Submit your work, meet writers and drop the ads. Become a member
61 · Dec 2024
Untitled
Aeiou Dec 2024
Do alto do paradoxo o ***** vulto
Fragmenta-se no íntimo degredo do mundo
Com infinitas verdades em harpejo moribundo
Fatal elegia de seu insano culto!

Animando aforismos de discórdia
Ei-la que passa, sem sentido minha vida
Sorvendo o caminho sem misericórdia
Bruxa do acaso incompreendida!

Como um barquinho de papel a naufragar
Meu indignado resquício de ilusão
Afogando o meu último indagar
Dentro de meu despedaçado coração!

Quimeras do assombro, deixai-me quieto!
Debalde me ultrajas. Mas eu sou o eterno vão
No silêncio do meu infinito dialeto
Atado aos pés da desolação!

Vós cantais da ingratidão a sinfonia
E de todas as reflexões se enfastia!
Mas eu sou supremo, a derradeira imagem
Unida ao precipício da palavra sem origem!
43 · Dec 2024
Exegese
Aeiou Dec 2024
Sobre o abismo de minha desgraça voarei
Ser livre para odiar tudo me fez rei
Eu sou o bacanal eterno do infinito
Onde meu diabo rima salmos com meu mudo grito

Os miolos fervem na minha crença
Mas do inferno ao céu eu sou descrença
Alheio à verdade de toda a humanidade
Resvalando aos trancos o coração da minha imortalidade!

Eu dançarei como um demônio risonho
Na ideia inefável de meu sonho
Nebuloso, dissoluto e absoluto, entre o óbolo e a nobreza
Saltitando por entre os píncaros de minha avareza!

Epífase de todo meu destino
Absorve minha alma torta
No íntimo da minha egrégia exorta
A exegese infindável do meu atino!
42 · Dec 2024
Versos Quebrados
Aeiou Dec 2024
Canta, esplêndida sonata,
O desvario eterno do universo
E rima, e da alma desata
O meu único e exilado verso.

Tremi nas aras da tristeza,
Nos incógnitos anoiteceres
Entre mil e um seres,
Despi-me sombrio na profundeza.

Sou rei e sou mendigo,
Nada sou sem meu ser,
Não sei mais o que eu digo
Sou o infinito zero a esmorecer.

Flores do nada, amanhecem no tudo
Seres que não existem, dizem uma verdade,
Eu sou a sempiterna soledade,
Do meu ser louco e desnudo.

Sou a forma distinta, inexata, ambígua
De tudo que se afirma, em mim se míngua
Como a negação de minha negação,
Carretéis de espinhos coroam meu coração.

Esplendor ***** dos desonrados,
Sombra de vasos quebrados
De Shevirat ha-kelim
Pintando com meu sangue carmesim

A pútrida árvore da vida
Eis minh'alma desconhecida,
Por toda a eternidade,
Pisoteando nas uvas ilusórias da verdade!
Aeiou Jan 8
Convém a nós, os seres da imortalidade,
preteridos pelo descaso do mundo,
crer que eu sou um Deus único.
Não como esses que passam na tela dos pensamentos. Nem os que se prefiguram para fora de si, tendo tomado a sua parte do todo e se satisfazendo com o infinito.
Eu não me satisfaço com nada. Mas antes de encontrar o meu nirvana, eu abdiquei do tudo.
Sou um mestre do paladar, na miséria ou no banquete, eu sempre tenho sede de algo por provar.
Eu fecho as portas da contradição, e as abro novamente quando eu bem entendo, mas uma contradição nunca é uma contradição sem os seus dois lados, – dos quais eu sempre fiz o serviço de unir em mim como uma palavra suprema, a síntese, a afirmação e a negação e todos os seus contrários.
Certamente eu estou morrendo como alguém que nunca teve vida, mas eu teci nas cadeias de meu ser, o meu incólume e supremo apriorismo injustificável... Começa aqui, e não termina nunca. Como um Deus único eu me encontro, alheio a verdade de meu próprio ser! O todo balança para lá e para cá, como um pêndulo, e eu escolho pra que lado vou. Verdade negada ou afirmada, tanto faz, há sempre algo onipresente em tudo. Nem o todo, nem em mim, nem no mais longínquo canto do infinito, nem dentro ou fora, tudo se abre para algo inexplicável, ainda que um milhão de vezes explicado: – eis a vida!
Não tenho nada. Sou tudo, sou nada. Nem oposto nem contrário. Sigo, e a hora foge vivida... Amém. Além...
40 · Dec 2024
Alheação Suprema
Aeiou Dec 2024
Ó, quimera da vida, ninguém te ensina a viver
E ninguém te ensina a morrer
Meu coração é um quasar
De eternas ruínas desfalecendo...

Cada vez mais descendo, descendo
Ao exilado inferno de me amar
Eu sou o vinho no meu pesadelo
Afogando-me ébrio em meu ideal de belo

Ainda eu vago com a minha cruz
Procurando no idílio a ilusão da luz
Negado por toda eternidade
Não tenho mais coração para a verdade

Meu ser é um ocaso imaculado
Ou um casulo pútrido e esfarrapado?
Que importa, agora eu corro dentro de mim
Estou julgado como um soneto sem fim

Na sinagoga de Satanás, como uma crença desdita por Deus
Livre sou, e além, e digo adeus
Alheio a tudo e ao próprio infinito, eis meu ser
Este supremo, supremo alvorecer!
38 · Dec 2024
Renúncia
Aeiou Dec 2024
A vida é a redundância do diabo
Ou devaneio eterno na mente de Deus
Ou além da interpretação, ode incriado
Descendo ao inferno de todos meus eus

A minha vitória é um trapo entorpecido
Largado aos cumes dum infinito esquecido
Amém ao diabo e ao santo Deus, amém
Eu não tenho porquê, nem à quem

Também não sei por quê nem para onde
A mula da morte esconde o conde
Ela nunca vem, e eu espero, espero
E nos confins da ideia desespero

O meu destino é um adágio solitário
Um zero multidimensional que dança
Ou um burro de carga na andança
Contradição encarnada num rosário

Santo diabo, aspecto de vunge ou zote
Dois que são um, um que são dois
A carga irreal na frente dos bois
Trazendo velas derretidas, um palhaço num pote

Eu sou de mim o que serei?
Mas foi no sonho irrealizável onde habitei
De um mendigo fiz de mim um rei?
Ao tudo e ao nada, eu não mais serei!
32 · 7h
Untitled
Aeiou 7h
Chove chuva, chuva chove,
Como uma alma decaída
Pela viela sem saída
Escorre, escorre, escorre
Teu som me fez mudo,
Curdo e surdo,
Pelos mundos mil,
Anelo, sentinela vil,
De um mundo que pariu,
Das infinitas coisas a tecer:
Um nada pra vencer!
31 · Dec 2024
Vencedor
Aeiou Dec 2024
Mil eclipses de sandice, no meu sonho eu trago
Mais três, quatro, cem mil sóbrios infinitos
Arrebatando o véu do demiurgo aziago
Despindo deuses e derribando mitos!

Crê em mim, no assombro que está por vir
Às mancebias do reino de meu ser
Eu faço o Deus do Todo desvanecer
E dentro de mim o nada vêm à rir!

Meu nada é o solilóquio que tudo vence!
E antes de ser homem eu fui verme
Agora transcendo a matéria inerme
Com a consciência que a ninguém pertence!

Sou a lâmpada no meu ignoto caminho
No tropismo ancestral de meu universo
O arlequim que tece o credo em desalinho
Vistindo-me da epifania anônima deste supremo verso!

— The End —