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Lua Bastos Apr 2015
Na neblina abafada
Dentre as árvores, dentre algas
Sentir a água
Ouvir os cantos
Cintilante
Suas mãos quentes tocaram meu tornozelo
Seu coração frio tocou o meu
Oh, Deus,
Se realmente estou apaixonado
Me faça não querer deixa-la
Os corações que já quebrei,
não se comparam ao dela
Deixe-me ficar
Se realmente estou apaixonado,
me diga se ela corresponde
Seu canto entrou em meus ouvidos
Uma sintonia aveludada,
salgada,
com uma pitada de perigo
O som dos pingos de água se rebatendo
Venha comigo, vamos viver juntos
Seja minha esposa.
Presa por algemas de areia
Se rebatia enquanto suas mãos puxavam as minhas
Delicada.
Uma beleza agoniante
Oh, Deus,
O que será de mim?
Um vida fria terei caso não ficar com ela.
Me trazendo para a água
Sussurrando feitiços e me deixando cego pelo amor
Meu corpo logo estará submerso
Estou indo
Ofegante
Coração frio, mãos quentes, beleza agoniante
Vendo a escuridão
Cego por um amor planejado
Um coração antes sujo,
fora iludido por olhos vibrantes
e pele cintilante
O coração quente fora apagado,
sentindo amor.
Oh, Deus,
diga-me, terminarei sendo enganado?
Como uma gota de água se juntando formando um oceano,
É a cor da esperança azulada desse mar perto dos teus seios,
Nada diferente da saudade das noites loucas perto da água,
Em que vivi momentos eternos para o meu coração,
Não poderia nunca esquecer que aqueci meus anseios junto de ti,
Acreditei na realização dos melhores sonhos perante o teu sorriso,
O teu silêncio confortou-me sempre que precisava de paz e harmonia.
A cor dos teus olhos igual à do meu coração nunca eu vou esquecer,
Como não me esqueço das tuas mãos quentes agarrando o meu corpo,
O teu suspiro suave mantendo-me quente e aconchegado nos teus braços.
Se eu voltar a viver esses momentos para sempre recordar,
Será ironia de um destino permanente e cada vez mais distante,
Mas é essa a verdade que ficou, é difícil ocuparem o teu lugar,
Também porque continua ocupado com as tuas coisas,
O teu cheiro mantem-se impregnado em mim como se fosse hoje,
O som das tuas palavras doces ficou nos meus ouvidos,
E ainda hoje te ouço por vezes nos meus sonhos!
Tudo acabou mal mas não muda a pessoa que tu és!
És exactamente aquilo que te dizia tantas vezes ao ouvido!
Coisas que só eu e tu sabemos e vamos recordando!
Um desejo que estejas bem e guardes de mim boa lembrança!
Se assim for nada que pudesse existir me deixaria mais feliz.

Autor: António Benigno
Suas unhas penetram os corações corrompidos. Me deixa rasgar você. Me deixa matar você. Ela aparece como um delírio. Me deixa provar o seu sangue. Me deixa comer você. Seu corpo alto e esguio. Sua pele feita de látex preto. Me deixa mutilar você. Sua pélvis curvada para frente e suas costas arqueadas para trás. Me deixa estuprar você. Sua longa calda que se projeta por vezes parecendo um pênis gigante. Me deixa destruir tudo o que você já construiu. Carne, eu quero carne. Seus olhos são como tontura. Sua língua é uma navalha. Seus cabelos fumaça tóxica. Matar, matar. Eu quero matar.

A rua está escura. Alguém se aproxima. Mate-o!!! Está passando ao meu lado. Não olhou, não olhou. Bata na cabeça dele! A faca! A faca! O sangue jorrando pela nuca. O corpo em convulsão dita o ritmo do gozo. Assim! Delícia!!! Quase!!! Está vindo!!! Ahhhhhhhh! O corpo inerte caído na rua. Me deixa dilacerar a carne. Me deixa rasgar a carne. Sangue, eu quero sangue! Me deixa provar. Minha faca corta freneticamente. A Avulvva está comendo. Está gostoso? Prove a carne!!!! Venha, prove.

A faca está no fundo do rio. As roupas estão queimando. O sangue já tinha secado. O fogo é atraente. Não é? Coloque sua mão no fogo! Vá, coloque! Isso eu não quero! Quer, eu sei que quer. Vamos, queime! Não vou! Ela está rindo de mim. Está me chamando de fraco. Merda, estou atrasado. Lavo meu corpo, o sangue escorrendo pelo ralo. A Avulvva está me olhando. Seus olhos são como tontura. Acho que vou vomitar! Que merda! Que nojo! Ela está rindo. Que merda... Sangue, eu quero matar! Me deixa matar! Hahahahahahaha.

Há um verme se alimentando das minhas entranhas, tomando o controle deste hospedeiro,  me fala aos ouvidos como a serpente sussurrou a Eva, provei o fruto proibido da carne crua, viva, sangrenta, provei o metálico sabor do líquido que jorra das artérias e nele me banhei, infinitamente gozei e a voz gritava ao mundo a ópera de sua ruína. Fui aos confins da lógica e ultrapassei a linha, nada significa nada, impulso: isso me faz existir.

Hoje quero amar a vida, quero que cantem os rouxinóis ao alvorecer, vou atravessar os sonhos encantados das noites de verão, gincanas e cirandas, CRIANCINHAS. Adoro criancinhas. Vinde a mim as criancinhas. Tão inocentes. Corpinhos tão pequenos. Tão macios... e cheirosos. A Avulvva gosta de crianças, ela gosta de machucar as crianças. Criança levada, cuidado cuidado que a Avulvva te pega, cuidado cuidado que a Avulvva te leva. Olá quem é o senhor? Eu sou um amiguinho e tem um lugar cheio de jogos e doces que eu posso te mostrar. É mesmo? É mesmo! Cuidado cuidado que a Avulvva te pega, cuidado cuidado que a Avulvva te leva. Carne de vitela é a mais suculenta, é porque o mundo ainda não corrompeu o filhote. A princípio  geralmente eles não entendem o que está acontecendo, mas depois... Depois é possível contemplar o pavor genuíno, um pavor que não sabe conscientemente o que está acontecendo, mas o impulso grita que é algo muito ruim, então eles berram e choram. A Avulvva sempre bebe as lágrimas primeiro, ela escorrega sua língua de navalha pelas bochechas até os olhos. Se farta das lágrimas, escorre o sangue, se farta de sangue, dilacera a carne, a carne é macia, delícia delícia, Avulvva te COME, cuidado cuidado.. As garras te apertam, você fica preso. Os olhos te fitam, você vê o medo. Cuidado cuidado, criança levada.

Já trepou com a morte? A morte tem os lábios frios, um hálito quase podre que se prolifera pelo corpo. Imóvel. Inanimada. A morte tem a boceta seca. O pau amolecido. E o cú cheio de bosta. Ó morte, amante perversa. Amante passiva e voraz. Me deixa provar a carne podre. Me deixa sugar o sangue frio. A Avulvva está vindo. Ela caminha velozmente. Ela é o trovão e a tempestade. Me deixa enfiar a cauda neste cú. Me deixa comer as fezes mortas. A Avulvva nunca se sacia. O horror pulsa em seus olhos de tontura. Me deixa brincar um pouquinho. Ela está quase sempre rindo. Suas gargalhadas perversas. Não há nada além de prazer. Nada além da maldade. Me deixa estuprar a morte.
Sonhei com a Avulvva ontem. Anteontem. E antes mais. Meu sonho é Avulvva. Ela é a voz que guia minhas visões. Terríveis. Maliciosas. Deliciosas. O que há além da carne? Se algum dia houve algo, já não existe mais . Ó Carne, és minha única e verdadeira deusa, a qual posso provar, a ti devoro toda minha paixão, a ti devoto todo meu rancor.
alienobserver Jul 2014
Sometimes I wanna die
But then I remember all the movies
Series, music, visual arts, people
I haven't met yet

The coke bottles on the weekends
The iced teas before classes
The energy drinks at 2 a.m.
I know I'm made of water
My organs, my tissues
My voice is a liquid
Which evaporates in my throat
That flows away through my eyes, my ears
I can dissolve so easily
But I can also turn rigid, hard
Disguised in a solid state, icy

The rapids fall
In the depths of the night
By myself, I turn into the purest fountain

˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜­˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜˜
(portuguese translation)

Às vezes dá vontade de morrer
Daí me lembro dos filmes
Das séries, músicas,
Artes visuais,
Pessoas
Que eu ainda preciso conhecer

A coca-cola dos fins de semana
Os chás gelados antes das aulas
Os energéticos às 2 da manhã
Eu sei que eu sou de água
Meus órgãos, meus tecidos
A minha voz é um líquido
Que evapora na garganta
Que sai nos olhos, nos ouvidos
Me desfaço tão fácil
Mas também me torno rígido, gélido
Me desfarço de sólido

Cachoeiras caem
Nas profundezas da noite
Sozinho, sou a fonte mais pura
I'm not sure if this is actually good
e.
ouço Bach da janela do CD
que é capa e
ouço
a caixa ou cortina e porta

aberto:
meus ouvidos enxergam uma nota
que palavra não rouba
ou decalca.
e tem meta.
e alcanço o avesso,
retalhos. retalhos.

ouço orações
nelas,
1.000 datas se repetem
em espera.
e ouço Bach.
trata-se, enfim, de um eu-lirico – espero – confuso no momento do seu êxtase místico, ao ouvir Johan Sebastian Bach. as alusões numéricas são referencia a uma tradição oriental que diz ser preciso junto à pessoa amada, ter rezado 1.000 vezes, para então e só assim, haver certeza do amor para ambos. no entanto, ao colocar no Poema, 1.000 anos de espera – em datas – saliento, sobretudo, a multiplicação – potencializarão, portanto – daquela oração e[ daquele êxtase do início da confusão que o poema evoca. o poema está presente num Livro inédito e na gaveta. ou melhor, dizendo, numa pasta, do meu computador.

#

muitos erros de edição, aqui, graças à limitação do hello poetry
Julia Jaros Nov 2016
Alcool e pipoca
pipocando a jiripoca
piando, forte, ensurdecedor
puxou o gatilho atirou.

Pessoas e pipocas
pipocando multidão
desconhecido lampião
luz escuridão.

Alcool desmaiou
ninguém notou nem pipocou
ouvidos e olhos detidos
bandidos de balcão.
No balanço brinca a criança morta
vós matastes a criança morta
que outrora vivia
em em minha alma arredia

Em um túmulo de pedra
jaz, ali, decrépita
a pureza sufocada
que fora de minhas entranhas arrancada

Com toda a violência
violando a essência
Tapando os ouvidos
Ignorando os gritos

O silêncio permaneceu por anos
e seus crimes continuaram tantos
as lágrimas secar-se-ão de meus olhos
quando minha vingança circundar a todos os povos

Com uma espada arrancarei vossos cabedais
e vossos sonhos e vossas cabeças antes que peçais
a clemência que jamais darei
pois vossos crimes fizeram-me o que sou, e o que serei

Então isento de qualquer arrependimento
fecharei os olhos no seguinte momento
num sentimento misto de  paz, angústia e ódio
pois não saberei qual será o próximo episódio.
I

No intervalo do incessante
Para lá do perceptível
emaranhado numa zona incerta
quando a noite é mais de trevas
E um quarto bem estreito
é exageradamente infindo
ora ali o oniromante

De outrora letargo
de outro nome alcunhado
que agora desperto
aprende a dormir

recônditos respiros
rebuliços arredores
vasos sanguíneos
coléricas vozes
vislumbra o enfermo
sem remédio
sem cura
Um quadro preto
um naufrágio

II

Jaz adormecido
em cama de pedras
com colcha de espinhos

Lá dentro avenidas movimentadas sussurram verdades
cheias de  agudos
ângulos, retos, obtusos
com vértices nas curvas semicirculares

Um rompante inaudível
turbilhões de incertezas
de vozes cegas
emergindo da fresta tenebrosa
que brilha o **** cobiçado
de seios
de coxas
de longos cabelos loiros
de pele negra
de pele vermelha
de pele amarela
peles tão alvas quanto a neve
Uma avalanche de inseguranças
Correntes de ferro
enferrujadas
que rasgam a carne
com tétano
e o sangue escorre
num rio plácido
repleto de peixes e tartarugas
de ondinas e sereias
onde banham as musas
que cantam o canto de Morfeu
como eólia lira
que entorpece e inspira
o oniromante
que ali adormeceu

III

No sonho de um sonho
há um sonho esquecido
guardado a sete fechos
no fundo inflexível

de imagens arquetípicas
de desejos obscuros
de visões aterradoras
de um jovem bem febril

devagar vai adentrando
nessa estranha entrelinha
qual razão do desconexo
desconstrói o findo dia

tenazes vozes em seus ouvidos
reproduzidas como brados
brotam atroadas
de estrondosas trovejadas

Neste tempo sem um tempo
há tempos transcorrido
inesperados fragmentos
reprimidos e esquecidos

Por frações de um instante
trafegando entre a memória
dos dias das noites do futuro
do passado e das histórias

Clareiam-se como cruz
como carga no caminho
Cultuando a culpa a luz
jaz oculta na cova deslembrada

Estreitos fios a lumiar o teto escuro
tomam forma entrelaçada da aurora
Rompe o limiar do céu noturno
E abre os olhos pra não perder a hora





Danielle Furtado Jun 2014
Talvez eu tenha te enterrado vivo e enquanto sufoca me sinto impotente, terra entra em teus poros e te leva de mim, te leva da vida, e eu não posso fazer nada, eu não posso nem dizer adeus, tem terra nos teus ouvidos, você não me ouviria. Então assisto ao teu enterro de longe, torcendo pra que levante e expulse todos os micróbios que tentam morar em seu corpo, mas você está tão imóvel quanto eu.
D. Furtado
Rui Serra May 2014
Passa-se num quarto
luz ténue
velhos livros empoeirados
o cigarro queima-me a ponta dos dedos
nos meus ouvidos, um leve melodia
um telefone toca
saio
andei por aí
a prostituta olhou-me
tremo de frio
uma cabana
recordo o passado, ainda presente
passei por tua casa para te ver
tinhas saído
ocultas-te dos convidados
mas eu sou teu amigo
os meus olhos
perturbam-te
infinitamente!
as melhores ideias vêm-me quando...
enfim
vou partir
pousei o livro
estou vivo
procuro a paz
esse momento de liberdade
está a ficar tarde
a noite começa
lentamente e cheia de sossego.
Dryden Apr 2018
Sinto-me cansado, talvez nem neja cansaço,
É que todos os dias eu escrevo
Nem que seja o mais pequeno pedaço,
Na esperança de elaborar a melhor rima
Que exprima a dor dos meus fracassos.

Portanto eu insisto e deposito o que sinto,
Inconscientemente por instinto,
odeio-me porque minto
Engulo as minhas falhas como absinto.
Embriagado, caio deitado, ja vejo tudo desfocado,
Fecho os olhos, olho para dentro, fico assustado.

Cortava qualquer membro,
Se me prometessem sentir descansado,
Com uma visão mais clara
Do que se passa ao meu lado.

Todos os pensamentos de ontem ou do passado,
Repetem-se hoje como seria de esperado,
Estado mental em auto-piloto, caio desesperado.

Procuro na escrita algum alivio, algum silencio ,
Algo que á vida me faça sentir conectado.
Tento ir aos confins do meu subconsciente  
Desdobrar os efeitos dele no presente.

Sinto arrepios com a vibração do mundo
Enjoa-me a forma como escondemos a cara quando pecamos,
Como enterramos e oprimimos aquilo que condenamos
Como baseados em mentiras,
construímos verdades que agora acreditamos.

Sei que faço o mesmo, mas já o fiz mais,
talvez seja algo intrínseco a todos os animais,
escolhemos o caminho mais facil,
onde pensamos estar a fugir da dor
mas a resignação é um veneno
que nos torna incompatíveis e sem sabor.

Acumulamos mascaras, crucificamos o nosso bem estar
deixamo-nos mentalizar que temos de nos adaptar,
perdemos a essência, para uma sociedade de aparencias,
que temos consciência que nos esgotara a paciência.

As vezes o mais importante é ter um amigo,
outras vezes um simples antiquado papel.
O perfeito é encontrares uma alma,
E que possas fazer dela uma tela ,
Onde pintas a tua alma nua e deixas a tua chancela.

Alguém com quem promessas são feitas e recusadas,
Ou mal feitas e quebradas
No entanto insistimos em usa-las.

A eternidade delas é coisa de anjos
Não de mortais perdidos e inconstantes
Egoístas e ignorantes.
Somos apenas meras penas com destinos semelhantes.

Que envelhecem com as estaçoes
E que rejuvenescem com as ilusões.

A minha alma penso eu que já é velha
Com uma voz grave e rouca da exaustão
Transportada num corpo jovem fruto da reprodução.

Sinto que trouxe algo de novo ao meu ancião interior,
Que apesar das suas enumeras vidas sente constante pavor,
Trouxe-lhe frutos proibidos aos quais ele não estava habituado
Então ele sussurra aos meus ouvidos um grito angustiado
O que a estas horas estou a fazer acordado (?)

Então eu respondo-lhe,
Esta noite decidi voltar a pecar.
Que direito tenho eu de escrever e de me libertar ?

Tens razão, devia ficar quieto no meu canto,
Adormecer com a mente vazia de vez em quando.
No entanto gosto de te incomodar
E nos teus sonhos sem tu saberes participar,
Fiquei desiludido com a imagem que tens sobre mim
Quando me mostraste o espelho,
Julguei ter visto o meu fim.
Acho que tu me odeias, eu até gosto de ti ,
podias falar mais comigo, deixaria de te atacar,
Mas o teu silencio enerva-me, da-me vontade de te sufocar
Com a crueza do meu ser que tu tentas limitar.

Foi bom contigo hoje dialogar
Ou comigo monologar
Não passas de um grito que eu com versos consigo abafar.
Matthieu Martin Jul 2015
Uma palavra sua chegou aos meus ouvidos
Perguntei
quer que eu goze dentro?
Aham
Diz que quer
sim, quero
E me conquistou
Dormi pouco
fiquei com isso na cabeça
Estava exausto, mas sem sono
penso nos motivos que tornam tudo isso tão complicado
Você sabe
Não há nada de errado em admitir
se não fosse pelo sol
nas crianças brincando lá fora
Acredito que ainda estaria ali
Dentro de você
Alguém me chamou pra beber
Deixei meu corpo ir
Mas fiquei contigo
Apesar de você
Já ter saído
Sou
Mente vazia
Coração bate
olhos enxergam mas não vêem
Ouvidos escutam mas não interpretam
O frio é só na pele
E os sabores são tabaco
Rui Serra Jul 2014
Rodeado apenas pelo vento, vagueava pelas ruas da cidade. Em ambos os meus ouvidos permanecia a tua voz bradando convictamente sem cessar a palavra " NÃO ".
Uma imagem da tua sensual face, distorcida pelo tempo, iluminava o meu espírito que no seu mais íntimo ainda possuí uma débil esperança.
Estou sendo impelido a atravessar esta entrada, meu corpo permaneceu imóvel até este exato momento, quis correr para longe, quis me esconder, quis deixar de existir, mas esta porta está escancarada diante o meu ser despido, não posso ver absolutamente nada para além da porta, mas sei que algo me observa, meus devaneios consomem novamente meus pensamentos,  algo terrível me espera do outro lado. Assaltantes? Sequestradores? Estupradores? Maníacos? Lunáticos? Pervertidos? Psicopatas? Minha mente está se descolando da realidade, sinto meus hormônios de horror dissipando meu pensamento lógico... Estou diante o Demônio! O ônibus vai me levar ao inferno! Sou culpado! O que eu fiz foi horrível! ............O que você fez foi maravilhoso!............ Esta voz atravessa a escuridão, entra pelos meus ouvidos  e explode nas profundezas da minha inconsciência.

Entre no ônibus!...........Estou obedecendo sem sequer perceper, minhas pernas estão se movendo com tremor e dificuldade, subo o primeiro degrau, o segundo, nesta penumbra acho que posso ver o motorista, um homem velho e franzino, barba mal feita, branca, pele suja, roupas velhas, antigas. Voc.. Vá para seu assento! Não me deixou falar, tudo bem! Cadê um assento livre? Ali!  Parece que todos os outros estão lotados. Todos aqui são feios, sujos e maltrapilhos, estão exatamente como eu! Tem uma velha sentada no banco ao lado do meu. Todos estão me encarando, ela está me encarando. Como suas expressões são severas! Ela está forçando um sorriso, seus dentes são muito podres... Então...cofff...cooffff...cooooooooofff... Gotículas de saliva da tosse da velha estão escorrendo pelo meu rosto, o bafo dela lembra carne morta, em decomposição, quase tenho vontade de vomitar, ela está aproximando mais ainda  seu rosto ao meu... Então, você também está indo para lá? Eu não sei! Não sabe?!! Então você não deveria estar aqui!!! Todos estão me encarando, seus olhos expelem puro ódio!...........Você vai descer aqui!!!

Está entrando pelas minhas veias, guiando intuitivamente meus movimentos, enquanto meu eu se afoga num oceano tempestuoso. Toma minha voz, fala por mim... Como OUSA se dirigir A MIM, sua VELHA IMUNDA? Se olhar pra mim mais uma vez vou ARRANCAR todos os seus dentes podres!

Eu dei um chute na cara da velha! Eu dei um chute numa velhinha doente! O que foi que eu fiz? Ela está ali caída no assoalho do ônibus, está gemendo muito! Tem sangue escorrendo pelo seu nariz! Meu Deus, o que foi que eu fiz?  Ela está tendo convulsões?? Meu Deus, meu deus! Hahahahahahaha hahahahahahaha hahahahahahaha ahahaha hahahahahahaha hahahahahahaha... Que porra é essa? Puta que pariu! A velha está rindo??? Está freneticamente dando gargalhadas grotescas. Ninguém mais está olhando para mim. Não sei o que pensar! A velha... Está me encarando... sorrindo com crueldade. Parece que ela está tentando me falar alguma coisa...

...........Então você realmente está indo para lá!
De voz leiga, de olhar sereno e de ouvidos moucos eu digo o mundo mudou.
Mudou a primavera que chegou mais cedo, mudaram-se as vontades e a tirania escutou o mundo.
Sejam quais forem os desígnios ou as motivações dos acontecimentos,  acredito que o Homem está posto há prova. Quem sabe se de uma gripezinha ligeira se trate, ou quem sabe que sufoco trará. Desafio todos a olhar à volta de casa e olhar para o que podem e não podem comer. Encheu-se o mundo de lixo.  Um caminho que decidimos seguir. Erradamente esquecemos o contacto com a terra aquilo que a todo custo tentaremos evitar!
O mundo mudou, e nós pelo menos paramos e agora pensamos noutra direcção. Será a certa, outra será certamente.
Os nossos putos mais velhos, não só carregaram a cruz este tempo todo como fizeram também porque hoje tivessemos estes desvaneios. Não descurem a sua sabedoria e tentamos todos que nos premitam poder ouvir o que nos dizem.
Porém podemos e eu acredito que se cada um se ocupar inteligentemente tornará mais fácil este luta.
Talvez não fosse mal habituarmo-nos a este tempo encarar a coisa,  agarra-la pelo sítio e não perder a fé sejam quais forem as dificuldades.
Portugueses gente rija, gente de bem que por isso nos conhecam.
Bem hajam.

Autor: António Benigno
Código de autor: 2020.03.29.22.08.03.03
Vera Vieira Mar 2019
Chuva de realizações
Pra tudo tem um motivo
Não fatalisticamente
Não simplesmente

Os motivos estão escondidos
Quem tiver ouvidos ouça
A palavra do Senhor
É preciso ter coragem

Pra ver
Pra assumir
Pra quebrantar
O estabelecido pelos homens
Como supérfluo

E aí, tu, o isolado, vê
Porque é tão difícil?
Mostrar e receber
Mostrar o Céu
E merecer o mundano

Quem merece o mundano?
Quem o recebe?
Incógnita
Loteria Divina,
ou Reencarnação?

Talvez nem um
Nem o outro
Talvez sejam os interesses divinos maiores
Uns sofrem pelos outros
Um jejum forçado

Eu jejuo da vida que pra mim é menor
Pra que tu tenhas a vida que pra ti é maior
Tem males que não vão
Sem jejum e oração

O que é importante pra ti
E não é pra mim
Não é o Mal
As aparências enganam

O Mal é o que está dentro
De quem precisa jejuar
Deus pensou em tudo
E se não existisse o jejum?

Está tudo equilibrado
Se fazemos parte, sabemos
Que nada é a toa
Melhor, servir

Me ensinando a humildade
Rua Dr Timóteo POA, RS Brazil  
Oct 05 2010
Mistico Mar 14
Sua voz ressoa em meus ouvidos,
como um sussurro do tempo que insiste em voltar.
Finjo-me de pedra, de indiferença fria,
e revisto minha alma de lembranças amargas,
na esperança de que me sirvam de escudo.

Angústia… essa velha conhecida,
vem e me lembra de tudo que fiz,
de tudo que foi em vão.
Se antes nada bastou,
por que agora haveria de ser diferente?

E a confiança… onde ficou?
Talvez perdida na imensidão do esquecimento,
talvez guardada, adormecida,
à espera de um dia
em que a saudade seja mais forte
do que as dores que me ensinaste a sentir.
Mistico Mar 8
Sou eu, tão somente, a dizer o que deves ouvir,
Sem temor do que o mundo venha a pensar.
Minhas palavras, como flechas, sempre a partir,
E se elas ferem, não hesito em lançar.

Nem todos têm olhos para ver a clareza,
Nem ouvidos para a pureza da minha fala.
Falo o que me é justo, sem qualquer sutileza,
E se não suportas, a culpa não me embala.

Sou senhor das minhas ações, com alma tranquila,
Mas não sou o eco das palavras que a ti te assombram.
O que eu digo é meu, e minha verdade brilha,
Sem que me importe com as vozes que me julgam.
I - A Entrada

Abrem-se as portadas, para que todas as partes de mim possam entrar.
Entro, a custo, na sala escura do meu palácio mental. As portas já se tornaram difíceis de empurrar,
pelo pouco uso a que as tenho condenado.
Não me sinto preparada. Nem sei se algum dia hei-de estar. Contudo, uma vez que os pés já atravessaram para o lado de lá, roubei-me a opção de fazer o resto do corpo recuar.
     Lá vou eu, sentar-me na mesa redonda do Eu.
Sinto mil olhos pousados em mim. Todos curiosos e com intenção de me analisar. Todos prontos para me dissecar. Logo Eu, que prefiro ter objetos de estudo, em vez de ser o objeto estudado. Então, tenho de me contrariar. Desta vez, não posso fechar-me na concha à espera que alguém a venha rebentar. Preciso de estar exposta a este desconforto. Sou a paciente. A que tem de manter os olhos abertos
enquanto lhe remexem o cérebro à procura do tumor que me está a matar.
Quase podia jurar que seria visível a todos, este peso que circula no ar,

um peso tão denso que podia ser cortado ao meio.
                  
      Mas só a mim veio cortar.

Olho em volta, a mesa está cheia de mim, não sobra um único lugar. Todas me observam, como se achassem que sei exatamente o que preciso de falar. Mas, não sei.
Tenho a firme sensação que estou prestes a ter de me enfrentar. É como se todas esperassem que, finalmente, me confessasse. Mas, não sei o quê.
Ou talvez saiba.
Ou talvez ainda me sinta demasiado fraca para o proclamar.
Sento-me na única cadeira da sala que dá para girar.
Estarão as outras mais firmes - ou serei eu que já perdi o chão?
Destravo as rodas, dou um balanço nervoso, preciso de uma distração que me ajude a começar.

Atenção a todas!
Silêncio na sala. Está na altura de confessar.

II - O Funeral

Antes de mais, devo-vos um pedido de perdão.
Sei que tenho estado propositadamente adormecida,
           num coma auto-induzido,
           uma anestesia emocional
para que consiga continuar a caminhar. Desprovida da essência dual e humana que tanto me caracteriza. Tenho estado focada em sobreviver, a correr para a frente sem olhar para trás, na esperança de que, se assim for, os meus pensamentos não consigam apanhar-me. Posso dizer que, até já tentei aprender a voar, mas ainda não consegui sentir a liberdade que me falaram.
Tenho tentado adormecer mais cedo - e acordo várias vezes a meio da noite, para não me permitir sequer sonhar. Sinto-me tentada a mandar o meu corpo ao mar, sem qualquer intenção de mexer os braços para o fazer boiar.
Encurralei, num canto escuro da minha mente, a voz que se recusava a calar. Na esperança de que, se tapasse os ouvidos com força suficiente, não a ouvisse mais a chamar.
Pus correntes à volta do meu coração. Não queria que batesse,
nem que uma única gota de sangue me traísse,
nem queria sentir a minha própria pulsação.
Mas ouvi uma voz dizer que as correntes são feitas de elos de ligação. E eu quis destruí-las também
            porque até elas me levavam a ti.
Então, já não escrevo. Já não canto. Já não sinto prazer em sentir.

Todas de mim olham-me de volta, com o mesmo olhar de desilusão. Como se me quisessem esbofetear por compaixão. Como se não tivessem coragem de me provocar mais dor.
Sabem que não podem esmagar o que já se desfez, uma vez que já me estendi em lágrimas no chão.
O eco do silêncio é ensurdecedor.
Preferia que me partissem até eu cair num caixão.
Ao menos assim,
                                 o silêncio
                          daria lugar ao som.

III - As cinzas

Deambulo como um espírito que não encontrou passagem, sobre a areia molhada onde o mar perdeu um beijo antigo. Lembro-me de todas as vezes que percorri esta mesma praia, esperançosa de me esbarrar em ti. Lembro-me do exato sítio onde te encontrei. E da exata rocha onde escorregaste, quando também me procuravas a mim.
Lembro-me do teu cheiro na minha pele,
da sensação de casa que via no castanho do teu olhar. E quero esquecer que agora sou um espírito abandonado, sem o teu olhar para encontrar.
Lembro-me da tua mão na minha,
de saber, com o corpo inteiro, que era ali o meu lugar. Agora, tento esquecer a ausência,
da mão fantasma que ainda procuro apertar.
Lembro-me que já não estás aqui. Tento apagar os anos em que te conheci.
Lembro-me que tenho de ser forte,
e tento esquecer a triste verdade:
que serei sempre fraca por ti.

Um coração partido não faz barulho ao estilhaçar. Não deixa uma marca que alguém possa ver. Chamam-lhe figura de estilo. Mas a dor é literal. Quem diz que ninguém morre de desgosto, convido-vos a entrar no meu palácio mental, e assistirem comigo, na primeira fila, ao meu próprio funeral.
O silêncio grita mais alto que qualquer lamento.

Quero gritar,

mas não me quero lembrar do porquê.

IV - A sombra da escrita

Aquilo a que resistimos, persiste dentro de nós.
E se o arrependimento matasse, eu já teria morrido. Ou talvez tenha mesmo morrido e ninguém reparou - além de mim.
Enterrei - vivo - o amor que me mantinha aqui. E agora, quanto mais fujo de mim, mais me sinto sozinha. Quanto mais longe vou, mais a minha alma definha.
Fica doente.
Pequenina.

A realidade é que não sei como não te amar. Não sei como esquecer todo o amor que senti. Ou como ignorar que isso me mudou. E não sei lidar com o facto de que nunca mais voltarei a permitir que esse amor exista. Que inunde e transborde. Que seja o ar leve que fazem estes pulmões vibrar.
Escrever só faz sentido
quando és tu o motivo que me faz sangrar. Escrever só tem sentido se for mexer na ferida,
                               e tu eras a faca
                                                     e a razão.
Então, fugi da escrita. Fugi de mim. Quero esquecer-me de tudo aquilo que já me fizeste despejar no papel,
porque não sei como voltar à escrita sem voltar a ti.
Só que já não há casa, não há ninguém para onde voltar.
O teu sitio está vazio. O teu assento já está frio. Já não há musica, nem escrita, nem literatura para nos unir.
Resta-me queimar estas palavras, segurar o papel ardente contra o peito
como se ainda pudesse aquecer-me com o que restou.
E tentar esquecer-me que, um dia, foste a minha fonte de calor,
      a luz que me guiava na escuridão...
O meu pirilampo mágico! A quem decidi entregar-me de alma e coração.

Hoje, parece tudo tão longínquo... como se nunca tivesses existido, como um sonho do qual acordei atordoada, como se tivesse gastado mais uma vida em vão.
Agora, a mesa está vazia. Já não sei qual de mim ficou para apagar a luz.  
Mas sinto-a, sozinha, em silêncio, à espera que volte(s).

V - A mesa redonda do Nós

Sentámo-nos, sem convite, cada qual com as suas vozes. Umas sussurram desculpas, outras gritam promessas partidas.
Tu trazias o silêncio nos ombros,
   eu, a urgência de ser compreendida.
Entre nós, o tempo ocupava a cadeira do meio, com as mãos cruzadas sobre o colo, esperando que alguém lhe pedisse perdão.
Ali cabiam todas as versões de nós que tentaram
                  e falharam: a criança ferida, a amante que esperava demais, a amiga ausente, a que esperou à janela até ao fim do verão, e a que aprendeu a calar o amor para não o perder. Também ali estavam os que não souberam ficar e os que quiseram demais. Mas na hora certa, ninguém os quis de volta.
Fizemos da mesa um espelho estilhaçado, onde cada caco refletia uma versão diferente do encontro.
Eram histórias ditas pela metade, afetos com ferrugem, promessas que nunca chegaram ao corpo, cartas que não foram lidas, beijos que não voltaram para casa, toques interrompidos por orgulho, olhares desviados na última possibilidade de ternura.

Tentámos ordenar o caos, nomear culpas, mapear o amor, dar à dor algum significado:
quem magoou quem,
quem fugiu primeiro,
quem se calou quando devia ter falado,
quem amou a quem em vão.

Mas o "nós" não se escreve em linha reta,
é espiral,
                 tropeço,
                                  é laço e corte.
É ponte feita de dedos trémulos, tentando ainda alcançar.

E entre cacos, alguém - talvez tu - ergueu um gesto quase imperceptível:
um "ainda" dentro do "já não",
um "pode ser" suspenso no "acabou".

Então brindámos,
não ao passado, mas à remota e terna possibilidade de voltarmos a encontrar o amor
                                    não como foi
mas como ainda pode ser:

mais paciente,
                            mais honesto,
menos medo,
                            mais presença.

Um brinde a isso!
À flor que cresce entre as pedras,

ao reencontro verdadeiro,

mesmo que não seja imediato.
                 
Ao amor que regressa, se soubermos esperar com o coração aberto.

No fim, servimos silêncio em taças de cristal.
Um brinde à tentativa!
Às ruínas que ainda brilham.
Ao facto de termos tentado.
Um brinde a estarmos ali,

ainda que partidas,
                                    
                                      ainda que tarde,

ainda que nunca cheguemos a consenso.

Porque amar é tentar,
mesmo quando falha.

VI - Final

Talvez um dia, ouça a porta a ranger,
e outra de mim entre -
sem pressa, sem medo.
Talvez nem se sente,
apenas acenda a luz.

E nesse gesto, silencioso, haja uma oportunidade de começar de novo.

— The End —