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Meus caros, eu vi!
Quem sabe num sonho, ou talvez não fosse exatamente um sonho
Quem sabe as luzes estivessem baixas demais
E a escuridão que promove vultos, houvesse enegrecido minha mente
-Entorpecido por meus próprios pensamentos-
Ali estava, a visão atemporal da existência

Trafegando por aterradores espaços infinitos
A escuridão assombrava o devastado pântano das almas amaldiçoadas
ouvia-se os gritos daqueles que encontravam ali o fatal destino
Os mortos que estavam aprisionados ansiavam por companhia
Uma fumaça fétida pairava sobre as águas apodrecidas
Animais se decompunham retidos pela lama pegajosa
Vermes se proliferavam naquele ambiente hostil enquanto o atormentador zumbido de moscas preenchia o silêncio daquele lugar horrível
As criaturas mais horrendas e bestiais ali faziam sua morada
à espreita das desavisadas presas que por aquele caminho se perderam

Há um homem perdido em seus próprios passos
Ele caminha ao longo da estrada
Entre-a-vida-e-a-morte
Ele está vivo, mas nunca viveu
Como também está morto, sem de fato ter morrido
Anseia por luz, mas se perde na escuridão do pântano

O bater de asas dos abutres lhe contam que tudo é um sonho, mas também uma profecia
Abaixo da árvore da vida sete urubus mortos estão se decompondo
Não há quem possa devorar seus cadáveres apodrecidos
Uma formosa águia sobrevoa o pântano
Sete ratos tentam se esconder
Sete cobras tentam fugir
Mas a águia devora os sete ratos
E também devora as sete cobras

O homem se torna dois, e um terceiro que não é homem
Ambos deverão transitar pelo inferno
Arrastar-se pela terra infértil da morte
Um morrerá para si mesmo
E renascerá como a fênix mitológica
O outro morrerá eternamente
Consumido pela legião de sombras
Sua tristeza será incomensurável
E como se uma ira brotasse em seu âmago
E uma dor gigantesca consumisse todo o seu ser
Sem derramar uma lágrima
Mergulhará sua existência nas águas esquecidas do Lethe
Embora o primeiro igualmente experimentasse dor tamanha
Ele encontrará seu guia dentro de si mesmo
Pois o guia na escuridão é a luz
Na luz nenhuma escuridão prevalece

O terceiro é como se jamais existisse
Permanecendo no limbo do crepúsculo
Sem dormir ou acordar
Apodrecendo como os urubus mortos aos pés da árvore da vida
Sem jamais experimentar seus frutos

Os três se tornam um só novamente
Mas algo havia mudado
Já não poderia mais ser o mesmo

E como num súbito – abri meus olhos
Não poderia ter sido um sonho
Por mais que estivesse sonhando…
Meus caros, eu vi!
Rui Serra Aug 2015
acordo
da negritude dos meus sonhos
envolto em pensamentos...

oprimido
desprezado
de corpo cansado

sinto a alma morrer
no suicídio dos meus dias

sobrevivo
à realidade
entorpecido pelo amargo veneno
das tristezas
que em mim habitam

estou longe

silêncio

estou longe de mim mesmo
mas estou perto de ti
A vida é a redundância do diabo
Ou devaneio eterno na mente de Deus
Ou além da interpretação, ode incriado
Descendo ao inferno de todos meus eus

A minha vitória é um trapo entorpecido
Largado aos cumes dum infinito esquecido
Amém ao diabo e ao santo Deus, amém
Eu não tenho porquê, nem à quem

Também não sei por quê nem para onde
A mula da morte esconde o conde
Ela nunca vem, e eu espero, espero
E nos confins da ideia desespero

O meu destino é um adágio solitário
Um zero multidimensional que dança
Ou um burro de carga na andança
Contradição encarnada num rosário

Santo diabo, aspecto de vunge ou zote
Dois que são um, um que são dois
A carga irreal na frente dos bois
Trazendo velas derretidas, um palhaço num pote

Eu sou de mim o que serei?
Mas foi no sonho irrealizável onde habitei
De um mendigo fiz de mim um rei?
Ao tudo e ao nada, eu não mais serei!

— The End —