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É tudo muito estranho nestes dias pálidos como a noite
Em que só sirvo para ficar na cama a ouvir a revolta natureza
Nada é cor à minha volta então pinto dentro de mim
Com ondas do mar e aguarelas de verão
Quase sinto o calor e a brisa a maresia.

Não amo as pessoas quando as amo
Mas as cores que cantam e o seu lugar na natureza,
Como iluminam meras banalidades
Para que não sejam mais banalidades mas nas minhas mãos poesia.
Fizeste-te tudo isso, calor, conforto, luz
Por isso e pelas flores dou-te versos e amor.
O que é que mudou?
Querer-te nunca foi poesia e agora
Todas as flores suspiram por ti.
Será que a Primavera
Chegou finalmente ao meu corpo
Murcho? Não me sinto a desabrochar.
Pintei versos nos troncos
Chamei-te pelos galhos retorcidos
És Sol e cais em mim
Sem que te sinta
Nua com a flora, espelho-te
Sem que te saiba.
Tenho ao meu lado o metro dos Restauradores
E um cigarro na mão
Em frente ao Hotel Avenida Palace põe se o dia
Em frente a mim que o vi a nascer.
A cidade corre por entre mim, vejo-a
Os pés apressados e quase serenos rostos
Que reparam por vezes também em mim
Tão exatos e certos os movimentos
E sei que nenhuns outros corpos poderiam ter por mim passado
Que não estes.

O céu escurece sobre os prédios
Estou posicionada de modo a ver todos os Ângulos certos
Dos telhados sob o quase ***** azul
Estamos em meados de novembro e não chove quase nunca
Os dias claros e as noites geladas
Mas não há frio algum nesta noite criança
E o cigarro vai-se rápido (certa que não irá nunca
Para sempre em mim como o melhor cigarro que já fumei
Pois, como tudo o resto que vi e escrevi, não podia ser mais certo)
Não sou, nem sei se quero
Ser ou saber.
O dia não é comigo e só o sinto a ele
Notando que não há muito que sentir
Nem com que o fazer
Não sou nada. Respiro
E penso e sinto e não sou mas sei
Não sabendo nada, sei
Nem me assusto por isto
Num planeta vazio cheio de luz
Num dia cinzento e vazio
Em que vivo em contradições
Sem saber se vivo sequer. Se sou.
Não sou. Não sou nada.
Queria ser aprendiz
de poeta da Natureza
Deitar-me na relva entre cravos e margaridas
E tornar-me cravo ou margarida
Também.

(e como um cravo
perder as pétalas
e ser livre no vento)

(e como uma margarida
perder as pétalas
nas mãos de uma criança qualquer)
Inalo
Expiro e inspiro-te
És um céu de diamantes
Numa noite de Primavera.

Inspiras-me e
Deixas-me ficar
És Natureza que respira
As sensações alheias dos mortais.
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