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Danielle Furtado Nov 2014
Nasceu no dia dos namorados. Filho de mãe brasileira com descendência holandesa e pai português. Tinha três irmãos: seu gêmeo Fabrício, o mais velho, Renato, e o terceiro, falecido, que era sua grande dor, nunca dizia seu nome e ninguém se atrevia a perguntar.
A pessoa em questão chamaremos de Jimmy. Jimmy Jazz.
Jimmy morava em Portugal, na cidade de Faro, e passou a infância fazendo viagens ao Brasil a fim de visitar a família de sua mãe; sempre rebelde, colecionava olhares tortos, lições de moral, renegações.
Seu maior inimigo, também chamado por ele de pai, declarou guerra contra suas ideologias punk, seu cabelo que gritava anarquismo, e a vontade que tinha ele de viver.
Certo dia, não qualquer dia mas no natal do ano em que Jimmy fez 14 anos, seu pai o expulsou de casa. Mais um menino perdido na rua se tornou o pequeno aspirante à poeta, agora um verdadeiro marginal.
Não tinha para onde ir. Sentou-se na calçada, olhou para seus pés e agradeceu pela sorte de estar de sapatos e ter uma caneta no bolso no momento da expulsão, seu pai não o deixara com nada, nem um vintém, e tinha fome.
Rondou pelas mesmas quadras ao redor de sua casa por uns dias, até se cansar dos mesmos rostos e da rotina daquela região, então tomou coragem e resolveu explorar outras vidas, havia encontrado um caderno em branco dentro de uma biblioteca pública onde costumava passar o dia lendo e este seria seu amigo por um bom tempo.
Orgulhoso, auto-suficiente, o menino de apenas 14 anos acabou encontrando alguém como ele, por fim. Seu nome era Allan, um punk que, apesar de ainda ter uma casa, estava doido para ir embora viver sua rotina de não ter rotina alguma, e eles levaram isso muito à sério.
Logo se tornaram inseparáveis, arrumaram emprego juntos, que não era muito mas conseguiria mantê-los pelo menos até terminarem a escola, conseguiram alugar uma casa e compraram um cachorro que nunca ganhou nome pois não conseguiam entrar em acordo sobre isso, Jimmy tinha também um lagarto de estimação que chamava de Mr. White, sua paixão.
Os dois amigos começaram a frequentar o que antes só viam na teoria: as festas punk; finalmente haviam conseguido o que estavam procurando há tempos: liberdade total de expressão e ação. Rodeados por todos os tipos de drogas e práticas sexuais, mas principalmente, a razão de todo o movimento: a música.
Jimmy tinha inúmeras camisetas dos Smiths, sua banda favorita, e em seu quarto já não se sabia a cor das paredes que estavam cobertas por pôsteres de bandas dos anos 80 e 90, décadas sagradas para qualquer amante da música e Jimmy era um deles, sem dúvida.
Apesar da vida desregrada que levava com o amigo, Jimmy conseguiu ingressar na faculdade de Letras, contribuindo para sua vontade de fazer poesia, e Allan em enfermagem. Os dois, ao contrário do que seus familiares pensavam, eram extremamente inteligentes, cultos, criaram um clube de poesia com mais dois ou três amigos que conheceram em uma das festas e chamaram de "Sociedade dos Poetas Mortos... e Drogados!", fazendo referência ao filme de  Peter Weir.
O nome não era apenas uma piada entre eles, era a maior verdade de suas vidas, eles eram drogados, Jimmy  era viciado em heroína, Allan também mas em menos intensidade que seu parceiro.
Jimmy não era hétero, gay, bissexual ou qualquer outra coisa que se encaixe dentro de um quadrado exigido pela sociedade, Jimmy era do amor livre, Jimmy apenas amava. E com o passar o tempo, amava seu amigo de forma diferente, assustado pelo sentimento, escondeu o maior tempo que pôde até que o sentimento sumisse, afinal é só um hormônio e a vida voltaria ao normal, mas a amizade era e sempre seria algo além disso: uma conexão espiritual, se acreditassem em almas.
Ambos continuaram suas vidas sendo visitados pela família (no caso de Jimmy, apenas sua mãe) duas vezes ao ano, no máximo, e nesses dias não faziam questão de esconderem seus cigarros, piercings ou qualquer pista da vida que levavam sozinhos, afinal, não os devia mais nada já que seus vícios, tanto químicos quanto musicais, eram bancados por eles mesmos.
Era 14 de fevereiro e Jimmy completara 19 anos, a vida ainda era a mesma, o amigo também, mas sua saúde não, principalmente sua saúde mental.
O poeta de sofá, como alguns de nós, sofria de um existencialismo perturbador, o mundo inteiro doía no seu ser, e não podia fazer muito sobre aquilo, afinal o que poderia fazer à respeito senão escrever?
Até pensou em viver de música já que tocava dois instrumentos, mas a ideia de ter desconhecidos desfrutando ou zombando dos seus sentimentos mais puros não lhe era agradável. Continuou a escrever sobre suas dores e amores, e se perguntava por que se sentia daquela forma, por que não poderia ser como seu irmão que, apesar de possuírem aparência idêntica, eram extremos do mesmo corpo. Fabrício era apenas outro cidadão português que chegava em casa antes de sua mãe ficar preocupada, não que ele fosse um filho exemplar, ele só era... normal, e era tudo que Jimmy não era e jamais gostaria de ser; aliás, ter uma vida comum era visto com desprezo pelos olhos dele, olhos que, ainda tão cedo, haviam visto o melhor e o pior da vida, já não acreditava em nada, nem em si mesmo, nem em deus, nem no universo, nem no amor.
Como poderia alguém amar uma pessoa com tanta dor dentro de si? Como ele explicaria sua vontade de morrer à alguém que ele gostaria de passar a vida toda com? Era uma contradição ambulante. Uma contradição de olhos azuis, profundos, e com hematomas pelo corpo todo.
Aos 20 anos, o tédio e a depressão ainda controlavam seu estado emocional a maior parte do tempo, aos domingos era tudo pior, existe algo sobre domingo à tarde que é inexplicável e insuportável para os existencialistas, e para ele não seria diferente. Em um domingo qualquer, se sentindo sozinho, resolveu entrar em um chat online daqueles famosos, e na primeira tentativa de conversa conheceu uma moça do Brasil, que como ele, amava a banda Placebo e sendo existencialista, também sofria de solidão, o que facilitou na construção dos assuntos.
Ela não deu muita importância ao português que dizia "não ser punk porque punks não se chamam de punks", já estava cansada de amores e amizades à distância, decidiu se despedir. O rapaz, insistente e talvez curioso sobre a pessoa com quem se deparara por puro acaso, perguntou se poderiam conversar novamente, e não sabendo a dor que isso a causaria, cedeu.
Assim como havia feito com Allan, Jimmy conquistou Julien, a nova amiga, rapidamente. De um dia para o outro, se pegou esperando para que Jimmy voltasse logo para casa para que pudessem conversar sobre poesia, música, começo e fim da vida, todos os porquês do mundo em apenas uma noite, e então perceberam que já não estavam sozinhos, principalmente ela, que havia tempo não conhecia alguém tão interessante e único quanto ele.
Não demorou muito para que trocassem confidências e os segredos mais íntimos, mas nem tudo era tão sério, riam juntos como nunca antes, e todos sabem que o caminho para o coração de uma mulher é o bom humor, Julien se encontrava perdidamente apaixonada pelo ****** que conhecera num site de relacionamentos e isso se tornaria um problema.
Qualquer relacionamento à distância é complicado por natureza, agora adicione dois suicidas em potencial, um deles viciado em heroína e outra que de tão frustrada já não ligava tanto para sede de viver que sentia, queria apenas ler poesia longe de todas as pessoas comuns, essas que ambos abominavam.
Jimmy era todos os ídolos de Julien comprimidos dentro de si. Ele era Marilyn Manson, era Brian Molko, era Gerard Way, Billy Corgan, Kurt Cobain, mas acima de todos esses, Jimmy era Sid Vicious e Julien sonhava com seus dias de Nancy.
Ele era o primeiro e último pensamento dela, e se tornou o tema principal de toda as poesias que escrevia, assim como as que lia, parecia que todas eram sobre o luso-brasileiro que considerava sua cópia masculina. Jimmy, como ela, era feminista, cheio de ideologias e viciado em bandas, mas ao contrário dela, não teria tanto tempo para essas coisas.
Estava apaixonado por um rapaz brasileiro, Estêvão, que também dizia estar apaixonado por ele mas nunca passaram disso, e logo se formou um semi-triângulo amoroso, pois Julien sabia da existência da paixão de Jimmy, mas Estêvão não sabia que existia outra brasileira que amava a mesma pessoa perdidamente. Não sentiu raiva dele, pelo contrário, apoiava o romance dos dois já que tudo que importava à ela era a felicidade de Jimmy, que como ela, era infeliz, e as chances de pessoas como eles serem felizes algum dia é quase nula.
O brasileiro era amante da MPB e da poesia do país, assim como amava ouvir pós-punk e escrever, interesses que eram comum aos três perdidos, mas era profissional para ele já que conseguira que seus trabalhos fossem publicados diversas vezes. Se Jimmy era Sid Vicious, Julien desejava ser Nancy (ou Courtney Love dependendo do humor), Estêvão era Cazuza.
Morava sozinho e não conseguia se fixar em lugar algum, estava à procura de algo que só poderia achar dentro dele mesmo mas não sabia por onde começar; convivia com *** há alguns meses na época, mas estava relativamente bem com aquilo, tinha um controle emocional maior do que nosso Sid.
Assim como aconteceu com Allan e Julien, não demorou muito para que Estêvão caísse nos encantos de Jimmy, que não eram poucos, e não fazia mais tanta questão de esconder o que sentia por ele. Dono de olhos infinitamente azuis, cabelo bagunçado que mudava de cor frequentemente, corpo magro, pálido, e escrevia os versos mais lindos que poderia imaginar, Jimmy era o ser mais irresistível para qualquer um que quisesse um bom tema para escrever.
--
Julien era de uma cidade pequena do Brasil, onde, sem a internet, jamais poderia ter conhecido Jimmy, que frequentava apenas as grandes cidades do país. Filha de pais separados, tinha o mesmo ódio pelo pai que ele, mas diferente do amigo, seu ódio era usado contra ela mesma, auto-destrutiva é um termo que definiria sua personalidade. Era de se esperar que ela se apaixonasse por alguém viciado em drogas, existe algo de romântico sobre tudo isso, afinal.
Em uma quarta-feira comum, antecipada por um dia nublado, escreveu:

Minhas palavras, todas tiradas dos teus poemas
Teu sotaque, uma voz imaginada
Que obra de arte eram teus olhos
Feitos de um azul-convite

E eu aceitei.


Jimmy era agora seu mundo, e qualquer lugar do mundo a lembrava dele. Qualquer frase proferida aleatoriamente em uma roda de amigos e automaticamente conseguia ouvir sua opinião sobre o assunto, ela o conhecia como ninguém, e em tão pouco tempo já não precisavam falar muita coisa, os dois sabiam dos dois.
Desejava que Jimmy fosse inteiramente dela, corpo e mente, que cada célula de seu ser pudesse tocar todas as células do dela, e que todos os pensamentos dele fossem sobre amá-la, mas como a maioria das coisas que queria, nada iria acontecer, se achava a pessoa mais azarada do mundo (e provavelmente era).
Em uma noite qualquer, após esperar o dia todo ansiosa pela hora em que Jimmy voltaria da faculdade, ele não apareceu. Bom, ele era mesmo uma pessoa inconstante e já estava acostumada à esse tipo de surpresa, mas existia algo diferente sobre aquela noite, sabia que Jimmy estava escondendo alguma coisa dela pois há dias estava estranho e calado, dormia cedo, acordava tarde, não comia, e as músicas que costumavam trocar estavam se tornando cada vez mais tristes, mas era inútil questionar, apesar da intimidade, ele se tornara uma pessoa reservada, o que era totalmente compreensível.
Após três ou quatro dias de aflição, ele finalmente volta e não parece bem, mesmo sem ver seu rosto, conhecia as palavras usadas por ele em todos os momentos. Preocupada com o sumiço, foi logo questionando sua ausência com certa raiva e euforia, Jimmy não respondia uma letra sequer. Julien deixou uma lágrima escorrer e implorou por respostas, tinha a certeza de que algo estava muito errado.
"Acalme-se, ou não poderei lhe contar hoje. Algo aconteceu e seu pressentimento está mais que correto, mas preciso que entenda o meu silêncio", disse à ela.
Julien não respondeu nada além de "me dê seu número, sinto que isso não é algo que se conta por escrito".
Discando o número gigantesco, cheio de códigos, sabia que assim que terminasse aquela ligação teria um problema muito maior do que a alta taxa que é cobrada por ligações internacionais. Ele atendeu e começou a falar interrompendo qualquer formalidade que ela viria a proferir:

– Apenas escute e prometa-me que não irá chorar.
Ela não disse nada, aceitando a condição.
– Há tempos não sinto-me bem, faço as mesmas coisas, não mudei meus costumes, embora deveria mas agora é tarde demais. Sinto-me diferente, meu corpo... fraco. Preciso te contar mas não tenho as palavras certas, acho que nem existem palavras certas para o que estou prestes à dizer então serei direto: descobri que sou *** positivo. ´
Um silêncio quase mórbido no ar, dos dois lados da linha.
Parecia-se com um tiro que atravessou o estômago dos dois, e nenhum podia falar.
Julien quebrou o silêncio desligando o telefone. Não podia expressar a dor que sentia, o sentimento de injustiça que a deixava de mãos atadas, Ele era a última pessoa do mundo que merecia aquilo, para ela, Jimmy era sagrado.

Apenas uma pessoa soube da nova situação de Jimmy antes de Julien: Allan.
Dois dias antes de contar tudo à amiga, Jimmy havia ido ao hospital sozinho, chegou em casa mais cedo, sentou-se no sofá e quis morrer, comparou o exame médico à um atestado de óbito e deu-se por morto. Allan chegou em casa e encontrou o amigo no chão, de olhos inchados, mãos trêmulas. Tirou o envelope de baixo dos braço de Jimmy, que o segurava como se fosse voar a qualquer instante, como se tivesse que apertar ao máximo para ter certeza de que aquilo era real. Enquanto lia os papéis, Jimmy suplicava sua morte, em meio à lágrimas, Allan lhe beijou como o amante oculto que foi por anos, com lábios fracos que resumiam a dor e o medo mas usou um disfarce para o pânico que sentia e sussurrou "não sinto nojo de ti, meu amigo, não estás morto".
Palavras inúteis. Já não queria ouvir nada, saber de nada. Jimmy então tentou dormir mas todas as memórias das vezes que usou drogas, que transou sem saber com quem, onde ou como, estavam piscando como flashes de luz quase cegantes e sentia uma culpa incomparável, um medo, terror. Mas nenhuma memória foi tão perturbadora quanto a da vez em que sofreu abuso ****** em uma das festas. Uma pessoa aleatória e sem grande importância, aproveitou-se do menino pálido e mirrado que estava dormindo no chão, quase desmaiado por culpa de todo o álcool consumido, mas ainda consciente, Jimmy conseguia sentir sua cabeça sendo pressionada contra a poça d'água que estava em baixo de seu corpo, e ouvia risos, e esses mesmos risos estavam rindo dele agora enquanto tentava dormir e rezava pra um deus que não acredita para que tudo fosse um pesadelo.
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Naquele dia, Jimmy, que já era pessimista por si só, prometeu que não se trataria, que iria apenas esperar a morte, uma morte precoce, e que este seria o desfecho perfeito para alguém que envelheceu tão rápido, mas ele não esperaria sentado, iria continuar sua vida de auto-destruição, saindo cedo e voltando tarde, dormindo e comendo mal, não pararia também com nenhum tipo de droga, principalmente cigarro, que era tão importante quanto a caneta ao escrever seus poemas, dizia que sentir a cinza ainda quente caindo no peito o inspirava.
Outra manhã chegou, e mesmo que desejasse com toda força, tudo ainda era real, seus pensamentos eram confusos, dúvidas e incertezas tão insuportáveis que poderiam causar dores físicas e curadas com analgésicos. Trocou o dia pela noite, já não via o sol, não via rostos crús como os que se vê quando estamos à caminho do trabalho, só via os personagens da noite, prostitutas, vendedores de drogas, pessoas que compravam essas drogas, e gente como ele, de coração quebrado, pessoas que perderam amigos (ou não têm), que perderam a si mesmos, que terminaram relacionamentos até então eternos, que já não suportavam a vida medíocre imposta por uma sociedade programada e hipócrita. Continuou indo aos mesmos lugares por semanas, e já não dormia em casa todos os dias, sempre arrumava um espaço na casa de algum amigo ou conhecido, como se doesse encara
D. Furtado
ken park Nov 2013
Triste e sem caminho, assim ela pensava. Cansada de acordar todos os dias e ter aquela mesma sensação. Porra, eu já fiz isso! Todos os dias, toda hora, a mesma coisa. As pessoas não ligavam para isso, todo mundo sempre acha que o seu problema é maior do que o do outro. Mas no final, o problema de todo mundo é maior que o outro. É um ciclo repetitivo sem fim. Um ciclo de merda infinito. Assim era a vida dessa menina. Ela realmente estava perdida. Ou, achava que estava perdida. Nossa cabeça as vezes, ou sempre, nos faz prisioneiros de nós mesmos. Nós usamos, involuntariamente, nossos erros e medos contra nós mesmos. Onde ela estava com a cabeça? Eu quero ser assim, pensava ela... Pobre menina. Por que as pessoas acham "bonito" ter problemas emocionais, vidas dramáticas, coisas trágicas e o caralho a quatro de problema? Talvez a gente só queira ter uma aventura na vida, mas as vezes nós não lembramos, que a vida não é um filme, e que o final não vai ser feliz como sempre, ou que nós podemos evitar tal coisa, imaginamos sempre que sera aquela tragedia clichê tipo um Christiane f e no final tudo vai ficar bem. Não fica tudo bem. A nossa juventude está perdida. Realmente. Eu faço parte dessa geração. Nós temos vários tipos de pessoas, grupos sociais, gostos variados, culturas diferentes. Mas em uma coisa nós somos iguais. Nós sofremos. E isso meu amigo, não é brincadeira. Hoje em dia, não temos mais aquela amizade com as pessoas igual era 40 anos atrás, hoje em dia ta tudo muito superficial, muito mentiroso, muita encenação. O ser humano está perdendo cada vez mais a sua compaixão, a sua criatividade e a sua liberdade de se expressar. A nossa população está completamente alienada a coisas negativas e coisas que não levam a nada. Estamos perdidos. E eu, sou só mais uma, perdida. Mas em meus problemas, que eu não sei resolver.
Colhi a alma de tudo quanto toquei
e em tudo quanto olhei larguei parte da minha
o que me torna, hoje, aquilo que sou,
o que me constrói e constitui
são os outros e não eu.

Os outros: as flores banhadas de orvalho,
as árvores vestidas ou nuas,
as paisagens das cidades que amei
mais do que as pessoas com que as corri,
as pessoas que amei e as que toquei apenas
e aquelas que nem a tocar cheguei.

Não sou já gente, se é que fui gente vez alguma!
Será esta alma que trago maior que a minha?
Serei eu, tão cheia de natureza, mais ou menos natural?

Mas serei eu a alma que carrego sem que seja a minha,
o conjunto de seres racionais por dentro de mim
que me controlam o pensamento e, por vezes, o sentir
ou o ser único e puro que sente de forma única e pura?

Serei eu a união de tudo isso,
do que me resta de mim, de quantas versões tenha de mim,
e o que trago dos outros? Serei eu
algo ou alguém sequer?
Importa definir o ser?
VS Oct 2015
Pedi à lua e ela respondeu
Descubro
Agora
Em mim mesma
A fonte

Sou filha de Lua Mercurial
E rejo aqui na Terra em nome de Marte
Pelos dois pólos:
-  +

E marte, meu fiel guia, é bom professor
Conserva seu preciosismo
dotado talvez de pragmatismo maior
àvesso às morozidades da água
que agora secam na terra.

Conservo o meu poema
Meu espírito
O construto
O que tu me destes em tua visão

Conservo meu falo,
Pois em mim Marte grita:
À Glória!
COISAS DO ARCO DA VELHA

- Os etês gostam de bunda. Foi o que captei da conversa entre as meninas, enquanto caminhava no calçadão do Liceu.
- Tem caras que não gostam, né; acho que não são chegados; comer um cuzinho será que não faz bem?!
- Cruz credo! Exclamei mentalmente, e segui meu caminho rumo ao Fórum, que fica em frente.
Elas vieram na minha direção, a passos firmes, olhar direto, "você tem fogo...", perguntou a morena pele-de-cuia, "e como tem", observou a loira de olhos azuis, típica europeia, me examinando de cima a baixo, parando os olhos, ostensivamente, na minha barriguilha; "te vejo sempre por aqui", disse a morena, enquanto eu lhe entregava o isqueiro; "é, estou sempre na cantina, tomando café; café de Fórum é choco, frio, fraco, e causa-me asia; então, venho na cantina, às vezes comer alguma coisa", concluí.
- Uma bucetinha, um cuzinho e o que mais? Indagou a loura, acendendo o cigarro.
- Você está sempre cercado de meninas! Não é à toa!! Vai ver é o maior safadão, pica doce.... Completou a morena, sempre combinando seus ataques com a colega.

O Liceu é uma escola destinada à classe média alta, concebida nos tempos do império, onde só entravam filhinhos de papai e seus apadrinhados do aparelho de estado. Mas isso dançou com o advento da república, e hoje, assim como os "Pedro II", recebem qualquer um, desde que aguentem suas provas de avaliação, pois ainda são um padrão de ensino almejado pelas camadas interessadas em ascensão social e tecnica. Seus prédios são construções coloniais, com arquitetura rebuscada, estilosos; janelões de madeira nobre, ainda insensíveis ao cupim. Uma coisa fantástica em termos de concepção, pois possuem salas espaçosas, bem arejadas, lousas imensas, mesas de cedro vernisadas, cheias de gavetas; seus corredores lembram aqueles do filme Harry Potter, sinistros de arrepiar. E no caso do Liceu Nilo Peçanha, de Niterói, Rio de Janeiro, tem um sótão, que seguramente foi planejado como adega, pois tem balcãozinho cheio de compartimentos para copos, taças e talheres, à frente de um espelho na parede em moldura de mogno  e uma silhueta vitoriana; além de um velho barril de carvalho, aonde, sem dúvida, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Lima Barreto e tantas outras celebridades literárias desta terra de orfandades iniciaram-se nos caminhos da radicalidade estética.

- Conhece o sótão do Liceu? Indagou a morena, quase ao pé do meu ouvido.
- É ideal para uma brincadinha... Insinuou ela. Respondi que lá eu já namorei, me embriaguei, estudei e fiz muita reunião do grêmio.
- Então é "liceano... Vamos!" Disseram ambas, quase em uníssono.
No rádio da cantina, exatamente às dez da manhã no meu Rolex, tocava uma canção, cujo trecho diz assim:" Deixa isso pra lá, vem pra cá, venha ver. Eu não tô fazendo nada, nem você também..." e seguia insinuando outras coisas, ditas pela voz de um dos meus tantos ídolos da mpb, Jair Rodrigues.

Bom, pra encurtar o lererê, a morena está aqui em casa há 32 anos. Já somos avós, e, nem os filhos nem os netos jamais saberão das nossas façanhas e quando lhe mostrei o rascunho deste texto, ela fitou-me com seu olhar fogueando e objetou: você não pôr aí os detalhes...
- Claro que não!! São nossas relíquias!

Mariana Seabra Jul 2023
Chegaste a mim em forma de argila, num balde de plástico furado.  
Apanhei-te, de surpresa, embrulhada nas ondas do meu mar salgado.  
Estavas escondida, por entre os rochedos, rodeada pelas habituais muralhas que te aconchegam,  
                                                   ­     as mesmas que me atormentam,  
quando levantas uma barreira que me impede de chegar a ti.  

Segurei-te nos braços, como quem se prepara para te embalar. Sacudi-te as algas, e encostei o meu ouvido à casca que te acolhia no seu ventre.  
Não conseguia decifrar o som que escutava, muito menos controlar a vontade de o querer escutar mais. Algo ecoava num tom quase inaudível. Sentia uma vida...uma vida fraca, sim...mas, havia vida a pulsar. Podia jurar que conseguia sentir-te, para lá da barreira, como se me tivesses atravessado corpo adentro.
Ainda não conhecia o som da tua voz, e ela já me fazia sonhar.  

Pulsavas numa frequência tão semelhante à minha!... não resisti,  
fui impelida a chegar mais perto. Precisava de te tocar, precisava de te ver,
     só para ter a certeza se eras real,
                           ou se, finalmente, tinha terminado de enlouquecer.

Se tinha perdido os meus resquícios de sanidade,  
                                                     ­                                   consciência,
                                                                ­                        lucidez,                              
ou se era verdade que estávamos ambas a vibrar,
no mesmo espaço, ao mesmo tempo, no mesmo ritmo de frequência, uma e outra e outra...e outra vez.  

Vieste dar à costa na minha pequena ilha encantada. Na ilha onde, de livre vontade, me isolava.  
Na ilha onde me permitia correr desafogadamente,  

                                             ­                            ser besta e/ou humana,  
                                                       ­                  ser eu,  
                                                           ­              ser tudo,
                                                                ­         ser todos,  
                                                        ­                 ou ser nada.  

Na mesma ilha onde só eu decidia, quem ou o que é que entrava. Não sabia se estava feliz ou assustada! Mais tarde, interiorizei que ambos podem coexistir. Por agora, sigo em elipses temporais. Longos anos que tentei suprimir num poema, na esperança que ele coubesse dentro de ti.

(…)

“Como é que não dei pela tua entrada? Ou fui eu que te escondi aqui? Será que te escondi tão bem, que até te consegui esconder de mim? És uma estranha oferenda que o mar me trouxe? Ou és só uma refugiada que ficou encalhada? Devo ficar contigo? Ou devolver-te às correntes? Como é que não dei pela tua entrada...? Que brecha é que descobriste em mim? Como é que conseguiste chegar onde ninguém chegou? Como é que te vou tirar daqui?”.  

Não precisei de te abrir para ver o que tinha encontrado, mas queria tanto descobrir uma brecha para te invadir! Não sabia de onde vinha esse louco chamamento. Sei que o sentia invadir-me a mim. Como se, de repente, chegar ao núcleo que te continha fosse cada vez menos uma vontade e, cada vez mais uma necessidade.

Cheiravas-me a terra molhada,  
                                                      ­   depois de uma chuva desgraçada. Queria entrar em ti! Mesmo depois de me terem dito que a curiosidade matava. Queria tanto entrar em ti! Ser enterrada em ti!  

A arquiteta que desenhou aquele balde estava mesmo empenhada                                                        ­                                                             
                                 em manter-te lá dentro,  
e manter tudo o resto cá fora. A tampa parecia bem selada.  

Admirei-a pela inteligência. Pelo simples que tornou complexo.  
Pela correta noção de que, nem toda a gente merece ter o teu acesso.

(...)

Vinhas em forma de argila...e, retiradas as algas da frente, vi um labirinto para onde implorei ser sugada. Estava no epicentro de uma tempestade que ainda se estava a formar e, já se faziam previsões que ia ser violenta. O caos de uma relação! de uma conexão, onde o eu, o tu e o nós, onde o passado, o futuro e o presente, entram em conflito, até cada um descobrir onde se encaixa, até se sentirem confortáveis no seu devido lugar.  

Estava tão habituada a estar sozinha e isolada, apenas acompanhada pelo som da água, dos animais ou do vento, que não sabia identificar se estava triste ou contente. Não sabia como me sentir com a tua inesperada chegada. Não sabia o que era ouvir outro batimento cardíaco dentro da minha própria mente,  

e sentir uma pulsação ligada à minha, mesmo quando o teu coração está distante ou ausente.  

No começo, espreitava-te pelos buracos do balde, por onde pequenos feixes de luz entravam e, incandesciam a tua câmera obscura,  

                 e tu corrias para te esconder!
                 e eu corria para te apanhar!
                 e foi um esconde-esconde que durou-durou...
                 e nenhuma de nós chegou a ganhar.  

Quanto mais te estudava, menos de mim percebia. Mais admiração sentia por aquela pedra de argila tão fria. "Que presente é este que naufragou no meu mar? Como é que te vou abrir sem te partir?"

Retirei-te a tampa a medo,  
                                                a medo que o teu interior explodisse.  

E tu mal te mexeste.  
                                  E eu mexia-te,
                                                           remex­ia-te,
                                                           virava-te do direito e do avesso.  

És única! Fazias-me lembrar de tudo,
                                                          e não me fazias lembrar de nada.

És única! E o que eu adorava  
é que não me fazias lembrar de ninguém,  
                             ninguém que eu tivesse conhecido ou imaginado.

És única! A musa que me inspirou com a sua existência.  

“Como é que uma pedra tão fria pode causar-me esta sensação tão grande de ardência?”

(…)

Mesmo que fechasse os olhos, a inutilidade de os manter assim era evidente.  
Entravas-me pelos sentidos que menos esperava. Foi contigo que aprendi que há mais que cinco! E, que todos podem ser estimulados. E, que podem ser criados mais! Existem milhares de canais por onde consegues entrar em mim.  

A curiosidade que aquele teu cheiro me despertava era imensa,                                                          ­                                                

               ­                                                                 ­                  intensa,
                                                                ­                                                       
         ­                                                                 ­                         então,  
                                          
             ­                                                                 ­                    abri-te.

Abri-me ao meio,  
só para ver em quantas peças é que um ser humano pode ser desmontado.

Despi-te a alma com olhares curiosos. E, de cada vez que te olhava, tinha de controlar o tempo! Tinha de me desviar! Tinha medo que me apanhasses a despir-te com o olhar. Ou pior!  
Tinha medo que fosses tu a despir-me. Nunca tinha estado assim tão nua com alguém.  
Tinha medo do que os teus olhos poderiam ver. Não sabia se ficarias, mesmo depois de me conhecer. Depois de me tirares as algas da frente, e veres que não sou só luz, que luz é apenas a essência em que me prefiro converter. Que vim da escuridão, embrulhada nas ondas de um mar escuro e tenebroso, e é contra os monstros que habitam essas correntes que me debato todos os dias, porque sei que não os posso deixar tomar as rédeas do meu frágil navio.  

(...)

Vinhas em inúmeros pedaços rochosos,
                                                                ­             uns afiados,  
  
                                                   ­                          uns macios,

                                                               ­           todos partidos...

Sentia a tua dureza contra a moleza da minha pele ardente,  
E eu ardia.  
                    E tu não ardias,  
                                                 parecias morta de tão fria.  

Estavas tão endurecida pela vida, que nem tremias.  
Não importava o quanto te amasse,  
                                                       ­          que te atirasse à parede, 
                                                        ­         que te gritasse                                                         ­                                                                 ­                    
                                                                ­                            ou abanasse...

Não importava. Não tremias.  

Haviam demasiadas questões que me assombravam. Diria que, sou uma pessoa com tendência natural para se questionar. Não é motivo de alarme, é o formato normal do meu cérebro funcionar. Ele pega numa coisa e começa a rodá-la em várias direções, para que eu a possa ver de vários ângulos, seja em duas, três, quatro ou cinco dimensões.  

"Porque é que não reagias?"  
"Devia ter pousado o balde?"  
"Devia ter recuado?"
"Devia ter desviado o olhar,
                                                      em vez de te ter encarado?"  

Mas, não. Não conseguia. Existia algo! Algo maior que me puxava para os teus pedaços.  
Algo que me fervia por dentro, uma tal de "forte energia", que não se permitia ser domada ou contrariada. Algo neles que me atraía, na exata medida em que me repelia.

Olhava-te, observava-te,  
                                                absorvia-te...
e via além do que os outros viam.
Declarava a mim mesma, com toda a certeza, que te reconhecia.
Quem sabe, de uma outra vida.
Eras-me mais familiar à alma do que a minha própria família.  
Apesar de que me entristeça escrever isto.  

Eram tantas as mazelas que trazias...Reconhecia algumas delas nas minhas. Nem sabia por onde te pegar.
Nem sabia como manter os teus pedaços juntos. Nem sabia a forma certa de te amar.
Estava disposta a aprender,  
                                                   se estivesses disposta a ensinar.  

(…)

Descobri com a nossa convivência, que violência era o que bem conhecias,                                                       ­                                                         
                    então, claro que já não tremias!  
Um ser humano quebrado, eventualmente, habitua-se a esse estado. Até o amor lhe começa a saber a amargo.  

Só precisei de te observar de perto.  
Só precisei de te quebrar com afeto.

Culpei-me por ser tão bruta e desastrada, esqueci-me que o amor também vem com espinhos disfarçados. Devia ter percebido pelo teu olhar cheio e vazio, pelo reflexo meu que nele espelhava, que a semelhança é demasiada para ser ignorada.

Somos semelhantes.  

Tão diferentes! que somos semelhantes.  

Duas almas velhas e cansadas. Duas crianças ingénuas e magoadas. Duas pessoas demasiado habituadas à solidão.  

Só precisei de escavar através do teu lado racional.
Cegamente, mergulhei bem fundo, onde já nem a luz batia,

                                                               ­    e naveguei sem rumo certo  

nas marés turbulentas do teu emocional. E, algures dentro de ti,  
encontrei um portal que me levou a um outro mundo...

Um mundo onde eu nem sabia que uma outra versão de mim existia,                                                         ­                                                         
       ­       onde me escondias e cobrias com a lua.

Um mundo onde eu estava em casa, e nem casa existia,  
                                                      ­            
                       onde me deitava ao teu lado,                                          
                          onde te deitavas ao meu lado,                                                            ­                                            
                    ­            totalmente nua,
      debaixo da armadura que, finalmente, parecia ter caído.  

Creio que mergulhei fundo demais...  
Ultrapassei os limites terrestres,
                                 e fui embater contigo em terrenos espirituais.  

Cheguei a ti com muita paciência e ternura.
Tornei-me energia pura! Um ser omnipresente. Tinha uma vida no mundo físico e, uma dupla, que vivia contigo através da música, da escrita, da literatura…Tornei-me minha e tua!  
Eu sabia...
Há muito amor escondido atrás dessa falsa amargura.  
Então, parei de usar a força e, mudei de abordagem,  
para uma mais sossegada,
                                               uma que te deixasse mais vulnerável,                                                                    ­                                            
         em vez de assustada.  

(…)

“Minha pedra de argila, acho que estou a projetar. Estou mais assustada que tu! Estar perto de ti faz-me tremer, não me consigo controlar. Quero estar perto! Só quero estar perto! Mesmo que não me segure de pé. Mesmo que tenhas de me relembrar de respirar. Mesmo que me custem a sair as palavras, quando são atropeladas pela carrada de sentimentos que vieste despertar…”

És um livro aberto, com páginas escritas a tinta mágica.
A cada página que o fogo revelava, havia uma página seguinte que vinha arrancada. Mais um capítulo que ficava por ler. Outra incógnita sobre ti que me deixavas a matutar.

Soubeste como me despertar a curiosidade,
como a manter,
como me atiçar,
como me deixar viciada em ti,
como me estabilizar ou desestabilizar.  

E nem precisas de fazer nada! a tua mera existência abana a corda alta onde me tento equilibrar.

Segurei-te com todo o carinho! E, foi sempre assim que quis segurar-te.

Como quem procura
                                       amar-te.

Talvez transformar-te,  
                                        em algo meu,
                                        em algo teu,
                                                                ­ em algo mais,
                                                                ­                          em algo nosso.  

Oferecias resistência, e eu não entendia.  
A ausência de entendimento entorpecia-me o pensamento, e eu insistia...Não conseguia respeitar-te. Só queria amar-te!

Cada obstáculo que aparecia era só mais uma prova para superar,  
                    ou, pelo menos, era disso que me convencia.
Menos metros que tinha de fazer nesta maratona exaustiva!
onde a única meta consistia  
                                                   em chegar a ti.
Desse por onde desse, tivesse de suar lágrimas ou chorar sangue!

(...)

Olhava-te a transbordar de sentimentos! mal me conseguia conter! mal conseguia formar uma frase! mal conseguia esconder que o que tremia por fora, nem se comparava ao que tremia por dentro!
Afinal, era o meu interior que estava prestes a explodir.

"Como é que não te conseguiste aperceber?”

A tua boca dizia uma coisa que, rapidamente, os teus olhos vinham contrariar. "Voa, sê livre”. Era o que a tua boca pregava em mim, parecia uma cruz que eu estava destinada a carregar. Mas, quando eu voava, ficava o meu mar salgado marcado no teu olhar.  
Não quero estar onde não estás! Não quero voar! quero deitar-me ao teu lado! quero não ter de sair de lá! e só quero voar ao teu lado quando nos cansarmos de viajar no mundo de cá.  

“Porque é que fazemos o oposto daquilo que queremos? Porque é que é mais difícil pedir a alguém para ficar? Quando é que a necessidade do outro começou a parecer uma humilhação? Quando é que o mundo mudou tanto, que o mais normal é demonstrar desapego, em vez daquela saudável obsessão? Tanta questão! Também gostava que o meu cérebro se conseguisse calar. Também me esgoto a mim mesma de tanto pensar.”

(...)

O amor bateu em ti e fez ricochete,  
                                                    ­                acertou em mim,  
quase nos conseguiu despedaçar.  

Até hoje, és uma bala de argila, perdida no fluxo das minhas veias incandescentes. O impacto não me matou, e o buraco já quase sarou com a minha própria carne à tua volta. Enquanto for viva, vou carregar-te para onde quer que vá. Enquanto for viva, és carne da minha própria carne, és uma ferida aberta que me recuso a fechar.
Quero costurar-me a ti! para que não haja possibilidade de nos voltarmos a separar.

Não sei se te cheguei a ensinar alguma coisa, mas ansiava que, talvez, o amor te pudesse ensinar.  

Oferecias resistência, e eu não entendia.  
Então, eu insistia...
                                   Dobrava-te e desdobrava-me.
Fazia origami da minha própria cabeça  
                                                e das folhas soltas que me presenteavas,
escritas com os teus pensamentos mais confusos. Pequenos pedaços de ti!  
Estava em busca de soluções para problemas que nem existiam.  

"Como é que vou tornar esta pedra áspera, numa pedra mais macia? Como é que chego ao núcleo desta pedra de argila? Ao sítio onde palpita o seu pequeno grande coração?
Querias que explorasse os teus limites,  
                                                      ­      ou que fingisse que não os via?”

Querias ser pedra de gelo,  
                                                  e eu, em chamas,  
queria mostrar-te que podias ser pedra vulcânica.

(...)

Estudei as tuas ligações químicas, cada partícula que te constituía.
Como se misturavam umas com as outras para criar  

                 a mais bela sinestesia

que os meus olhos tiveram o prazer de vivenciar.


Tornaste-te o meu desafio mais complicado.  
“O que raio é suposto eu fazer com tantos bocados afiados?”.  
Sinto-os espalhados no meu peito, no sítio onde a tua cabeça deveria encaixar, e não há cirurgia que me possa salvar. Não sei a que médico ir.  Não sei a quem me posso queixar.
São balas fantasma, iguais às dores que sinto quando não estás.  
A dor aguda e congruente que me atormenta quando estás ausente.
Como se me faltasse um pedaço essencial, que torna a minha vida dormente.

Perdoa-me, por nunca ter chegado a entender que uso lhes deveria dar.  

(...)

Reparei, por belo acaso! no teu comportamento delicado  
quando te misturavas com a água salgada, que escorria do meu olhar esverdeado,
                                  quando te abraçava,  
                                  quando te escrevia,  
                          em dias de alegria e/ou agonia.
Como ficavas mais macia, maleável e reagias eletricamente.  
Expandias-te,  
                          tornav­as-te numa outra coisa,  
                                                        ­              um novo eu que emergia,  

ainda que pouco coerente.  


Peguei-te com cuidado. Senti-te gélida, mas tranquila...
"Minha bela pedra de argila..."
Soube logo que te pertencia,  
                                                    ­   soube logo que me pertencias.  
Que o destino, finalmente, tinha chegado.
E soube-o, mesmo quando nem tu o sabias.

A estrada até ti é longa, prefiro não aceitar desvios.  
É íngreme o caminho, e raramente é iluminado...
muito pelo contrário, escolheste construir um caminho escuro,  
cheio de perigos e obstáculos,  
                                                   ­      um caminho duro,  
feito propositadamente para que ninguém chegue a ti...
Então, claro que, às vezes, me perco. Às vezes, também não tenho forças para caminhar. E se demoro, perdoa-me! Tenho de encontrar a mim mesma, antes de te ir procurar.  

No fim da longa estrada, que mais parece um labirinto perfeitamente desenhado,
                                      sem qualquer porta de saída ou de entrada,
estás tu, lá sentada, atrás da tua muralha impenetrável, a desejar ser entendida e amada, e simultaneamente, a desejar nunca ser encontrada.  

“Como é que aquilo que eu mais procuro é, simultaneamente, aquilo com que tenho mais medo de me deparar?”

Que ninguém venha quebrar a tua solidão!  
Estás destinada a estar sozinha! É isso que dizes a ti mesma?
Ora, pois, sei bem o que é carregar a solidão às costas,  
a beleza e a tranquilidade de estar sozinha.

Não vim para a quebrar,  
                                   vim para misturar a tua solidão com a minha.

Moldei-te,  
                     e moldei-me a ti.

Passei os dedos pelas fissuras. Senti todas as cicatrizes e, beijei-te as ranhuras por onde escapavam alguns dos teus bocados. Tentei uni-los num abraço.
Eu sabia...
Como se isto fosse um conto de fadas…
Como se um beijo pudesse acordar…
Como se uma chávena partida pudesse voltar atrás no tempo,  
                                                        ­      
                                                         segundo­s antes de se estilhaçar.  

O tempo recusa-se a andar para trás.
Então, tive de pensar numa outra solução.
Não te podia deixar ali, abandonada, partida no chão.

Todo o cuidado! E mesmo assim foi pouco.  
Desmoronaste.  
Foi mesmo à frente dos meus olhos que desmoronaste.  

Tive tanto cuidado! E mesmo assim, foi pouco.
Não sei se te peguei da forma errada,  
                            
                              ou se já chegaste a mim demasiado fragilizada…

Não queria acreditar que, ainda agora te segurava...
Ainda agora estavas viva…
Ainda agora adormecia com o som do teu respirar…

Agora, chamo o teu nome e ninguém responde do lado de lá…
Agora, já ninguém chama o meu nome do lado de cá.

Sou casmurra. Não me dei por vencida.
Primeiro, levantei-me a mim do chão, depois, quis regressar a ti
                            e regressei à corrida.  
Recuperei-me, e estava decidida a erguer-te de novo.
Desta vez tive a tua ajuda,
                                                   estavas mais comprometida.
Tinhas esperança de ser curada.
Talvez, desta vez, não oferecesses tanta resistência!
Talvez, desta vez, aceitasses o meu amor!
Talvez, desta vez, seja um trabalho a dois!
Talvez, desta vez, possa estar mais descansada.
Talvez, desta vez, também eu possa ser cuidada.

Arrumei os pedaços, tentei dar-lhes uma outra figura.
Adequada à tua beleza, ao teu jeito e feitio. Inteligente, criativa, misteriosa, divertida, carismática, observadora, com um toque sombrio.

Despertaste em mim um amor doentio!  
Ou, pelo menos, era assim que alguns lhe chamavam.
Admito, a opinião alheia deixa-me mais aborrecida do que interessada. A pessoas incompreensivas, não tenho vontade de lhes responder. Quem entende, irá entender. Quem sente o amor como uma brisa, não sabe o que é senti-lo como um furacão. Só quem ama ou já amou assim, tem a total capacidade de compreender, que nem tudo o que parece mau, o chega realmente a ser.

Às vezes, é preciso destruir o antigo, para que algo novo tenha espaço para aparecer. Um amor assim não é uma doença, não mata, pelo contrário, deu-me vontade de viver. Fez-me querer ser melhor, fez-me lutar para que pudesse sentir-me merecedora de o ter.

Sim, pode levar-nos à loucura. Sei que, a mim, me leva ao desespero. O desespero de te querer apertar nos meus braços todos os dias. O desespero de te ter! hoje! amanhã! sempre! O desespero de viver contigo já! agora! sempre! O desespero de não poder esperar! O desespero de não conseguir seguir indiferente depois de te conhecer! O desespero de não me conseguir conter! Nem a morte me poderia conter!  
E , saber que te irei amar, muito depois de morrer.  

Quem nunca passou de brasa a incêndio, não entende a total capacidade de um fogo. Prefiro renascer das cinzas a cada lua nova, do que passar pela vida sem ter ardido.  

Já devia ter entendido, as pessoas só podem mergulhar fundo em mim se já tiverem mergulhado fundo em si. Quem vive à superfície, não sabe do que falo quando o assunto é o inconsciente.  
Se os outros não se conhecem sequer a si mesmos, então, a opinião deles deveria mesmo importar? Há muito já fui aclamada de vilã, por não ser mais do que mera gente. E, como qualquer gente, sou simples e complexa. A realidade é que, poucos são os que se permitem sentir todo o espectro de emoções humanas, genuinamente, e eu, felizmente e infelizmente, sou gente dessa.

(…)

Descobriste um oceano escondido e inexplorado.  
Um Mar que se abriu só para ti, como se fosse Moisés que se estivesse a aproximar. Um Mar que só existia para ti. Um Mar que mais ninguém via, onde mais ninguém podia nadar. Um Mar reservado para ti. Parecia que existia com o único propósito de fazer o teu corpo flutuar.  

Deste-lhe um nome, brincaste com ele, usaste-o, amassaste-o, engoliste-o
                      e, cuspiste-o de volta na minha cara.

Uma outra definição. Um Mar de água doce, com a tua saliva misturada.
Uma outra versão de mim, desconhecida, até então.  
Um outro nome que eu preferia.
Um nome que só tu me chamavas, e mais ninguém ouvia,  
Um booboo que nasceu na tua boca e veio parar às minhas mãos, e delas escorria para um sorriso tímido que emergia.

(...)

E, de onde origina a argila?
Descobri que, pode gerar-se através de um ataque químico. Por exemplo, com a água. "A água sabe."  Era o que tu me dizias.  

Era com ela que nos moldavas.
Talvez com a água doce e salgada que escorria do teu rosto
                                                   e no meu rosto caía,
                                                   e no meu pescoço secava,

enquanto choravas em cima de mim,
                                                                ­abraçada a mim, na tua cama.

Enquanto tremias de receio, de que me desejasses mais a mim, do que aquilo que eu te desejava.

“Como não podias estar mais enganada!  
Como é que não vias todo o tempo e amor que te dedicava?  
Tinhas os olhos tapados pelo medo? Como é que me observavas e não me absorvias?”

O amor tem muito de belo e muito de triste.  A dualidade do mundo é tramada, mas não me adianta de nada fechar os olhos a tudo o que existe.  

Ah! Tantas coisas que nascem de um ataque químico! Ou ataque físico, como por exemplo, através do vulcanismo ou da erosão.
Quando moveste as placas que solidificavam as minhas raízes à Terra,  
           e chegaste a mim em forma de sismo silencioso,  
mandaste-me as ilusões e as outras estruturas todas abaixo, e sobrou uma cratera com a forma do meu coração, de onde foi cuspida a lava que me transmutou. A mesma lava que, mais tarde, usei para nos metamorfosear. Diria que, ser destruída e reconstruída por ti, foi a minha salvação.
Sobrei eu, debaixo dos destroços. Só não sei se te sobrevivi. Nunca mais fui a mesma desde que nos vi a desabar.  

E, são esses dois ataques que geram a argila. Produzem a fragmentação das rochas em pequenas partículas,  
                                                   ­                                                             
                                                                ­                         umas afiadas,  
                                                      ­                                                        
                                                                ­                         umas macias,
                                                                ­                                                       
         ­                                                                 ­               todas partidas.  

Gosto de pegar em factos e, aproximá-los da ficção na minha poesia.
Brinco com metáforas, brinco contigo, brinco com a vida...mas, sou séria em tudo o que faço. Só porque brinco com as palavras, não significa que te mentiria. A lealdade que me une a ti não o iria permitir.  

É belo, tão belo! Consegues ver? Fazes vibrar o meu mundo. Contigo dá-se a verdadeira magia! Também consegues senti-la?  
Tudo dá para ser transformado em algo mais. Nem melhor nem pior, apenas algo diferente.  

Das rochas vem a areia, da areia vem a argila, da argila vem o meu vaso imaginário, a quem dei um nome e uma nova sina.  

Viva a alquimia! Sinto a fluir em mim a alquimia!  
Tenho uma capacidade inata de romantizar tudo,  

                                                   de ver o copo meio cheio,  

                                                       ­                          e nem copo existia.  

Revelaste-me um amor que não sabia estar perdido.
Entendeste-me com qualidades e defeitos.
Graças a ti, fiquei esclarecida! Que melhor do que ser amada,
é ser aceite e compreendida.

Feita de barro nunca antes fundido.
Assim seguia a minha alma, antes de te ter conhecido.
Dá-me da tua água! Quero afogar-me em ti, todas as vidas!
E ter o prazer de conhecer-te, e ter o desprazer de esquecer-te, só para poder voltar a conhecer-te,
sentir-te, e por ti, só por ti, ser sentida.  

Toquei-te na alma nua! Ainda tenho as mãos manchadas com o sangue da tua carne crua. E a minha alma nua, foi tocada por ti. Provaste-me que não estava doida varrida. Soube logo que era tua!  

Nunca tinha trabalhado com o teu tipo de barro.
Ainda para mais, tão fraturado.
Peguei em ti, com todo o cuidado...

"Tive um pensamento bizarro,
Dos teus pedaços vou construir um vaso! Tem de caber água, búzios, algumas flores! Talvez o meu corpo inteiro, se o conseguir encolher o suficiente.

Recolho todos os teus bocados, mantenho-os presos, juntos por um fio vermelho e dourado. Ofereço-me a ti de presente."

(…)

Amei-te de forma sincera.  Às vezes errada, outras vezes certa, quem sabe incoerente. Mas o amor, esse que mais importa, ao contrário de nós, é consistente.  

Sobreviveu às chamas do inferno, às chuvas que as apagaram, a dezenas de enterros e renascimentos.  

Nem os anos que por ele passaram, o conseguiram romper. Nem o tempo que tudo desbota, o conseguiu reescrever.

Foi assim que me deparei com o presente agridoce que me aguardava. Descobriste um dos vazios que carrego cá dentro e, depositaste um pedaço de ti para o preencher.
Invadiste o meu espaço, sem que te tivesse notado, nem ouvi os teus passos a atravessar a porta.  
Confundiste-te com a minha solidão, sem nunca a ter mudado. Eras metade do que faltava em mim, e nem dei conta que me faltavas.

“Como poderia não te ter amado? …"

(…)

Minha bela pedra de argila,  
Ninguém me disse que eras preciosa.
Ninguém o sabia, até então.
Não te davam o devido valor,
e, para mim, sempre foste o meu maior tesouro.
Até a alma me iluminavas,
como se fosses uma pedra esculpida em ouro.

  
Meu vaso de barro banhado a fio dourado,  
Ninguém me avisou que serias tão cobiçado,  
                                                     ­             invejado,
                                                               desdenhado,
ou, até, a melhor obra de arte que eu nunca teria acabado.
Ninguém o poderia saber.  
Queria guardar-te só para mim!
Não por ciúmes, além de os ter.
Mas sim, para te proteger.
Livrar-te de olhares gananciosos e, pessoas mal-intencionadas.  
Livrar-te das minhas próprias mãos que, aparentemente, estão condenadas
                       a destruir tudo o que tanto desejam poder agarrar.  

Perdoa-me, ter achado que era uma benção.

Talvez fosse mais como a maldição  
de um Rei Midas virado do avesso.
Tudo o que toco, transforma-se em fumo dourado.
Vejo o futuro que nos poderia ter sido dado!
Vejo-te no fumo espesso,
                                               a dissipares-te à minha frente,
antes mesmo de te ter tocado.

Tudo o que os deuses me ofereceram de presente, vinha envenenado.

  
A eterna questão que paira no ar.  
É melhor amar e perder? Ou nunca chegar a descobrir a sensação de ter amado?

É melhor amar e ficar!

Há sempre mais opções, para quem gosta de se focar menos nos problemas
                     e mais nas soluções.

O amor é como o meu vaso de argila em processo de criação.  
Cuidado! Qualquer movimento brusco vai deixar uma marca profunda. Enquanto não solidificar, tens de ter cuidado! Muito cuidado para não o estragar. Deixa-o girar, não o tentes domar, toca-lhe com suavidade, dá-lhe forma gentilmente, decora os seus movimentos e, deixa-te ser levado, para onde quer que te leve a sua incerta corrente.

Enquanto não solidificar, é frágil! Muito frágil e, a qualquer momento, pode desabar.

Era isso que me estavas a tentar ensinar?  

Duas mãos que moldam a argila num ritmo exaltante!
E une-se a argila com o criador!
                                            E gira! E gira! num rodopio esmagador,  
                                                    ­  E gira! E gira! mas não o largues!
Segura bem os seus pedaços! Abraça-os com firmeza!

Porque erguê-lo é um trabalho árduo
                                                           ­      e se o largas, vai logo abaixo!

São horas, dias, meses, anos, atirados para o esgoto. Sobra a dor, para que nenhuma de nós se esqueça.

                                        E dança! E dança! E dança!...
                             Tento seguir os seus passos pela cintura...  
                                       Se não soubesse que era argila,  
                          diria que era a minha mão entrelaçada na tua.

Bato o pé no soalho.
                                    E acelero!
                                                      e acalmo o compasso...
A água escorre por ele abaixo.
Ressalta as tuas belas linhas à medida da sua descida,
como se fosse a tua pele suada na minha.  

No final, que me resta fazer? Apenas admirá-lo.

Reconstrui-lo. Delimitá-lo. Esculpi-lo. Colori-lo. Parti-lo, quem sabe. É tão simples! a minha humana de ossos e carne, transformada em pedra de argila, transformada em tesouro, transformada em pó de cinza que ingeri do meu próprio vulcão...

A destruição também é uma forma de arte, descobri isso à força, quando me deixaste.  

Acho que, no meu vaso de argila, onde duas mãos se entrecruzaram para o moldar, vou enchê-lo de areia, búzios, pedras e água dourada,
         talvez nasça lá um outro pedaço de ti, a meio da madrugada.
Vou metê-lo ao lado da minha cama, e chamar-lhe vaso de ouro. Porque quem pega num pedaço rochoso e consegue dar-lhe uma outra utilidade, já descobriu o que é alquimia,  

o poder de ser forjado pelo fogo e sair ileso,
renascido como algo novo.
Quando for grande quero
Ter um jardim
Para cuidar como não cuido de mim;
Fazer cama de um vaso cheio de terra
Onde cobrirei a semente de amor
Com água fresca e luz do sol
Palavras e doces melodias
Até e depois de nascer.

Quando for maior ainda,
Se amar a flor tanto assim,
Quero fazer uma horta do jardim,
Para amar o que como
Da semente até ao prato e,
Se somos o que comemos,
Plantarei amor em mim.
Victor Marques Feb 2015
Primavera que acordas vinhedos adormecidos

     Hoje fiz uma promessa a mim mesmo que seria escrever para ti: Primavera! Desde menino que me encantas, me envolves, me rejuvenesces…Sim, és tu Primavera que me acordas de sonos bem ou mal dormidos. Com os crescer dos dias parece que tudo cresce de uma forma descontrolada e um infindável colorido permanece aos olhos de quem te acolhe e enaltece.
    Sim, só poderias ser tu a bendizer todas as rosas campestres que por ti anseiam para comunicar e nos fazer sentir odores, por vezes já esquecidos. Os jardins se enfeitam com violetas, lírios, hortênsias. Os charcos ficam mais esverdeados e alegres, pois as rãs têm mais tempo para cantar.
    Primavera abençoada que acordas vinhedos durienses adormecidos, que aqueces rio Douro e Tua.  Amendoeiras em flor brancas e puras que acolhem abelhas que procuram alimento param se saciar. Nos campos é imensa a alegria de semear sementes que servirão de alimento para tantos seres que não compreendem o poder de nascimento contínuo que existe em todas as Primaveras. Parece que tudo está com disposição de despertar…
      Parece que tudo ressuscita, que tudo nasce, que tudo vive com maior apego e sintonia com o Deus Criador. Por tudo isto queria também eu ser uma Primavera excelsa e porque não celestial aos olhos de quem nunca teve ou sentiu uma Primavera.
    Victor Marques
primavera,despertar
Letícia Costa Jul 2013
Parte do tempo percebemos que somos perfeito
A maior parte não paramos de falar
Eu seguro sua mão, você dá um sorriso
A gente se beija no meio fio

Meu corpo se mexe pra trás e pra frente
Aqui está pra prefeitura, aqui está o bar que nos vende tequila
Somos tão esquisitos que daria certo

Os cartões de crédito dela me perdoaram
Os cabelos enrolados me perdoaram
Por que você não pode me perdoar?
Somos tão esquisitos que daria certo

O garoto de óculos escuros me deu um gole daquela ***** barata
Você me deixou colocar a cabeça no seu ombro
Quando fomos embora você me seguro no colo
Somos tão esquisitos que daria certo

Esquerda, direita, cima e baixo
Só porque não temos joguinhos não quer dizer que não é certo

Você vive dizendo que quer me ver
Amo essa mescla de felicidade e receio
Quando fico triste você faz uma dança engraçada
Somos tão esquisitos que fica perfeito
andreia nunes Feb 2013
na primeira noite eram estranhas.
disformes, distantes, extremamente presentes na sua tão triste ausência.
doeram-me todas as entranhas do corpo. pela memória e pelo presente.
agora, volvidos 3 dias volto a olhá-las.
já consigo olhá-las, auxiliá-las e já não me estão distantes.
agora são companheiras de luta.
algumas lutas mais leais que outras bem se sabe, mas ainda assim resistentes no seu silêncio.
o cheiro já me acolhe e todos os muitos sons que me circundam,
conseguem agora embalar-me e levar-me num sono tranquilo.
estou perto dos 28.
já não sou miúda, agora sei-o e mais sério, sinto-o.
ainda não sei que mulher sou, e como vou crescer a partir daqui.
há vários ajustes, estou muito irrequieta com o que vou fazer.
penso demasiado na pessoa que quero construir a partir daqui. é como se tivesse acabado de nascer mas já a saber falar, andar e pensar
- oh, penso tanto…
tenho de me permitir aprender e cair, chorar aos primeiros dentes.
mas a miúda deixa-me orgulhosa. gostei de ti andreia pequena, feliz, divertida e curiosa.
gostei da tua coragem e da tua força. até do teu nariz empertigado.
choro ao teu enterro, comovida pelo orgulho que te sinto e pelas saudades que me vais trazer.
a tua inocência guarda-la-ei como o meu mais precioso tesouro, e a ela recorrerei quando me vacilar a certeza.
crescer é de uma dureza atroz. o passado vejo-o enevoado, lamacento de muito difícil definição.
no entanto o futuro é um abismo.
dá-me vertigens querer espreitá-lo. mesmo quando coloco apenas os olhos, como se me escondesse dele mesmo. de mim mesma, dessa andreia que serei. como se não quisesse que ela me apanhasse a espiá-la a ver-lhe os movimentos, para que os usasse ou os julgasse de ante mão.
aqui estou, numa cama de hospital. viva e livre de qualquer mal. (mal maior pelo menos). e esta andreia do presente, esta nova-mulher, tem muito medo.
muito medo de falhar, muito medo de não ser tão feliz quanto a miúda foi.
Canção Do Verbo Encarnado

*
Minha geração foi assim,
começou pelo quando
e acabou pelo fim.

O amor escorreu pelos cantos
e quando cantamos
a canção do amor armado,

Thiago de Melo estava em Berlim
mergulhado no verde dos olhos
da alemãzinha da ACNUR ,

nossa orquestra saiu de cena
e nossa guerra de guerrilhas
acabou no maior calor...

O suor que expelia seu odor
era o suor frio dos tiranos
nos porões mórbidos da ditadura
executando nossos irmãos.

O ar jazia cheio de sangue
e nós estávamos congelados
nas câmaras de gás dos IMLs.

Vínhamos de todos os lados,
desde os vales profundos do Ribeira,
das chapadas mais íngremes do Araguaia
ou dos guetos subumanos da urbe.

Éramos nós o odor de fumaça
que agredia as narinas alheias
com a catinga de carne queimada.

Éramos nós o encanto das canções de protesto
cantadas na avenida com euforia
para engendrar os projetos do futuro,

como somos nós os ignorados da história,
os estranhos os comícios,
a cadeira vazia das reuniões oficiais,

pois somos nós que chegamos e partimos
sem ninguém saber quem somos
e que vamos lá adiante,

distantes da balburdia alienante
e quando vós menos  esperais
somos nós que nos imolamos
às vossas portas
contra a apatia com que nos matais.

Como todos vós podeis ver,
a minha geração é assim:
começa pelo quando
e acaba pelo fim,
mas não fica à toa na vida
pro seu amor lhe chamar
e ver a banda passar
tocando coisas de amor...

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Um terceiro terço livrado de fúria e de autoridade,
Um homem duro bêbado e por demais vadio,
Procurando na noite prazeres de um defunto,
Sem vida, nem espaço para entrar em outra vida!

Se eu fosse assim escuro perdido pelos vícios,
E se eu me esquecesse mesmo, que eras mulher,
Procurasse nesses rabos oferecidos de saia,
Prazer, loucura, hábitos de gente vadia!

Se me pintasse de vida, e me vestisse de Gay,
Mostrando fantasias de pouco valor,
Coisas que mesmo feitas, eram coisas de contentor,
Seria eu assim Homem de mais esplendor?

Porque não posso ser eu assim, roto por fora,
E dentro ter o meu maior tesouro, partilhando-to,
Cheiro de verdades, carinhos e cimentados valores!
Porque não podes ouvir a experiencia, que nunca te enganou!

Querer fluir pensamentos alcoolizados, de uma vida sem fé,
Sem alimento quarente algum, que permanece duradouramente?
Nem tu sabes, nem eu entendo o porquê de não teres esperança,
Porque duvidas-te de mim se só te contei verdades confirmadas!

Autor: António Benigno
Dedico este poema à vida de merda da gente que está perdida.
Se eu sou neste mundo a lua e tu o sol,
Se tu és a estrela, que me ilumina o meu dia,
Porque teme o sol a lua, se é dela o seu brilho?
Aparecerei nos momentos da tua maior luz,
Nos dias fantásticos de magia da tua alegria,
Na beleza da continuidade dos teus dias,
Na herança dos nossos corpos unidos,
Eu, lua, estarei ali, junto de ti, quando deres à luz!
Quando estiver eu no céu pela manha,
Esperando que chegues aos meus braços,
Estarei ali para brilhar junto contigo,
O meu brilho será reflectido para ti,
Apesar das voltas que dês no mundo,
Eu, estarei ali, sempre esperando por ti!
Quando nos dias perderes o brilho,
Virei abraçar-te para te mostrar que estou contigo,
Leva os dias comigo, preciso de ti como és,
Nos teus momentos de alegria e tristeza,
Porque só assim eu poderei amar-te,
Fazer-te a surpresa da minha companhia,
E dar-te a ti a força e manter o teu lindo brilho,
Em tão poucos dias que tem a nossa eternidade,
Nas voltas todas que deu o mundo sobre nós,
És o centro do mundo minha estrela brilhante,
Não é um acaso é uma certeza bem divina,
Não é coincidência, para nós é evidência,
Darei voltas sempre sobre ti e pela terra,
Porque ela é a família que temos
E aquela que um dia com o teu dar de luz faremos,
Mas eu e a família que é nossa,
Há tua volta com tua luz, viveremos.
Te adoro muito mesmo, Liliana minha estrela!

Autor: António Benigno
Esta é a lógica do que fazemos
Wörziech May 2013
Este insólito e inaudito conjunto de explosões atemporais,
inobservável a longas distâncias,
é, factualmente, o tecelão da portentosa dimensão da mente.

Abundantes vozes desnorteadas,
obscuras e perturbadoras, nela se fazem existir.

São vozes que são sentidas,
vozes sombrias que escrevem.
Vozes pelas quais fui, eu próprio, desenhado.

E criado para navegar,
parti para o mar em busca das partes que me faltavam em terra firme.

Fragmentado,
nas mais diversas ilhas - paradisíacas e apocalípticas -,
nas profundezas e no horizonte azul,
busco, ainda hoje, estilhaços e peças escassas perdidas;

Cotidianamente,
ao acercar da noite,
os sons de batalha tendenciosamente indicam direções para não seguir,
e ainda que mantenha sem medo o controle das velas,
os ventos insistem em dizer aonde ir...

Pois que seja! "Navegarei com todos eles!"

'Placebo ou morte?'
O que minha tripulação anseia não importa,
ela tampouco existe.

Nesta irremediável transposição constante de caminhos,
sem o reconhecimento de qualquer lógica postulável,
oscilante, transgrido e navego ainda por mares intergaláticos.

E nesta imensidão extraordinariamente escura do cosmos,
carregando a experiência daqueles oceanos pesados e profundos,
me encontro a observar, sempre ao longe, uma fagulha,
ínfimo ponto que se faz visível.

Em sua direção,
continuo a jornada do pouco infindável
dessa dimensão que permanentemente remanesce como o desconhecido.

O mais próximo e o maior ângulo possível
para apreciar esse pontual, eterno e único nascer da super nova,
eu encontrarei.
Hermes Varini Oct 2022
FEODALI SEPTIMA ALTAQVE METALLI AC SOLIS MEA HIC VINDICTA
PROFVNDVM DENVO HVIVS HASTILVDII DICITVR FVLMEN PROFVNDE MEVM
RVBRA IN LAPIDE HIEMIBVSQVE AC MEO IN METALLICO FEVDO
QVIA SICVT AVTEM ALTAS INTRA HASTLVDII MEI FLAMMAS
SCORPIONIS FERRVM ILLVSTRAT SIGNVM AC ARGENTVM LVNAM
ITA FEODALIS MAXIME OVERMAN MEO IN CLYPEO SIVE SPECVLO
ILLVSTRATVR ILLE VIR FEODALE EXTRAMVNDANVS HIC FVLMINE
ET SIC SECVRIS ILLVSTRATIVA ERIT MAGNÆ EX IGNE VLTIONIS
MEO HIC IN CASTELLO MVLTARVM SANGVINE OBSIDIONVM RVBRO

FEODALIS IMAGO HOC EX SPECVLO DVELLI MEA

SIVE

ΔEYPO TO ΔE EMON EIΔΩΛON AYΘIΣ
ΠYΡΦOΡΩ ΚAΤΟΠΤΡΩ KAI EN TH ΜAΧΗ

AC FEODALE MEO SI OVERMAN FVLMINE HOC IN DVELLO

FEODALES CVM FERRO HIC MEÆ SANGVINEO TERRÆ

ALTE EX IGNE NVNC ET IRA CVM RVBRA CANO IN SPECVLO CHALYBE MEA

FEODALIS SIT MAXIME OVERMAN AC SANGVINE HVIVS CÆRVLEO IGNIS

MEO IN HASTLVDII HOC CHALYBE SPECVLO FVLMINE DIGNVS

AC FEODALEM CVM PLAGAM HASTA IMAGINIS THORACATÆ ACCIPIEBAM MEÆ

PRIMORDIALIS EX FVLMINE CONDITIO OVERMAN ET IGNEM FERENS RVBRVM

EX FEODALE CVM IRA MEA NECNON FLAMMA HIC RVBRA

FEVDI NIHILO SECVS HIC TONITRVO CVM VOCE MEI

DE FEVDO FVLMINIS IN FIDE RVBRIS MEO

FEODALE HIC MEA VEHEMENTER FORTITVDO OVERMAN HOC NOMINE ALTA FVLMINE

DE FEVDO MEO HOSTIVM MEORVM ET MEA CVM SPATHA PROFVNDE RVBRO IN SANGVINE TINCTO

FEDODORVM FVLMINE RECVRSVS POTENTIÆ HIC MEORVM AD SIDERA ALTO

FEODALIS OBSCVRATA MEA CVM VMBRA HOC FVLMINE PROFVNDA NOCTIS REFVLGENS LVNA

AD FEVDIS LONGE CVM MANSIT VINDEX OBSCVRVS OCCVLTVSQVE DIRECTVS ET FEODALI SOLI

ET FEODALE ARIETIS HOC SIGNO SATVRNO CVM PLANETA SPLENDENDO

FEVDO AC PROFVNDE RVRBA NE ÆRVGONE CVM SECVRIS SED SANGVINE MEO

ET FEVDA CVM MEA HOSTES SINE TRIVMPHO ADORIVNTVR MEI

FEODALE OVERMAN EX SPECVLO CHALIBE ILLE DOMINVS VLTORQVE HIC MEO IN DVELLO

FEODALEM IN VVLNERE SIVE VLYSSEI SANGVINEO TENEBIT LAMINAM

QVA RE

FVLMINE MEO RECVRSVS POTENTIÆ

EX FEVDO MEO AC HASTILVDII INDE FVLMINE RVBRO

GRÆCA HIC CVM VOCE SIVE FVLMINE SPATHAQVE ALTA

ΠANTH KAI ΠANTAXOY KATOΠTPΩ THΣ AΣΠIΔOΣ

EΞ TOY ΠYPOΣ TO EMON EIΔΩΛON O OVERMAN

ΩΣ ΠPOΣ TON ΔE TITANA H ΠΕPIOXH EΣTIN

ΠPOOΔOΣ KAI ΔE KAI ΓONIMOΣ ΣTAΣIΣ ΩΔE

QVA RE DENVO

THΔE O ΔE ΑIΟΛΟΒΡOΝΤΗΣ ΒΑΣΙΛΕYΣ OY

EΠI TΩ ΘPONΩ TΩN ΔE AΣTEPOΠΩN NYN

OY TO KRATOΣ KAI H BIA TOY ΔE PYROΣ

QVA RE MEO FVLMINE EX HASTILVDIO DENVM

NEMO VIR EST VIR NOMINE HOC ALTO

DONEC SPATHA SCVTOQVE CEPERIT AC PERCVSSERIT MVLTA

SIC RVBRO OVERMAN DIXIT MIHI SIVE TO EMON EIΔΩΛON FVLMINE

FEODALE CHALIBE HIC IN SPECVLO ET IGNEO HOC CVM SIGILLO

QVA RE DENVO

HASTILVDII CÆRVLEO HOC CVM IGNE DEMVM MEI

OVERMAN REX HIC SPECVLO SIVE PVGNÆ SCVTO SPATHAQVE MEÆ ILLE

ET SIT QVOD EST IN SE EX OVERMAN REGE FVLMINE

MEA DEINDE IN SPECVLO SVA METALLICA MANVS OMNIPOTENS SPATHA

QVA RE DENVO

MEO HIC CVM SCVTO SIVE CLARISSIMO FVLMINE CHALIBEQVE DVELLI SPECVLO MEI

VBI EST IMAGO FEODALE FVLMINE MEA HOC IN DVELLO CVM PVGNAE ROSA

STAT FEODALIS OVERMAN TO ΔE EIΔΩΛON GRÆCO CVM NOMINE MEO HIC EX FEVDO

ET CVM MVLIER FORMOSA SOLE AMICTA HOC LOCO HILDEGARDA NOMINE MEA

AC INTRA FLAMMAS SENSVALIS PRÆSENS ILLA DENVO HOC LOCO PHVLCHERRIMA ALTAS

FEODALE ANTE CARNALEM NOSTRAM CONIVCTIONEM ANTE LVCIS ADVENTVM IGNE SACRO

DEINDE FVLMINE OVERMAN DENVO NOMINE MEO

FEVDA CVM MEA AC IGNEA CVM MEA MAXIME SECVRE EGO

COMES IV DE ARMANHAC ET DVX DE MONFORTZ ARMATIS ADORIVNTVR EQVIS

FEODALIVM SPATHA RVBRA CVM SANGVINE QVA RE HOSTIVM MEA

AD FEVDI SIDERA MEI POTENTIA SECVREQVE

ESSE SIVE POTENTIA EST OVERMAN

ET CVM EGO SPATHÆ MEÆ FVLMINE HOSTES MEOS

SICVT FEODALE ALTAQVE IRA CVM MEA

GERALDVS DE PLASAC ET WILLELMVS DE ARTENSA CVM GIDEON DEGLEMIS SCOTVS

ET PETRVS DE COLSORN ET GERALDVS DE JORNAC

AC MARTIS ÆNOBARDVS TREVIRENSIS COMES RAPAX IMPLACABILISQVE

GENTES QVI MAGNAM IN EAMDEM ACCEDEBANT INFAMIAM

ET GAVBERTVS DE MARTEL ET PETRVS GVIDONIS DE AVTAFORT ÆQVALITER

IRA CVM MEA METALLICO EX FEVDO

ET PETRVS DE ESPARTINAC CVM RAMNALDVS MALMIROS ET GOFERIVS DE VIGENOR

AC DEMVM BERTRANDVS ET AVDEBERTVS COMITES FEODALE IN TERRA

EGO SPATHA SCVTOQVE IN FVLMINE CVM DICO ALIQVID HOC DVELLO ADIBAM

EST OVERMAN REX QVI VERE DICITVR IN SPECVLO MAXIME VLTOR

RVBRA DRACONIS SEPTEM CAPITIBVS HAC IN SPIRALE ILLE CAVDA

FEODALIS VIDEX QVI MAGNAM HISTORIÆ DONAVIT POTENTIAM HOC SCVTO SIVE METALLICO SPECVLO

FEVDORVM EX IRA MEORVM CVM FEODALE HAC VISIONE MEA HIC FVLMINE MAXIME DISTINCTA

FEODALEM APVD CASTELLVM DE RIBEIRAC HOC TEMPORE IN MANV PRIORIS ARCHAMBAVDI INDIGNA

FEODALE MEA CVM SPATHA VEXILLAQVE FEVDI HIC MEI EX FVLMINE CRVORE RVBRA

FEODALIS METALLICVS DEINDE EGO AMICTVS AC RELVCENS CHALIBE HOC RVBRA IN SANGVINE PVGNA

FEODALE MEMORIA SPATHAQVE CONTRA HIC REMINISCOR

GERALDVS DE SALIS ET AVDEBERTVS DE BIGORRHA DECANVS NOMINE GRIFAGNVS HIC INDIGNE

ET GVIDVS DE MONTAGNAC MARTINAS SIMVL VLGERIVS DE VRGEL ABBAS INFAMIÆ ILLE CVSTOS

ET ARCHAMBAVDVS DE TRAHINAC ET AMLARDVS VICECOMES DE CONBORN ANNO MCLXXVIII

AC DENVO EGO WISIGOTHORVM GENERE SECVRE MEA REMINISCOR

FEVDI HOC IN DVELLO EGO ARMATVS DEMVM MEI CONTRA ITERIVS DE WARO

EST SPECVLVM CORPVS FVLMINE DIAPHANVM AD RECIPIENDVM DISPOSITVM PERSONAM OVERMAN NOMINE MEAM

EX CHALIBE EI RAPRÆSENTATAM HOC CVM MEO EXTRAMVNDANO CRVORE AC RVBRO IN FEVDO

FEODALE MEA HAC SPATHA VBI HELIAS DE AIENNO ET GERALDVS ET GAVFRIDVS DE TELLOL

PARCITE HOSTES MEI NVNC PROCEDERE HOC MEO MINIMVM IN DVELLO

FEVDA DE SICARDVS RASA CVM RAIMVNDVS DE AVINHO ILLIC TONITRVO VICI ET GOLFERIVS DE LA TOR

FEODALIS EST OVERMAN DENVO FVLMINE IMAGO SIVE TO EIΔΩΛON RVBRO

SECVNDVM ESSE AC SECVNDVM RATIONEM MEA HIC METALLICA

ET IGNIS ACTVS DEMVM INTER OMNIA ILLE VINDEX PERFECTISSIMVS

FEVDORVM ATQVE EX IGNE MEORVM ALTO

QVOD VERVM SICVT OVERMAN EST FVLMINE
SEMEL EST FVLMINE SEMPER VERVM

AC VTRVM POSSIT SEMPER TONITRVO OMNE QVOD HOC IN TONITRVO POSSIT ILLE VLTOR

FEVDORVM ATQVE EX IGNE MEORVM ALTO

QVIDEM PRIMVS STATVS AD OVERMAN ASCRIBITVR
AD ESSE SICVT POTENTIÆ ESSE SECVNDVS

ET TERTIVS MVTATIONI IN POTENTIA INCREMENTO TOTALITER MEO EX SPECVLO DVELLO

QVA RE EX FEVDO MEA MAXIMA IRA MEO

SIT PER OVERMAN FEODALEM VLTOREM FORMA
EX IGNE HAC VINDICTAQVE MAXIME LIVIDA

EX FEDVDORVM ATQVE IRA MEORVM

MVTATIO SIVE REVOLVTIO SIVE POTENTIÆ INCREMENTVM AD INFINITVM IGNEVM

FEODALE CVM FVLMINE EST OVERMAN

QVA RE DENVO

FEODALE CVM MODO VOCEQVE DENVO

OVERMAN EST MAXIME OVERMAN

SIVE

FEVDIS VERVS VIR EXTRAMVNDANVS AC VNICVS REX VINDEXQVE SVPREMVS

FEODALE SICVT MEO FROFVNDE HIC EX IGNE ADHVC

AC FEODALE HIC STAT AC VINCIT IN PERSONA OVERMAN NOMINE

FEODALIS SPATHA HARMONICA POTENTIÆ ET FORTITVDINIS TRIAS MEA

FEODALES SIVE FACTA AC CONCEPTIO AC PRINCIPIVM MAXIME IGNEVM

EX FEVDO REVOLVVNT HISTORIÆ CVM ÆTATES ET TEMPORA

DE FEVDIS SIVE IN POTENTIÆ RECVRSV DRACONIS RVBRIS IGNE SPIRÆ

FEVDORVM EX FVLMINE O ΔE ΟYΡΟΒOΡΟΣ HIC HASTA SCVTOQVE MEO

SIVE MEO DE FEVDO

FEODALEM SERPENS QVI SVAM DEVORAT SINE FINE CAVDAM

AC CVM FEODALE HIC EX MEO SIGILLO VOCE SEPTIMA IGNEO LIBRI

FEODALIS MEI ANNO MCLXXXVII SANGVINIS ALTI

ET FELIX HIC MAXIME VICTOR FVLMEN RECVRSV MEVS

SIVE MERIDIE HASTILVDII ALTO HAC CVM MEA HORA

IN TEMPLO SPATHA DICO VOS HOSTES MEIS ALBO

HVIVS EX FVLMINE HASTILVDII AC MEO HOC IN SPECVLO

FEODALEM SPATHAM CVM DESTRINGO MEAM HOSTIVM HIC SANGVINE RVBRAM

EX SPECVLO OCCVLTI FVLMINE MANIFESTATIO SIVE ΦAINEIN AC KPYΦIΩΣ OVERMAN

SIVE REMOTA AB OCCVLTIS ERVMPIT ILLE TONITRVS NATVRA AC TO ΦAΣΜΑ SVIS

FEODALE HIC FVLMINE AC HASTA MEA SCVTOQVE

SEPTEM CAPITIBVS APPAREAT DRACO

SIVE

FEODALIS O ΔE ΔΡAΚΩΝ APOCALYPSEOS RVBER

DE FEVDIS ALTE MEIS AC MEÆ HAC IGNEA CVM PROPHETIA TONITRVOQVE VLTIONIS

RVBRVM IN CERTAMINE RIVELATVR OVERMAN NOMINE SIGNVM

FEODALES ÆQVO CVM ADORIOR BELLATORES IN MEMORIA AC VVLNERIBVS

SPATHA SCVTOQVE IN OVERMAN SVPREMA ESSENTIA

FEVDORVM HOC IN TEMPORE HASTILVDII ALTO

STAT METALLICA MEA FVLMINIS PERSONA IGNEA CERTAMINIS ROSA

FEODALIBVS HIS SPATHIS INTRA PVGNÆ FORMAM AC CÆDIS

FEVDALEM SCVTO TO EIΔΩΛON POLITISSIMO CHALIBE CONSPICOR ILLEM RECVRRENTEM

VIDICEM ILLEM SIVE IMAGIMEM MEAM HOC IN HASTILVIDIO HIC METALLICAM

EX FEVDO MEO GRÆCO CVM NOMINE METALLICO AC MEA CVM HASTA

KEPAYNOΣ EI Ω OVERMAN

AΛHΘΩΣ TO ΠYP TΩN ΔE TITANΩN

KEPAYNOΣ EI Ω OVERMAN

O ΠYPΩ TA ONTA ΣYΣTHΣAMENOΣ

KEPAYNOΣ EI Ω OVERMAN

OY TO ΠYP TEΛEITAI IΔIAIΣ ΔYNAMEΣI

KEPAYNOΣ EI Ω OVERMAN

TO ΔE ΠΡΩΤΟΝ ΚΙΝΟYΝ THΣ IΣTOPIAΣ

KEPAYNOΣ EI Ω OVERMAN

O ΔE IΣXYPOTEPOΣ ΠAΣHΣ ΔYNAMEΩΣ

KEPAYNOΣ EI Ω OVERMAN

O KPEITTΩN TΩN ΔE KEPAYNΩN

KAI TΩN EΠAINΩN ΩΣAYTΩΣ

KEPAYNOΣ EI Ω OVERMAN

H HΛIΩ ΛΑΜΠΡA KAI ΦΑΕΙΝH AΣΠIΣ

QVIA

DE FEVDO AC SVB HOC TEMPORE SEPTIMO CVM WANDALIS NOMINE GENTIBVS

DESTRVCTIO OCCASVS EST OVERMAN FVLMINE

FEODALIS HOC IN SCVTO SIVE DVELLI SPECVLO MEI

ATQVE

FEODALIVM TERRARVM HIC NOMINE AC INTERCESSIO MEA EX FVLMINIS SIGNO RVBRIS

SVPREMVS INDE RECVRRENS POTENTIÆ INCREMENTO OVERMAN VINDEX

REX SIVE AΝΑΞ HOC IN HASTILVDIO GRÆCO CVM APOFTHEGMA MEO

FEODALI MEIS HIC FERRO AC HASTA VINDICTÆ

EX IGNEO MEO HASTILVDIO PLANETA MARTIS HIC NOMINE RVBRO

FEODALIS OVERMAN SIVE METALLICVS MEA HASTA SCVTOQVE IMAGO IN SPECVLO

VINDEX ILLE DEORVM HABET IN SE IGNEAM CVM FVLMINE NATVRAM SVPREMVS

QVA RE DENVO

FEODALE FVLMINE HAC TERRA IGNEA EX SOLE NIHILO SECVS FEODORVM METALLICO

SIC MEO DEFINITVR OVERMAN SPECVLO ILLE VINDEX QVI MAIOR EST QVAM SVBSTANTIA VIRI MAGNVS

FEVDI MEI IRA MAXIME NVNC ALTA ET SANGVINE MEO CÆRVLEO SEMPER

AC CASTELLO MEO CVM VEXILLA VENTIS RVBRA HIC HIEMIS

TALIS COMPOSITIONIS STAT SPECVLVM NOMINE QVALIS EX CHALIBE MEVS MIHI OVERMAN VINDEX

EX FEVDO QVA RE DEMVM MEO

FEODORVM FVLMINE MEORVM AC CASTELLI MEI RVBRA VEXILLA DENVO

FEODALE MEA CVM VOCE DENVO VOS MEIS SPATHA HOSTES IPSA

AC DE FEVDO HIC MALEDICTIONE VENTIS HOC TONITRVO MEI MAXIME ALTA

MAXIMA RATIO FVLMINE AC ACVMEN MVTATIONE MEVM

BERSERKR SVÁ GYLÐIR ÞAR MEÐR ATGANGA JAFN-SNIMMA

SIVE PLENILVNIO LVPVS

FEODALIS CVM SPECVLVM VINCIT SIVE CHALIBE POLITISSIMO DVELLI SCVTVM MEI

AC IGNEO SANGVINE CVM MEO HIC VVLNEREQVE FEODALE HOC DVELLO

PVRISSIMVS EST OVERMAN ALTO IN NATVRIS SVIVS FVLMINE AC RVBRO

FEVDA MEA CVM THOR DEVS SECVRE MALLEOQVE LAVDAT PROFVNDE ILLE FLAVVS

IMMIXTVS STAT ILLE NONNVLLIS ACCIDENTIBVS SINE ELEMENTALI MATERIA VLTOR SVPREMVS

FEODALIBVS VEXILLIS REGIS CVM PRODEVNT FVLMINIS OVERMAN NOMINE

STAT MAXIME FVLMINE CORPORALITER AC MAXIMA MEA CVM IGNEA NATVRA HOC SPECVLO PVGNÆ

FEODALIS MEVS CVM TRIVMPHVS EX IGNE AGIT PROFVNDO SANGVINIS MEI

AC NEC MIRERIS DE HOC HOSTES MEIS SPATHA RVBRA MEA VEXILLAQVE ET DRACONIS

MAGIS CERTE QVAM ALTERIVS HOC LOCO SANGVINIS ELEMENTI

FEODALIBVS EX MEO CASTELLO DENVO SANGVINE VOSTRO CVM TVRRIS TINCTO

QVA RE DENVO

FEODALE CVM VOCE EX CIVITATE VBI DRACONES SVNT ET SEPTEM TRIONES THVLE HIC NOMINE

FEODALIS NEMO ME HOC LOCO LACESSIT PROCVL IMPVNE SPATHA

AC FEODALIVM SECVRE SIVE FVLMINE TERRARVM SANGVINE TINCTARVM EX MEA VINDICTA VOSTRO

NVNC PRODIT DRACONIS MEVS A SEPTEMPTRIONE RVBRIS ORDO

FEVDIS MEIS CVM RVBER BELLI FVLMEN AC RECVRSVS DONABANT POTENTIÆ LAVDES

FEODALIS ERGO OVERMAN HABET IN SE FVLMINIS NATVRAM EX SPECVLO PVGNÆ

FEODALE RECVRSVS MEA FVLMINE ET VIRTVTE ALTA SIVE IRA

FEODALE HIC IN SPECVLO SIVE DVELLI SCVTO CHALIBE MEI FVLMINE POLITISSIMO EX FVLMINE

TΩ ΔE EIΔΩΛΩ ENTAYΘA

EX FEVDO MEO DENVO GRÆCO ET RVBRA HAC IN LAPIDE IGNE INSCRIPTA

FEODALE NECNON HIC ET NVNC SAPIENTIA CVM VOCE LAVDIS

INTRA HASTILVDII MEI ANTIQVO CVM NOBILI NOMINE FLAMMAS AC MEA CASTRA

NVNC PONO TALIS COMPOSITIONIS SPECVLVM FIERI ET FORMÆ POLITISSIMO FERRO MARTIS PLANETÆ

QVOD TOTA COMBVSTIBILIS FIAT IGNEA VNA LVX ITA QVOD FEODALE MODO

APPOSITVM CASTELLI VEL OPPIDI VEL CIVITATE ALIQVA SINE FINE OPPOSITVM COMBVRAT EVM

FEODALE MODO SIC OVERMAN DIXIT MIHI HOC DVELLI SPECVLO MEA SPATHAQVE

SIVE TO ΕIΔΩΛΟΝ PROFVNDE EX IGNE FLAMMAQVE ILLE MEVS

FEVDORVM MEORVM HAC DEMVM CVM VOCE FVLMINE GRÆCORVM MAXIME PROFVNDA

AEI H ΜHΝΙΣ ΤΩΝ ΔE ΘΕΩΝ O ΔE OVERMAN EΣTIN

THΣ ΔE ΠOΛEΩΣ TΩN IΕΡAΚΩΝ OY O ΤΙΜΩΡOΣ

AYΘIΣ KAI ΔE ΩΣTE IΕΡAΚΩΝ ΠOΛIΣ

FEVDA HIC PRODEVNT RVBRA EX VEXILLA MEA BELLI ALTAQVE VENTO MALEDICTIONIS MEÆ ALTO

IN QVO FEODORVM FVLMINE MEORVM

FEODALE SANGVNIS SIGNO MEI HOC IGNE DVELLI RVBRO

VIRTVTES CONVERTVNTVR ELEMENTORVM AD FINEM

QVI STAT OVERMAN NOMINE IN INCREMENTO SIVE EX FLAMMIS POTENTIÆ RECVRSV

FEVDI MEI SIVE CASTELLI LAPIDE MAGNA AC MVLTIS OBSIDIONIBVS RVBRA

SICVT ATRAHENDVM EST ADAMANTE FERRVM SICVT AD OVERMAN POTENTIA DENVO IN INCREMENTO

FEVDO AC SCVTO CHALIBE DENVO POLITISSIMO SIVE SPECVLO HAC IN PVGNA MEO

VBI OVERMAN REX MIHI APPAREAT SIVE IMAGO TOTALITER SVPREMVS MEA

STAT MAIORITAS IN OVERMAN EX FVLMINE ALTORIVM RESPECTV ETIVM MAGNA

FEVDORVM ALTA MEA CVM CONCORDIA VEXILLAQVE DENVM

FEODALE MEA HIC SPATHA CVM POLITISSIMO CHALIBE MEÆ PVGNÆ HIC SCVTO

AC FEODALIS CVM SEPTIMA QVOQVE MEA HORA APOCALYPSEOS RVBRÆ ALTA

IDCIRCO H OYΣIA SIVE ESSENTIA TONITRVO OVERMAN EST FVLMINE

EXTRAMVNDANVS VIR ILLE CAVSA QVÆ MAXIME ESSE DEDIT VNICVS

ILLE REX H OYΣIΩΣIΣ FVLMINE NOMINE MEO HOC IN HASTILVDIO

NECNON YΦIΣTAΣΘAI VINDEX ILLE IN HASTILVDII SPECVLO MEI METALLICVS

QVA RE

VT IAM EX FVLMINE VOCIS FEODALE DIXI

EST OVERMAN FVLMINIS SVBSTANTIA MEA A QVO ESSE OMNIVM PROFICISCITVR

FEODALE CVM VOCE NECNON ALTA VENTO MEA HIC VEXILLAQVE

ET SIT MEA TRANSMVTATIO AD OVERMAN POLITISSIMO CHALIBE SCVTO SIVE SPECVLO CÆRVLEA

FEODALE OCCVLTO PLANETA CHALIBE POLITISSIMO NECNON EX FVLMINE

QVIA FEVDALE MEO CVM SANGVINE INSVPER

FEVDORVM VLTIO AC VEXILLA CASTELLI SVPER TVRRES DRACONE MEI RVBRA

PVGNÆ PVLCRITVDO IGNE NOCTIS OBSCVRÆ

VBI PARTA MEÆ SPATHAE SVNT MAXIME MVNERA

FEVDVM CVM MEVM HOSTES NON OCCVPANT MEI ARMIS

FEODALIS IVSTITIA SIVE OVERMAN

AC EX FEVDO IGNEO MEO

FEODALIS PRVDENTIA SIVE OVERMAN

AC EX FEVDO IGNEO MEO

FEODALIS FORTITVDO SIVE OVERMAN

AC EX FEVDO IGNEO MEO

FEODALIS TEMPERANTIA SIVE OVERMAN

AC EX FEVDO IGNEO MEO

FEODALIS FIDES MAXIMA IN OVERMAN SIVE POTENTIA

AC EX FEVDO IGNEO MEO

FEODALIS SPES SIVE HAVD SPES

SED FEODALIS VOLVNTAS RVBRA POTENTIÆ

AD OVERMAN IGNE CVM ANTIQVO SEMPER DIRECTA

AC EX FEVDO IGNEO MEO

FEODALIS PRINCIPIVM IN FVLMINE OVERMAN NOMINE EX CHALYBE

AC EX FEVDO IGNEO MEO

FEODALIS FINIS SIVE FEODORVM VINDICTA RVBRORVM

AC FVLMINE DEMVM EX MEO FEVDO IGNEA MEA SPATHAQVE

FEODALE MEO EQVO MAXIME ARMATO CVM HASTA BAIART NOMINE ALBOQVE

STAT OVERMAN PROFVNDE

COMPOSITVS ILLE RVBRO AC TERRÆ FVLMINE SIVE VINDEX IMMORTALIS ET REX

DE FEVDO METALLICA EX ANIMA CORPOREQVE HOC PVGNÆ SPECVLO SIVE SCVTO

FEVDI MAXIMA EX VLTIONE ET GOTHORVM ET QVADORVM ET LANGOBARDORVM MEI

DICVNTVR HIC OVERMAN ET VALIDVS VIR SANGVINE

A MATERIA AC MAGNITVDINE SEPARATI POTENTIÆ

ET DVPLEX SIT NVNC IMAGO OVERMAN NOMINE MEA RVBRO IGNEQVE

FEODALE HIC ETIAM GRÆCA CVM VOCE AD SIDERA FVLMINE DIRECTA

TO EMON EIΔΩΛON KAI ΔE TO EMON ΕIΔΟΣ

ENTAYΘA ΣYN TΩ ΔE EΓXEIPIΔIΩ

KATOΠTPΩ KAI ΔE ΚΕΡΑΥΝΩ TΩN ΘΕΩN

AΔEΩΣ O ΔE OVERMAN AΝΑΞ

ET FEVDVM RESVRGIT NVNC MEVM HOC SANGVINIS LOCO MIHI VNICVM SPATHA

QVOAD

MAGNA CVM IRA EX FEVDIS DE MONTSEGVR MEIS CATHARORVM HIC NOMINE

FEODALE MEO IN HASTILVDIO ET PROFVNDE PRÆTERA

STAT FINIS ID FVLIMINE CERTEQVE

IN QVO EX OVERMAN

FODALEM AD NOCTEM REGE ILLE VINDICE MEO HOC IN SPECVLO

ET CVM SOLE FEVDI MEI AC MEA HIC CAREVLEA CVM DVELLI HASTA

PRINCIPIVM MAGNVM FVLMINE FEODALE CVM DENVO NOMINE

MAXIME NON QVIESCIT

POTENTIÆ MEO HIC ET NVNC RECVRSV IN FEODALE ATQVE VNIVERSALE

AC FEODALIS MAIORITAS SIVE POTENTIÆ VOLVNTAS ATQVE RECVRSVS AD OVERMAN FVLMINE

EX FEODO MEO MVLTIS CVM OBSIDIONIBVS NOCTIS FVLMINE MEÆ RVBRO

NON POSSIT QVOVIS MODO SINE OVERMAN EXISTERE SVBSTANTIA

FEVDALE HOC IN LOCO AC HAC SAXOSA IN INSCRIPTIONE ITERVM

NVNC AD SIDERA ALTA CVM FLAMMA AC TONITRVO MEA IPSA VOX

MANABAT CHALIBIS PLANETA MEVS OCCVLTAM POTENTIAM ILLIC OCCVLTVS

FEODALIS ATQVE DENVO FVLMINIS GRÆCORVM VOCE IPSIVS

AC RVBRO MAXIME HOC METALLICO MEO IN HASTILVDIO

ΩΣ EΦHN EΓENETO OYN

OΛΩΣ ΔIA THN ΔE EMHN ΜΟΝΟΜΑΧIAN

EΞ TOY ΔE KEPAYNOY EΚΕI ΚAΤΩ EN CKYΘIAI

TO ΔE ΣYΜΒΟΛΟΝ THΣ EMHΣ TIMΩPIAΣ
ΔIA THEΣ BAPEIAΣ ΦΩΝHΣ TOY ΔE ΠYPOΣ
ΔEYPO EMH ΦΩΝH O ΔE OVERMAN AΝAΞ EΣTIN
EN TΩ ΔE KYANEΩ BAΘEI Ω HΔIΣTH ΔYNAMIΣ

FEVDI MEI HIC CONCORDIA AC DENVO HOC IN HASTILVDIO

FVLMINE ΔIA TO EIΔΩΛON AVT OVERMAN AVT NIHIL PVGNÆ ALTVM

FEODALE DVELLI CÆRVLEO IN SCVTO CHALIBE POLITISSIMO SIVE SPECVLO SANGVINE MEO

QVA RE CVM FEODALE MEA IRA DEMVM

FEODALIS OVERMAN NVNC PRODIT HASTILVDII EX FVLMINE MEI CVM IGNEA ROSA

MEA DEINDE CVM SECVRE HIC INCISA INSCRIPTIONE LAPIDE GERMANICA DVELLI

NU DÆGEHWELC SWĀ HÆÐA BEÐEÞ BRYNEWELMUM,

QVA RE

FEODALE CVM ARGENTEO DE AQVINO CALICE AMARIORE SVPRA FLAMMAS REGIONIS

VBI RICARDVS IPSE DVX AC GAVCERAN DVRTZ HOC IN FEODALE TEMPORE MEO SIMVL

OBSCVRAS EX IGNE FEODALES DONAVERANT FALCONIS MIHI VEXILLAS

QVA RE DE FEVDO MEO

ET SANGVINE SIVE SEPTEM CAPITIBVS NECTAR DRACONI

FEODALE RVBRÆ EX IGNE DENVO NOMINE APOCALYPSEOS ARMIS CONCORDIAQVE

FEVDORVM CVM ALTA DENVO ARMA TERGO HIC MEORVM

FEVDA CVM SANGVINE PROFVNDE VBI LVCENT HAC DEMVM TERRA IGNEO MEA

H ΔE EMH ΚΥΛΙΞ ΔIA THN EΠIΦANEIAN

KAI ΔE KAI ΦΩNH AΛHΘΩΣ

G. R. A. I. L.

SIVE FEODALE FVLMINE AC FEVDIS CVM MEIS CÆRVLEO

GRATE REX AQVITANIÆ IGNE LIBER

SIVE

EX FEVDO CVM FOEDERE SACRALIS IGNIS MEO

FEODALE IN POTENTÆ RECVRSCV SIVE FVLMINE ANVLO

MEO IN SPECVLO SANGVINE CHALIBE POLITISSIMO SIVE SCVTO ET FEVDI

AC DENVO FEODALE CVM ANAGRAMMATE HIC EX IGNE ALTO

V. X. D.

SIVE EX FEVDO MEO

FEODALIVM ET SANGVINE PROFVNDE HOSTIVM TINCTO MEORVM

VINDEX XYSTO DÆMON

SIVE EX FEVDO MEO AC EX FLAMMAS FEVDI ALTAS MEI CVM IGNE ALTO RVBRAS

AC FEODALE ALTA SANGVINE CVM VOCE ET GRÆCORVM

O ΔE OVERMAN

TO EMON ΔAIMΩN AEI

FVLMINE AC SPECVLO SIVE TΩ EIΔΩΛΩ

SIVE EX FEVDO DENVM MEO

ET FEODALE CVM VOCE HIC GERMANICA

AB MEO EX FVLMINE FEVDO PROXIMA MAXIME

ŌFER-MANNES GECWED

QVIA

FEVDORVM CVM DENVO MEORVM IRA

REDDE MIHI POTENTIAM SPATHA OVERMAN NOMINE AC RENOVATIONEM SANGVINIS FVLMINE

FEODALIS VBI VOX IPSA SCVTO RESVRGIT ALTA IMPERIALIS AQVILÆ FVLMINE EX THVLE

FEVDO INSVPER MEO VEXILLA GERMANICO CVM PRODEVNT SAXONES QVADIQVE GENTES

FEODALE DENVM MEA VENTIS VOX A SEPTENTRIONE ATQVE EX FEVDO MEO ALTA

HWÆR NIHTES SWĀ WITODLIC ANDSWARODE WRÆCEND-WILDĒOR!

ÞÆR SĊĒAWERE WÆS HĒAH-EALD BEALDE SWĀ MĪN DREOR,

HWÆR ON WANRE NIHT ÁSCÍNEÞ SWĀ ŌFER-MANNES GÚÐWÉRIG HLĒOR!

ÞÆR UNDER HERE-GRĪMAN SWĀ ANDSWARODE NORÐAN-HREÓH,

HWÆR DÆGSCIELDE ÆÐELCUND ŌFER-MANN OFERCYMÞ, SWĀ ĪSERN-FEORH!

ÞÆR HEAÐUFÝRUM GIET BÆLÞRACUM ÆRNDE SWĀ MĪN RĒOD-EOH,

HWÆR BORDHREÓÐAN SWĀ NU MĪN LĪĠETU-WRECEND, SWIÞE SWĀ IC DRĒOH!

ÞÆR CWEALMCUMUM FÝRDRACUM ÆTĪEWDE SWĀ WUNDOR-BLĒOH,

HWÆR SWĀ SE ŌFER-MANNES RĒOD LĪEĠDRACA GIET ĀSÆĠDE ON HŌH!

EIΔΩΛΩ OVERMAN.
Set in A.D. 1187, and propounded in monumental characters, as engraved in the rock, this epic of mine in Classical Latin, Ancient Greek, Anglo-Saxon and Old Norse tells of a superhuman clash between two knights who are in fact the same person. The alliteration focuses on the roots "FEODAL-" and "FEVD-" indicating "feudal" and "feud", as repeated with different declensions. From one single mirror battle action, chief philosophical notions of mine thus surface, all centered on my notion of Overman, alongside various historical and metaphysical symbols, as the Grail itself (“G. R. A. I. L.”, as an anagram, with an added meaning). The title EIΔΩΛΩ OVERMAN reads "The Overman through the Image" ("EIΔΩΛΩ" instrumental dative of the neuter "TO EIΔΩΛON", "image", also "phantom", "spectre" and "wraith", depending on textual circumstances). My own Return of Power event is mentioned ("MVTATIO SIVE REVOLVTIO SIVE POTENTIÆ INCREMENTVM AD INFINITVM IGNEVM"). An influence can be noticed from the song of Bertran De Born († 1140-1215 ca.) "Bem Platz lo Gais Temps de Pascor".

TO EMON EIΔΩΛON KAI ΔE TO EMON ΕIΔΟΣ
ENTAYΘA ΣYN TΩ ΔE EΓXEIPIΔIΩ
KATOΠTPΩ KAI ΔE ΚΕΡΑΥΝΩ TΩN ΘΕΩN
AΔEΩΣ O ΔE OVERMAN AΝΑΞ

reads:

My own Image and my Demeanour,
Here, with the Dagger,
Through the Mirror, and the Thunderbolt of the Gods,
Boldly the Overman, the Ruler (“AΝΑΞ”, also “King”, Latin “DVX”).

while

NEMO VIR EST VIR NOMINE HOC ALTO
DONEC SPATHA SCVTOQVE CEPERIT AC PERCVSSERIT MVLTA

SIC RVBRO OVERMAN DIXIT MIHI SIVE TO EMON EIΔΩΛON FVLMINE

FEODALE CHALIBE HIC IN SPECVLO ET IGNEO HOC CVM SIGILLO

No Man ("VIR", also “Hero”) is a Man with a High Name called (worthy of this Name)
Until with the Sword and the Shield has received and given many Blows,
This, through the Red Thunderbolt, the Overman, as my own Wraith (Image), has told me
Here, into the Feudal Mirror of Steel, and with this Seal of Fire.
Wörziech Jul 2013
Vive de alternâncias imperceptíveis;
possui a maldição de viver momentos
somente para si inesquecíveis.

Quando se volta para o equilíbrio apolíneo,
percebe nele a maior incongruência,
uma limitação impraticável.

Vê-se desfocado de seus próprios pensamentos;
não julga, mas observa.
Tem medo.

Somente sente-se promissor ao som de seus poderosos companheiros,
que o auxiliam a destituir-se de seus próprios pesares.

Em sequência a isso, por um tamanho ardor é acometido
e tantos sentimentos que até ele vão para compor,
que sua existência e vida tornam-se intensas demais;
de tão pesadas e densas,
o levam ao caos,

a observar e esperar pelo surgimento de estrelas e brilho.
Rui Serra Apr 2014
Fim de tarde
um dia ido
A cascata do tempo não pára
desfile
lento desfile de uma vida apressada.
A noite cai lá fora
na mesa,
no meio da quieta agitação dos livros
a escuridão é ainda maior.
Silencioso
entrego-me ao “saber “
Respiro o desespero
Ambiciono parar o tempo
e partir
para lado algum
Deixo-me vaguear
por entre a escuridão
Cordas soltas de uma língua, sedenta de sabor de saliva,
Cordas das amarraras verdes, do barco que eu navego,
Os serões de cordas amordaçando, uma vida decisiva,
Perderam-se entre os ramos do futuro, que eu pego!

Vejo-te pegar nas cordas da minha vida, que me orientam,
Não és fútil ao pensar que elas não funcionem como marioneta,
Dás-me alento, e o teu toque equilibrado, meus ideais afinam,
O teu jeito de combinar os gestos, não são de uma paixoneta!

O calor do carinho que me dás, é transpiração de amor na cama,
O amor dos teus dias, são raios de vida, que regeneram meus desafios,
Uma palavra tua, um carinho teu, é como água que sacia minha fama,
O teu olhar atento, sob meus anseios, são como metais halogéneos!

És a corrosão para os ferrugentos jumentos, instalados em galhardia,
Cuidas-me do meu ser como do teu, e de minha vida, dando-lhe liberdade!
Contigo a transpiração do meu caminho, não me assusta nem me é fantasia,
É real, tu és bela e tornaste-me magnificamente de bem, com a verdade!

Sentir-te respirar confortavelmente, é o meu maior objectivo,
Verificar cuidadosamente cada poro teu e senti-lhe o cheiro a vida,
Conduzir os meus sonhos no teu carro da felicidade, é agressivo,
Metas são fins, nosso destino é conduzido por longa vida dividida!

E assim, revelo ao mundo, o teu nome, maravilhoso ser de mulher fatal,
O teu constante conforto, com que deliro, é agora muito e meu afinal!
Patrícia os meus sonhos e os teus, são agora o meu diário mundial!
Autor: António Benigno
Código de autor: 2013.08.03.02.14
Juliet R Apr 2015
Sinto a areia entre os meus dedos.
Sinto o cheiro do mar a invadir-me.
Sinto a calma que me transmitem as ondas.

Um dia na praia.
Um dia em que desaparecem os medos
Em que a paz me-os tenta dissuadir
Com as mais puras sensações.

Um dia em que me sinto eu
Sem dar explicação.

Durante os meus dias,
Este é o meu apogeu
O mais alto ponto
O maior clímax
Da felicidade que sinto.

Respiro toda a tranquilidade
Tento que esta fique em mim
E me faça rugir em prol de viver...

Que em vez da sobrevivência
Eu tenha que optar pela vivência
Optar pela respiração voluntária
E não apenas na involuntária por obrigação.

Basta querer.
Arranjar poder.
De me poder mover.
E repor vontades
E liberdades.

Respiração ofegante.
A nostalgia lembra o proibido.
A Saudade amassa e esbofeteia
O ilícito, o ilegal, o que não tem....
A permissão de ser lembrado
Para cá entrar e marca deixar.
hi da s Oct 2017
toda cheia de vontade de ser um outro formato cheio de glória e que insiste em viver apesar do ar quente e sufocante dos quartos. menina levanta. pega com a mão. te suja. respinga aquela tinta e prepara tua boca pra gritar. não espera sentada nessa cadeira velha de ferro com essa espuma que conforta teu peso. aprende a respirar: inspira e expira. é fácil, olha. alguns fazem parecer bem simples, só que não é e tais enganada. o jogo tem muito mais chão do que imaginas. querias, é claro, dominar o mundo desde que chegasses. não é bem assim. precisas escrever muitas páginas ainda. foram só algumas mil semanas. procuras um motivo não é mesmo? mas sempre escolhes o mais fácil: não, eu não preciso disso. a vida te venceu sem fazer muitos movimentos. te parece injusto esse processo? parabéns. descobrisse como é que funciona o sentido de acordar todos os dias. olhar os rostos, o peso dos narizes, as curvas das orelhas e a largura das cinturas. essa criatura percebe quando alguém chorou antes de dar bom dia. levantou e continua levantando diariamente sem horário pra levantar. a porta independente de aberta ou não, vai falar aquilo que queres saber. falo pra ti ainda tudo isso? não vale a pena tentar organizar a ***** cinzenta. ela desprovem de gavetas. segurar a cabeça pareceu uma boa ideia. foi só por alguns segundos. perdes a paciência pra certas coisas muito rápido. ficas nessa insistência de não sei o quê. primeiro olha pra dentro e não dificulta tudo. não entendes o alfabeto com números. escreves até sem pensar e te atentas em preencher os espaços em branco. tua obsessão exagerada por tudo que amas e veneras chega ao absurdo. és aficionada por ti mesma e sabes disso. que lindo se apaixonar pelo espelho. que lindo se apaixonar pelo espelho. todos os dias. essas manchas todas dentro de ti parecem não acabar nunca. não dá pra ser abstrata. ser diferente. ela insiste em querer falar bonito. tudo que ela queria era arrancar esse fluído embolorado que persistem em crescer dentro. não admite que precisa encerrar o assunto. quanto tempo já passou desde que tu descobriu tudo isso? para de ficar fingindo que não vês a enorme pedra encobrindo as passagens. ficas tão inquieta que acho que nunca dormisse de verdade. acordas cansada. mais ainda do que quando colocas a cabeça encostada no travesseiro. pensas que tais viva e vivendo, mas não tais sorrindo com a frequência que deverias. certas palavras são escritas com mais fúria do que outras. cansada de falar ela só olha pro chão e põe a cabeça pra imaginar, e vai tão longe que nem mesmo aqueles quinze metros de pernas não conseguiriam alcançar. é tão bom escrever sem pressão, né? já sei que vais querer parar a qualquer momento por que lidar com o medo te faz recuar. tens medo do que mesmo? tens vergonha? teu corpo tem curvas que só a luz, a pele, o osso e o tecido conhecem. curvas essas que não se parecem com teu sustento. percebe-se que são coisas muito difíceis de traduzir. será que em outra língua tua conseguirias? tenho dó. francamente: o que vai ser de ti daqui cinco anos? te assustasse agora? enche um copo de água gelada e prende a respiração. dá dois, três, quatro goles. querias era gritar junto com aquelas três ou quatro músicas que andas suportando ouvir. pequenas respirações que parecem vir a partir da metade. afinal já fazem dez anos. querias ser jovem pra sempre? pois saiba que não podes. sentes o pesa da alma? a carga da perda e a falta de controle cada vez maior. vai acumulando tudo isso pra tu ver até onde vai dar. só choras quando o assunto é tu mesma. a história dos outros é bateria pra tua solidão incompreensível. quando é que vais parar de escrever? será que vais ler isso amanha e querer jogar fora? chegar de pensar em como os átomos só seriam visíveis com olho mágico. chega. não pensa assim. não tem saída não. o controle não é um simples objeto. não compara a um relógio, por exemplo. achas que três páginas vão ser suficiente? precisas de mais o que pra entender que nada funciona do jeito que a gente quer. aquela menina pode parecer burra mas pode estar vivendo feliz. para de especular. olha só, ela virou poesia. termina de escrever o que queres pro teu coração pulsar mais calmo. vai devagar. tens outras coisas pra se importar. parece meio bobo eu sei. nunca dá pra confiar no que se escreve. a linguagem é uma coisa difícil. complicado. tanto a, e, i, o, u. que besteira tudo isso. te deu vontade de riscar tudo que foi escrito até aqui. boba. não é perda de tempo se expressar. querias ficar calma não é mesmo? te presenteio com tua mão esquerda que gasta essa tinta. formas as letras e tens as palavras. agora uma frase. um ponto. mais outro ponto, e agora outra vírgula. fiz certo? fecha a porta, diz a tua mãe. teu dia finalmente tá acabando. e o espaço pra escrever também. surgiu aquela dúvida que te martela todos os dias: quanto tempo eu tenho até que morra? coças o olho esquerdo. um cílio torto que te incomoda. tocando a ponta saliente da unha do mindinho. a do pé, não a da mão. sinal de ansiedade. tais quase desistindo, né? tudo bem, falta pouco. vais poder se sentir vitoriosa e aliviada. pensasse naquela boca. esquece. nunca mostra isso pra ninguém. promete. a ansiedade aumentou um pouco. os olhos piscam cada vez menos. concentra. vai valer a pena esse tempo perdido? ao menos tais guardando todas as lembranças boas de tempos sombrios. que linda a caneta em ação. ainda não acabei de expurgar. você também não.
sobre tudo que senti em três páginas datilografadas.
Samir Koosah Aug 2018
A noite chega, soturna, calada. Os remédios parecem não fazer efeito. Sozinho novamente com meus pensamentos, embalado pelo som do ventilador e das batidas do meu coração.
Nao sei porque ele insiste em bater, parece um esforço inútil.
As horas passam lentamente, como nos movimentos de uma duna. A areia do tempo descendo vagarosamente pela ampulheta. Se ao menos pudesse ver. Me sinto cego, queria eu estar cego?
Minha decepção só não é maior que a decepção que causei.
Não há lugar aqui senão neste papel para a dor, uma fraqueza que todos tentam esconder - por questão de sobrevivência provavelmente. Os amigos poucos que me restam seguem suas vidas enquanto tento ser feliz, ao menos por eles.
Saudade aqui toma outras formas, como uma tortura ao melhor estilo Stanley
Kubrick em “Laranja Mecânica”, em que as imagens passam repetidamente por minha cabeça sem que eu possa fazer absolutamente nada.
Família, amigos, amores, à distância de uma chamada, uma chamada. Para quem ligar, como?
O cárcere em sua pior faceta, o isolamento social. Conto nos dedos de uma mão as pessoas com quem consigo manter uma conversa. Mesmo assim nao consigo conversar, a cabeça e o coracao nao estao aqui, eles fugiram, estão lá fora, espero que a minha espera.
Outro cigarro, mais um café. Quantos mais, quantas mais palavras? A caneta e o papel são meus melhores amigos, às vezes até me entendem. Monólogos em horas, diálogos em outras.
Me pergunto qual seria o limite entre a sanidade e a demência aqui. Se é que existe um, estou eu ficando são ou louco?
Nao era quando cheguei, provavelmente foi o que me trouxe aqui, agora só me resta um caminho a seguir e tenho que achá-lo sozinho.
Não tenho arrependimentos, aqui não há lugar para eles, há agora um só caminho a seguir, em frente! Adiante!
Já são tantos desencontros
que não me encontro mais,
estou perdido sem você para me guiar

Quanto tempo a gente não se vê
Talvez falta de sorte
Ou talvez falte esforço de ambas as partes

E assim sendo, eu vou te buscar

Não sou triste nem feliz
Apenas vivo em um estado de
Homeostase constante
Talvez aja algo maior, mas sou frio
Demais para perceber

E cansado de não conseguir o que almejo
Sempre falando que vou me
Esforçar, mas nunca é bastante
Me sinto um perdedor são tempos difíceis
Não é preciso dizer que sonhei com você

E assim sendo, eu vou te buscar.

Eu sou agua, você fogo,
Eu sou garoa, você furacão
Eu sou calmaria, você  vulcão.
Serafeim Blazej Sep 2016
"What I'm doing"
lowest in the power
biggest in the fear

"O que eu estou fazendo"
menor no poder
maior no medo
Lua Apr 2019
Nas palavras da mulher que viveu em 1910
Os "anos 80" eram 1880
E suas reclamações da nova Rússia eram tão atuais quanto as nossas
Em meio a semi ditadura e intolerância política e religiosa
Eu, que quase achei que estávamos progredindo e crescendo
Esqueci que esse é o maior defeito dos seres humanos, o esquecimento
Esquecer que isso tudo já aconteceu
E vai acontecer de novo e de novo
Mesmo eu, assim, maldizendo.
Talvez uma ou outra coisa melhore
Como disse um conhecido certa vez
Mesmo que o mundo se afogue
No consumismo, e exploda de vez
Em puro esquecimento
Afinal, você não pensa?
Sim, sobre isso mesmo
Sobre o sentido de tudo isso
Em meio a minha juventude nunca entendi a complexidade desse pensamento
Hoje, perdida entre sentimentos, compreendo
Não é sobre o sentido da vida
Mas sim de tudo do mundo
Afinal o ser humano gosta de se ver como uma dádiva, uma criação
Mas não pára para pensar na simples ocasião
De ser fruto de um erro de equação
Expo 86' Oct 2015
Vai me demorar um pouco para me acostumar a viver
Para tentar pensar em esquecer
Para que essas feridas talvez comecem a cicatrizar
Para que o  tempo para de ruir
Para que passe essa necessidade de me esconder
Já sem laços que me predeem aqui
Já nem sei mais o porque estou nesse lugar
Só mais um dia, mais um cigarro, mais um segundo
Não para me preparar
Mas para o acaso me abrigar
Para que ele entregue um pouco de você a mim
Ou que um pouco de mim voe até você
E assim que vejo o quão distante tu é de mim
O desespero me faz pensar
Em preparar e apontar, algumas chegaram até em disparar
E apenas levar tudo  que é meu
Talvez seja muito melhor assim
Deveria deixar o tempo te acompanhar
Minha a falta da minha presença para ti talvez seja um favor
Mas para mim a tua é o meu maior pavor
Rui Serra Jan 2014
Com os olhos postos em ti, eu passo o dia,
sem que se cerrem por um segundo.
Ai, eu queria ser neste mundo,
meu amor, a tua maior alegria.

Mas meu amor, o que eu não sabia,
é que no teu coração, lá bem no fundo
existia por mim um amor profundo,
coisa bela, que em ti não via.

Surgiste-me à luz como uma flor
e desde então meu lindo amor
és a razão do meu viver.

E eu, não mais esquecerei
o louvado dia em que te encontrei
e atrás de ti fui a correr.
Eu te amo com todo meu coração, 
você simplesmente é uma benção.

Obrigada por tudo que você me deu
e que sempre me entendeu.

Obrigada por tudo que você me ensinou,
por tudo que você me mostrou.

Obrigada por sempre estar ao meu lado, 
e por nunca me deixar abandonado(a).

Obrigada pelo carinho e pela companhia neste caminho.

Obrigada por secar minhas lágrimas e depois de cada chorinho, 
deixar tudo de novo certinho.

Obrigada pelo seu amor que enche o meu coração de cor.

Obrigada por segurar a minha mão
e também cuidar do meu irmão.

Obrigada por me abraçar, me beijar e me cuidar.
Você me mostrou o que significa “amar”.

Obrigada pelas brigas.
Elas me disseram que apesar de tudo somos amigas.

Em dias nublados você precisou lutar,
mas depois da tempestade o sol sempre voltou a brilhar.

Obrigada pela sua coragem e seu esforço durante esta viagem.
Já notou que isso é uma homenagem?

Obrigada por ser você, por ser linda, maravilhosa, inteligente e forte
Tenho uma mãe fantástica e já nasci com sorte!

Dizem que não há amor maior do que o amor de uma mãe, e é verdade.
mas esqueceram que uma filha pelo amor da mãe cresce em paz, gratidão e liberdade.

Não existe pessoa que merece mais estas minhas palavras do que você.

Hoje sou uma mulher jovem, bonita e inteligente.
mas o que disso tudo eu seria sem você presente?
Pois tudo que eu sou, eu devo a você.

Obrigada mamãe.  

- gio, 13.05.2018
Mariana Seabra Mar 2022
Da menina que nasceu azul,

Conto-te esta breve história.



Sei que foi em dia de sol…

Até o céu

Se abriu no espaço,

Até ele

Se manchou de glória.



Por entre os sete mares

Se espalharam; Aí e  

Em todos os lugares,

Violentas ondas  

em sua memória.



Assim nasceu,

Tão alegre…

Uma bela tela…

Era o que ela  

Me parecia.

Com o seu cheiro  

A maresia,

Amarela e só de alma.



Assim cresceu,

Tão sonhadora…

Rodava o universo

Na sua palma.

E ao passar, todos lhe diziam

“Não vás!”.



Os desassossegados,

Esses faziam tudo aquilo que podiam

Porque sentimento fútil

Não a satisfaz.



Enjaulados,

Os homens tremiam!

Piores que loucos  

Repetiam

“Olha o diabo que a moça traz!”.



Mas ela nem ouvia…

Sonhava, e não caía;

Voava; pela sua própria asa.



Como o verde, florescia

Uma flor dentro de mim.

E assim ela crescia,

Fosse de noite; fosse de dia;

Não se molhava em água rasa.



Menina nobre,

De ti brotou  

Tanta bondade

Que se espalhou.

Ofereceste-a! A quem passava.

Nem um cêntimo

Sequer cobrou.



Menina pura,

Que se isolava,

Nunca tirava  

O pé da estrada.

E mais azul ela ficou.



Com aparências?

Não se importava.

Tudo o que tinha, ela doou.

Manteve a essência,

Essa brilhava,

Tornou-se estrela

Que nunca apagou.



Tanto azul!  

Que a matava…

Então outra cor ela criou.



Em balanço perfeito  

Com a água

Nasceu uma cor

Que a transformou.



Agora,

Menina de fogo,

Apaixonada!

E avermelhada ela ficou.



O azul é triste,

E o vermelho engana,

Então a Terra ela explorou.



Num vulcão ardia

A sua gémea-chama

Aquela cor vermelha

Que a fascinou.

Forjou-se; de rocha vulcânica,

E só mais forte isso a tornou.



Lá conheceu

A bela cigana,

Deusa da montanha,

Que a salvou.



Juntou todo o amor

Que a inspirava

E à raça humana regressou.



Menina ingénua!

Chora desolada;

Porque o humano a roubou.



Cor azul; e avermelhada,

Mas que bonito roxo

Que dela jorrou.



Menina pura! destroçada,

Pela ganância de quem não vê nada…

Foi ao mundo que se entregou.



Assim espelhava; como ouro,

A sua pequena alma dourada

Que deu início a esta balada.

Ah!...

É de ti que falo, minha amada,

O meu maior tesouro.

Eterna flecha em mim marcada,

Amor real e duradouro.



Mas o humano triste; insaciado

Que antes de mim a encontrou!

Que nem por ela dar de graça…

Nem assim ele a poupou!

Quis o tesouro de mão beijada,

E pouco ou nada se esforçou.



Daqui veio a desgraça,

De quem esta história narrou.



Foi à noite, na madrugada…

Como um cobarde! Que a apanhou.

Foi arrogância ou maldade?

Qual o motivo que o levou?!

A devorar pela calada

O coração puro

Da minha menina aprisionada

Que nunca mais se recuperou.



A menina ri alto;  

Gargalhadas loucas ao vento;

Ali encostada, envolta em tormento,

Segura o peito; completamente esvaziada  

por dentro.



E o desumano,

Que fez o assalto,  

Vira cinza; não sobra nada.



Escorrem-me as lágrimas pela cara…

Rios de tom arroxeado.

Menina azul, vermelha e rara

Peço-lhe: “Fica! Só mais um bocado”.



Ela ouve-me; e sorri.

Existe afinal alguém que a ama!

Diz-me: “Todos os perigos  

Que corri,

Todo o amor

Que ofereci,

É o que me torna  

Tão humana”.



Penso que a entendi.

Senti a sua dor como se fosse a minha,

Foi por ambas que sofri.



“Há coisas que não podem ser roubadas.

Sobrevivem à guerra, estagnadas…

Mas ficam as memórias assombradas.

Casas em ruína, muros de pedra,

Envolvem as pessoas arrombadas.”



Ah!...

Afinal, foi nesta Terra  

Onde descobri

Que quem não morre,

Sempre quebra.



Há preciosidades que só podem ser dadas…

Sem qualquer valor que lhes possa ser afixado.

E ao ladrão da cor, a esse *******!

Está o inferno destinado!

Pois o humano; ser desgraçado;

É monstro que se apodera; e as desfaz.

Nem seque olha para o que está ao lado…

Tanta crueldade, numa mente tão pequena,

Torna-o um bicho incapaz.



"Meu pequeno ser azulado!

A diferença que isto me faz…

Deita-te aqui, esquece o pecado,

Enquanto quente ainda estás.

Vou viajar, para o outro lado,

E vais passar um mau bocado

Mas isto é apenas um até já.



Meu pequeno ser avermelhado!

Não deixes que essa raiva te consuma.

Lembra-te! Do nosso tom arroxeado,

Do céu, da montanha e do mar.

Olha sempre à tua volta,

Eu estou em todo o lugar.



Que me vejas! Por entre a bruma,

A passar pelo rochedo.

A deixar na praia a minha espuma…

Será esse o nosso segredo.



Ao teu ouvido, eu vou soprar.

Exatamente do meu jeito.

E ao teu ouvido, eu vou falar

Como te fala o búzio

Que carregas ao peito.



Numa linguagem única, por nós escrita,

Escrevo-te um poema; e está perfeito.

Ouve o silêncio quando me quiseres chamar

Para me perguntares o que tenho eu feito.



Se não obtiveres resposta

Naquele exato momento,

E o desespero te abraçar;

Não é porque estou morta,

Inspira-me no vento;

Apesar do meu corpo morto estar.



É que a minha alma insurreta,

Que pela curiosidade se desperta,

Decidiu que uma volta ela queria dar.

Mas é no teu peito, minha poeta,

O lugar! Onde dorme a tua alma

Também inquieta.  

A casa, a doce casa,  

A que ela decide sempre regressar.



Como a andorinha,  

Que carrega a primavera  

Na sua pequena asa,

Assim, para ti, eu vou chegar.

Ouve o som do meu cantar,

De ramo em ramo a saltitar…

E até a chuva, que sempre passa,

Cai aos teus pés e fica em brasa

Com o calor do amor intenso

Que ainda iremos partilhar."
Mariana Seabra Mar 2022
Escrevo esta fábula em forma de poema,

Na tentativa que seja mais fácil de a recordar.

Agarro numa folha e desenho algumas letras,

Penso em dois animais que nos possam caracterizar.

E assim, começa, como é suposto qualquer fábula começar:



Era uma vez um leão

Perdido na floresta.

Os homens que o viam, fugiam...

Pobre leão! que fizeram que ti uma besta,

Condenaram-te ao exílio,  

Sem terem qualquer razão.

Idiotas! Que já nem diferenciam

Um animal a rugir de medo

De uma besta humana  

Que foge dele em desespero.  



Andou meses e meses  

Às voltas, desorientado,  

No meio da extensa vegetação.

Não havia uma voz que o guiasse,

Não havia uma alma amiga que lhe esticasse a mão.



Só ele conhece e sente o horror  

de ser chamado de predador.

Ouvir mais gritos do que risos,  

Levar mais pancada do que amor.

Só quem o conhece sabe que não o faz por mal.

Faz sim, por sobrevivência, por instinto natural.





Pobre leão!  

Nessa floresta,  

Desencantada,

Por qualquer trilho que andava

Só encontrava a solidão…



Num belo dia de chuva,

Caída como que por compaixão,

Espreitou uma pequena aranha

Através do denso pêlo do leão.



Arrastada pelo vento,

Para sua maior alegria ou desalento,

Foi no seu pêlo que, ela, decidiu pousar.



Terá visto, no leão,

Um porto seguro

Para se refugiar?





Tinha medo da chuva?  

Ou era nele que se queria hospedar?



Habituado a estar sozinho,

Forçosamente isolado,

Este pobre leão cansado,

Ao mínimo toque da aranha

Saiu a correr disparado…



Não estava habituado

A ter companhia.



Aquela doce aranha,

Que nem por um segundo o largou,

Entendeu porque é que ele a temia...

Decidiu correr a seu lado e,

Como se fosse pura magia,

Fez brotar no leão  

As sensações que há muito ele desligou.



Foi o ceder do coração,

O reavivar das memórias,

Que logo o abrandou.



Quando se encontraram,

Um ao outro,

Entrelaçados num olhar,

Não foram precisas  

Quaisquer palavras

Para lhes revelar:

Que apesar de qualquer diferença que possam encontrar,

ambos têm o mesmo tamanho

No que toca ao Amor

Que ambos têm  

Para dar.



A aranha sobe ao seu ouvido,

Para lhe poder murmurar:

“Calma, meu pequeno leão,

Sei que estás cansado,

Ferido e traumatizado...

Nunca foi minha intenção te assustar.

Não me temas, nem me afastes!

Não pretendo deixar-te desamparado,

Estou aqui para te curar.

Segue-me tu, agora,  

Tenho um lugar para te mostrar…

O sítio perfeito

Onde vais conseguir descansar.”



O caminho era longo, mas pareceu-lhe menos demorado,

Só porque caminhavam lado a lado.



E quando chegou ao destino,

Ou quando o destino se foi com ele esbarrar,  

O leão nem conseguiu acreditar

Que naquela floresta,

Muito menos solitária,

Era exatamente  

Onde ele precisava de estar…



O tal destino,  

Já traçado,

Assim o veio relembrar

Que às vezes é preciso se perder,

Para mais tarde,

Se reencontrar.



Nessa mesma noite,

A floresta parecia encantada.

Só se ouvia  

dois corações

a bater em sintonia.  

Pum…pum…pum...pum…

Só se viam  

Duas almas nuas

Deitadas e embaladas

Numa teia perfeitamente desenhada.



Quem se atreve a dizer que o leão pertence à savana?

Anda esta gente toda enganada!

Nunca leram a pequena história

Do leão e da aranha.



E quem a ler, talvez dirá, que história mais estranha!
Mariana Seabra Mar 2022
Ó vida!

Que de ti se apagou a luz

Da escrita criativa.



Não foi de ti, vida,

Foi de mim.



Foi de mim que se extinguiu!

E a mim que ela levou,

                Depois que me partiu…

Como se me levasse a vida!

Toda!

            a que existia.



E como é criativa,

A musa que me inspira à escrita!

Foi de mim;

Levou-me a vida;

                              Mas conseguiu deixar-me viva.



“Tem tanto de triste

Como de cruel:

Ser peso morto que respira.”



Escrevi isso em algum papel…

Que logo depois perdi,

Ou se molhou,

Ou o esqueci,

Em algum lugar

Ao qual não pretendo voltar.



Mais tarde, estava de frente com o Mar

Quando dei por mim a chorar…



Em algum momento pensei:

“Talvez a dor da sua partida

Seja outra faísca perdida no ar

À qual me vou agarrar,

E sentir entre os dedos

Antes de a transformar  

Em algo mais.”



O “algo mais” que me referia,

Creio que seja esta desordenada poesia.



É o sangue quente, frio, vermelho, azul, é rio, és fogo,

Sou maresia, és eu, sou tu, somos nós, é o mundo,

É a fantasia, é a verdade disfarçada de ironia,

É dor, é amor, é tudo o que caiba num poema,

É tudo o que faça encher; se possível, transbordar!



Foram tantos!  

Os que me imploraram para os escrever.

Era eu que ia buscar a inspiração;

Ou era ela que me vinha socorrer?!



No frenesim da escrita maldita

Ficou outra questão por responder.



A caneta tornou-se um órgão essencial

Que não pedi para transplantarem cá dentro;

Sentia a sua forte presença nos momentos de maior alento;

Era a ponte que eu percorria, entre o sentir e o saber;

Assisti enquanto se estendia; dobrava! mas nunca partia;

Até encontrar na página branca uma saída

Para poder florescer; e florescia!

Nascia uma folha que era tecida; com uma teia tão fina que ninguém via;

Só brilhava quando a luz lhe batia; resplandecia!

Quando existia uma ligação direta entre mim e a magia;

De estar na beira do precipício entre a morte e a armadilha;

A que escolhem chamar de vida.



Ah! Musa criativa…

A única que me inspira à escrita!

Sei que um dia te irei reler,

Mas só quando estiver pronta para te entender.



Prometo que vou fazer por o merecer!



Talvez quando esta agonia paradoxal

De ser

Tão humana e sentimental

De ter

De amar à distância  

Uma humana tão excecional

Fizer sentido;  

                        Ou então desaparecer!



Foi um “adeus” que nem te cheguei a dizer…



Nem vou tentar romancear

Toda a angústia que vivi; contida

Numa simples despedida.  



Foi como se dissesse adeus à vida!



Pois nem toda a tinta

Alguma vez já vertida

Serviu para camuflar o *****

Que saiu da minha espinha

Quando a adaga me acertou.



Até hoje, nem eu sei como me atingiu!

Se fui eu que não a vi,

Ou se fui eu quem a espetou?!



Mas era *****, muito *****,

Tudo o que de mim sangrou;

Quando descobri,

Num mero dia, num inferno acaso,

Que no final das contas

A única que eu tanto amava

Se tinha entregue a um alguém tão raso.



Tapei os olhos com terra suja!...

Tal como decidiu fazer a minha musa.



“O pior cego é o que não quer ver!”

Prefere fechar os olhos porque abri-los é sofrer!



Induzi-me à cegueira;

Amnésia propositada;

Alma bem trancada;

Tudo para a tentar esquecer.



Tudo para lhe pagar na mesma moeda!



Então, claramente, o desfecho da narrativa só poderia ser:

De olhos bem fechados se deu a queda…



Foi assim que aprendi:

A vingança tal como o ódio,

É veneno para quem a traz!



Parei…

Dei um, dois, três, quatro, cinco mil passos atrás.

Relaxei…

Segui em frente.

                                         Lá ia eu  

                                                        com a corrente…



Inspirei amor e paz.



E foi assim que os abri,

Com uma chapada de água fria.



Não posso dizer que não a mereci.



Foi à chuva, nua, de frente com a verdade pura e crua,  

que descobri do que era capaz; e quando soltei ar de novo,  

expeli branco, afastou-se um corvo, brilhou o sol com a lua atrás, e:



Ahhhhh! Lá estava ela, exatamente ali!



Onde sempre tinha estado.

No lugar que lhe era reservado,

Onde estava eu também.



Olhamo-nos;

Com um olhar triste; influenciado

Por restos de terra suja

Que ainda não se tinham descolado.



                                                             Quase não aguentei;

                               Contrariei

                              A vontade de fugir;

                                                               ­                                                                 ­      
                                                                ­      E sorri-lhe…



Já fui um ser não tão humano,

Que até para amar estava cansado!

Preso por correntes de ilusões;

Ego;

Egoísmo;

E muito mais do que considero errado.



Como tudo na História

Isso pertence apenas ao passado.



Ah! Musa criativa…

A única que me inspira à escrita!

Ela, melhor que ninguém, o deveria saber;

Que me tornei um ninguém melhor,

Só por a conhecer.



Fiquei mais ardida

Que a Roma Antiga!

Quando aquela louca,

Tal musa criativa,

Me pegou na mão

E fez-me a vida colorida.



(Despertou-me fogo no coração!)



Alastrem-se cores de cinza!

Espalhem-se! Que os vamos fazer ver:

Mesmos os templos em ruína

São possíveis de reerguer.
Lawrence Hall Feb 26
Lawrence Hall, HSG
Mhall46184@aol.com

                             Broccoli on the Primary Ballot

                         (as President Bush maior did not say)

Broccoli, limp broccoli, that’s all I see
Just rotting broccoli all stink, stunk, stank
No real choices today, only broccoli –
The same old broccoli, putrid and rank
dead0phelia May 2023
a saudade maior que tenho nesse mundo
é das tuas mãos
não sei explicar como é uma saudade de mãos mas ela existe
e tudo o que sei sobre ela é que ela é
impossível de se acabar
uma saudade que não é de mãos
quando encontra o agente causador da saudade
pronto está curado
mas a saudade de mãos não tem cura
porque as mãos são como viajantes do tempo
impossíveis de se alcançar
e por mais que se entrelacem os dedos e se apertem
com toda vontade de permanecer
as mãos não são como os pés
que correm longe
mas sempre voltam pra casa e se fincam no chão
por mais que se encontrem
e queiram ser como ímãs
as mãos dançam muito livremente no ar
Mariana Seabra Mar 2022
Foi cedo na vida que o meu livro de mágoas se abriu.

                (Entendi-o desde nova pois senti-o.)

Um livro manchado pelo sangue da batalha,

Páginas carregadas de calafrios…

Ainda hoje me correm e ecoam no corpo.  

                 (O som do ferro ainda me causa insónias.)





E o abandono…

Esse sempre o meu maior medo,

Cortou-me como uma espada a vida toda.

             (Nunca o gritei…pelo menos em voz alta.)

Ferida, pelas entrelinhas o fui escrevendo.

             (Nunca com tinta…sempre mascarado na dor das palavras.)

Marcado em mim desde o início.

             (Nunca na pele…sempre uma ferida interna bem escondida
               na alma.)




A Morte…

Essa parece chegar rapidamente

Para as almas incompreendidas.

             (Mas calma, eu entendi.)

Choraste sem saber porquê…

Passaste e ninguém te viu…

Mas agora renasces com uma visão que eu sonhei.

E eu, que nunca te encontrei,

Vi-te encarnada em mim.



Quem me dera que tivesses vivido tempo suficiente, Florbela.

Só para que eu te tivesse desvendado o segredo da vida.



              (Neste mundo não eras a única que andava perdida.)

                           (O segredo é que andamos todos.)
Para uma das minhas poetisas preferidas, Florbela Espanca.
Vera Vieira Mar 2019
Chuva de realizações
Pra tudo tem um motivo
Não fatalisticamente
Não simplesmente

Os motivos estão escondidos
Quem tiver ouvidos ouça
A palavra do Senhor
É preciso ter coragem

Pra ver
Pra assumir
Pra quebrantar
O estabelecido pelos homens
Como supérfluo

E aí, tu, o isolado, vê
Porque é tão difícil?
Mostrar e receber
Mostrar o Céu
E merecer o mundano

Quem merece o mundano?
Quem o recebe?
Incógnita
Loteria Divina,
ou Reencarnação?

Talvez nem um
Nem o outro
Talvez sejam os interesses divinos maiores
Uns sofrem pelos outros
Um jejum forçado

Eu jejuo da vida que pra mim é menor
Pra que tu tenhas a vida que pra ti é maior
Tem males que não vão
Sem jejum e oração

O que é importante pra ti
E não é pra mim
Não é o Mal
As aparências enganam

O Mal é o que está dentro
De quem precisa jejuar
Deus pensou em tudo
E se não existisse o jejum?

Está tudo equilibrado
Se fazemos parte, sabemos
Que nada é a toa
Melhor, servir

Me ensinando a humildade
Rua Dr Timóteo POA, RS Brazil  
Oct 05 2010

— The End —