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Sobre o abismo de minha desgraça voarei
Sou eu o bacanal eterno do infinito
Ser livre para odiar tudo me fez rei
Saltam arlequins em meu espírito irrestrito

Os miolos fervem na minha crença
Alheio à verdade de toda a humanidade
Mas do inferno ao céu eu sou descrença
Resvalando aos trancos o coração da minha imortalidade!

Eu dançarei como um demônio risonho
Nebuloso, dissoluto e absoluto, entre o óbolo e a nobreza
Saltitando por entre os píncaros de minha avareza
Na ideia inefável de meu sonho!

Epífase de todo meu atino
Absorve minha alma torta
No íntimo da minha egrégia exorta
A exegese infindável do meu destino!
Chora a música da minha vida
Em ti amei em meio as minhas dores
– Tão perdida, tão perdida
E deste aos defuntos comer as flores

Chora a aurora da minha vida
Sou eu uma encarnada contradição
– Tão perdida, tão perdida
Desatando os elos da criação!

Morte alada espero eu, nos confins
Perdida vida eu desespero
Castelos, masmorras de jasmins
Nem por Deus nem por ninguém eu mais espero!

Quero morrer assim, num quanto qualquer
De um mundo só meu!
Quero ser o que Deus não deu
Morrendo para sempre, a morte tão bem me quer!

Quero morrer na luz, do instinto
Vagos ao longe dos assomos passageiros
Quero ser para sempre os luzeiros
Do meu ideal indistinto.

Chore a aurora para sempre a minha vida
Chorem os palhaços nos pedestais da crença
E por fim, tão perdida, tão perdida
A minha vida seja a eterna musa da Indiferença!
Inspired in Álvares de Azevedo.
O gineceu ******* da ânsia
Sondando a esfera celestial do nada
Eu vejo o atrito de uma eterna repugnância
A vida seduzindo a morte alada

Na noite escura da alma eu arrebato
O hemisfério de mil apriorismos
Vão fluindo em mim como o fundo dos abismos
A vitória de meu inferno abstrato!

Encéfalo aceso!, treva e luz
Ajaezado de sânies e feitiços
A ingratidão da vida me reduz
À sorte incógnita dos pensamentos mais mortiços

Eu quero correr, ir para o inferno
Parir a vida eterna de um Deus
Na consciência aflita de todos os meus eus
Açoitar e perdoar o meu diabo eterno!

Eternas ruínas do pensamento!
Para o fim ou início de uma nova jornada
Fugidio de mim, pela última ou primeira cruzada
Uma sílaba suprema sem acalento.

Morrer na cruz, crucificado pela realidade
Amargar a tristeza que a tudo corrói
Sentir cravado no peito uma eterna saudade
De uma coisa que nunca foi!
Dá-me o silêncio de uma eterna primavera
Onde o mundo morreu primeiro
Antes de eu ser eu.

Dá-me uma luz que jamais se viu
Onde o pensamento floresceu no seio do nada
Onde tudo não são mais que fadas
Cantando clarins e rimas desconexas
Em um mundo que jamais nasceu

Dá-me a vida como o fim do infinito
O epitáfio onde Deus morreu.
Dá-me flores que não dizem nada
Porque já foram tudo.

Dá-me um eu renovado,
Além de todo o mar,
Além de toda a ilusão,
Além de toda comunhão,
De ser tudo e ser nada.

Dá-me um suspiro na escuridão da luz,
Dá-me um mundo que seduz,
Todo o meu ser.

Dá-me o Todo abaixo de mim,
Dá-me o perdão dos meus diabos.
Dá-me tudo o que não se conhece,
E foi contado somente à mim.

Dá-me um Deus.
Dá-me tudo sem ser nada.
Sob o manto ruído de um Deus ausente
Lateja a angústia, febril e fria
Vértice roto de um tempo doente
Onde o pranto apodrece em agonia.

O pulso clama, veias em flor,
Rios carmim a tingir o abismo
Cada corte um verso, cada dor
Uma elegia ao próprio exorcismo

O silêncio sangra, grita, ecoa
Voz de um mundo que nunca existiu
E a carne, espectro que a morte entoa
É ruína viva de um céu senil

A lâmina é dócil, quase divina
Traça epitáfios na pele em brasa
E o sangue, relíquia de dor vespertina
Brota insepulto, sem cruz, sem casa

Mas há um horror pior que o fim
Seguir exangue, inerte, inerme
Ser o cadáver dentro de mim
E nunca, jamais, estar realmente em morte.
Convém a nós, os seres da imortalidade,
preteridos pelo descaso do mundo,
crer que eu sou um Deus único.
Não como esses que passam na tela dos pensamentos. Nem os que se prefiguram para fora de si, tendo tomado a sua parte do todo e se satisfazendo com o infinito.
Eu não me satisfaço com nada. Mas antes de encontrar o meu nirvana, eu abdiquei do tudo.
Sou um mestre do paladar, na miséria ou no banquete, eu sempre tenho sede de algo por provar.
Eu fecho as portas da contradição, e as abro novamente quando eu bem entendo, mas uma contradição nunca é uma contradição sem os seus dois lados, – dos quais eu sempre fiz o serviço de unir em mim como uma palavra suprema, a síntese, a afirmação e a negação e todos os seus contrários.
Certamente eu estou morrendo como alguém que nunca teve vida, mas eu teci nas cadeias de meu ser, o meu incólume e supremo apriorismo injustificável... Começa aqui, e não termina nunca. Como um Deus único eu me encontro, alheio a verdade de meu próprio ser! O todo balança para lá e para cá, como um pêndulo, e eu escolho pra que lado vou. Verdade negada ou afirmada, tanto faz, há sempre algo onipresente em tudo. Nem o todo, nem em mim, nem no mais longínquo canto do infinito, nem dentro ou fora, tudo se abre para algo inexplicável, ainda que um milhão de vezes explicado: – eis a vida!
Não tenho nada. Sou tudo, sou nada. Nem oposto nem contrário. Sigo, e a hora foge vivida... Amém. Além...
Inspired in A. Schopenhauer.
Othon Biedacha Dec 2024
Canta, esplêndida sonata,
O desvario eterno do universo
E rima, e da alma desata
O meu único e exilado verso.

Tremi nas aras da tristeza,
Nos incógnitos anoiteceres
Entre mil e um seres,
Despi-me sombrio na profundeza.

Sou rei e sou mendigo,
Nada sou sem meu ser,
Não sei mais o que eu digo
Sou o infinito zero a esmorecer.

Flores do nada, amanhecem no tudo
Como seres que não existem, dizendo uma verdade,
Eu sou a sempiterna soledade,
Do meu ser louco e desnudo.

Sou a forma distinta, inexata, ambígua
De tudo que se afirma, em mim se míngua
Como a negação de minha negação,
Carretéis de espinhos coroam as ruínas de minha desilusão.

Sou esplendor ***** dos desonrados,
Na sombra de vasos quebrados,
De Shevirat ha-kelim
Pintando com meu sangue carmesim

A eterna confabulação da vida.
Eis minh'alma desconhecida,
Por toda a eternidade,
Pisoteando nas uvas ilusórias da verdade!
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