, e as músicas que costumavam trocar estavam se tornando cada vez mais tristes, mas era inútil questionar, apesar da intimidade, ele se tornara uma pessoa reservada, o que era totalmente compreensível.
Após três ou quatro dias de aflição, ele finalmente volta e não parece bem, mesmo sem ver seu rosto, conhecia as palavras usadas por ele em todos os momentos. Preocupada com o sumiço, foi logo questionando sua ausência com certa raiva e euforia, Jimmy não respondia uma letra sequer. Julien deixou uma lágrima escorrer e implorou por respostas, tinha a certeza de que algo estava muito errado.
"Acalme-se, ou não poderei lhe contar hoje. Algo aconteceu e seu pressentimento está mais que correto, mas preciso que entenda o meu silêncio", disse à ela.
Julien não respondeu nada além de "me dê seu número, sinto que isso não é algo que se conta por escrito".
Discando o número gigantesco, cheio de códigos, sabia que assim que terminasse aquela ligação teria um problema muito maior do que a alta taxa que é cobrada por ligações internacionais. Ele atendeu e começou a falar interrompendo qualquer formalidade que ela viria a proferir:

– Apenas escute e prometa-me que não irá chorar.
Ela não disse nada, aceitando a condição.
– Há tempos não sinto-me bem, faço as mesmas coisas, não mudei meus costumes, embora deveria mas agora é tarde demais. Sinto-me diferente, meu corpo... fraco. Preciso te contar mas não tenho as palavras certas, acho que nem existem palavras certas para o que estou prestes à dizer então serei direto: descobri que sou *** positivo. ´
Um silêncio quase mórbido no ar, dos dois lados da linha.
Parecia-se com um tiro que atravessou o estômago dos dois, e nenhum podia falar.
Julien quebrou o silêncio desligando o telefone. Não podia expressar a dor que sentia, o sentimento de injustiça que a deixava de mãos atadas, Ele era a última pessoa do mundo que merecia aquilo, para ela, Jimmy era sagrado.

Apenas uma pessoa soube da nova situação de Jimmy antes de Julien: Allan.
Dois dias antes de contar tudo à amiga, Jimmy havia ido ao hospital sozinho, chegou em casa mais cedo, sentou-se no sofá e quis morrer, comparou o exame médico à um atestado de óbito e deu-se por morto. Allan chegou em casa e encontrou o amigo no chão, de olhos inchados, mãos trêmulas. Tirou o envelope de baixo dos braço de Jimmy, que o segurava como se fosse voar a qualquer instante, como se tivesse que apertar ao máximo para ter certeza de que aquilo era real. Enquanto lia os papéis, Jimmy suplicava sua morte, em meio à lágrimas, Allan lhe beijou como o amante oculto que foi por anos, com lábios fracos que resumiam a dor e o medo mas usou um disfarce para o pânico que sentia e sussurrou "não sinto nojo de ti, meu amigo, não estás morto".
Palavras inúteis. Já não queria ouvir nada, saber de nada. Jimmy então tentou dormir mas todas as memórias das vezes que usou drogas, que transou sem saber com quem, onde ou como, estavam piscando como flashes de luz quase cegantes e sentia uma culpa incomparável, um medo, terror. Mas nenhuma memória foi tão perturbadora quanto a da vez em que sofreu abuso ****** em uma das festas. Uma pessoa aleatória e sem grande importância, aproveitou-se do menino pálido e mirrado que estava dormindo no chão, quase desmaiado por culpa de todo o álcool consumido, mas ainda consciente, Jimmy conseguia sentir sua cabeça sendo pressionada contra a poça d'água que estava em baixo de seu corpo, e ouvia risos, e esses mesmos risos estavam rindo dele agora enquanto tentava dormir e rezava pra um deus que não acredita para que tudo fosse um pesadelo.
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Naquele dia, Jimmy, que já era pessimista por si só, prometeu que não se trataria, que iria apenas esperar a morte, uma morte precoce, e que este seria o desfecho perfeito para alguém que envelheceu tão rápido, mas ele não esperaria sentado, iria continuar sua vida de auto-destruição, saindo cedo e voltando tarde, dormindo e comendo mal, não pararia também com nenhum tipo de droga, principalmente cigarro, que era tão importante quanto a caneta ao escrever seus poemas, dizia que sentir a cinza ainda quente caindo no peito o inspirava.
Outra manhã chegou, e mesmo que desejasse com toda força, tudo ainda era real, seus pensamentos eram confusos, dúvidas e incertezas tão insuportáveis que poderiam causar dores físicas e curadas com analgésicos. Trocou o dia pela noite, já não via o sol, não via rostos crús como os que se vê quando estamos à caminho do trabalho, só via os personagens da noite, prostitutas, vendedores de drogas, pessoas que compravam essas drogas, e gente como ele, de coração quebrado, pessoas que perderam amigos (ou não têm), que perderam a si mesmos, que terminaram relacionamentos até então eternos, que já não suportavam a vida medíocre imposta por uma sociedade programada e hipócrita. Continuou indo aos mesmos lugares por semanas, e já não dormia em casa todos os dias, sempre arrumava um espaço na casa de algum amigo ou conhecido, como se doesse encara
D. Furtado
Esta crônica é resultado de uma conversa que eu teria com o velho companheiro de lutas Chico da Cátia. Era um companheiro de toda hora, sempre pronto a dar ajuda a quem quer que fosse. Sua viúva, a Cátia, é professora da rede pública estadual do Rio de Janeiro e ele adquiriu esse apelido devido a sua obediência a ela, pois sempre que estávamos numa reunião ou assembleia ou evento, qualquer coisa e ela dissesse "vamos embora!", o Chico obedecia, e, ao se despedir dizia: com mulher, não se discute. Apertava a mão dos amigos e partia.

Hoje, terceiro domingo do janeiro de 2015, estou cercado. Literalmente cercado. Cercado sim e cercado sem nenhum soldado armado até aos dentes tomando conta de mim. Não há sequer um helicoptero das forças armadas americanas sobrevoando o meu prédio equipado com mísseis terra-ar para exterminar-me ao menor movimento, como está acontecendo agorinha em algum lugar do oriente asiático. Estou dentro de um apartamento super ventilado, localizado próximo a uma área de reserva da mata atlântica, local extremamente confortável, mas cercado de calor por todos os lados, e devido ao precário abastecimento de água na região, sequer posso ficar tomando um banhozinho de hora em hora, pois a minha caixa d'água está pela metade. Hoje, estou tão cercado que sequer posso sair cidade a fora, batendo pernas, ou melhor, chinelos, pegar ônibus ou metrô ou BRTs e ir lá na casa daquele velho companheiro de lutas Chico da Cátia, no Morro do Falet, em Santa Tereza, para pormos as ideias em dia. É que a mulher saiu, foi para a casa da maezinha dela e como eu tinha dentista ontem, não fui também e estou em casa, cercado também pelo necessário repouso orientado pelo médico, que receitou-me cuidados com o calor devido ao dente estar aberto.

Mas, firulas à parte, lembro-me de uma conversa que tive com o Chico após a eleição do Tancredo pelo colégio eleitoral, que golpeou as DIRETAS JÁ, propostas pelo povo, na qual buscávamos entender os interesses por detrás disso, uma vez que as eleições diretas não representavam nenhuma ameaça ao Poder Burguês no Brasil, aos interesses do capital, e até pelo contrário, daria uma fachada "democrática ao país" Nessa conversa, eu e o Chico procuramos esmiuçar os segmentos da burguesia dominante no Brasil, ao contrário do conceito de "burguesia brasileira" proposto pela sociologia dos FHCs da vida. Chegamos à conclusão de que ela também se divide, tem contradições internas e nos seus embates, o setor hegemônico do capital é quem predominar. Nesse quesito nos detivemos um bom tempo debatendo, destrinçando os comportamento orgânicos do capital, e concluímos que o liberalismo, fantasiado de neo ou não, é liberal até o momento em que seus interesses são atingidos, muitas vezes por setores da própria burguesia; nesses momentos, o setor dominante, hegemônico, lança mão do que estiver ao seu alcance, seja o aparelho legislativo, o judiciário e, na falta do executivo, serve qualquer instrumento de força, como eliminação física dos seus opositores, golpe de mídia ou golpe de estado, muitas vezes por dentro dos próprios setores em disputa, como se comprovou com a morte de Tancredo Neves, de Ulisses Guimarães e de uma série de próceres da burguesia, mortos logo a seguir.

Porém, como disse, hoje estou cercado. Cercado por todos os lados, cercado até politicamente, pois os instrumentos democratizantes do meu país estão dominados pelos instrumentos fascistizantes da sociedade. É que a burguesia tem táticas bastante sutis de penetração, de corrosão do poder de seus adversários e atua de modo tão venal que é quase impossível comprovar as suas ações. Ninguém vai querer concordar comigo em que os setores corruptos da esquerda sejam "arapongas" da direita; que os "ratos" que enchem o país de ONGs, só pra sugar verbas públicas com pseudo-projetos sociais, sejam "arapongas" da direita; que os ratazanas que usam a CUT, o MST, o Movimento por Moradia, e controlam os organismos de políticas sociais do país sejam "arapongas" da direita; que os LULAS, lulista e cia, o PT, a Dilma etc, sejam a própria direita; pois do contrário, como se explica a repressão aos movimentos sociais, como se explica a criminalização das ações populares em manifestações pelo país a fora? Só vejo uma única resposta: Está fora do controle "DELLES!"

Portanto, como disse, estou cercado. Hoje, num domingo extremamente quente, com parco provimento de água, não posso mais, sequer, ir à casa do meu amigo Chico da Cátia. Ela, já está com a idade avançada, a paciência esgotada de tanto lutar por democracia, não aguenta mais sair e participar dos movimentos sociais, e eu sou obrigado a ficar no meu canto, idoso e só, pois o Chico já está "na melhor!"; não disponho mais dele para exercitar a acuidade ideológica e não me permitir ser um "maria vai com as outras" social, um alienado no meio da *****, um zé-niguém na multidão, o " boi do Raul Seixas": "Vocês que fazem parte dessa *****, que passa nos projetos do futuro..."  Por exemplo, queria conversar com ele sobre esse "CASO CHARLIE HEBDO", lá da França, em que morreu um monte de gente graças a uma charge. Mas ele objetaria; "Uma charge?!" É verdade. Não foi a charge que matou um monte de gente, não foi o jornal que matou um monte de gente, não foram os humoristas que mataram um monte de gente. Assim como na morte de Tancredo Neves e tantos membros da própria burguesia no Brasil, quem matou um monte de gente é o instrumento fascistizante da sociedade mundial, ou seja, a disputa orgânica do capital, a concorrência entre o capital ocidental e o capital oriental, que promove o racismo e vende armas, que promove a intolerância religiosa e vende armas, que promove as organizações terroristas em todo o mundo e vende armas; que vilipendia as liberdades humanas intrínsecas, pisoteia a dignidade mais elementar, como o direito à crença, como o respeito etnico, a liberdade de escolhas, as opções sexuais, e o que é pior, chama isso de LIBERDADE e comete crimes hediondos em nome da Liberdade de Imprensa, da Liberdade de Expressão,  a ponto de a ministra da justiça francesa, uma mulher, uma negra, alguém que merece respeito, ser comparada com uma macaca, e ninguém falar nada. Com toda certeza do mundo, eu e o Chico jamais seremos CHARLIE....  

Mariana Seabra Jul 2023
Chegaste a mim em forma de argila, num balde de plástico furado.  
Apanhei-te, de surpresa, embrulhada nas ondas do meu mar salgado.  
Estavas escondida, por entre os rochedos, rodeada pelas habituais muralhas que te aconchegam,  
                                                   ­     as mesmas que me atormentam,  
quando levantas uma barreira que me impede de chegar a ti.  

Segurei-te nos braços, como quem se prepara para te embalar. Sacudi-te as algas, e encostei o meu ouvido à casca que te acolhia no seu ventre.  
Não conseguia decifrar o som que escutava, muito menos controlar a vontade de o querer escutar mais. Algo ecoava num tom quase inaudível. Sentia uma vida...uma vida fraca, sim...mas, havia vida a pulsar. Podia jurar que conseguia sentir-te, para lá da barreira, como se me tivesses atravessado corpo adentro.
Ainda não conhecia o som da tua voz, e ela já me fazia sonhar.  

Pulsavas numa frequência tão semelhante à minha!... não resisti,  
fui impelida a chegar mais perto. Precisava de te tocar, precisava de te ver,
     só para ter a certeza se eras real,
                           ou se, finalmente, tinha terminado de enlouquecer.

Se tinha perdido os meus resquícios de sanidade,  
                                                     ­                                   consciência,
                                                                ­                        lucidez,                              
ou se era verdade que estávamos ambas a vibrar,
no mesmo espaço, ao mesmo tempo, no mesmo ritmo de frequência, uma e outra e outra...e outra vez.  

Vieste dar à costa na minha pequena ilha encantada. Na ilha onde, de livre vontade, me isolava.  
Na ilha onde me permitia correr desafogadamente,  

                                             ­                            ser besta e/ou humana,  
                                                       ­                  ser eu,  
                                                           ­              ser tudo,
                                                                ­         ser todos,  
                                                        ­                 ou ser nada.  

Na mesma ilha onde só eu decidia, quem ou o que é que entrava. Não sabia se estava feliz ou assustada! Mais tarde, interiorizei que ambos podem coexistir. Por agora, sigo em elipses temporais. Longos anos que tentei suprimir num poema, na esperança que ele coubesse dentro de ti.

(…)

“Como é que não dei pela tua entrada? Ou fui eu que te escondi aqui? Será que te escondi tão bem, que até te consegui esconder de mim? És uma estranha oferenda que o mar me trouxe? Ou és só uma refugiada que ficou encalhada? Devo ficar contigo? Ou devolver-te às correntes? Como é que não dei pela tua entrada...? Que brecha é que descobriste em mim? Como é que conseguiste chegar onde ninguém chegou? Como é que te vou tirar daqui?”.  

Não precisei de te abrir para ver o que tinha encontrado, mas queria tanto descobrir uma brecha para te invadir! Não sabia de onde vinha esse louco chamamento. Sei que o sentia invadir-me a mim. Como se, de repente, chegar ao núcleo que te continha fosse cada vez menos uma vontade e, cada vez mais uma necessidade.

Cheiravas-me a terra molhada,  
                                                      ­   depois de uma chuva desgraçada. Queria entrar em ti! Mesmo depois de me terem dito que a curiosidade matava. Queria tanto entrar em ti! Ser enterrada em ti!  

A arquiteta que desenhou aquele balde estava mesmo empenhada                                                        ­                                                             
                                 em manter-te lá dentro,  
e manter tudo o resto cá fora. A tampa parecia bem selada.  

Admirei-a pela inteligência. Pelo simples que tornou complexo.  
Pela correta noção de que, nem toda a gente merece ter o teu acesso.

(...)

Vinhas em forma de argila...e, retiradas as algas da frente, vi um labirinto para onde implorei ser sugada. Estava no epicentro de uma tempestade que ainda se estava a formar e, já se faziam previsões que ia ser violenta. O caos de uma relação! de uma conexão, onde o eu, o tu e o nós, onde o passado, o futuro e o presente, entram em conflito, até cada um descobrir onde se encaixa, até se sentirem confortáveis no seu devido lugar.  

Estava tão habituada a estar sozinha e isolada, apenas acompanhada pelo som da água, dos animais ou do vento, que não sabia identificar se estava triste ou contente. Não sabia como me sentir com a tua inesperada chegada. Não sabia o que era ouvir outro batimento cardíaco dentro da minha própria mente,  

e sentir uma pulsação ligada à minha, mesmo quando o teu coração está distante ou ausente.  

No começo, espreitava-te pelos buracos do balde, por onde pequenos feixes de luz entravam e, incandesciam a tua câmera obscura,  

                 e tu corrias para te esconder!
                 e eu corria para te apanhar!
                 e foi um esconde-esconde que durou-durou...
                 e nenhuma de nós chegou a ganhar.  

Quanto mais te estudava, menos de mim percebia. Mais admiração sentia por aquela pedra de argila tão fria. "Que presente é este que naufragou no meu mar? Como é que te vou abrir sem te partir?"

Retirei-te a tampa a medo,  
                                                a medo que o teu interior explodisse.  

E tu mal te mexeste.  
                                  E eu mexia-te,
                                                           remex­ia-te,
                                                           virava-te do direito e do avesso.  

És única! Fazias-me lembrar de tudo,
                                                          e não me fazias lembrar de nada.

És única! E o que eu adorava  
é que não me fazias lembrar de ninguém,  
                             ninguém que eu tivesse conhecido ou imaginado.

És única! A musa que me inspirou com a sua existência.  

“Como é que uma pedra tão fria pode causar-me esta sensação tão grande de ardência?”

(…)

Mesmo que fechasse os olhos, a inutilidade de os manter assim era evidente.  
Entravas-me pelos sentidos que menos esperava. Foi contigo que aprendi que há mais que cinco! E, que todos podem ser estimulados. E, que podem ser criados mais! Existem milhares de canais por onde consegues entrar em mim.  

A curiosidade que aquele teu cheiro me despertava era imensa,                                                          ­                                                

               ­                                                                 ­                  intensa,
                                                                ­                                                       
         ­                                                                 ­                         então,  
                                          
             ­                                                                 ­                    abri-te.

Abri-me ao meio,  
só para ver em quantas peças é que um ser humano pode ser desmontado.

Despi-te a alma com olhares curiosos. E, de cada vez que te olhava, tinha de controlar o tempo! Tinha de me desviar! Tinha medo que me apanhasses a despir-te com o olhar. Ou pior!  
Tinha medo que fosses tu a despir-me. Nunca tinha estado assim tão nua com alguém.  
Tinha medo do que os teus olhos poderiam ver. Não sabia se ficarias, mesmo depois de me conhecer. Depois de me tirares as algas da frente, e veres que não sou só luz, que luz é apenas a essência em que me prefiro converter. Que vim da escuridão, embrulhada nas ondas de um mar escuro e tenebroso, e é contra os monstros que habitam essas correntes que me debato todos os dias, porque sei que não os posso deixar tomar as rédeas do meu frágil navio.  

(...)

Vinhas em inúmeros pedaços rochosos,
                                                                ­             uns afiados,  
  
                                                   ­                          uns macios,

                                                               ­           todos partidos...

Sentia a tua dureza contra a moleza da minha pele ardente,  
E eu ardia.  
                    E tu não ardias,  
                                                 parecias morta de tão fria.  

Estavas tão endurecida pela vida, que nem tremias.  
Não importava o quanto te amasse,  
                                                       ­          que te atirasse à parede, 
                                                        ­         que te gritasse                                                         ­                                                                 ­                    
                                                                ­                            ou abanasse...

Não importava. Não tremias.  

Haviam demasiadas questões que me assombravam. Diria que, sou uma pessoa com tendência natural para se questionar. Não é motivo de alarme, é o formato normal do meu cérebro funcionar. Ele pega numa coisa e começa a rodá-la em várias direções, para que eu a possa ver de vários ângulos, seja em duas, três, quatro ou cinco dimensões.  

"Porque é que não reagias?"  
"Devia ter pousado o balde?"  
"Devia ter recuado?"
"Devia ter desviado o olhar,
                                                      em vez de te ter encarado?"  

Mas, não. Não conseguia. Existia algo! Algo maior que me puxava para os teus pedaços.  
Algo que me fervia por dentro, uma tal de "forte energia", que não se permitia ser domada ou contrariada. Algo neles que me atraía, na exata medida em que me repelia.

Olhava-te, observava-te,  
                                                absorvia-te...
e via além do que os outros viam.
Declarava a mim mesma, com toda a certeza, que te reconhecia.
Quem sabe, de uma outra vida.
Eras-me mais familiar à alma do que a minha própria família.  
Apesar de que me entristeça escrever isto.  

Eram tantas as mazelas que trazias...Reconhecia algumas delas nas minhas. Nem sabia por onde te pegar.
Nem sabia como manter os teus pedaços juntos. Nem sabia a forma certa de te amar.
Estava disposta a aprender,  
                                                   se estivesses disposta a ensinar.  

(…)

Descobri com a nossa convivência, que violência era o que bem conhecias,                                                       ­                                                         
                    então, claro que já não tremias!  
Um ser humano quebrado, eventualmente, habitua-se a esse estado. Até o amor lhe começa a saber a amargo.  

Só precisei de te observar de perto.  
Só precisei de te quebrar com afeto.

Culpei-me por ser tão bruta e desastrada, esqueci-me que o amor também vem com espinhos disfarçados. Devia ter percebido pelo teu olhar cheio e vazio, pelo reflexo meu que nele espelhava, que a semelhança é demasiada para ser ignorada.

Somos semelhantes.  

Tão diferentes! que somos semelhantes.  

Duas almas velhas e cansadas. Duas crianças ingénuas e magoadas. Duas pessoas demasiado habituadas à solidão.  

Só precisei de escavar através do teu lado racional.
Cegamente, mergulhei bem fundo, onde já nem a luz batia,

                                                               ­    e naveguei sem rumo certo  

nas marés turbulentas do teu emocional. E, algures dentro de ti,  
encontrei um portal que me levou a um outro mundo...

Um mundo onde eu nem sabia que uma outra versão de mim existia,                                                         ­                                                         
       ­       onde me escondias e cobrias com a lua.

Um mundo onde eu estava em casa, e nem casa existia,  
                                                      ­            
                       onde me deitava ao teu lado,                                          
                          onde te deitavas ao meu lado,                                                            ­                                            
                    ­            totalmente nua,
      debaixo da armadura que, finalmente, parecia ter caído.  

Creio que mergulhei fundo demais...  
Ultrapassei os limites terrestres,
                                 e fui embater contigo em terrenos espirituais.  

Cheguei a ti com muita paciência e ternura.
Tornei-me energia pura! Um ser omnipresente. Tinha uma vida no mundo físico e, uma dupla, que vivia contigo através da música, da escrita, da literatura…Tornei-me minha e tua!  
Eu sabia...
Há muito amor escondido atrás dessa falsa amargura.  
Então, parei de usar a força e, mudei de abordagem,  
para uma mais sossegada,
                                               uma que te deixasse mais vulnerável,                                                                    ­                                            
         em vez de assustada.  

(…)

“Minha pedra de argila, acho que estou a projetar. Estou mais assustada que tu! Estar perto de ti faz-me tremer, não me consigo controlar. Quero estar perto! Só quero estar perto! Mesmo que não me segure de pé. Mesmo que tenhas de me relembrar de respirar. Mesmo que me custem a sair as palavras, quando são atropeladas pela carrada de sentimentos que vieste despertar…”

És um livro aberto, com páginas escritas a tinta mágica.
A cada página que o fogo revelava, havia uma página seguinte que vinha arrancada. Mais um capítulo que ficava por ler. Outra incógnita sobre ti que me deixavas a matutar.

Soubeste como me despertar a curiosidade,
como a manter,
como me atiçar,
como me deixar viciada em ti,
como me estabilizar ou desestabilizar.  

E nem precisas de fazer nada! a tua mera existência abana a corda alta onde me tento equilibrar.

Segurei-te com todo o carinho! E, foi sempre assim que quis segurar-te.

Como quem procura
                                       amar-te.

Talvez transformar-te,  
                                        em algo meu,
                                        em algo teu,
                                                                ­ em algo mais,
                                                                ­                          em algo nosso.  

Oferecias resistência, e eu não entendia.  
A ausência de entendimento entorpecia-me o pensamento, e eu insistia...Não conseguia respeitar-te. Só queria amar-te!

Cada obstáculo que aparecia era só mais uma prova para superar,  
                    ou, pelo menos, era disso que me convencia.
Menos metros que tinha de fazer nesta maratona exaustiva!
onde a única meta consistia  
                                                   em chegar a ti.
Desse por onde desse, tivesse de suar lágrimas ou chorar sangue!

(...)

Olhava-te a transbordar de sentimentos! mal me conseguia conter! mal conseguia formar uma frase! mal conseguia esconder que o que tremia por fora, nem se comparava ao que tremia por dentro!
Afinal, era o meu interior que estava prestes a explodir.

"Como é que não te conseguiste aperceber?”

A tua boca dizia uma coisa que, rapidamente, os teus olhos vinham contrariar. "Voa, sê livre”. Era o que a tua boca pregava em mim, parecia uma cruz que eu estava destinada a carregar. Mas, quando eu voava, ficava o meu mar salgado marcado no teu olhar.  
Não quero estar onde não estás! Não quero voar! quero deitar-me ao teu lado! quero não ter de sair de lá! e só quero voar ao teu lado quando nos cansarmos de viajar no mundo de cá.  

“Porque é que fazemos o oposto daquilo que queremos? Porque é que é mais difícil pedir a alguém para ficar? Quando é que a necessidade do outro começou a parecer uma humilhação? Quando é que o mundo mudou tanto, que o mais normal é demonstrar desapego, em vez daquela saudável obsessão? Tanta questão! Também gostava que o meu cérebro se conseguisse calar. Também me esgoto a mim mesma de tanto pensar.”

(...)

O amor bateu em ti e fez ricochete,  
                                                    ­                acertou em mim,  
quase nos conseguiu despedaçar.  

Até hoje, és uma bala de argila, perdida no fluxo das minhas veias incandescentes. O impacto não me matou, e o buraco já quase sarou com a minha própria carne à tua volta. Enquanto for viva, vou carregar-te para onde quer que vá. Enquanto for viva, és carne da minha própria carne, és uma ferida aberta que me recuso a fechar.
Quero costurar-me a ti! para que não haja possibilidade de nos voltarmos a separar.

Não sei se te cheguei a ensinar alguma coisa, mas ansiava que, talvez, o amor te pudesse ensinar.  

Oferecias resistência, e eu não entendia.  
Então, eu insistia...
                                   Dobrava-te e desdobrava-me.
Fazia origami da minha própria cabeça  
                                                e das folhas soltas que me presenteavas,
escritas com os teus pensamentos mais confusos. Pequenos pedaços de ti!  
Estava em busca de soluções para problemas que nem existiam.  

"Como é que vou tornar esta pedra áspera, numa pedra mais macia? Como é que chego ao núcleo desta pedra de argila? Ao sítio onde palpita o seu pequeno grande coração?
Querias que explorasse os teus limites,  
                                                      ­      ou que fingisse que não os via?”

Querias ser pedra de gelo,  
                                                  e eu, em chamas,  
queria mostrar-te que podias ser pedra vulcânica.

(...)

Estudei as tuas ligações químicas, cada partícula que te constituía.
Como se misturavam umas com as outras para criar  

                 a mais bela sinestesia

que os meus olhos tiveram o prazer de vivenciar.


Tornaste-te o meu desafio mais complicado.  
“O que raio é suposto eu fazer com tantos bocados afiados?”.  
Sinto-os espalhados no meu peito, no sítio onde a tua cabeça deveria encaixar, e não há cirurgia que me possa salvar. Não sei a que médico ir.  Não sei a quem me posso queixar.
São balas fantasma, iguais às dores que sinto quando não estás.  
A dor aguda e congruente que me atormenta quando estás ausente.
Como se me faltasse um pedaço essencial, que torna a minha vida dormente.

Perdoa-me, por nunca ter chegado a entender que uso lhes deveria dar.  

(...)

Reparei, por belo acaso! no teu comportamento delicado  
quando te misturavas com a água salgada, que escorria do meu olhar esverdeado,
                                  quando te abraçava,  
                                  quando te escrevia,  
                          em dias de alegria e/ou agonia.
Como ficavas mais macia, maleável e reagias eletricamente.  
Expandias-te,  
                          tornav­as-te numa outra coisa,  
                                                        ­              um novo eu que emergia,  

ainda que pouco coerente.  


Peguei-te com cuidado. Senti-te gélida, mas tranquila...
"Minha bela pedra de argila..."
Soube logo que te pertencia,  
                                                    ­   soube logo que me pertencias.  
Que o destino, finalmente, tinha chegado.
E soube-o, mesmo quando nem tu o sabias.

A estrada até ti é longa, prefiro não aceitar desvios.  
É íngreme o caminho, e raramente é iluminado...
muito pelo contrário, escolheste construir um caminho escuro,  
cheio de perigos e obstáculos,  
                                                   ­      um caminho duro,  
feito propositadamente para que ninguém chegue a ti...
Então, claro que, às vezes, me perco. Às vezes, também não tenho forças para caminhar. E se demoro, perdoa-me! Tenho de encontrar a mim mesma, antes de te ir procurar.  

No fim da longa estrada, que mais parece um labirinto perfeitamente desenhado,
                                      sem qualquer porta de saída ou de entrada,
estás tu, lá sentada, atrás da tua muralha impenetrável, a desejar ser entendida e amada, e simultaneamente, a desejar nunca ser encontrada.  

“Como é que aquilo que eu mais procuro é, simultaneamente, aquilo com que tenho mais medo de me deparar?”

Que ninguém venha quebrar a tua solidão!  
Estás destinada a estar sozinha! É isso que dizes a ti mesma?
Ora, pois, sei bem o que é carregar a solidão às costas,  
a beleza e a tranquilidade de estar sozinha.

Não vim para a quebrar,  
                                   vim para misturar a tua solidão com a minha.

Moldei-te,  
                     e moldei-me a ti.

Passei os dedos pelas fissuras. Senti todas as cicatrizes e, beijei-te as ranhuras por onde escapavam alguns dos teus bocados. Tentei uni-los num abraço.
Eu sabia...
Como se isto fosse um conto de fadas…
Como se um beijo pudesse acordar…
Como se uma chávena partida pudesse voltar atrás no tempo,  
                                                        ­      
                                                         segundo­s antes de se estilhaçar.  

O tempo recusa-se a andar para trás.
Então, tive de pensar numa outra solução.
Não te podia deixar ali, abandonada, partida no chão.

Todo o cuidado! E mesmo assim foi pouco.  
Desmoronaste.  
Foi mesmo à frente dos meus olhos que desmoronaste.  

Tive tanto cuidado! E mesmo assim, foi pouco.
Não sei se te peguei da forma errada,  
                            
                              ou se já chegaste a mim demasiado fragilizada…

Não queria acreditar que, ainda agora te segurava...
Ainda agora estavas viva…
Ainda agora adormecia com o som do teu respirar…

Agora, chamo o teu nome e ninguém responde do lado de lá…
Agora, já ninguém chama o meu nome do lado de cá.

Sou casmurra. Não me dei por vencida.
Primeiro, levantei-me a mim do chão, depois, quis regressar a ti
                            e regressei à corrida.  
Recuperei-me, e estava decidida a erguer-te de novo.
Desta vez tive a tua ajuda,
                                                   estavas mais comprometida.
Tinhas esperança de ser curada.
Talvez, desta vez, não oferecesses tanta resistência!
Talvez, desta vez, aceitasses o meu amor!
Talvez, desta vez, seja um trabalho a dois!
Talvez, desta vez, possa estar mais descansada.
Talvez, desta vez, também eu possa ser cuidada.

Arrumei os pedaços, tentei dar-lhes uma outra figura.
Adequada à tua beleza, ao teu jeito e feitio. Inteligente, criativa, misteriosa, divertida, carismática, observadora, com um toque sombrio.

Despertaste em mim um amor doentio!  
Ou, pelo menos, era assim que alguns lhe chamavam.
Admito, a opinião alheia deixa-me mais aborrecida do que interessada. A pessoas incompreensivas, não tenho vontade de lhes responder. Quem entende, irá entender. Quem sente o amor como uma brisa, não sabe o que é senti-lo como um furacão. Só quem ama ou já amou assim, tem a total capacidade de compreender, que nem tudo o que parece mau, o chega realmente a ser.

Às vezes, é preciso destruir o antigo, para que algo novo tenha espaço para aparecer. Um amor assim não é uma doença, não mata, pelo contrário, deu-me vontade de viver. Fez-me querer ser melhor, fez-me lutar para que pudesse sentir-me merecedora de o ter.

Sim, pode levar-nos à loucura. Sei que, a mim, me leva ao desespero. O desespero de te querer apertar nos meus braços todos os dias. O desespero de te ter! hoje! amanhã! sempre! O desespero de viver contigo já! agora! sempre! O desespero de não poder esperar! O desespero de não conseguir seguir indiferente depois de te conhecer! O desespero de não me conseguir conter! Nem a morte me poderia conter!  
E , saber que te irei amar, muito depois de morrer.  

Quem nunca passou de brasa a incêndio, não entende a total capacidade de um fogo. Prefiro renascer das cinzas a cada lua nova, do que passar pela vida sem ter ardido.  

Já devia ter entendido, as pessoas só podem mergulhar fundo em mim se já tiverem mergulhado fundo em si. Quem vive à superfície, não sabe do que falo quando o assunto é o inconsciente.  
Se os outros não se conhecem sequer a si mesmos, então, a opinião deles deveria mesmo importar? Há muito já fui aclamada de vilã, por não ser mais do que mera gente. E, como qualquer gente, sou simples e complexa. A realidade é que, poucos são os que se permitem sentir todo o espectro de emoções humanas, genuinamente, e eu, felizmente e infelizmente, sou gente dessa.

(…)

Descobriste um oceano escondido e inexplorado.  
Um Mar que se abriu só para ti, como se fosse Moisés que se estivesse a aproximar. Um Mar que só existia para ti. Um Mar que mais ninguém via, onde mais ninguém podia nadar. Um Mar reservado para ti. Parecia que existia com o único propósito de fazer o teu corpo flutuar.  

Deste-lhe um nome, brincaste com ele, usaste-o, amassaste-o, engoliste-o
                      e, cuspiste-o de volta na minha cara.

Uma outra definição. Um Mar de água doce, com a tua saliva misturada.
Uma outra versão de mim, desconhecida, até então.  
Um outro nome que eu preferia.
Um nome que só tu me chamavas, e mais ninguém ouvia,  
Um booboo que nasceu na tua boca e veio parar às minhas mãos, e delas escorria para um sorriso tímido que emergia.

(...)

E, de onde origina a argila?
Descobri que, pode gerar-se através de um ataque químico. Por exemplo, com a água. "A água sabe."  Era o que tu me dizias.  

Era com ela que nos moldavas.
Talvez com a água doce e salgada que escorria do teu rosto
                                                   e no meu rosto caía,
                                                   e no meu pescoço secava,

enquanto choravas em cima de mim,
                                                                ­abraçada a mim, na tua cama.

Enquanto tremias de receio, de que me desejasses mais a mim, do que aquilo que eu te desejava.

“Como não podias estar mais enganada!  
Como é que não vias todo o tempo e amor que te dedicava?  
Tinhas os olhos tapados pelo medo? Como é que me observavas e não me absorvias?”

O amor tem muito de belo e muito de triste.  A dualidade do mundo é tramada, mas não me adianta de nada fechar os olhos a tudo o que existe.  

Ah! Tantas coisas que nascem de um ataque químico! Ou ataque físico, como por exemplo, através do vulcanismo ou da erosão.
Quando moveste as placas que solidificavam as minhas raízes à Terra,  
           e chegaste a mim em forma de sismo silencioso,  
mandaste-me as ilusões e as outras estruturas todas abaixo, e sobrou uma cratera com a forma do meu coração, de onde foi cuspida a lava que me transmutou. A mesma lava que, mais tarde, usei para nos metamorfosear. Diria que, ser destruída e reconstruída por ti, foi a minha salvação.
Sobrei eu, debaixo dos destroços. Só não sei se te sobrevivi. Nunca mais fui a mesma desde que nos vi a desabar.  

E, são esses dois ataques que geram a argila. Produzem a fragmentação das rochas em pequenas partículas,  
                                                   ­                                                             
                                                                ­                         umas afiadas,  
                                                      ­                                                        
                                                                ­                         umas macias,
                                                                ­                                                       
         ­                                                                 ­               todas partidas.  

Gosto de pegar em factos e, aproximá-los da ficção na minha poesia.
Brinco com metáforas, brinco contigo, brinco com a vida...mas, sou séria em tudo o que faço. Só porque brinco com as palavras, não significa que te mentiria. A lealdade que me une a ti não o iria permitir.  

É belo, tão belo! Consegues ver? Fazes vibrar o meu mundo. Contigo dá-se a verdadeira magia! Também consegues senti-la?  
Tudo dá para ser transformado em algo mais. Nem melhor nem pior, apenas algo diferente.  

Das rochas vem a areia, da areia vem a argila, da argila vem o meu vaso imaginário, a quem dei um nome e uma nova sina.  

Viva a alquimia! Sinto a fluir em mim a alquimia!  
Tenho uma capacidade inata de romantizar tudo,  

                                                   de ver o copo meio cheio,  

                                                       ­                          e nem copo existia.  

Revelaste-me um amor que não sabia estar perdido.
Entendeste-me com qualidades e defeitos.
Graças a ti, fiquei esclarecida! Que melhor do que ser amada,
é ser aceite e compreendida.

Feita de barro nunca antes fundido.
Assim seguia a minha alma, antes de te ter conhecido.
Dá-me da tua água! Quero afogar-me em ti, todas as vidas!
E ter o prazer de conhecer-te, e ter o desprazer de esquecer-te, só para poder voltar a conhecer-te,
sentir-te, e por ti, só por ti, ser sentida.  

Toquei-te na alma nua! Ainda tenho as mãos manchadas com o sangue da tua carne crua. E a minha alma nua, foi tocada por ti. Provaste-me que não estava doida varrida. Soube logo que era tua!  

Nunca tinha trabalhado com o teu tipo de barro.
Ainda para mais, tão fraturado.
Peguei em ti, com todo o cuidado...

"Tive um pensamento bizarro,
Dos teus pedaços vou construir um vaso! Tem de caber água, búzios, algumas flores! Talvez o meu corpo inteiro, se o conseguir encolher o suficiente.

Recolho todos os teus bocados, mantenho-os presos, juntos por um fio vermelho e dourado. Ofereço-me a ti de presente."

(…)

Amei-te de forma sincera.  Às vezes errada, outras vezes certa, quem sabe incoerente. Mas o amor, esse que mais importa, ao contrário de nós, é consistente.  

Sobreviveu às chamas do inferno, às chuvas que as apagaram, a dezenas de enterros e renascimentos.  

Nem os anos que por ele passaram, o conseguiram romper. Nem o tempo que tudo desbota, o conseguiu reescrever.

Foi assim que me deparei com o presente agridoce que me aguardava. Descobriste um dos vazios que carrego cá dentro e, depositaste um pedaço de ti para o preencher.
Invadiste o meu espaço, sem que te tivesse notado, nem ouvi os teus passos a atravessar a porta.  
Confundiste-te com a minha solidão, sem nunca a ter mudado. Eras metade do que faltava em mim, e nem dei conta que me faltavas.

“Como poderia não te ter amado? …"

(…)

Minha bela pedra de argila,  
Ninguém me disse que eras preciosa.
Ninguém o sabia, até então.
Não te davam o devido valor,
e, para mim, sempre foste o meu maior tesouro.
Até a alma me iluminavas,
como se fosses uma pedra esculpida em ouro.

  
Meu vaso de barro banhado a fio dourado,  
Ninguém me avisou que serias tão cobiçado,  
                                                     ­             invejado,
                                                               desdenhado,
ou, até, a melhor obra de arte que eu nunca teria acabado.
Ninguém o poderia saber.  
Queria guardar-te só para mim!
Não por ciúmes, além de os ter.
Mas sim, para te proteger.
Livrar-te de olhares gananciosos e, pessoas mal-intencionadas.  
Livrar-te das minhas próprias mãos que, aparentemente, estão condenadas
                       a destruir tudo o que tanto desejam poder agarrar.  

Perdoa-me, ter achado que era uma benção.

Talvez fosse mais como a maldição  
de um Rei Midas virado do avesso.
Tudo o que toco, transforma-se em fumo dourado.
Vejo o futuro que nos poderia ter sido dado!
Vejo-te no fumo espesso,
                                               a dissipares-te à minha frente,
antes mesmo de te ter tocado.

Tudo o que os deuses me ofereceram de presente, vinha envenenado.

  
A eterna questão que paira no ar.  
É melhor amar e perder? Ou nunca chegar a descobrir a sensação de ter amado?

É melhor amar e ficar!

Há sempre mais opções, para quem gosta de se focar menos nos problemas
                     e mais nas soluções.

O amor é como o meu vaso de argila em processo de criação.  
Cuidado! Qualquer movimento brusco vai deixar uma marca profunda. Enquanto não solidificar, tens de ter cuidado! Muito cuidado para não o estragar. Deixa-o girar, não o tentes domar, toca-lhe com suavidade, dá-lhe forma gentilmente, decora os seus movimentos e, deixa-te ser levado, para onde quer que te leve a sua incerta corrente.

Enquanto não solidificar, é frágil! Muito frágil e, a qualquer momento, pode desabar.

Era isso que me estavas a tentar ensinar?  

Duas mãos que moldam a argila num ritmo exaltante!
E une-se a argila com o criador!
                                            E gira! E gira! num rodopio esmagador,  
                                                    ­  E gira! E gira! mas não o largues!
Segura bem os seus pedaços! Abraça-os com firmeza!

Porque erguê-lo é um trabalho árduo
                                                           ­      e se o largas, vai logo abaixo!

São horas, dias, meses, anos, atirados para o esgoto. Sobra a dor, para que nenhuma de nós se esqueça.

                                        E dança! E dança! E dança!...
                             Tento seguir os seus passos pela cintura...  
                                       Se não soubesse que era argila,  
                          diria que era a minha mão entrelaçada na tua.

Bato o pé no soalho.
                                    E acelero!
                                                      e acalmo o compasso...
A água escorre por ele abaixo.
Ressalta as tuas belas linhas à medida da sua descida,
como se fosse a tua pele suada na minha.  

No final, que me resta fazer? Apenas admirá-lo.

Reconstrui-lo. Delimitá-lo. Esculpi-lo. Colori-lo. Parti-lo, quem sabe. É tão simples! a minha humana de ossos e carne, transformada em pedra de argila, transformada em tesouro, transformada em pó de cinza que ingeri do meu próprio vulcão...

A destruição também é uma forma de arte, descobri isso à força, quando me deixaste.  

Acho que, no meu vaso de argila, onde duas mãos se entrecruzaram para o moldar, vou enchê-lo de areia, búzios, pedras e água dourada,
         talvez nasça lá um outro pedaço de ti, a meio da madrugada.
Vou metê-lo ao lado da minha cama, e chamar-lhe vaso de ouro. Porque quem pega num pedaço rochoso e consegue dar-lhe uma outra utilidade, já descobriu o que é alquimia,  

o poder de ser forjado pelo fogo e sair ileso,
renascido como algo novo.
Mafe Oct 2012
“Compus uma canção para dizer:
‘Amo-te descontroladamente!’
De ações tangentes; da equação complexa que é te amar.
E mesmo pacificamente;
Minha alma sem ti, não pode se encontrar.

Como contra o céu paradisíaco que constrói o tempo e investe areia contra mim;
Mesmo no pior dos casos, nos meus últimos gritos, altissonante direi:
’ EU VIM!’

Me encontre na beira de meu coração,
na ponte que causa essa estranha paixão;
E direi que não sabia que um anjo poderia possuir tão rápido todo meu sentimento assim.

Vem que em laços de eternos amantes, cada consoante, dirá e recitará meu amor celeste;
Rolando em campos grandes e em flores campestres

O céu sussura uma sinfonia recém escrita para o nosso caso infindável;
E jamais ouvi a voz dos anjos num tom tão amável

As lágrimas que derramo não reclamam de nenhuma tristeza desconhecida;
Mas sim da alegria pela qual minha alma foi tingida

Novamente nos encontraremos eternamente e direi mais um trilhão de vezes:
’ Amo-te descontroladamente!”
Sabe aquela gota gelada durante o banho quente?
Então, nós acreditamos que pela intensidade que a água quente vem uma simples gota fria não causará incomodo algum
É nesse momento que nós entramos embaixo do chuveiro e vemos que o que pensavamos daquela gota é totalmente equivocado pois ela se torna a pior coisa do nosso banho
A distância pode ser vista da mesma forma que aquela gota fria
Pois nós acreditamos que pela intensidade do sentimento que temos por aquela pessoa a distancia não mudará isso, e é aí que nós percebemos que sim, ela consegue mudar esse sentimento.
O nosso afastamento me fez ver que as coisas não são mais como antes
O nosso amor deu alguns passos para trás
Os nossos planos se transformaram em nossas ilusões
Nossas lembranças se transformaram em sofrimento
E sim, eu só lamento, sei que as coisas do destino não tem saída
E sei que devemos olhar pra frente e seguir nossas vidas!
El agua la manda el cielo,
la tierra la puso dios.
Viene el amo y me la quita,
¡la p...ita que se partió!
A ver, respóndame, hermano:
si esta fue tierra ´e los incas
¿de donde hay dueños de fincas
con títulos en la mano?
Pa mí que al pobre serrano
le vienen tomando el pelo.
Acequia, puquio, riachuelo
todo en títulos se fragua.
¿De ´onde tiene dueño l´agua?
¡el agua la manda el cielo!
Y por último, los incas
no han sido los más primeros;
antes los huancas ´stuvieron
y antes que ellos los mochicas.
Ora hay haciendas tan ricas
pa sólo un dueño o pa dos
y gritan a toda voz
que heredaron de su padre...
¡Que no me vengan, compadre,
la tierra la puso Dios!
Donde no hay minas de gringos
hay tierras de gamonales,
pagan míseros jornales
y te andan a los respingos.
Se trabaja los domingos
Más pior que en tiempo ´e la mita.
Y hasta si tengo cholita
para mi pobre querer,
por el gusto de ...poder
viene el amo y me la quita.
Creo que, ultimadamente,
debiera ser propietario
quien fecunda el suelo agrario
con el sudor de su frente.
Así espera nuestra gente
y así mesmo espero yo.
Y así ha de ser, pues si no
a gringos y gamonales
vamo a recontrasacarle
¡la p... ita que se partió!
Hoje apetece-me penetrar no fundo da vossa escuridão,
E desde já, uma palavra ao leitor passageiro de viagem,
Estas palavras, são minhas e de quem as consegue ler,
Não são para ninguém, a menos que as consiga querer!
A todas as almas negras da minha vida, peço calma,
Não podereis ter sabor de vitória, nem de mim glória,
Sendo pobre que nem riacho sem peixes, ou rico de gral,
Como pobre, sou feliz porque respiro o cheiro do amor,
Do amor que me consola e que como eu se sente rico!
Se fossem de riqueza os meus bolsos, eram as coisas mais simples,
Que teriam lugar em minha vida, pois só assim me deitaria feliz!
Por isso nem que o corpo me tirem, nunca nem assim me venderei,
Nunca a vós darei almas negras, o desdém de perder a minha honra!
Por mais pobre que sejam minhas vestimentas, há coisas que manterei,
Minha integridade e valores de amor verdadeiro, por amigos e meu amor!
Eles conhecem-me a mim e eu conheço-os a eles, e de vós a ideia não mudarei!
Por isso, dediquem-se a ter uma vida de utilidade, deitem-se à noite ignorantes!
Acordem de manha, pensando em vossas vidas, porque eu estou vivendo,
Apesar de pensarem que quero gritar e me despedir, é mentira agora e será.
Será assim, sempre, porque o destino de minhas mãos, depende de eu querer,
Daquilo que me dedico, eu sei fazer, e por isso faço para as merecer!
O céu agora é escuro, distinto do meu coração verde de esperança,
Não desejo a meus inimigos, pior do que aquilo que quero para mim,
Porém, eu sei que o homem, não faz justiça tão atempo, como a de Deus!
E agora vou dormir, continuar sonhando com os sonhos que de dia já vivi,
Sei que vou acordar na lembrança de alguém, de quem eu amo e me ama também!

Autor: António Benigno
Código de autor: 2013.07.15.02.05
Alex DeLarge Aug 2013
Por causa de ti,
Eu deixei de dormir.
Por causa de ti,
É difícil eu me concentrar.
Por causa de ti,
Eu estou sempre sem ar.
Por causa de ti,
Eu estou sempre em baixo.
Por causa de ti,
Eu tenho marcas e cicatrizes.
Por causa de ti,
Eu acho que sou feio e não valho nada.
Por causa de ti,
Eu conheci a minha pior inimiga.
Por tua causa,
Depressão.
Serafeim Blazej Dec 2016
Marinheiro, marinheiro
Você  perdeu sua âncora
Você perdeu seu atlas
Marinheiro, marinheiro
Você matou seus companheiros
E não há lugar em terra para você
Marinheiro, marinheiro
Te disseram para nunca mais voltar
Te mandaram parar de respirar
Marinheiro, marinheiro
E toda dor que você sentiu?
Você perdeu seu coração?
Marinheiro, marinheiro
Eles te odeiam
Você é a própria morte, dizem eles
Marinheiro, marinheiro
O alfaiate e o jovem da meia-noite estão em paz?
Seus fantasmas ainda o perseguem?
Marinheiro, marinheiro
Você perdeu o receio daquele barco?
O velho barco quebrado  que é você
Marinheiro, marinheiro
Você sentiu o cheiro de casa?
Seus companheiros estão em terra
Marinheiro, marinheiro
Como você navega pelo desfiladeiro?
Como você luta com o desespero?
Marinheiro, marinheiro
Eu achei sua âncora e seu atlas
Mas eles pertencem a outro senhor
Marinheiro, marinheiro
Você desistiu do seu destino?
Você abandonou sua tripulação
Marinheiro, marinheiro
Onde será seu enterro?
Porque você está morto afinal
Marinheiro, marinheiro
Se eu disser que te odeio
Pois você abandonou sua tripulação?
Marinheiro, marinheiro
Você me responderia
Se eu dissesse que te odeio?
Marinheiro, marinheiro
Se você está morto afinal
Porque eu sou um fantasma?
Marinheiro, marinheiro
Onde seu coração está?
Porque eu não quero mais sofrer
Marinheiro, marinheiro
Quem é você afinal?
Porque eu sou um espectro de quem você foi
Marinheiro, marinheiro
Se eu matar meus companheiros
E abandonar a tripulação
Marinheiro, marinheiro
Eu vou ser livre do desespero?
A escuridão vai me abandonar?
Marinheiro, marinheiro
Por que eu sou tão triste
Se sou um fantasma solitário?
Marinheiro, marinheiro
Eles dizem que você é o pior
Aquele que nunca deveria ter existido
Marinheiro, marinheiro
O que isso diz sobre mim?
Se você, afinal, não tivesse nascido
Como eu poderia estar aqui?
Marinheiro, marinheiro
Se você recuperar sua âncora e seu atlas
Se você recuperar sua tripulação
Você me aceita?
Marinheiro, marinheiro
Se você estiver vivo afinal
Você me empresta seu nome?
Porque eu estou cansado de sofrer
Marinheiro, marinheiro
Se eu for seu herdeiro
Você me deixa navegar naquele velho barco?
Marinheiro, marinheiro
Você me deixa ser a própria morte?
Porque eu não quero mais sofrer.
Marinheiro, marinheiro
Você permite que eu seja apenas um fantasma
Vagando sem rumo pela escuridão?
Marinheiro, marinheiro
Você permite que eu me mate
Para não fazer mais ninguém sofrer?
Marinheiro, marinheiro
Por que tudo mudou?
Era mais fácil quando todos éramos sonhadores
Marinheiro, marinheiro
Eu quero ser novamente um marinheiro
Para que eu sinta o cheiro de casa
Marinheiro, marinheiro
Se eu não sou mais marinheiro
Eu posso abandonar o barco?
Marinheiro, marinheiro
Eu quero abraçar o mar
Marinheiro, marinheiro
Eu quero sangrar com o mar.
Marinheiro, marinheiro
Eu quero entender por inteiro
Por que eu deixei de ser marinheiro
Marinheiro marinheiro
Eu vou virar seu companheiro
Vamos estar mortos afinal.
Parte de uma história e meio que um desabafo também.
Escrito em 08/11/16, numa viagem de ônibus intermunicipal, de manhã bem cedo.
Série "Marinheiro, marinheiro".

("Sailor, sailor")
Samir Koosah Aug 2018
A noite chega, soturna, calada. Os remédios parecem não fazer efeito. Sozinho novamente com meus pensamentos, embalado pelo som do ventilador e das batidas do meu coração.
Nao sei porque ele insiste em bater, parece um esforço inútil.
As horas passam lentamente, como nos movimentos de uma duna. A areia do tempo descendo vagarosamente pela ampulheta. Se ao menos pudesse ver. Me sinto cego, queria eu estar cego?
Minha decepção só não é maior que a decepção que causei.
Não há lugar aqui senão neste papel para a dor, uma fraqueza que todos tentam esconder - por questão de sobrevivência provavelmente. Os amigos poucos que me restam seguem suas vidas enquanto tento ser feliz, ao menos por eles.
Saudade aqui toma outras formas, como uma tortura ao melhor estilo Stanley
Kubrick em “Laranja Mecânica”, em que as imagens passam repetidamente por minha cabeça sem que eu possa fazer absolutamente nada.
Família, amigos, amores, à distância de uma chamada, uma chamada. Para quem ligar, como?
O cárcere em sua pior faceta, o isolamento social. Conto nos dedos de uma mão as pessoas com quem consigo manter uma conversa. Mesmo assim nao consigo conversar, a cabeça e o coracao nao estao aqui, eles fugiram, estão lá fora, espero que a minha espera.
Outro cigarro, mais um café. Quantos mais, quantas mais palavras? A caneta e o papel são meus melhores amigos, às vezes até me entendem. Monólogos em horas, diálogos em outras.
Me pergunto qual seria o limite entre a sanidade e a demência aqui. Se é que existe um, estou eu ficando são ou louco?
Nao era quando cheguei, provavelmente foi o que me trouxe aqui, agora só me resta um caminho a seguir e tenho que achá-lo sozinho.
Não tenho arrependimentos, aqui não há lugar para eles, há agora um só caminho a seguir, em frente! Adiante!
Danielle Furtado Aug 2014
Pior do que a certeza de que morreu,
é a dúvida disso.
Não posso provar sua existência,
já é memória em fragmentos.

Vida sua que mudou a minha
Cheia de histórias, ideologias
Você que vem cheio de defeitos e perfeições
Eu tão impotente

Minhas palavras, todas tiradas dos teus poemas
Teu sotaque, uma voz imaginada
Que obra de arte eram teus olhos
Feitos de um azul-convite

E eu aceitei.
D. Furtado.
Gil Cardoso Feb 2019
Sinto uma pressão que puxa
A cabeça que roda parado
Uma flor que quando cresce murcha
A vontade de cair mesmo deitado

Vi-me feliz
E uma outra vez aceitei
Não mudarei o que fiz
Eu sei que não errei

Mas a dúvida é dor
Esperar é ficar parado
Esperar por amor
Esperança de não ser destroçado

A alma em fraqueza
Parte-se o coração
Não tenho sequer certeza
Porque sofro tanto então?

Sofro em antecipação
De um mundo escuro
Imaginado a pior situação
Mas tenho esperança para o futuro

Ondulo como ondas do mar
E por mais que tente navegar
Ou chego à costa e posso respirar
Ou acabo por me afogar
Escrito: 21/07/2018
Mariana Seabra Sep 2022
Não são os outros! Nunca foram os outros.

Não é o lugar! Nunca foi o lugar.

Sou eu!



Já quis partir em retiros para o Tibete. Ou em viagens espirituais para a Tailândia. Já quis correr o mundo à procura de algo que só podia encontrar em mim. Parece-me interessante, aliás, ainda o quero fazer pela pura necessidade que tenho de experienciar. No entanto, é inútil. É mirar ao fracasso, e é condenação interior a uma busca incessante que não traz paz, só traz correria desenfreada, sem meta final onde possa descansar, uma armadilha que me obriga a jogar por algo que nem vale a pena ganhar.
Prefiro a tranquilidade que me consigo proporcionar. Em vez de correr, prefiro caminhar. Prefiro aceitar a incompletude, para não ter de me andar a perseguir por lugares onde nem sequer passei. Prefiro pensar no que tenho. Prefiro aceitar o que tenho. Prefiro limar o que tenho. Prefiro amar o que tenho. Não me falta peça nenhuma! Só me falta descobrir uma maneira de lhes dar sentido... de me ordenar.

É inútil acharmos que temos de sair do sítio para viver e, consequentemente, evoluir ou mudar, ou correr de lugar para lugar, à procura da essência mais profunda que nos constrói. Quando as raízes são profundas, não há razão para temer o vento! O nosso cérebro não sabe distinguir entre a experiência vivida e a experiência imaginada, para ele é tudo igual. Somos biliões de informações! a que este magnífico pedaço de ***** cinzenta atribui significado. Experiências reais ou imaginárias, que se convertem em memórias, memórias que ganham uma nova vida de cada vez que as recordamos, histórias que repetimos a nós e aos outros, até sermos só pedaços daquilo que lhes contamos.

Prefiro esquecer!
Escrevo as histórias que nunca contei, para depois as tentar esquecer...

Só me oriento pelas minhas próprias pegadas e, quando escrevo é apenas através de experiência pessoal. Não recorro à generalização de vivências tão únicas, mas, como admito ser-humana, sei que por muitos outros são partilhadas, e sem o meu consentimento, generalizadas. Nasci para escrever poesia, mas não sei se nasci para ser poeta. A escrita é um dissecar do próprio íntimo. Escrever é sangrar para o papel. E se o que eu escrevo fizer sentido para um outro alguém, então ótimo, é como se partilhássemos o mesmo abraço enquanto o meu poema durar. E se o que eu escrevo não fizer sentido para ninguém, não importa. Escrevo para mim. Qualquer outra pessoa que me tente ler, irá observar-me através de um vidro duplamente espelhado. O que pensa observar de mim é, nada mais nada menos, do que o seu reflexo a acenar de volta para si. Porque a poesia é assim! dizem-me que não pertence a quem a escreve
mas sim
a quem a lê.
Sou do contra, não vivo à vossa mercê! A poesia é minha! O amor é meu! A dor é minha! E se a estou a partilhar, não é por motivos altruístas, não quero ser vista nem entendida. E se a estou a partilhar, é só porque estava sufocada, porque o poema já me estava a arder nas veias, muito antes do próprio poema começar. E se o estou a partilhar, é porque não tive escolha, era escrever ou morrer! e depois de estar cá fora, depois do fogo apagar, depois das cinzas pousarem e da ferida parar de jorrar... só depois, muito depois, é que uso o meu discernimento, volto atrás no tempo e decido se o vou partilhar, ou se é só meu, e de quem me veio inspirar.

Sou líder de mim mesma!

Sento-me na mesa-redonda do Eu e converso com todos os meus familiares, amigos, parceiros, desconhecidos, inimigos, anjos e demónios, todos com a minha cara, todos com a minha maneira de pensar, todos a olhar de volta para mim à espera que comece a falar...Quem diria, que de uma mesa tão cheia e diversificada, poderia comprimi-la, agrupa-la numa só pessoa, com uma única fachada virada para o exterior! Adoro a complexidade que de mim emana! Adoro ser várias, e ao mesmo tempo ser coesa. Ser o sol que mantém todas de mim em órbita, a força universal que me mantém presa,
Fiel a quem sou,
Com alma pura e coração digno de entrar na corte real da nobreza.
Entro em longos debates com todas as versões de mim, sobre qual de nós seguir. Creio que, desde tenra idade, tornei-me boa ouvinte para dentro. O dito mundo real não me bastava, muito menos me alegrava ou inspirava, então, recuei. Retraí-me para o vasto mundo interior da minha mente e, inventei mundos novos. Foi assim que descobri a melhor companhia que podia ter. Nunca me sentia sozinha, desde que me tivesse presente. Depois de aprender a escutar o que vem de dentro, aprendi a escutar o que vem de fora. No final do debate, decido seguir a mim mesma. Nenhuma de mim ficará para trás! Nem as que já morreram e tive de enterrar! mesmo que não saiba para onde seguir. Talvez em frente. Diria que, por esta altura, seguir em frente é uma especialização minha.  

Como qualquer líder, às vezes também me falho.

Como qualquer líder, debruço-me obsessivamente sobre as falhas até descobrir como as preencher. Puno-me por elas e, finalmente, permito-me aprender.  

Como qualquer líder, sou consumidora assídua de pequenas e grandes lições.

Como qualquer líder, cometo erros. E, como qualquer líder, tento não repetir os mesmos.  

Só não sou como qualquer líder. Não nasci para guiar outros, porque também eu estou perdida. Não quero que me sigam! Aliás, se for possível, sigam o caminho oposto ao meu. E não me peçam para vos seguir! Só me sei seguir a mim, e mal.  

Nasci para desbravar o mato à machadada, na exata medida em que for avançando nele. Não me ofereçam florestas já desbravadas! Fiquem lá com elas. Não me ofereçam sonhos que não me pertencem! Prefiro deitar-me mais cedo para ter os meus. Não me vendam a vossa verdade! É um negócio sujo, onde eu ficaria sempre a perder. A verdade do outro, que fique o outro com ela. Prefiro explorar a minha.  

Deixem-me ir!

Quero ver por mim. Ouvir por mim. Tocar por mim. Cheirar por mim. Saborear por mim. Cair por mim. Levantar pela minha própria mão. Vivam as vossas experiências e deixem-me viver as minhas!  

Deixem-me tirar as minhas próprias conclusões! Tomá-las como certas, só para mais tarde descobrir que estão erradas. E está tudo bem, crescer é mesmo isso.  

Deixem-me ser mutável! Não me queiram vendada, de ideias fixas ou radicalizadas. Sou adepta do equilíbrio, apesar de nem sempre o conseguir manter. No meu mundo tudo tem permissão para existir, simultaneamente. Todos têm permissão para ser. Há um espaço invisível sem paredes para o delimitar, um lugar inspirado no Lavoisier, onde nada se perde, nada se cria, tudo se pode transformar.

Deixem-me ser! Só peço que me deixem ser! E serei feliz, mesmo na minha profunda infelicidade.  

Nasci para ser uma selvagem autodomada. Uma líder seletivamente dedicada. Uma humana fortemente frágil, com uma beleza feia, como me dizia uma bela cigana, e obcecada com a sua própria caminhada.  

Posso viajar para o sítio mais lindo do universo! Posso deslocar os olhos pelas mais belas paisagens! Posso conhecer os seres mais fascinantes! Posso ler as palavras mais requintadas! Poderia até beber da fonte da juventude eterna!  

Mas se eu não estiver em mim, se não estiver comigo, não há nada. Não há nada! Não há coisa alguma que chegue até mim se eu não estiver dentro de casa para a receber, para lhe abrir a porta, cumprimenta-la com um sorriso, um olhar cativo de quem está lá para a acolher. Não há beleza que me toque, porque não há ninguém cá dentro para ser tocado. Às vezes, viro uma casa assombrada. Abandonada, com vida morta. Há o receptáculo! Esse fica, até que a Terra decida vir recuperá-lo e, com todo o direito, levá-lo de volta para si.  Há o corpo em piloto automático, só não há a alma que o irradia, ou que o faça completo.  

Sei quando estou comigo. Tal como sei quando me abandono. "Só não sei para onde vou de cada vez que me decido abandonar", isto foi outra coisa que aquela bela cigana que me disse, ou estarei a sonhar? A realidade e o imaginário tornam-se mais difíceis de separar.
Onde me escondo de mim mesma?
Sou mestre a desaparecer, sem aviso prévio de quando irei voltar...se irei voltar. Que péssimo hábito! Que mecanismo de defesa ridículo! Foi uma maldição que me deitaram e, agora, tenho de a conseguir quebrar.
Tenho de me quebrar!...
Abrir-me até ao meu interior, olhar para dentro do poço, mesmo que me dê vontade de vomitar, principalmente, quando me dá vontade de vomitar...por mais que me custe olhar. Não posso desviar o olhar! Tenho de remexer nas minhas entranhas, sentir nas minhas mãos o que está avariado, e descobrir como o remendar.
E quebro-me! vezes sem conta. E pego nas peças que estilhacei contra o chão, e corto-me com elas, e brinco com elas, e algures, a meio desta sádica brincadeira, há uma ou outra que decide encaixar, e dão-me sentido, uma nova forma, um eu mais polido, mais perto de nunca ser perfeito e completo.

Percebo quando me vou. Fica tudo mais *****. O vazio absorve-me. O mundo desaponta-me. A poesia desaparece. O barulho do silêncio torna-se ensurdecedor. O corpo mexe-se, mas não age. O olhar fica turvo e as lentes que uso não me permitem ver com clareza. A empatia vira apatia. A falta de emoções torna-me robotizada. Não há amor! É ensurdecedor! Não há amor...

A magia que me move decide esconder-se de mim. Não sei se para brincar comigo, não sei se para me provocar, não sei se para despertar a besta que dorme sossegada. Só sei que, de tempo a tempo, a minha alma decide jogar à apanhada e é a primeira a escapar. Alma rebelde e insurreta! Nunca te ensinei a ficar! Perdoa-me, por favor, também não me ensinaram a mim. Mas, ao menos, ensinei-te a voltar. Depois, como que por infantilidade, ou talvez por vontade de regressar a casa, começa a sussurrar-me...Ouço-a chamar baixinho por mim e, lá vou eu toda contente atrás dela, deixo o seu jogo continuar, só por curiosidade de desvendar até onde é que ela vai, onde é que ela pretende levar-me.

Quanto mais me aproximo de mim, mais cores se erguem à minha volta. A paz invade-me e reconquista o seu devido território no meu peito. A poesia ressurge e faz-me ressurgir.  O silêncio volta a ser música para esta alma sensível. O corpo age com intenção. O olhar fica cristalino e escolho ver o mundo através de lentes que o retratam mais bondoso, pelo menos para mim. As emoções retomam o seu percurso natural no meu sistema, com a intensidade de vulcões ativos. A empatia é reflexo do amor que sinto e que transborda. A magia mastiga-me e cospe-me para o mundo em forma de luz.  



De tempo a tempo, perco-me de mim.

De tempo a tempo, reencontro-me.  

E, deste tempo que se aproxima, só quero uma coisa: quero voltar a mim!

Quero abraçar-me! como se estivesse a despedir-me do amor da minha vida, às portas do aeroporto. Quero acarinhar-me e amar-me. Quero voltar a mim!

Quero ver o que vou encontrar quando a mim regressar.  

Perco-me de mim. Demasiadas vezes, perco-me de mim.  

Quando me reencontro, já não estou no ponto onde me perdi. Já sou uma mistura entre aquela que se perdeu e a que está prestes a renascer. Diria que passo muito tempo no limbo da existência e da não existência. 

Quando me reencontro, sou algo diferente. Quem sabe melhor, quem sabe pior...essas reflexões deixo para os que me oferecem opiniões não solicitadas. Sei que sou algo diferente, o resto é ruído.  

Nasci para criar. Nasci para me reinventar.  

Dito isto, acolho a destruição e o caos que vem de dentro como parte do meu processo de criação pessoal.  

Disto isto, quando me reencontrar, é só uma questão de tempo a tempo para me voltar a perder.
Danielle Furtado Aug 2017
Nunca foi tao confortável estar viva
Nem mesmo no pior dos meus dias
Quero estar longe de voce
E quando o faço é somente para te proteger de mim
Meus dias bons sao valiosos portanto seus
Nao quero mais desperdiçá-los procurando
ou com sorte encontrando
Outra pessoa que me entenda como entende-me
Nem meu amigo mais antigo saberia dizer
Exatamente o que eu preciso
O amor é egocentrico
Amo-te porque entende-me
Mas meu amor também é altruísta
Amo-te porque conheço-te
Entendo-te
Leio-te
Escuto teus medos e guardo os segredos
Até nao caber mais em mim
Ao te conhecer nasci
Nao de novo, mas pela primeira vez
E eu nao quero mais morrer
hi da s Oct 2017
a costela dele quebrada. mal podia ficar reto.
dela só se sabe que ficou impressionada quando ele se curou.
um momento rápido passou e ela percebeu que se sentava torta. e lembrou dele.
privilégio que os ossos dela estavam no lugar.
coluna, costela, fêmur. ainda jovens.
senti culpa e a vontade de escrever tudo isso. não se pode perder momentos de paz, onde normalmente se encontra o conformismo da decadência.
triste isso: só se sentir melhor quando se compara a algo pior.
frases curtas pois pensa que fala demais e às vezes acha que pensa demais, quase vomitando coisas que não deveria.
sim. sou eu. escrevo. que insegurança chata. vontade de falar pra todo mundo. era bem sobre isso que eu tava falando.
sobre um menino que machucou a costela me entristeceu
Mariana Seabra Mar 2022
Ó vida!

Que de ti se apagou a luz

Da escrita criativa.



Não foi de ti, vida,

Foi de mim.



Foi de mim que se extinguiu!

E a mim que ela levou,

                Depois que me partiu…

Como se me levasse a vida!

Toda!

            a que existia.



E como é criativa,

A musa que me inspira à escrita!

Foi de mim;

Levou-me a vida;

                              Mas conseguiu deixar-me viva.



“Tem tanto de triste

Como de cruel:

Ser peso morto que respira.”



Escrevi isso em algum papel…

Que logo depois perdi,

Ou se molhou,

Ou o esqueci,

Em algum lugar

Ao qual não pretendo voltar.



Mais tarde, estava de frente com o Mar

Quando dei por mim a chorar…



Em algum momento pensei:

“Talvez a dor da sua partida

Seja outra faísca perdida no ar

À qual me vou agarrar,

E sentir entre os dedos

Antes de a transformar  

Em algo mais.”



O “algo mais” que me referia,

Creio que seja esta desordenada poesia.



É o sangue quente, frio, vermelho, azul, é rio, és fogo,

Sou maresia, és eu, sou tu, somos nós, é o mundo,

É a fantasia, é a verdade disfarçada de ironia,

É dor, é amor, é tudo o que caiba num poema,

É tudo o que faça encher; se possível, transbordar!



Foram tantos!  

Os que me imploraram para os escrever.

Era eu que ia buscar a inspiração;

Ou era ela que me vinha socorrer?!



No frenesim da escrita maldita

Ficou outra questão por responder.



A caneta tornou-se um órgão essencial

Que não pedi para transplantarem cá dentro;

Sentia a sua forte presença nos momentos de maior alento;

Era a ponte que eu percorria, entre o sentir e o saber;

Assisti enquanto se estendia; dobrava! mas nunca partia;

Até encontrar na página branca uma saída

Para poder florescer; e florescia!

Nascia uma folha que era tecida; com uma teia tão fina que ninguém via;

Só brilhava quando a luz lhe batia; resplandecia!

Quando existia uma ligação direta entre mim e a magia;

De estar na beira do precipício entre a morte e a armadilha;

A que escolhem chamar de vida.



Ah! Musa criativa…

A única que me inspira à escrita!

Sei que um dia te irei reler,

Mas só quando estiver pronta para te entender.



Prometo que vou fazer por o merecer!



Talvez quando esta agonia paradoxal

De ser

Tão humana e sentimental

De ter

De amar à distância  

Uma humana tão excecional

Fizer sentido;  

                        Ou então desaparecer!



Foi um “adeus” que nem te cheguei a dizer…



Nem vou tentar romancear

Toda a angústia que vivi; contida

Numa simples despedida.  



Foi como se dissesse adeus à vida!



Pois nem toda a tinta

Alguma vez já vertida

Serviu para camuflar o *****

Que saiu da minha espinha

Quando a adaga me acertou.



Até hoje, nem eu sei como me atingiu!

Se fui eu que não a vi,

Ou se fui eu quem a espetou?!



Mas era *****, muito *****,

Tudo o que de mim sangrou;

Quando descobri,

Num mero dia, num inferno acaso,

Que no final das contas

A única que eu tanto amava

Se tinha entregue a um alguém tão raso.



Tapei os olhos com terra suja!...

Tal como decidiu fazer a minha musa.



“O pior cego é o que não quer ver!”

Prefere fechar os olhos porque abri-los é sofrer!



Induzi-me à cegueira;

Amnésia propositada;

Alma bem trancada;

Tudo para a tentar esquecer.



Tudo para lhe pagar na mesma moeda!



Então, claramente, o desfecho da narrativa só poderia ser:

De olhos bem fechados se deu a queda…



Foi assim que aprendi:

A vingança tal como o ódio,

É veneno para quem a traz!



Parei…

Dei um, dois, três, quatro, cinco mil passos atrás.

Relaxei…

Segui em frente.

                                         Lá ia eu  

                                                        com a corrente…



Inspirei amor e paz.



E foi assim que os abri,

Com uma chapada de água fria.



Não posso dizer que não a mereci.



Foi à chuva, nua, de frente com a verdade pura e crua,  

que descobri do que era capaz; e quando soltei ar de novo,  

expeli branco, afastou-se um corvo, brilhou o sol com a lua atrás, e:



Ahhhhh! Lá estava ela, exatamente ali!



Onde sempre tinha estado.

No lugar que lhe era reservado,

Onde estava eu também.



Olhamo-nos;

Com um olhar triste; influenciado

Por restos de terra suja

Que ainda não se tinham descolado.



                                                             Quase não aguentei;

                               Contrariei

                              A vontade de fugir;

                                                               ­                                                                 ­      
                                                                ­      E sorri-lhe…



Já fui um ser não tão humano,

Que até para amar estava cansado!

Preso por correntes de ilusões;

Ego;

Egoísmo;

E muito mais do que considero errado.



Como tudo na História

Isso pertence apenas ao passado.



Ah! Musa criativa…

A única que me inspira à escrita!

Ela, melhor que ninguém, o deveria saber;

Que me tornei um ninguém melhor,

Só por a conhecer.



Fiquei mais ardida

Que a Roma Antiga!

Quando aquela louca,

Tal musa criativa,

Me pegou na mão

E fez-me a vida colorida.



(Despertou-me fogo no coração!)



Alastrem-se cores de cinza!

Espalhem-se! Que os vamos fazer ver:

Mesmos os templos em ruína

São possíveis de reerguer.
Mariana Seabra Mar 2022
Sou uma hipócrita.

Como posso eu dizer que as palavras não importam, se é a elas que me agarro através da escrita?  

Que tipo de poeta sou eu se não fizer cada palavra importar?

Sou um desastre.

Demasiado sensível para não tremer de medo quando escrevo de alguém, porque só escrevo quando amo e amar faz-me fraquejar.

Sou fraca.

Não lhe quero dar o poder de me apegar, porque o apego gera saudade e isso é coisa que não sei lidar.

Sou insegura.

Quando tudo o que tu conheces é o abandono, chega a uma altura, não sei bem quando, em que és tu a abandonar, porque ao menos, assim, podes manter a ilusão de que tens algum tipo de controlo sobre a vida.

Eu, com controlo?

Não.

Sou só autodestrutiva.

Sinceramente, falo de futuro mas choro sempre que penso na possibilidade de ter um.

Às vezes, muitas vezes, sinto que a morte já me tocou, mas eu fiquei. Fiquei fria e insensível ao toque.

Fiquei à espera para ver quando fecho os olhos e não os volto a abrir. E o pior de tudo, há momentos em que anseio por esse dia mais do que anseio pela vida.

Sou humana.

Acho que o sou. Sei ser-humana tão bem, que ser-humana é isto, existir em dias assim.

Que desespero! Ser-humana é isto?

Bem dizia o meu amor “o arquiteto deste mundo não o desenhou para mim”.

Sou exaustiva.

Amar-me envolve um grande desgaste de carga psíquica, sei que sim, porque ainda me estou a tentar amar e há dias em que nem eu o consigo fazer.  

Mas ama-me na mesma, se o conseguires.

Sou um ser extremamente infeliz.

Descontente com tudo o que não me mova por dentro de forma intensa.  

Quero que me olhes nos olhos para o resto da vida e quero nunca mais te ver, para que não custe tanto quando estás longe de mim.

Sou impaciente.

Tenho urgência de sentir tudo, agora, já! Porque o sinto, agora e já, a toda a hora.  

Não sei não o sentir.

Sou um desafio constante.

Principalmente para mim mesma.  

Perdoa-me, às vezes só gostava de sentir que não sou assim tão difícil de desvendar. Basta olhar com atenção...  

Olhar e ver e observar.

Sou transparente e opaca.

Desvenda-me.

Despe-me sem medo.

Mostra-me que é possível partilhar esta solidão contigo.

Mas cuidado!

Estar comigo implica estar com todos os demónios e fantasmas, mergulhar nos recantos mais profundos e escuros da minha alma.  

Implica entrares na viagem, já ciente de que vai ser turbulenta, ciente de que vais desejar nunca ter entrado e vais até pôr a hipótese de saltar fora a meio.

Dá-me luz.

Sempre que a tiveres acesa, vira o farol para aqui, para que eu nunca me perca de ti e saiba sempre para onde voltar, mesmo nos dias em que me sentir totalmente perdida, desorientada e sem intenções de regressar.

Recebe este amor.

Este amor que é demasiado grande para caber só em mim.  

Aviso-te, vai com um pouco de dor.

Mas seria uma estupidez deixar-te pensar que há outro destino reservado que não acabe por desaguar em ti.
dead0phelia Feb 2023
te ver nos braços dela é pior do que a urticária gravissima que tive quando comi ameixas
imagina um mundo inteiro se colapsando
a gravidade de repente se extinguiu e tudo começa a despencar
gente cachorro edifício monumentos
e até mesmo a água do mar
parece que é isso
que acontece no meu peito
um buraco *****
a engolir
tudo pra dentro de si
Mariana Seabra Mar 2022
No céu diante de mim escondem-se visões de mundos que vivi.

Escondes-te.

Espera…Mas quem és tu? Espera!

Reconheço-te.

Não de agora, talvez de antes.



Antes…



Antes, quando não sabíamos que o mundo era redondo, mas também não importava.

Antes, quando rezávamos a agradecer pelo sol e pela chuva, pela Primavera e pelas flores, pela lua e pelas boas colheitas, quando ainda se via a magia no ar.

Antes, quando o tempo não tinha ainda esse nome e a noite e o dia não tinham distinção marcada pelas horas que se passavam.



“Calma, não há escuridão que uma fogueira não torne mais aconchegante.”- dizias-me, sei lá onde.



Antes, quando corríamos descalças pela terra mole e pela terra dura, quando passeávamos de mão dada pelos eternos campos de milhos.



“Corre por todo o lado. Vai! Não há propriedades neste mundo, a única coisa que possuímos é tudo o que somos.”- dizias-me, sei lá quando.



Antes, quando fugíamos por entre as árvores aos animais da floresta, e logo depois, quando nos apercebemos que o pior animal é o Homem e tivemos de fugir ainda mais depressa.



“Esconde-te dentro de ti mesma e ninguém jamais te encontrará…a não ser eu, como é óbvio, pois já vou saber onde estás.”- dizias-me, sei lá como.

Antes, quando éramos nómadas de mundo e víamos cada pôr-do-sol no cimo das colinas, e tão verdes que elas eram!



“Abraça-me com força, vem aí o escuro, aconchega-me junto a ti para não me perderes lá fora, como uma memória que carregas e gravas num poema, para a vida toda.”- dizia-te, sei lá onde.



Antes, quando nos sentávamos na areia à espera que a maré crescesse e nos tocasse, quando não havia “loucura” ou “sanidade”, quando fazíamos tinta das algas e colares das conchas que o mar trazia, só para nós.



“Ofereço-te este objeto que o mar trouxe e sempre que o encostares ao ouvido ouve-me a sussurrar as palavras mais bonitas destes mundos, só para ti.”- dizia-te, sei lá quando.



Antes, quando deslizava a mão pelo teu cabelo que escorregava nos meus dedos como ondas a encontrar o caminho por entre as rochas, e percorria cada pedaço da tua alma com pinceladas do sangue que nunca se desgasta.



“Pinto-te com a cor que não existe e que não pode ser inventada, a cor do amor eterno que sinto por ti, pinto-te para que no próximo mundo te possa reconhecer assim que te vir. Não te preocupes, vais sempre brilhar em mim como nenhuma outra cor brilhou. Encontra-me também a mim.”- dizia-te, sei lá como.





Talvez antes.



  

Agora…

Reconheço-te!

Lembras-te?

Que triste!

Nem eu.



Agora…



Agora lembro-me de ti, de uma noite fechar os olhos e já não ser o brilho da lua o meu preferido.
Mateuš Conrad Mar 2019
a drunk is not going to, suddenly,
think himself as anything,
other than a "before"...

         to integrate into a culture,
is to be governed by a bias,
or at least, to be,
alleviated by the bias,

   i came upon these isles
without a pior post-colonial
juidgement,
  but i'm sensing that,
that's what's required
to allow the shallow standards
of integration...

see, my position is far from
unique,
i don't actually dispose myself
to calm the nerves
of a northern transit of
    counter-arguments,
against the racists...

    am i here,
  solely to inherit this circus
of the current events?
can i just listen to the epitome
of the 1980s...
with simply red...
and not something akin
to the cure or
depeche mode?
  god, they were great,
in hyde park...
who? depeche mode...
beat aerosmith...
   two girls in company...
promis and...
  she's... she's....
            already married...
i remember talking to her
on d.m. via MSN...
her name...
                    not Alesha...
i'm pretty sure it began
with an A...
   no, Lebanon doesn't spawn
Alisons...
  ****! what was her name?
Braintree! ****...
that's a city in Essex...
   Ayisha...
                no... that's not it...
         she's Lebanese...
****...
                i can't remember her name,
a name that's,
           pop culture worth...
so much for Layla,
so much for Keileigh...
  so much for all the other
love songs...
                   ****!
now i have it!
            ALICIA...
               leb- alicia...
tender as a daffodil...
           ****! i managed to remember!

Alice in Woderland: *** C.I.A.,
  leb-
       eh...
  **** me...
i just planted a cherry tree....
i'm getting bitten on the non-existing
bite-markers compensation...
                 around the toes...
    there's a solo aspect
of rhythm guitar,
in the line of sight
of clapton...
    and i'm fiddling,
to find the proper jazz trumpet...
and a pawnbroker jew,
and...
       the "magic" celtic stone
of prayer to boot?

   well, that's me,
happy to be the fiddly drunk,
happy to be drunk,
  happy to not have
the sort of narrative that
might not allow,
someone having their life
ruined...    

               as i told one gilded crown
of patience and company:
you know, that i'll ruin you...
then? she drops out 4 sweethearts...
and i... luckily,
remained confined to making
company with shadows...

                i'd love to become bitter,
as i'd love, to also,
become prone to the waiting game,
lies, and the persistence of
covering up markers,
whether by foot or by hands,
or the items of hair of nails...

  n'ah...
i must prefer someone living a lie,
than outright stripping them
of the "decency" to conjure up
a throng outlet of lied to: people...
           some would claim:
i'm bitter happy...
  i'm the pristine, operatic example
              prone
of schadenfreude...
i abhor exercising my
canvas of emotion
   against the paint-brush of
                                 schadenfreude...
no point: in fact,
of slaughtering an animal:
if you're not going to eat it...

so i came across the english,
post-scriptum of the, empire...
i hear a voice from the north
diminish the per se existence pride...
and i'm like...
   all i have to inherit,
is a garden, in an out-suburbian
setting...
      what the **** have i inherited,
that the natives,
will not own up to?
                   am i supposed
to own up to their past history,
is history even being towed
to make a summary,
of next week's Monday?

          so i'm supposed to come
"clean" concerning
the Ukrainians,
the Lithuanians...
   or the fact that the "other"
commonwealth,
was non-existent, until about,
100 years ago?
  lucky me: there's no pride associated
with it...
   i just don't know what it feels
like, what it feels like,
belonging to a horde of shrapnel
individualists,
cosmopolitan...
             zombie-brains...

  you got me...
      i speak an acquired language of
a people i can't relate to outside
of London,
and i've inherited a language
of a people i can't relaste to,
beside "exile"...
   economic "war",
such a slow riddled theatre...
            
    i know the blame i'm supposed
to put on myself:
i will continue celebrating
my drinking excesses...
          but i will not...
suddenly, somehow...
       concentrate all this blame &
shake gaming,
for a pontius pilate diversion...
and allow...
the other side: the full pardon...
scot-free behaviour...

   i can take the blame i am allowanced...
but to... somehow...
walk away blameless?
    sure... prostitutes...
because i didn't feel like
being ****** over by
"spy dough in the oven"
dynamic of lying about
contraception...

          unless you're about to tell me
that s.t.d's are transmitted ******,
via slurping on
a warm slush-puppy of excess skin...
you tell me...
   i should have found myself
mildly entertained
by playing the roulette,
than ******* some russian hag.
Wörziech May 2013
Permeio os oceanos da calmaria;
Oceanos navegados, mas nunca dominados.
Mantenho-me em uma tranquilidade jamais alcançada.
Eu persigo as pessoas; devoro-as.
Mastigo-as profundamente.
São completamente confundidas por minha incrível obscuridade.
Permanecem completamente cegas
O que pode também ser resultado da destruição de seus olhos
ao verem meu fulgor. 
A minha existência é também um paradoxo.
Mas talvez o pior dos meus defeitos seja que, apesar de tudo, todos estão
sendo controlados por mim.
De uma forma ou de outra, eu sou a razão de viver de cada maldito ser humano.
Buscam-me incessantemente. Sou a motivação necessária para o sentido de suas vidas. 
Uma motivação infernal, insuportável, conhecida por todos eles - cedo ou tarde.
E a meu respeito, chame-me apenas de Anjo Luz.

— The End —