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Marco Raimondi Sep 2017
Narrador:
Nestes flancos escuros, onde ardor carece
Um anseio de longo vislumbre subia;
Ora Idália aos céus: "Canto do sol que emudece,
Dai-me prazer de outrora, bela sinfonia
Harpar áurea passageira, graça que visita;
Ó filha das luzes, que te cobres e te hesita?"

Hemera:
Que cessa-me, quão não depor a fatal império
Se minha luz, qual na própria noite encerra,
Tem de sua aurora, vasto mistério,
E perde-se nas trevas, no silêncio da Terra?
Senti, da mais cruel noite, doloroso espinho
Mas de teu ventre, escuro nascedouro, dei ao mundo claros caminhos;

[...]
Aeiou Feb 6
Chorei mil luas perdidas
Pelas vielas de minhas vidas
O que sou, não tem quem creia
E fiz do nada a minha aldeia

Batizei meu sonho no sepulcro vão
E do meu íntimo coração
O que poderia ser, não fui
A minha alma nada conclui

Na nebusola de meu pensamento
Vem galgando o último desdobramento
Da imagem de Deus que me assombra
Como se fosse minha própria sombra!

Eu sou o contrário do meu contrário
Meu evangelho é muito vário...
Não há quem entenda, entretanto
Eu sou o bispo de meu recanto

Mandinga etérea, sombra imortal
Errante ignoto no palácio da luz irreal
Tua verdade é uma eterna feiticeira
E tu, nascedouro de cisma altaneira!

O que sou mais eu?
Mais uma peça neste jogo de código plebeu?
Mendigo cheio de sabedoria?!
Encontrando no lixo, a verdade, e a alegoria?

De ser ninguém, nas terras de lugar nenhum?
Um coração atado ao cais sem rumo algum?
Mar de desilusão! Agruras sem fim!
Eu romperei com a desgraça deste eterno e diabólico festim!

— The End —