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Othon Jun 18
Chora, música da minha vida —
Em ti amei, mesmo entre dores...
— Tão perdida, tão perdida...
E aos defuntos deste de comer as flores.

Chora, aurora da minha vida!
Sou uma encarnada contradição...
— Tão perdida, tão perdida...
Desatando os elos da criação!

Morte alada, espero nos confins —
Vida perdida, meu desespero...
Castelos, masmorras de jasmins —
Nem por Deus, nem por ninguém mais espero!

Quero morrer assim — num canto qualquer
De um mundo só meu, inteiro.
Quero ser o que Deus não quer:
Morrer para sempre — e ser o derradeiro!

Quero morrer na luz do instinto,
Vagos ao longe dos assomos passageiros.
Quero ser, para sempre, indistinto —
Luz e sombra dos meus luzeiros...

Chora, aurora — para sempre — a minha vida!
Chorem os palhaços nos pedestais da crença!
E, por fim — tão perdida, tão perdida...
Minha vida seja a musa da Indiferença.
Inspired in Álvares de Azevedo.

— The End —