Colhi a alma de tudo quanto toquei e em tudo quanto olhei larguei parte da minha o que me torna, hoje, aquilo que sou, o que me constrói e constitui são os outros e não eu.
Os outros: as flores banhadas de orvalho, as árvores vestidas ou nuas, as paisagens das cidades que amei mais do que as pessoas com que as corri, as pessoas que amei e as que toquei apenas e aquelas que nem a tocar cheguei.
Não sou já gente, se é que fui gente vez alguma! Será esta alma que trago maior que a minha? Serei eu, tão cheia de natureza, mais ou menos natural?
Mas serei eu a alma que carrego sem que seja a minha, o conjunto de seres racionais por dentro de mim que me controlam o pensamento e, por vezes, o sentir ou o ser único e puro que sente de forma única e pura?
Serei eu a união de tudo isso, do que me resta de mim, de quantas versões tenha de mim, e o que trago dos outros? Serei eu algo ou alguém sequer? Importa definir o ser?