Vede o que fazem à minha amada Nação:
Entregue, sem pejo, à ganância vil da burguesia,
Que rouba ao povo o sonho e a ambição,
Mergulhando-o num eterno mar de apatia e agonia.
E eis que uma ***** disforme se levanta,
Dos jardins sombrios da dor e da servidão,
Onde o corpo se dobra e a mente se espanta,
Na esperança febril de uma nova revolução.
Os bons de que falava Camões,
Esses padecem de uma dor implacável,
Humilhados, esmagados pelos patrões —
O quinhão é escasso, o operário descartável.
Neste povo ardem infinitas paixões,
Calejadas por um labor quase servil e inexplicável.
E tu, quem és para ditar-me sermões,
Tu, que apagaste um fulgor outrora inabalável?
Quando a tua hora chegar — e há de chegar —,
Verás tombar os lacaios, os servos e os escravos,
E das cinzas um novo Portugal há de brotar,
Pois não há grilhões que vençam o fogo dos bravos.
De pança cheia e a boca metida no polegar,
Fitam, com desdém, este povo em farrapos,
Os vilões da História, prontos a tragar,
O sangue que rega o vermelho destes cravos.
Que lá do alto ressoe, por fim, o clamor da nossa união,
No eco altivo do trabalho que ergue a esperança,
E finde-se a eterna sombra da opressão,
Pois só do amor e da garra germina a mudança.
E, prostrado, fatigado, mas de punho erguido e cerrado,
Grito, em brado inflamado: — Viva a Revolução!