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Do alto do paradoxo o ***** vulto
Fragmenta-se no íntimo degredo do mundo
Com as infinitas verdades em harpejo moribundo
Fatal elegia de seu insano culto!

Animando aforismos de discórdia
Ei-la que passa, sem sentido minha vida
Sorvendo o caminho sem misericórdia
Bruxa do acaso incompreendida!

Como um barquinho de papel a naufragar
Meu indignado resquício de ilusão
Afogando o meu último indagar
Dentro de meu despedaçado coração!

Quimeras do assombro, deixai-me quieto!
Debalde me ultrajas. Mas eu sou o eterno vão
No silêncio do meu infinito dialeto
Atado aos pés da desolação!

Vós cantais da ingratidão a sinfonia
E de todas as reflexões se enfastia!
Mas eu sou supremo, a derradeira imagem
Unida ao precipício da palavra sem origem!
Ó, quimera da vida, ninguém te ensina a viver
E ninguém te ensina a morrer
Meu coração é um quasar
De eternas ruínas desfalecendo...

Cada vez mais descendo, descendo
Ao exilado inferno de me amar
Eu sou o vinho no meu pesadelo
Afogando-me ébrio em meu ideal de belo

Ainda eu vago com a minha cruz
Procurando no idílio a ilusão da luz
Negado por toda eternidade
Não tenho mais coração para a verdade

Meu ser é um ocaso imaculado
Ou um casulo pútrido e esfarrapado?
Que importa, agora eu corro dentro de mim
Estou julgado como um soneto sem fim

Na sinagoga de Satanás, como uma crença desdita por Deus
Livre sou, e além, e digo adeus
Alheio a tudo e ao próprio infinito, eis meu ser
Este supremo, supremo alvorecer!
A vida é a redundância do diabo
Ou devaneio eterno na mente de Deus
Ou além da interpretação, ode incriado
Descendo ao inferno de todos meus eus

A minha vitória é um trapo entorpecido
Largado aos cumes dum infinito esquecido
Amém ao diabo e ao santo Deus, amém
Eu não tenho porquê, nem à quem

Também não sei por quê nem para onde
A mula da morte esconde o conde
Ela nunca vem, e eu espero, espero
E nos confins da ideia desespero

O meu destino é um adágio solitário
Um zero multidimensional que dança
Ou um burro de carga na andança
Contradição encarnada num rosário

Santo diabo, aspecto de vunge ou zote
Dois que são um, um que são dois
A carga irreal na frente dos bois
Trazendo velas derretidas, um palhaço num pote

Eu sou de mim o que serei?
Mas foi no sonho irrealizável onde habitei
De um mendigo fiz de mim um rei?
Ao tudo e ao nada, eu não mais serei!
Sobre o abismo de minha desgraça voarei
Ser livre para odiar tudo me fez rei
Eu sou o bacanal eterno do infinito
Onde meu diabo rima salmos com meu mudo grito

Os miolos fervem na minha crença
Mas do inferno ao céu eu sou descrença
Alheio à verdade de toda a humanidade
Resvalando aos trancos o coração da minha imortalidade!

Eu dançarei como um demônio risonho
Na ideia inefável de meu sonho
Nebuloso, dissoluto e absoluto, entre o óbolo e a nobreza
Saltitando por entre os píncaros de minha avareza!

Epífase de todo meu destino
Absorve minha alma torta
No íntimo da minha egrégia exorta
A exegese infindável do meu atino!

— The End —